Em seus 96 anos bem vividos, a rainha Elizabeth II bateu vários recordes. Fez o mais longo reinado da história da Grã-Bretanha (70 anos). E nenhum outro monarca foi chefe de estado de tantos países ao mesmo tempo (15), ou chegou aos 96 anos de idade ainda na ativa.
Mas o recorde que nos importa é que Elizabeth II foi a mais gearhead das rainhas. Dirigiu e consertou caminhões nos tempos da Segunda Guerra, aprendeu a pilotar motocicletas e nunca dispensou uma oportunidade de estar ao volante. Apesar de ter um exército de motoristas à disposição, sempre fez questão de ir ela mesma dirigindo às corridas de cavalos, missas de domingo e outros eventos.
![020 - A caminho da missa no Jaguar X-Type Estate 2009](https://cdn.motor1.com/images/static/16x9-tr.png)
Mesmo depois que parou de guiar em vias públicas (em 2019, aos 93 anos de idade), ela manteve o hábito de conduzir seus Range Rover pelas estradas particulares das propriedades reais.
OS CARROS DE DESFILE
Em Londres, as principais jóias motorizadas da rainha eram - e certamente continuarão a ser - cuidadosamente guardadas no prédio Royal Mews (em português, os estábulos reais), nos fundos do Palácio de Buckingham.
![O Rolls-Royce Phantom VI State Car 1987 em frente a Royal Mews](https://cdn.motor1.com/images/static/16x9-tr.png)
Ali ficam as carruagens cerimoniais e, em meio ao nobilíssimo cheiro de esterco, alguns dos carros que transportavam Elizabeth II e outros membros da família real britânica em cerimônias ou compromissos de Estado. Por 14 libras esterlinas (R$ 85), qualquer turista pode conhecer parte do local. Aliás: enquanto durar o luto no Reino Unido pela morte da monarca, Royal Mews estará fechado - e seus automóveis e carruagens certamente serão vistos nas cerimônias de despedida da soberana.
Tivemos a chance de conhecer Royal Mews de perto em 2006, nos festejos do 80º aniversário de Elizabeth II. Na garagem, nobremente forrada com tacos e lambris, sempre havia ao menos um automóvel real em exposição e outros tantos passando a serviço, saindo e entrando da parte da garagem fechada ao público.
![015 -O Rolls-Royce Phantom VI State car - presente do Jubileu de Prata, em 1977](https://cdn.motor1.com/images/static/16x9-tr.png)
Com um pouco de bate-papo, os solícitos funcionários do lugar contaram detalhes sobre a interessante e longeva frota de carros do Estado. É uma coleção que encanta qualquer entusiasta. Só de Rolls-Royce Phantom havia cinco, todos com carrocerias Mulliner e Park Ward, sempre pretos e com um brasão na capota, relativo ao estandarte real. Esses carros usados nas atividades de Estado são sempre pintados de burgundy - um bordô bem escuro.
DEVOTA DE SÃO JORGE
Quando o carro era usado pela rainha, o Espírito do Êxtase, estatueta de mulher alada do radiador dos Rolls-Royce "comuns", era retirada e dava lugar a um São Jorge de prata, que podia ser transferido de um carro para outro. Era a mascote oficial dos carros de Elizabeth II. Os carros oficiais usados pela soberana não tinham placas (imagine multar a rainha...), mas cada um era conhecido na garagem por um número, de One a Five — assim mesmo, com letra maiúscula.
![001 - Quando a rainha estava a bordo o carro recebia um São Jorge como mascote](https://cdn.motor1.com/images/static/16x9-tr.png)
O Number One, que já foi o principal da frota, é um Phantom VI presenteado à rainha pela associação inglesa dos fabricantes de automóveis em 1978, durante o jubileu de prata da coroação. Tem quatro faróis e um teto que parece desproporcionalmente alto aos plebeus.
![016 - Os Rolls-Royce Phantom VI State cars, de 1987 (atrás) e 1978.](https://cdn.motor1.com/images/static/16x9-tr.png)
O Two e o Three são idênticos entre si: ambos do modelo Phantom V construídos em 1960 e 1961 e também com tetos altos. O caçula dos Rolls-Royce é o Number Four, um Phantom VI feito em 1987.
![012 - De One a Five - frota dos Rolls-Royce a servico do Palácio de Buckingham](https://cdn.motor1.com/images/static/16x9-tr.png)
NUMBER FIVE, O MAIOR REINADO
Por fim há o Number Five, ano 1948, o decano da garagem, mas ainda em uso. É um Phantom IV, modelo raríssimo do qual a Rolls-Royce fabricou apenas 18 exemplares.
Encomendado pelo príncipe Philip quando ainda era noivo de Elizabeth (na época princesa), o Number Five foi o primeiro Rolls-Royce a ganhar uma vaga em Royal Mews. Antes de sua chegada, os carros oficiais da família real britânica eram da Daimler Company.
![013 - Phantom IV 1948-1950 - O prineiro rolls-Royce a chegar ao palácio](https://cdn.motor1.com/images/static/16x9-tr.png)
O Number Five veste carroceria HJ Mulliner e é o único da frota com motor de oito cilindros em linha, enquanto os outros são equipados com V8. Foi neste Phantom que, em 2018, Meghan Markle chegou para o casamento com o príncipe Harry, neto de Elizabeth II.
VITRINE SOBRE RODAS
Que não se espere acessórios vistosos e modernos nesses carros. O que importa aqui é a qualidade de madeiras, couros e tecidos usados no interior, a solidez de construção, a suavidade ao rodar e o espaço para os passageiros.
![014 - Rolls-Royce Phantom IV State Landaulette 1953](https://cdn.motor1.com/images/static/16x9-tr.png)
O teto alto dos carros One, Two e Three tem explicação: são automóveis de desfile, bastante envidraçados para que os súditos vejam quem vai dentro. São quase como vitrines e contam até com lâmpadas fluorescentes no interior. Não raro, um dos Rolls-Royce era levado nas viagens da rainha, para aparições públicas.
OS BENTLEY ESPECIAIS
O vigia da garagem chamou para ver um titã que chegava, deslizando em absoluto silêncio: era um dos dois Bentley especiais, feitos em 2002, para marcar o jubileu de ouro da coroação. O projeto e a construção tomaram dois anos e, mais uma vez, o "mimo" foi custeado pela associação dos fabricantes.
![017 - Os Bentley State Limousine chegaram em 2002, para o Jubilieu de Ouro da coroação](https://cdn.motor1.com/images/static/16x9-tr.png)
É uma enorme limusine, com 6,22m de um pára-choque a outro, desenhada exclusivamente para a rainha.
O Bentley foi construído de acordo com especificações dadas pela rainha Elizabeth II e por seu marido Philip, o duque de Edimburgo. Feito para ser usado em solenidades, o carro tem grandes áreas de vidro. As janelas têm uma laminação especial que evita o calor sem comprometer a transparência. A vigia traseira é fechada por uma placa opaca que pode ser retirada quando há desfile.
![018 - Os Bentley State Limousine foram projetados de acordo com os pedidos da rainha e do príncipe Philip](https://cdn.motor1.com/images/static/16x9-tr.png)
Pintado de vinho, o carro tem outra bossa real: as portas traseiras tomam uma fatia do teto. Assim, Sua Majestade podia ficar em pé antes de descer do carro. O motor V8 biturbo, de 6,75 litros e 400cv, é movido a gasolina e a gás. Assim, além de ser ecologicamente correto, dava autonomia extra ao Bentley. A máxima é de 193km/h — mas a velocidade nos desfiles vai de 5km/h a 15km/h. Um câmbio automático GM de quatro marchas dá conta do ritmo.
Aos poucos, esses Bentley - que são blindados - assumiram o posto de principal transporte da rainha para os compromissos de Estado.
PARA DIRIGIR, LAND ROVER
A garagem permitia a entrada de modelos mais simples para o uso no dia a dia (e pintados, quase sempre, de verde escuro). A rainha dirigia um Ford Zephyr na década de 50, passando por um Vauxhall Cresta, nos anos 60, e chegando a uma station wagon Jaguar X-Type 2009. Houve ainda uns tantos Daimler. Dizem até que o primeiro Bentley Bentayga a sair da linha de produção, em 2015, foi para a garagem de Elizabeth II - mas nunca se viu uma foto da soberana ao volante, ou mesmo como passageira, do ultraluxuoso SUV.
![010 - A rainha e o príncipe Charles em um Vauxhall Cresta 1957](https://cdn.motor1.com/images/static/16x9-tr.png)
A rainha era a única britânica autorizada a dirigir sem carteira de habilitação. E o que ela realmente adorava guiar eram os utilitários Range Rover e os rústicos Land Rover Defender, especialmente quando estava em suas residências de campo, como o Castelo Balmoral. Ao longo das décadas, Elizabeth II teve mais de 30 Land Rover.
![019 - Land Rover Defender, o favorito - foram mais de 30 ao longo das décadas](https://cdn.motor1.com/images/static/16x9-tr.png)
Uma das melhores histórias se deu em 2003, quando a rainha - sem avisar - assumiu o volante de um Range Rover e levou o rei Abdullah, da Arábia Saudita, para um passeio "com emoção" por estradinhas sinuosas da Escócia.
![000 - A rainha, já nonagenária, dirigindo um Range Rover](https://cdn.motor1.com/images/static/16x9-tr.png)
Chegou uma hora em que a rainha acelerou tanto que Abdullah pediu arrego, implorando para que ela aliviasse o acelerador e conversasse menos. Detalhe: na época, mulheres eram proibidas de dirigir na Arábia Saudita...
![004 - Foi no exército que Elizabeth tomou gosto por dirigir](https://cdn.motor1.com/images/static/16x9-tr.png)
Os 4x4 talvez trouxessem doces lembranças dos tempos em que Elizabeth, ainda uma princesa de 18 anos, dirigia um caminhãozinho Austin K2, no Serviço Territorial Auxiliar - divisão feminina do Exército Britânico na Segunda Guerra.
Agora é a vez de Charles, um fã dos Aston Martin conversíveis, assumir a direção.