Teste Citroën C3 You! T200: Crise de identidade
Proposta de baixo custo do hatch não combina com o novo motor turbo de até 130 cv
Peugeot e Citroën vivem um grande dilema no Brasil. Dentro do grupo Stellantis, as duas francesas ainda não conquistaram um volume alto para ao menos chegar perto da Fiat, a maior por aqui, procurando mudar a sua imagem diante dos consumidores, principalmente em pós-vendas. E é neste cenário que entrou o Citroën C3, que foi de hatch premium a modelo de volume e entrada e um dos mais baratos do Brasil. Aliás, toda a Citroën está assim, com C3 Aircross e Basalt.
O C3 You!, única versão automática do modelo depois do fim do motor EC5 1.6 16V, tem como missão ser um dos carros turbo automático mais em conta do Brasil (R$ 100.990, ou R$ 96.990 no E-commerce da Citroën). Como referências, o VW Polo TSI Sense automático sai por R$ 102.990; o Chevrolet Onix 1.0 Turbo AT por R$ 105.290; e o Hyundai HB20 Comfort Plus por R$ 109.490. Dentro do grupo Stellantis, há o Peugeot 208 Allure, com o mesmo conjunto motor/câmbio do C3, por R$ 110.990; e o Fiat Argo 1.3 CVT por R$ 98.990. Uma categoria bem concorrida, com opções para (quase) todos os gostos, portanto.
Fora o preço, um dos grandes apelos do Citroën é ter o motor mais potente da categoria. São 125 cv com gasolina e 130 cv com etanol, contra 109 cv/116 cv do Polo, os 116 cv do Onix, e os 120 cv do HB20. Para isso, a Stellantis usou componentes que já tinha na prateleira: o motor GSE T200 combinado ao câmbio CVT Aisin de sete marchas simuladas - o mesmíssimo conjunto que já equipa o C3 Aircross, o suv-cupê Basalt, além dos Peugeot 208 e 2008 e dos Fiat Pulse, Fastback e Strada.
No visual, traz o estilo de SUV a categoria dos hatchs compactos, seguindo a mesma estratégia que a Renault já adotou anos antes com o Kwid nos subcompactos. Na dianteira, seu farol é dividido em duas partes, há um interessante DRL em LED que lembra dois olhos, quando ligados, mas seus faróis e lanternas são halógenos. Na lateral, destaque para as rodas de 15", com pneus 195/65, e as molduras nas caixas de roda. Nesta versão You!, seu teto é bicolor, com alguns detalhes em azul na coluna lateral e nos faróis de neblina.
Sucessor do UP TSI?
Para a tristeza de quem curte compactos apimentados e de ''stages'' tudo-que-dá, o C3 You não foi pensado para se comportar como um esportivo. Ao volante, a preocupação da francesa foi dar à versão turbo o mesmo comportamento dinâmico das versões aspiradas, ou seja, a mesma suspensão extramacia, semelhante aos modelos da Fiat.
Isso é algo que não incomoda nas versões de entrada, que em promoções chega a ser comparado com até mesmo modelos menores, como o Renault Kwid e o Fiat Mobi, mas nesta versão, que tem uma boa relação peso/potência de 9 kg/cv, não faz muito sentido. A engenharia até recalibrou direção elétrica e um pouco de molas e amortecedores, mas basta acelerar um pouco mais e a frente levante sem pudor e, em velocidades mais altas, não passa segurança como deveria para um hatch leve de relativamente altos 130 cv. Se essa é sua idéia de carro, melhor olhar outro.
Em contrapartida, esse comportamento é excelente para uso urbano ''civilizado'', já que não há preocupações com valetas, lombadas ou buracos e uma boa dose de conforto aos ocupantes por como filtra o que chega ao interior. Com altura de solo de 18 cm e ângulos de saída e de entrada melhores até que alguns SUVs compactos, pode colocar uma pulga atrás da orelha em quem não quer (ou não pode) adquirir um dos concorrentes dessa categoria.
Só que esse preço baixo também trouxe ao C3 You uma ausência de equipamentos, como algum assistente de condução além do obrigatório controle de tração e estabilidade. Para quem quer tirar tudo do 1.0 turbo, a tecla Sport (em uma posição um tanto desconfortável para ativar/desativar, ao lado esquerdo da coluna de direção) muda a programação de motor e câmbio para um ajuste que o deixa mais esperto tanto nas respostas do acelerador quanto da relação de trocas do CVT.
Ergonomia não é seu forte
O C3 You! é basicamente igual ao C3 Feel, mas com bancos revestidos em courvin cinza-claro e cinza-escuro. O volante também é forrado. De resto, a regra é a simplicidade em favor do custo. Sua posição de dirigir é alta mesmo com os bancos regulados no mínimo. Não há regulagem de distância do volante, só de altura, e seus cintos de segurança são fixos, sem ajustes. Seu banco traseiro é inteiriço, e falando em bancos, para aumentar o espaço interno, a marca adotou a estratégia de colocar bancos mais curtos para as pernas.
Também não há tecido nem nas portas dianteiras e traseiras, que contam com batidas secas e ao serem fechadas com um pouco mais de força. O acionamento dos vidros traseiros, elétricos, ficam na incômoda posição central, assim como nos antigos Peugeot 206 e a primeira geração do C3. Na parte de segurança, os únicos airbags presentes no modelo nacional são os dois frontais obrigatórios. Na Índia, o compacto da Citroën já é equipado com seis airbags.
Como destaque, a grande multimídia de 10'' reúne os comandos de configuração, rádio, bluetooth e integração com smartphones, através do Android Auto e o Apple Carplay. No painel é onde realmente se vê onde a Citroën cortou custos. A tela digital lembra muito o de motos, apenas com velocímetro, indicador de marcha, hodômetro e níveis de combustível e temperatura de líquido do radiador. A tela de 7", como no Aircross e Basalt, nem como opcional. O ventilador do ar-condicionado (somente manual) também incomoda, é extremamente ruidoso. Merecia um pouco mais de cuidado vindos dos irmãos mais caros.
A falta de equipamentos é contrabalançada pelo espaço interno, muito bom para um compacto de 3,98 m de comprimento, 2,54 m de entre-eixos e 1,73 m de largura, lembrando muito os velhos tempos do Fiat Uno Mille. Seu espaço interno e o porta-malas, com 315 litros, é suficiente para uma família pequena, sendo bem melhor nesse sentido que um Peugeot 208 ou um Hyundai HB20.
Galeria: Citroën C3 You T200 2025
Vale a pena?
Seu maior desafio, além da concorrência em casa, principalmente do recém-lançado Basalt, é convencer o consumidor a levar um modelo tão básico por mais de R$ 100.000. A concorrência nessa faixa traz mais mimos que o compacto da Citroën, mas o hatch francês tem como argumentos a boa altura do solo e o espaço interno, sendo uma boa opção para quem valoriza mais espaço e já procura algo parecido com os novos suvinhos compactos. Resta conferir se a estratégia da Citroën (e da Stellantis, num geral) com tantos modelos próximos, dará certo.
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Citroën C3 T200
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