Muito se fala sobre um novo carro popular no Brasil. Pensada como uma forma de aumentar o volume de vendas, colocaria carros mais baratos nas concessionárias, seja com uma redução de carga de impostos ou com a simplificação de equipamentos. Enquanto nada disso acontece, aparecem alguns modelos que até tentam ficar mais baratos, como o VW Polo Track.

O VW Polo Track nasceu para substituir o Gol. E para servir como modelo mais barato da marca, o hatch ganhou um visual exclusivo, diversas simplificações e perdeu equipamentos para chegar a um preço de, hoje, R$ 81.370. Sim, está longe de ser pouco dinheiro, mas é um dos 10 mais baratos do nosso mercado. Vale a pena para você?

Volkswagen Polo Track 2023 (teste)

Tira aqui, mantém ali...

A Volkswagen nunca escondeu que o Polo Track foi pensado para substituir o Gol - é até produzido na mesma planta onde o veterano era feito até 2022, em Taubaté (SP). Ao mesmo tempo, sabe que não poderia o transformar em um carro semelhante a um projeto bem mais datado. Estruturalmente, o Polo Track é semelhante aos demais Polo, inclusive a plataforma MQB-A0. Isso fará a diferença em mais alguns parágrafos. 

Visualmente, são propositalmente diferentes. Primeiro, o Polo Track não poderia ter os faróis em LEDs das demais versões por custos. Então a solução foi fazer uma versão que, em formato é quase o mesmo de antes da reestilização, mas por dentro usa uma lâmpada única para farol alto e baixo, além de ter luz diurna halógena. Isso evitou também mudar a estamparia de capô e paralamas. Ao menos a equipe de design criou um parachoque exclusivo, com grades em colmeia, e que ajuda no ângulo de entrada. Chega a ser até mais invocado que o Polo normal. 

Volkswagen Polo Track 2023 (teste)
Volkswagen Polo Track 2023 (teste)
Volkswagen Polo Track 2023 (teste)
Volkswagen Polo Track 2023 (teste)

As rodas de 15" são em ferro e recebem as calotas plásticas que, em cinza, não criam um visual tão interessante. Se fossem em cor prata, por exemplo, seriam mais atraentes. Maçanetas não recebem pintura, assim como os retrovisores que também perdem os repetidores de seta. Economia em detalhes para criar um carro mais barato. Na traseira, as mesmas lanternas das demais versões e um parachoque traseiro diferente, imitando um extrator. Curioso ver que economizaram até no logo: o escrito Track é um adesivo, não letras em plástico injetado. Pelo menos não tiraram o limpador traseiro...

Por dentro é onde percebemos mais onde o Polo Track foi simplificado. Os acabamentos das portas nem pensam em ter tecidos, apenas plásticos em alguns tons e um texturizado no centro para tirar um pouco a cara de simples. Nem mesmo onde o braço apoia recebe tecido. No painel, segue a temática do plástico, misturando cores. Ao menos é bem montado. O painel de instrumentos é o mesmo do Polo MPI, com a tela em cristal líquido com informações acompanhado de velocímetro e conta-giros analógicos. Mas esse computador de bordo é opcional.

Volkswagen Polo Track 2023 (teste)

Vê esse rádio com FM, USB e bluetooth? É também um opcional, assim como os comandos no volante. Não há sistema multimídia nem em algum pacote, deixando para o cliente comprar no mercado de acessórios se quiser isso no seu carro - ou optar pelo Polo MPI, que já o tem de série. Os bancos são inteiriços, com regulagem de altura para o motorista, e o banco traseiro também tem encosto fixo, outro ponto de economia. 

Polo com toques de Gol

Por um lado, a VW manteve algumas coisas do Polo que não existiam no Gol, como os controles de tração e estabilidade e os 4 airbags - o que não podemos celebrar totalmente, já que Hyundai HB20 e Chevrolet Onix trazem 6 bolsas. Por outro, do veterano há alguns componentes e ensinamentos. Por exemplo, os cubos de rodas são de 4 furos pois, segundo a VW, o Polo Track não precisa se preparar para um motor mais potente que o 1.0 MPI. 

Volkswagen Polo Track 2023 (teste)
Volkswagen Polo Track 2023 (teste)
Volkswagen Polo Track 2023 (teste)

O Gol também passou ao Polo Track funções como ter uma suspensão que aguente porrada, literalmente. Em diversos pontos do país, principalmente mais afastados dos grandes centros, o Gol é usado em estradas de terra e, em algumas aplicações empresariais, é um carro que tem um uso mais extremo. Como o papel do Polo Track é assumir isso, a engenharia teve que calibrar uma suspensão específica. 

É perceptível isso no uso. Mesmo em pisos mais acidentados, inclusive na cidade, o Polo Track aceita bem melhor que o Polo MPI, por exemplo, e filtra bem antes de balançar a carroceria. Os pneus 185/65 tem um papel fundamental ao ter uma parede alta e ajudar no trabalho da suspensão. Ao mesmo tempo, percebemos que ainda tem o bom peso de direção elétrica dos demais Polo e uma rolagem bem contida da carroceria em velocidades mais altas. 

Volkswagen Polo Track 2023 (teste)

E como esperado, o Polo Track usa o motor 1.0 MPI, o aspirado de 3 cilindros com variador de fase no comando de admissão. É um dos 3-cilindros mais antigos do nosso mercado, com 77 cv e 9,6 kgfm de torque quando abastecido com gasolina e chega aos 84 cv e 10,3 kgfm com etanol. Não são números ruins, mas há uma questão no uso do Polo Track. 

Como é um motor mais antigo, atinge o pico de torque a 3.000 rpm. De potência, em 6.450 rpm. Na era dos turbo, é "pedalar" bastante para ter alguma força. Na cidade, precisa acelerar mais e esticar as marchas para perceber o Polo Track desenvolver melhor, assim como na estrada as retomadas de velocidade precisam ser melhor planejadas - para ir de 80 a 120 km/h em quarta marcha, por exemplo, o Track precisou de 20,4 segundos em nosso teste. 

Volkswagen Polo Track 2023 (teste)

Tudo bem, o Onix 1.0 (78/84 cv e 9,6/10,6 kgfm) tem esses números a 4.100 rpm e 6.400 rpm, respectivamente, mas joga com um câmbio de 6 marchas para aproximar mais a relação - precisou de 14,7 segundos na mesma prova de 80 a 120 km/h, e abastecido com gasolina. O Polo Track aposta em um câmbio de 5 marchas com relação longa para ganhar consumo, mas acabou prejudicando essa resposta tanto na estrada quanto na cidade. Seu 0 a 100 km/h em 16,8 segundos foi pior que o HB20 1.0 (15,1) e o Onix 1.0 (14,6). 

Em consumo, com etanol, o Polo Track marcou 8,2 km/litro na cidade, pior que os 8,8 km/litro do Hyundai com o mesmo combustível justamente por pedir mais aceleração. Na estrada, os 12 km/litro também não o destaca, mas não foge da média do segmento, mais uma vez pela necessidade de pedir motor para manter uma velocidade de cruzeiro. Um câmbio de 6 marchas, como do Onix, ajudaria tanto no desempenho quanto no consumo - e a VW tem algo assim na prateleira, aplicado nos antigos Fox 1.6 16v. 

No jogo de perde e ganha, quem fica?

Dá para perceber que a VW manteve a qualidade de construção no Polo Track. Estrutura rígida, bom trabalho de suspensão e direção, isolamento da vibração do motor 3-cilindros, até mesmo como as portas se fecham é...um Polo. A simplificação veio na hora de tirar alguns itens, como os vidros traseiros elétricos substituídos pelas manivelas, a coluna de direção fixa e até mesmo os alto-falantes, que foram projetados para tocar com os tweeters e estes foram eliminados, prejudicando a qualidade do que se ouve pelo simples rádio. 

Volkswagen Polo Track 2023 (teste)
Volkswagen Polo Track 2023 (teste)
Volkswagen Polo Track 2023 (teste)

Se fosse um motor (ou um câmbio) mais desenvolto para a cidade, seria um caso de bom hatch para dirigir. Parece até ser mais pesado do que é para ser levado pelo 1.0 MPI, quando na verdade é fôlego do motor e a relação do câmbio que não ajudam. O espaço interno é bom, com espaço dentro da média no banco traseiro com boa acomodação do corpo, e um porta-malas de 300 litros para acomodar bagagens, bom para uma família pequena, por exemplo. 

Como substituto do Gol, o Polo Track é uma grata surpresa. Evolui bastante daquele veterano e já colhe seus frutos, com um aumento de vendas - muito para frotistas, é verdade, mas parte de sua missão é essa. Nas lojas, se considerar o pacote opcional de rádio, é R$ 4.100 mais caro que um Polo MPI, com faróis em LEDs e sistema multimídia, por exemplo. A própria VW já fez promoção oferecendo o MPI por R$ 83 a mais por parcela comparado ao Track...

Para uma pessoa física, levar o Polo Track vai por ter um orçamento que não permita esse passo para o MPI ou de uma negociação forte na margem da concessionária para o afastar disso. Outro ponto é como o Track foi projetado para "a pauleira" que o Gol enfrentava pelo país. O projeto foi bem feito, mas o preço, como em diversos outros casos do nosso mercado, não ajuda sem aquela chorada para o vendedor. De qualquer forma, se o tal novo carro popular realmente existir, veremos mais disso daqui um tempo. 

Fotos: Mario Villaescusa (para o Motor1.com)

VW Polo Track 1.0

Motor dianteiro, transversal, 3 cilindros, 12 válvulas, 999 cm3, comando duplo com variador na admissão, flex
Potência e torque 77/84 cv a 6.450 rpm; Torque: 9,6 kgfm a 4.000 rpm/10,3 kgfm a 3.000 rpm
Transmissão manual de 5 marchas; tração dianteira
Suspensão McPherson na dianteira, eixo de torção na traseira; Rodas de aço de 15" com pneus 185/65 R15
Peso 1.054 kg em ordem de marcha
Comprimento e entre-eixos 4.074 mm; 2.566 mm
Largura 1.751 mm
Altura 1.471 mm
Capacidades tanque 52 litros, porta-malas 300 litros
Preço de entrada R$ 81.370
Preço como testado R$ 82.290
Aceleração 0 a 60 km/h: 6,7 s; 0 a 80 km/h: 11,3 s; 0 a 100 km/h: 16,8 s
Retomada 40 a 100 km/h (em 3a): 14,5 s; 80 a 120 km/h (em 4a): 20,4 s
Consumo de combustível cidade: 8,2 km/litro; estrada: 12,0 km/litro (etanol)
Envie seu flagra! flagra@motor1.com