Parece injusto, mas somos mais exigentes quando uma nova marca chega ao mercado brasileiro. Se ela for chinesa então, a atenção aos detalhes em busca de algum tropeço é muito maior. Conviver com o GWM Haval H6 é justamente isso, principalmente por se propor a brigar com nomes fortes como o Jeep Compass e Toyota Corolla Cross, queridinhos entre os SUVs médios.

Seja nós da imprensa ou os consumidores desta faixa de preço, existe uma grande curiosidade por este SUV. Com o Haval H6 HEV, a GWM abriu uma briga diante dos SUVs médios de cerca de R$ 200 mil com maior porte, híbrido e cheio de tecnologias. E ainda há a vantagem de uma grande participação da engenharia brasileira em todo o processo de homologação e acerto do carro para nosso mercado.

GWM Haval H6 Premium HEV 2023 (teste BR)

Aprendendo com os erros...dos outros

Esta nova fase dos chineses no Brasil é bem diferente da primeira. De carros feitos para serem baratos e simples (até demais) para atacar modelos populares das marcas tradicionais, dessa vez a jogada é oferecer modelos mais refinados, eletrificados e cheios de tecnologias, como a Caoa Chery e BYD fazem, por exemplo. Mas foi a primeira fase que traumatizou o consumidor brasileiro.

A GMW sabe disso. Além da operação oficial no Brasil, se dedicou a ter profissionais que já conhecem o mercado local para organizar a casa e, com a carta branca da China, modificou os modelos o suficiente para você não se sentir em...um carro chinês. Afinal, peitar Jeep, Toyota e Volkswagen não é uma tarefa simples, ainda mais quando se trata de um comprador com um nível de exigência alto.

GWM Haval H6 Premium HEV 2023 (teste BR)

O Haval H6 é o primeiro modelo da GWM no Brasil e não poderia vacilar, ou todo esse esforço (e dinheiro) seria jogado no lixo. Para começar, a versão brasileira abre mão dos cromados na carroceria que o público chinês adora, além dos próprios escritos e logos que identificam a marca e o modelo são mais discretos e feitos para nosso público. Outros detalhes também foram escolhidos para o mercado local, como as rodas de 19" e o escrito GWM na tampa. O interior também tem cores mais sóbrias, como couro preto e iluminação em azul.

O que mais deu trabalho para a engenharia brasileira e chinesa foi acertar a suspensão. Diversas configurações foram testadas até chegar ao melhor conjunto de conforto, dirigibilidade, ruídos e resistência. Pelo o que ouvimos de pessoas ligadas ao projeto, o acerto final aconteceu pouco antes do lançamento do H6 de forma oficial e exigiu muita dedicação (e conversas) das equipes dos dois países. 

GWM Haval H6 Premium HEV 2023 (teste BR)

Uma grande aposta da GWM é com a eletrificação. Neste caso, o Haval H6 HEV é um híbrido comum, que não precisa de fonte externa de recarga, aliando uma boa eficiência energética sem a necessidade de se preocupar com plugar carro na tomada e afins. Une o motor 1.5 turbo, com injeção direta de gasolina, a um motor elétrico. Juntos, produzem 243 cv e 54 kgfm de torque, apenas no eixo dianteiro, com uma transmissão automatizada (embreagem simples) de 2 marchas, que parece complexa de explicar, mas não é.

Experiência é tudo

Não é a toa que a GWM está tão preocupada em dar ao comprador a oportunidade de dirigir o carro por até alguns dias. O Haval H6 HEV não fica em dívida com modelos mais tradicionais do mercado. Lembra que falei da transmissão? Então, como ela conversa com o conjunto de motor a combustão e elétrico foi um grande desafio de acerto da engenharia, mas que compensa pelo quão boa ficou.

GWM Haval H6 Premium HEV 2023 (teste BR)
GWM Haval H6 Premium HEV 2023 (teste BR)

O câmbio tem duas marchas com embreagem simples. Apesar de não divulgar os números de potência em separado de cada motor, o elétrico tem uma boa força e tira o Haval H6 e seus 1.699 kg da inércia sem dificuldade. Por isso, não precisa de um câmbio com as marchas iniciais curtas para isso - o motor a combustão entra caso a bateria de 1,6 kWh esteja com pouca carga, mas só para gerar essa energia para o elétrico. 

Ou seja, no uso urbano, principalmente em trânsito pesado, o H6 é quase um veículo elétrico com um gerador a gasolina. Em velocidade médias, em uma faixa acima dos 60 km/h, por exemplo, entra a primeira marcha do câmbio automatizado em ação. Para não forçar o motor elétrico sozinho (e gastar mais energia que precisará ser reposta), o 1.5 turbo começa a ser um propulsor. Mesmo assim, mantém rotação baixa com o auxilio do elétrico. É mais eficiente neste ponto que o Corolla Cross, por exemplo.

Em velocidades mais altas, como em vias expressas ou rodovias, a segunda marcha é engatada. Ela reduz a rotação para cerca de 2.500 rpm a 120 km/h, rodando como um carro comum e até preservando a bateria, que aproveita para ser recarregada. Por isso mesmo que o Haval H6 HEV teve um consumo melhor na cidade que na estrada: 16,5 km/litro versus 12,3 km/litro, sempre com gasolina. 

GWM Haval H6 Premium HEV 2023 (teste BR)

Na verdade, pouco dessa transição de motores e marchas é sentida pelo motorista ou ocupantes. Mesmo quando o 1.5 turbo é ligado, pouca vibração é passada para a carroceria e pouco ruído chega aos ocupantes. Dá para perceber melhor pelo monitor de fluxo de energia ou pelo conta-giros no painel. Nesse ponto, é até mais suave que muitos modelos híbridos mais tradicionais.

Na hora de acelerar, o conjunto não faz feito. Chegou aos 100 km/h em 8,2 segundos, enquanto um Jeep Compass 1.3 turbo faz o mesmo em 9,1 segundos. As retomadas em 6,4 segundos (40 a 100 km/h) e 5,2 segundos (80 a 120 km/h) são reflexo dessa resposta da conversa entre motores e câmbio, dando boas respostas para momentos de viagens, por exemplo. 

GWM Haval H6 Premium HEV 2023 (teste BR)
GWM Haval H6 Premium HEV 2023 (teste BR)
GWM Haval H6 Premium HEV 2023 (teste BR)
GWM Haval H6 Premium HEV 2023 (teste BR)
GWM Haval H6 Premium HEV 2023 (teste BR)

Outro ponto pelo qual a experiência é tão valorizada pela GWM na hora de vender o Haval H6 é o conforto. Lembra do árduo trabalho da engenharia? Foi para garantir que a suspensão tivesse um acerto confortável, mas sem os exageros dos chineses, e nem aquele monte de barulho do conjunto quando passa por um buraco. 

O H6 está bem longe de ser um SUV dinâmico. Tem até opções de peso de direção elétrica (Conforto, Normal e Esporte), mas nenhuma delas dá peso o suficiente para falar que realmente muda o comportamento dinâmico. Você pode até atacar uma curva, mas a carroceria vai rolar e apoiar, dando a segurança para uma viagem comum, por exemplo, mas longe de abusos. O volante grande também está mais de olho em te dar conforto que te encorajar a algo diferente disso. 

No dia a dia, a suspensão faz seu papel de não passar as imperfeições do asfalto para os ocupantes, mas reclama quando o buraco é mais fundo com uma batida seca. As rodas de 19" tem pneus 225/55, um bom tamanho. Agora junte esse conforto ao silêncio do sistema híbrido e aqui está algo que pode convencer muitos compradores.

GWM Haval H6 Premium HEV 2023 (teste BR)

Valorizando seu dinheirinho

Você pagou R$ 209 mil pelo seu carro. Obviamente que vai exigir que ele seja equivalente ou superior aos seus concorrentes diretos. A GWM tinha esse outro desafio pela frente. Em construção e montagem, o Haval H6 tem peças alinhadas, com gaps equilibrados pela carroceria e boa pintura, por exemplo. Por dentro, os materiais são bons e, diferente dos carros da China, tem cores e texturas de bom gosto. 

O painel tem material suave ao toque e leva isso para as portas - só as dianteiras - para fazer bonito para quem irá pagar pelo carro. Botões, comandos e outros detalhes não foram esquecidos e não aparentam fragilidade. As duas telas, de 10" para o painel e 12,3" no sistema multimídia, foram intensamente traduzidas e ajustadas para o Brasil. São de boa resolução e leitura, sendo a multimídia com uma interface rápida, inclusive para os comandos por voz. Poderia manter uma faixa na tela para controle do ar-condicionado e som quando o espelhamento estiver aberto, facilitando o uso. 

GWM Haval H6 Premium HEV 2023 (teste BR)
GWM Haval H6 Premium HEV 2023 (teste BR)
GWM Haval H6 Premium HEV 2023 (teste BR)

Até mesmo os assistentes de condução foram bem calibrados. Há piloto automático adaptativo, alerta de ponto-cego (um pouco desesperado as vezes), assistente de faixa (bastante sensível, mas que funciona bem) e sistema de câmeras 360 com projeção 3D e assistente de estacionamento automático. É um dos pacotes mais completos do segmento, que ainda recebe abertura elétrica do porta-malas, ar-condicionado de duas zonas, faróis e lanternas em LEDs, carregador por indução, autohold, teto-solar panorâmico e outros itens. A lista é bem grande.

Com seus 4.683 mm, o Haval H6 tem a vantagem do porte diante dos concorrentes diretos. Com entre-eixos de 2.738 mm, há bom espaço interno principalmente no banco traseiro, com um piso quase plano e duas saídas de ar-condicionado e portas USB (que poderiam ser USB-C...). Cabem dois adultos com muito conforto e um terceiro em um nível OK. Nenhum dos médios tradicionais conseguem isso com essa facilidade. No porta-malas, 560 litros, um ponto a se destacar dentro do conjunto de espaço interno do SUV médio. 

Para ganhar o consumidor

Lógico que a GWM iria apostar em custo/benefício para fazer seu nome no mercado brasileiro. Mas não fica devendo em qualidade de construção, equipamentos, acabamento e espaço interno diante dos concorrentes da Toyota, Jeep e VW. Com o tempo veremos a questão de vendas e pós-vendas, mas há boas promessas nesse ponto. Ao mesmo tempo, vale ser exigente com novas marcas entender como os chineses, em pareceria com brasileiros, agora trabalham. 

O Haval H6 HEV entrega o que prometeu. Colocará uma dúvida na cabeça dos compradores dos SUVs médios desta faixa de preço e tem armas fortes para isso, principalmente com a tecnologia, porte e eletrificação. Tem tudo para dar certo, basta a GWM seguir trabalhando como está e como prometeu.

Fotos: Mario Villaescusa (para o Motor1.com)

GWM Haval H6 HEV

Motor dianteiro, transversal, 4 cilindros, 16 válvulas, 1.499 cm3, comando duplo com variador no escape e admissão, injeção direta, turbo, gasolina + elétrico
Potência e torque Combinada: 243 cv; 254 kgfm
Transmissão automatizada de embreagem simples, 2 marchas; tração dianteira
Suspensão McPherson na dianteira; multilink na traseira; rodas de 19" com pneus 225/55
Peso 1.699 kg em ordem de marcha
Comprimento e entre-eixos 4.683 mm; 2.738 mm
Largura 1.886 mm
Altura 1.730 mm
Capacidades porta-malas: 560 litros; tanque: 60 litros
Bateria 1,6 kWh
Preço como testado R$ 209.000
Aceleração 0 a 60 km/h: 3,8 s; 0 a 80 km/h: 5,7 s; 0 a 100 km/h: 8,2 s
Retomada 40 a 100 km/h (em S): 6,4 s; 80 a 120 km/h (em S): 5,2 s
Frenagem discos ventilados na dianteira, discos sólidos na traseira; 60 km/h a 0: 14,6 m; 100 km/h a 0: 42,9 m
Consumo de combustível cidade: 16,5 km/l; estrada: 12,3 km/l (gasolina)
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