Teste: Novo Nissan Sentra 2023 tem capacidade de ocupar espaço do Civic
Além disso, pode colocar uma dúvida na cabeça do comprador de Corolla 2.0
Depois que a Honda parou de produzir o Civic no Brasil e o transformou em um híbrido de nicho, o Toyota Corolla respirou mais aliviado. Sem um concorrente tão próximo em vendas, só observa bem longe o Chevrolet Cruze e Caoa Chery Arrizo 6 tentando algo na sua faixa de preços. Mas a Nissan quer acabar com essa paz do Toyota com o novo Sentra 2023.
O novo Nissan Sentra é uma antiga promessa em nosso mercado. Sua primeira aparição foi em 2019 na China, seu principal mercado sob o nome de Sylphy, e poucos meses depois para outros mercados, como México e Estados Unidos. E é justamente esse carro, produzido no México, que teremos no Brasil em duas versões. Para este primeiro teste, convocamos o novo Nissan Sentra Exclusive, o topo de linha que custa R$ 171.590.
Do antigo, só o nome
O Nissan Sentra 2023 mudou por completo. Demorou para desembarcar no Brasil, mas a Nissan nos deu um sedã com capacidade de incomodar o Corolla, principalmente as versões com o 2.0 aspirado. Plataforma, motor, acabamento, tecnologias, tudo isso e mais um pouco nem remete ao antigo Sentra, a não ser o nome.
Começando pela plataforma, o Sentra está sobre a CMF-C/D, a base de modelos médios da Renault/Nissan. Isso permitiu uma suspensão traseira multilink e uma qualidade de rodagem que mostra como o sedã evoluiu, principalmente pelo aumento da rigidez em 41%. Em dimensões, são 4.646 mm, ou 10 mm a mais que o anterior, e com um melhor aproveitamento do entre-eixos, que foi de 2.700 mm para 2.707 mm. Ficou mais largo e mais baixo, o que dá uma impressão diferente de porte, mais "premium", segundo a Nissan.
Isso trouxe junto um visual bem menos careta que seu antecessor. A dianteira tem faróis finos, algo do DNA atual de design da Nissan, com a grade em V com bordas cromadas e parte central em colmeia. O para-choque dianteiro também segue essa linguagem, mas pela altura do carro, facilmente raspa em valetas e lombadas, mesmo com cuidado. Como os faróis, os faróis de neblina são em LEDs e o capô tem um formato que cria um jeito mais invocado no conjunto, mais baixo.
As linhas laterais também mudam bastante. A linha de cintura ficou mais alta, com um vinco vindo pela maçaneta dianteira e subindo para a caixa de roda traseira, criando um volume. As rodas de 17" permitem pneus 215/50, um perfil "decente" para nosso asfalto. A traseira é mais conservadora quando comparada a dianteira, com lanternas que invadem a tampa, que não são em LEDs, uma ausência sentida nessa faixa de preço. Um extrator dá o ar mais esportivo.
Por dentro, trocou tudo. Há um cuidado maior com os materiais e montagem, além do próprio design. O volante é o mesmo que conhecemos de Kicks, Versa e Frontier, aqui com as aletas de trocas de marchas. O dashboard não é todo em material suave ao toque, mas recebe um material na mesma cor dos bancos até mais da metade da peça, assim como nas portas dianteiras, que recebem também outro material na parte superior - apenas nas dianteiras, porém.
O console central elevado tem diversos porta-objetos e uma área para colocar o smartphone, mas sem um carregador por indução. Cadê o freio de estacionamento? No pedal, acionado pelo motorista com o pé - segundo a Nissan, algo que só mudará em uma reestilização futura. Ar-condicionado de duas zonas, sistema multimídia com a tela de 8" com espelhamentos por fio, três saídas de ar centrais redondas e o painel de instrumentos com a tela de 7" de boa definição completam um interior que ficou interessante.
Boas sensações e pontos de dívida
O interior do Sentra impressiona. Os bancos, inclusive o traseiro, tem a tecnologia Zero Gravity e são bem confortáveis. Esse acabamento em couro claro faz parte de um pacote premium e usam um couro de qualidade com as costuras em forma de diamante em um tom especial - com isso, o Sentra 2023 chega aos R$ 173.290. Algumas partes com uma falsa fibra de carbono não combinam com essa proposta de luxo, mas não chegam a incomodar pela quantidade. Mesmo não sendo uma tela completa, o painel de instrumentos tem a parte analógica bonita e de fácil leitura, então não incomoda deixar o restante na tela central de boa definição.
Alguns pontos são falhos e mostram como esse projeto do Sentra realmente vem de 2019. Além do freio de estacionamento no pé e a falta do espelhamento sem fios, os comandos dos vidros elétricos tem sistema um toque apenas para o motorista. Parece besteira reclamar disso, mas é um carro tão bom em diversos aspectos que essas falhas, mesmo menores, precisam ser faladas.
Com seus quase 4,65 m de comprimento e perto dos 2,71 m de entre-eixos, o Sentra manteve uma de suas qualidades: espaço interno. Além dos bancos confortáveis e em boas dimensões, o espaço interno é um destaque no sedã médio. No banco traseiro, o espaço para as pernas é muito bom e até mesmo para os ombros permitem apertar um terceiro ocupante sem ele reclamar tanto. Faltou uma saída de ar dedicada, algo que sedãs compactos já trazem, e importante peça em um carro tão confortável.
O porta-malas foi de 503 litros para 466 litros, mas a Nissan diz que trabalhou o tamanho da abertura da tampa para facilitar o acesso de objetos. De fato, é bem ampla e facilita o acesso de caixas mais altas, por exemplo, além de boa profundidade. O Corolla tem 470 litros, mas o acesso é menor. Até as dobradiças, em formato pescoço-de-ganso, foram pensadas para invadir menos o espaço útil.
Além dos turbo sem perder eficiência
O Sentra usa uma nova geração do motor 2.0 MR20. Chamado de MR20DD, tem injeção direta, cabeçote com variador de fase na admissão e escape que atua em diversas faixas de rotação, inclusive permitindo o ciclo Atkinson, mais eficiente, e um coletor de admissão variável, que direciona melhor o fluxo de ar para a câmara de combustão. Há também a recirculação de gases (EGR) e redução de atrito nas camisas para os pistões.
Usando apenas gasolina - e a Nissan não planeja algo flex nesse motor -, são 151 cv (6.000 rpm) e 20 kgfm de torque (4.000 rpm). Está ligado a uma nova geração de CVT, com simulação de 8 marchas e opção de trocas pelas aletas no volante, com modos Eco, normal e Sport. Do conjunto antigo, apenas o fato de ser 2.0 com CVT, mas em gerações evoluídas e atuais.
O conjunto completo do novo Sentra 2023 com certeza colocará uma dúvida na cabeça do comprador do Corolla 2.0 e pode ser um afago ao orfão do Civic 2.0. A suspensão é confortável e só reclama do piso em situações onde era melhor ter um SUV. O fato da Nissan não ter usado rodas tão grandes no Sentra tem participação nisso, mas como já citei, precisa de um certo cuidado com o bico nas saídas de garagem, rampas e lombadas. Na minha garagem mesmo, exigiu mais calma que com muitos esportivos.
A conversa do 2.0 aspirado com o câmbio CVT, julgo dizer, é uma das melhores do mercado. Se o Corolla 2.0 já era uma boa referência nisso, o Nissan não fica devendo e chega a ser mais suave em algumas variações e simulações de trocas. E mesmo falando de um motor aspirado, o MR20 transformado responde bem em baixas rotações com a ajuda do câmbio, com a vantagem de suavidade de funcionamento. Pouco se percebe em vibrações e ruídos, que só serão presentes, e de forma leve, em altas rotações em aceleração total.
O modo Eco fica ao lado esquerdo do motorista. O Sport, no câmbio. Bem que a Nissan poderia colocar um seletor único para essa variação - se não fosse a apresentação técnica, não iria perceber o pequeno botão para o Sport na alavanca do câmbio. A posição de dirigir, baixa e com boa ergonomia, pode ser mais alta se quiser com o ajuste elétrico do banco e a boa faixa de ajustes da coluna de direção. Não foi difícil me achar nos primeiros minutos com o Nissan.
O consumo foi um ponto bom do novo Sentra. Na cidade, os 10,3 km/litro (gasolina) se destacam pelo porte do carro e não ter nenhuma eletrificação ou start-stop para desligar o motor em tráfego pesado. Na estrada, os 15,1 km/litro aparecem com o câmbio trabalhando em cerca de 2.000 rpm a 120 km/h, uma faixa baixa. E o Sentra não é um carro leve: nesta versão, são 1.405 kg.
O 2.0 de 151 cv chegou aos 100 km/h em 10,2 segundos, com retomadas na faixa dos 7 segundos. Não é um número surpreendente, mas dentro do esperado para esta potência, este peso e por ser um motor aspirado, que cresce bastante em giros mais altos, apesar de também ter força suficiente em baixas. É um bom conjunto que complementa toda essa mudança do novo Sentra.
Brigando com um preço de SUV compacto completo
O Nissan Sentra Exclusive 2023 chega por R$ 171.590 - R$ 173.590 se colocar o interior com revestimento Sand. É bastante dinheiro, mas um pouco mais barato que um Toyota Corolla Altis 2.0, com alguns itens a mais, como o sistema de som Bose. Defendendo a existência dos sedãs, é mais barato que alguns SUVs compactos completos.
Alguns pontos de falhas sabemos que foram corrigidos na reestilização apresentada recentemente na China, como as lanternas em LEDs e o freio de estacionamento automático. Isso deve chegar nos Estados Unidos só em 2024 e mais tempo ainda para chegar ao Brasil. Hoje, o Sentra é um ponto de dúvida para quem vai comprar o Corolla e pode ser a opção ao Civic. Um bom conjunto marcará essa nova fase deste sedã médio em nosso mercado.
Fotos: Mario Villaescusa (para o Motor1.com)
Nissan Sentra 2.0 CVT
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