Antes símbolo de status para a classe média, os sedãs médios ficaram bem esquecidos com a ascensção dos SUVs, a ponto que as fabricantes reviram a estratégia e já não apostam tanto neste segmento - algumas até abandonaram, como a Chevrolet, que irá encerrar a produção do Cruze no final do ano. Isto abriu espaço para um modelo que sempre foi um coadjuvante e agora é o segundo mais vendido da categoria: o Nissan Sentra.
É um daqueles casos em que as estrelas se alinharam e deu tudo certo. Em sua oitava geração, o Nissan Sentra mudou consideravelmente em relação ao seu antecessor, não só em design como também em motorização, formando um pacote bem mais interessante. E ainda vem na esteira do bom momento da Nissan, que tem ganhado espaço com o Kicks e o novo Versa, fazendo com que o Sentra seja uma boa opção para quem já está na marca e quer subir para um modelo mais refinado.
Ainda temos a situação do próprio segmento. O Honda Civic, antigo vice-líder, já não disputa mais por volume, chegando importado da Tailândia somente na versão híbrida, com um preço muito mais acima e em baixo volume. A Volkswagen desistiu do Jetta com motor 1.4 turbo e agora vende somente a versão esportiva GLI com o 2.0 turbo. Temos a Caoa Chery com o Arrizo 6 Pro, que tem um volume até bom dentro do que a empresa vende ao mês, mas bem longe de ser um concorrente forte. E ainda o Chevrolet Cruze, prestes a dar adeus com o fim da produção na Argentina agendado para os próximos meses.
Assim, Sentra tinha tudo para conseguir a 2ª colocação com tranquilidade, algo que fez facilmente logo em março, seu primeiro mês nas lojas. A liderança não é a meta da Nissan, consciente de que é praticamente impossível derrubar o Toyota Corolla, produzido em Indaiatuba (SP) e com 27.838 unidades emplacadas entre janeiro e junho – o suficiente para que tenha absurdos 80,45% do segmento. Vindo do México, o Sentra não tem nem volume para enfrentar o rival, considerando que a produção tem que atender toda a América do Norte, por isso soma só 2.604 unidades no Brasil.
A geração anterior do Sentra...
... e a reestilização do sedã médio.
Sejamos sinceros. A sétima geração do Sentra, quando foi lançada, era bem sem sal, com um design que não agradava em nada. Melhorou bastante na reestilização, quando adotou a identidade V-Motion, mas ainda trazia muitos elementos que o deixavam com uma aparência mais velha. O mesmo não pode ser dito do atual, que trouxe as linhas do Altima e do Maxima, uma fórmula que funcionou também com o Versa.
O interior recebeu uma renovação bem necessária, com um painel mais limpo ao reposicionar e reduzir o tamanho das saídas de ar. Não é bem o mesmo estilo do Kicks ou do Versa, mas passa uma sensação de similaridade por conta do volante e os comandos do ar-condicionado. Dá um passo acima ao tirar a multimídia do painel e adotar o estilo “flutuante”.
O resultado é que o Sentra ficou em mais agradável visualmente e chega até a impressionar nas ruas, sem ser muito sóbrio como alguns concorrentes, porém também não é exagerado. Mesmo a versão Advance já traz alguns itens externos interessantes como faróis full-LED, luzes de neblina, rodas de liga leve de 17" e repetidor de seta nos retrovisores.
Mudar o design não era o suficiente. O Sentra anterior era equipado com um motor 2.0 de 140 cv que era um dos menos eficientes do segmento no Brasil, fazendo 9,9 km/litro na cidade e 12,7 km/litro na estrada, usando gasolina, segundo o Inmetro. É bem diferente agora. Ainda usa um 2.0 aspirado de quatro cilindros, em uma nova geração bem mais moderna, com injeção direta e duplo comando variável tanto na admissão quanto no escape. A potência subiu para 151 cv e o torque agora é de 20 kgfm. Junte isso com uma atualização da transmissão CVT de 8 marchas simuladas e encontrará uma mecânica bem mais eficiente.
Em nosso primeiro teste com o sedã na versão Exclusive, fizemos uma média de 10,3 km/litro na cidade e 15,1 km/litro na estrada. O rendimento da versão Advance é similar e, em alguns momentos, a média na cidade chegou a 11 km/litro, exatamente o número divulgado pelo Inmetro. O consumo na estrada foi bem maior, pois o valor oficial é de 13,9 km/litro. Considerando que o único auxílio disponível é um modo Eco, que muda o tempo das “trocas” de marcha do CVT, é um belo resultado.
Na hora de acelerar, o 2.0 é competente, sem impressionar ou decepcionar. A curva de torque é bem linear, atingindo o máximo em 4.000 rpm, então mostra força para a maioria das situações. Como tanto a potência quanto o torque são até que baixos para a média do segmento, e junte com o fato de ser um carro que pesa 1.381 kg, não é nenhum esportivo. Tanto é que fez a aceleração de 0 a 100 km/h em 10,2 segundos. Novamente, nada que vai arrancar sorrisos, mas também não vai te fazer se sentir em um carro fraco.
Seu rodar é bem macio, aproveitando bem a suspensão multilink no eixo traseiro. Os bancos sempre são um destaque, usando a tecnologia Zero Gravity, desenvolvida em parceria com a NASA e que todas as vezes gera comentários quando um carro da Nissan aparece na redação de Motor1.com. A fabricante sobre aproveitar os 4,64 m de comprimento e o entre-eixos de 2,70 m para ajustar o espaço interno, com muito conforto para quem sentar nos bancos traseiros.
Mesmo com tantos bons atributos, o Sentra Advance comete alguns erros que vão se acumulando, ainda mais quando olhamos para o resto do segmento. Para começar, temos o freio de estacionamento, acionado por um pedal, algo normalmente feito na hora de controlar os custos de produção para que tenha um preço acessível. É o único sedã médio vendido no país com este sistema e isto destoa bastante.
Também não ajuda que os rivais evoluíram muito. A multimídia do Sentra não chega a ser ruim, mas deve conexão sem fios para Android Auto e Apple CarPlay como na concorrência. Os vidros tem comandos elétricos, mas somente o do motorista tem a função one-touch, além da ausência da iluminação nos botões - algo "comum" nos orientais, sabe-se lá o motivo...
Apesar da boa ergonomia dos bancos, algumas coisas não fazem sentido. A Nissan posiciona o botão do modo Eco do lado esquerdo do painel, depois do volante, um local que não é muito intuitivo. E o modo Sport? Pior ainda, pois se você não ler o manual ou o vendedor não te contar, você corre o risco de nunca encontrar o pequeno botão na alavanca do câmbio, algo que é feito desde o Kicks e que a fabricante ainda não resolveu. Por que não juntar tudo em um único botão no painel e em um lugar visível?
O que realmente ajuda o Nissan Sentra Advance é o seu preço. Por R$ 149.990, parece ser mais caro do que a concorrência, mas não é. O Chevrolet Cruze parte de R$ 149.390, somente R$ 600 menos e, como dissemos, está para sair de linha. Líder do segmento, o Corolla custa R$ 148.990 na versão GLi, porém com menos equipamentos. O único que poderia incomodar é o Caoa Chery Arrizo 6 Pro, que sai por R$ 129.990 após a redução feita pela marca em agosto e que é bem equipado, conquistando quem prefere um carro mais recheado.
Escolher o Sentra nesta categoria faz sentido. Mesmo com alguns tropeços nos equipamentos de série, ainda traz ar-condicionado digital de duas zonas, faróis de LED, seis airbags, câmera de ré, sensor de estacionamento, chave presencial, controle de cruzeiro, banco do motorista com ajuste elétrico, alerta de colisão com frenagem automática e mais. Está na faixa de preço dos demais, tem uma boa dinâmica, oferece muito conforto e é bem econômico. E não é isso o que queremos de um sedã médio?
Nissan Sentra Advance 2024
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