"A partir desse momento, todo XC40 vendido no Brasil será elétrico". Quando a Volvo anunciou isso durante uma coletiva de imprensa, pegou algumas pessoas de surpresa. Mas a decisão não foi tomada a toa pela diretoria da marca, afinal, de um lote de 300 unidades para vender até o final de 2021, se tornaram 450 carros que acabaram em poucas semanas há alguns meses.
Dá para entender o motivo? Um deles é que o consumidor do XC40 híbrido acabava olhando com muito carinho para o XC60, mesmo pagando mais caro. Mas com o XC40 elétrico, a jogada é outra. Além de só ele ter essa opção, seu conjunto até joga com a esportividade, além de todo o espírito que um carro elétrico leva ao seu dono, um cara bastante ligado em tecnologias.
Discreto e silencioso
E a Volvo fez um ótimo trabalho com o XC40 elétrico. O SUV compacto premium já se destacava em suas versões tradicionais, desde quando chegou ao Brasil apenas com o 2.0 turbo a gasolina, mas o elétrico tem alguns temperos a mais. O primeiro ponto positivo: não parecer um carro elétrico visualmente.
A não ser pela grade dianteira fechada, é difícil diferenciar um XC40 normal do elétrico - um senhor ficou alguns minutos olhando pro "meu" enquanto o dele, um híbrido na mesma cor e versão R-Design, carregava na vaga ao lado em um ponto de recarga. A porta de recarga está na lateral esquerda, na traseira, bem ao estilo bocal de abastecimento de gasolina. Quer ser mais detalhista? As rodas de 20" vestem pneus de medidas diferentes na dianteira e traseira (235/45 e 255/40), fornecidos pela Pirelli em uma versão especial para carros elétricos, mais silenciosos.
Além de discreto, o XC40 esconde o jogo na hora de acelerar. São 408 cv quando os dois motores elétricos estão combinados, com os 67,3 kgfm de torque disponíveis a qualquer toque no acelerador. Afunde o pé e perceba que a frente até levanta, um dos motivos para os pneus mais largos no eixo traseiro. Vai de 0 a 100 km/h em 4,9 segundos em nosso teste, mesmo pesando mais de 2 toneladas - como referência, um Audi e-tron faz o mesmo em 5,6 segundos, ou 4,5 segundos na sua versão S, de 3 motores.
A dinâmica do XC40 é boa, mas vale duas observações. Primeiro, seu modo de regeneração é exagerado e não tem níveis - é ligado ou desligado e precisa entrar em um menu específico no sistema multimídia. Outro ponto é que a direção é bem leve, ou leve demais em altas velocidades, então aconselho a ativar um modo que deixa ela mais responsiva, mas boa ainda pro dia a dia.
Dá para dirigir o XC40 elétrico de forma mais "abusada". A carroceria dobra pouco para um SUV, a potência é entregue entre os eixos de forma equilibrada e, por ser compacto, se encaixa fácil no uso urbano. Poderia ter modos de condução, mas foi uma escolha de Volvo ele ser aquilo ali, sempre, variando apenas no modo que você acelera. Anda bem, freia bem, faz curva bem.
No dia a dia, encantador
Mas o XC40 EV vai além disso. Imagina um cara cheio de tecnologias! Primeiro, a chave presencial só serve pro carro perceber que você está ali. Não há botão de partida, basta pisar no freio e engatar alguma marcha no seletor e, pronto, está andando. Desligar? Coloque no Park, abra a porta e saia. Demora alguns minutos para se acostumar...a ligar um carro quando você troca o XC40 por algo tradicional.
Seguindo no pacote tecnológico, a Volvo não quer que você conecte seu smartphone, mas que o carro seja seu smartphone. Com base Google, o sistema multimídia tem loja de apps como um tablet, e você loga no Google Maps, Spotify, Waze e outros aplicativos, sem a ligação direta com seu celular - que pode ser conectado ao Bluetooth, mas apenas para fazer ligações. É interessante, junto com o novo painel de instrumentos totalmente digital e de boa resolução.
Integrado, os sistemas conversam com o Volvo. O Maps, por exemplo, mostra a carga de bateria que você chegará ao destino, se é possível fazer a recarga por lá e planeja uma rota caso não dê. O Spotify está ligado a um sistema de som assinado pela Harman Kardon. O sistema funciona bem, rápido e conversa com sua casa se você usar o Google Home. Temos os assistentes de condução, com piloto automático adaptativo, assistente de faixa e alerta de colisão com frenagem automática e o leitor de placas.
No uso diário que realmente o XC40 encanta. Comparado com os hatches compactos elétricos na faixa dos R$ 250 mil, ele é maior e mais potente, além de mais refinado e com mais tecnologias. Custa mais, lógico, sendo vendido até o fim de 2021 por R$ 389.950, mas pode fechar o ano como o carro 100% elétrico mais vendido do país. Ele achou seu ponto entre esses hatches e abaixo dos Audi e-tron e Porsche Taycan, maiores e consideravelmente mais caros.
Por ser menor, se encaixa melhor nos grandes centros urbanos. Não tem um espaço interno amplo como o Audi e-tron, mas acomoda os 4 adultos com conforto e um porta-malas de 413 litros na traseira e mais 31 litros na dianteira. No consumo, registrou 4,9 km/kWh na cidade (uma autonomia de 368 km com os 75 kWh úteis das baterias) e 4,5 km/kWh na estrada (338 km). Como comparação, o Audi registrou 4,42 kWh na cidade e 3,99 kWh na estrada, mas com 86,5 kWh úteis. Poderia mostrar a autonomia além da porcentagem das baterias no painel? Sim, mas não faz. Pena.
Aposta certa?
Nem tudo são flores no XC40 EV. A suspensão faz o serviço dela, mas sofre um pouco em nosso asfalto, boa parte por "culpa" dos pneus de perfil baixo do tipo runflat. Pelo menos achar um ponto de recarga ficará mais fácil, já que a Volvo fará um investimento pesado inclusive em pontos de recarga rápida. No caso do XC40, ele recupera 80% da carga em 40 minutos em um ponto assim, ou 7 horas de 0 a 100% em um wallbox de 11 kW, que vem incluso no preço do carro.
A Volvo foi corajosa em deixar o XC40 EV como a única opção do seu menor SUV. E ampliará a linha com o C40, um SUV cupê em 2022. O carro é bom, justifica seu sucesso e a decisão da marca sueca. Aguarda concorrentes no mesmo porte e preço, como o Audi Q4 e-tron em 2022. Por enquanto, está sozinho e líder.
Veja também
Fotos: Mario Villaescusa (para o Motor1.com)
Volvo XC40 100% elétrico