Teste BYD King: o rei desafia Corolla na briga dos híbridos
Parte da ofensiva PHEV da marca chinesa, será o rei das ruas ou só o príncipe do lado do Corolla?
"Em terra de cegos, quem tem um olho é rei". Será que o ditado popular se aplica ao novo BYD King? Primeiro modelo de uma forte ofensiva híbrida da marca no Brasil, está bem armado e não esconde ambições que remetem ao próprio nome, inclusive, desafiando o tradicionalíssimo Toyota Corolla, referência dos sedãs médios. Tem potencial para assumir o trono?
Sua história é de sucesso no exterior. O BYD King é um descendente do Qin Plus, sedã híbrido plug-in que foi lançado em 2012 e quebrou recordes de vendas na China. Logo depois, passou a conviver com um irmão de visual mais atualizado (e ocidentalizado) chamado Destroyer 05. Por último, a BYD resolveu rebatizar este último com vistas ao mercado internacional. E cá estamos com o novo BYD King.
De fato, seu design externo não é tão arrojado quanto o do Han ou Seal, mas ainda assim apresenta linhas modernas e elegantes, com faróis e lanternas traseiras em LED, rodas de liga leve de 17" em dois tons, grade com detalhes cromados e um perfil com teto alongado na parte traseira. É um desenho que causa boa impressão ao vivo e tem condições de agradar a um público mais amplo, requisito bem-vindo para um sedã médio, um segmento mais tradicional por natureza.
Ofensiva de híbridos
Segundo modelo híbrido plug-in da BYD em nosso mercado (o Song Pro chegou pouco depois), o King chega com uma estratégia diferente do Song Plus ao ser oferecido com duas versões de acabamento e capacidade da bateria. O GL tem bateria de 8,3 kWh e o mais equipado, GS, tem uma bateria maior (18,3 kWh), a mesma que foi adotada recentemente pelo Song Plus vendido aqui.
E falando de versões, o King está sendo vendido por R$ 175.800 na versão GL e R$ 187.800 na configuração GS. De série, o carro conta com faróis e lanternas em LED, central multimídia de 12,8 polegadas, carregador sem fio para smartphones, painel de instrumentos digital de 8,8 polegadas, seis airbags, câmera 360° e mais. A versão GS adiciona banco do passageiro com ajuste elétrico, ar-condicionado automático de duas zonas e iluminação ambiente. Aqui, é um King GS.
Com porte de sedã médio, como já foi dito, o King mede 4,78 metros de comprimento, 1,83 m de largura, 1,49 m de altura e 2,71 m de entre-eixos, enquanto o porta-malas tem capacidade para 450 litros. Como comparação, o Toyota Corolla mede 4,63 m de comprimento, 1,78 m de largura, 1,45 m de altura e 2,70 m de entre-eixos; já o seu porta-malas carrega 470 litros.
Ao abrir a porta, o ambiente é familiar aos cada vez mais comuns BYD que temos visto. No entanto, diferentemente do Song Plus, o sedã King apostou num padrão de cores mais discreto, com predominância de preto e cinza escuro, como o brasileiro normalmente aprecia mais, embora isso esteja mudando. A cabine é sóbria, com bom nível de acabamento, montagem e qualidade dos materiais, a exemplo de outros modelos da marca, mas não chega a surpreender. É honesto.
Na frente, o espaço é bom para os dois ocupantes, mas um banco com apoio lateral mais pronunciado faria bem ao motorista. A posição de dirigir, por conta da baterias no assolho, tem uma pequena limitação na altura, reduzindo o intervalo de altura do banco sem bater o teto na cabeça. Na prática, não chega a comprometer, a não ser em casos de pessoas bem mais altas. Atrás, dois adultos e uma criança se acomodam sem problemas, sobretudo pelo bom espaço para as pernas.
O quadro de instrumentos digital tem grafia simples e oferece boa leitura das informações principais, podendo ser configurado com três opções de temas. Já a tela central adota o layout conhecido dentro da linha BYD, para híbridos ou elétricos. E falando em interface, os comandos de voz funcionam bem e, adicionamente, pelo seletor do volante multifuncional é possível ligar/desligar, bem como alterar a temperatura do ar-condicionado sem precisar recorrer à tela, evitando esse incômodo - as montadoras precisam voltar a oferecer botões físicos para funções mais comuns.
Híbrido com jeito de elétrico
Logo na primeira acelerada, o BYD King mostra seu perfil. É rápido e progressivo, com comportamento e sensações de carro elétrico. Responde rapidamente ao comando do pé direito, acelera sem solavancos ou trancos, mostrando que o sistema híbrido plug-in DM-i (Dual Mode) e a transmissão E-CVT trabalham em perfeita sintonia. Não há fraqueza com pouca carga no pedal ou motor berrando quando se pisa fundo, funcionamento suave que é um dos destaques do carro.
O desempenho do sistema, formado pelo propulsor 1.5 aspirado de 110 cv e 13,8 kgfm que trabalha em conjunto com um motor elétrico 197 cv e 33,1 kgfm para um total de 235 cv de potência, é mais que suficiente para o uso diário. Impressões que foram confirmadas em nosso teste, com aceleração de 0 a 100 km/h em 7,3 segundos, mesmo dado oficial, diga-se.
Naturalmente que estamos falando de um sedã médio em uma versão regular, sem qualquer pretensão esportiva. Mas, a exemplo de outros modelos BYD, o King tem um perfil com suspensão mais voltado ao conforto, que é bom pra rodar na cidade. Mas aqui, um ajuste um pouco mais firme casaria muito bem com seus saudáveis 235 cv, sobretudo em rodovias e ao fazer curvas mais rápido.
Em marcha, o King agradou pelo silêncio à bordo, com bom nível de isolamento acústico. O motor a combustão, nas poucas vezes em que foi solicitação, transmitiu pouco ruído e vibração para a cabine. Nesse quesito, só pra citar um exemplo, é bem melhor que um Corolla Hybrid, guardadas as diferenças de projeto e de trem de força.
Na estrada, o King se sobressai com desenvoltura, rodando em silêncio e com retomadas bem ágeis, com o motor elétrico prevalecendo na maior parte da viagem, mesmo no modo híbrido (HEV). Isso também é mérito do peso de 1.500 kg, contra 1.790 kg Song Plus, que usa o mesmo trem de força. Com todas essas qualidades, só ficou devendo mesmo um ADAS, com os essenciais controle de cruzeiro adaptativo e os sistemas de permanência em faixa, de pontos cegos e frenagem de emergência.
Consumo: um capítulo à parte
Uma das principais vantagens do híbrido plug-in (PHEV) sobre o híbrido (HEV) é a possibilidade de dirigir usando só a bateria por mais quilômetros. No caso do BYD King, conseguimos rodar 115 km no modo EV em circuito urbano, sem usar uma gota de gasolina. Na prática, um número melhor que os 80 km oficiais declarados pelo Inmetro.
Para quem roda só na cidade, é um bom negócio aproveitar a bateria e rodar no modo elétrico o tempo todo, como se fosse um carro elétrico, recarregando em casa. Por outro lado, usando o modo híbrido há várias possibilidades. No entanto, o mais recomendado e simples é deixar no modo Auto, onde o sistema irá gerenciar o uso do motores a combustão e elétrico, com vista ao melhor resultando em eficiência e consumo. Nós testamos o King nessa condição, conseguindo excelentes consumos de 30,3 km/l na cidade e 24,4 km/l na rodovia.
Agora, para quem gosta de explorar mais possibilidades, o sistema híbrido oferece a opção Save, onde você define um estado de carga da bateria (no máximo 70%) e o sistema trabalha para manter essa capacidade, ou chegar nela se estiver abaixo. No caso do King, resolvemos testar também nessa condição, mas com o objetivo de manter o estado de carga, ao invés de "subir" para carregar a bateria.
Nesse modo, o King usou o motor a combustão com um pouco mais de frequência se comparado ao modo Auto e conseguiu manter a bateria na faixa dos 70% em uma viagem que fiz ao interior de São Paulo, com um consumo de 18,1 km/l. Na cidade, pelo mesmo método, atingimos 20 km/l, que, enfatizo, não é a opção mais eficiente do carro, mas ainda assim entrega números interessantes. Veja a tabela.
MODO | CONSUMO |
Auto - Cidade | 30,3 km/litro |
Auto - Estrada | 24,4 km/litro |
Save - Cidade | 20,0 km/litro |
Save - Estrada | 18,1 km/litro |
EV - Cidade | 115 km |
O sistema híbrido é alimentado por uma bateria LFP com 18,3 kWh de capacidade, enquanto o tanque de gasolina comporta 48 litros. Dito isto, podemos, por exemplo, estimar que com tanque cheio e bateria carregada, na condição de estrada que rodamos (modo Save que mantém o estado de carga da bateria), daria pra rodar pelo menos 868 km sem parar para carregar ou abastecer (48 litros x 18,1 km/l), isso sem contar a energia restante da bateria, que permitiria rodar mais alguns quilômetros. Na cidade, pelo mesmo padrão, teríamos 960 km + bateria.
*quando o estado de carga chega a 25%, o motor volta a carregar a bateria, nunca ficando abaixo desse patamar.
Naturalmente, esses números podem variar para mais ou para menos em função de topografia, carga, estilo de condução e etc., mas o objetivo aqui é apenas dar uma noção das possibilidades de consumo de um sistema híbrido plug-in.
Apenas como referência, o Toyota Corolla Hybrid, que utiliza um sistema híbrido convencional (HEV), com motor 1.8 de 122 cv no total e uma bateria de 1,3 kWh, que é recarregada pelo próprio veículo durante as frenagens, tem consumo declarado de 18,5 km/litro na cidade e 15,7 km/litro na estrada, quando abastecido com gasolina, de acordo com os dados do Inmetro - nos testes do Motor1, chegou ao patamar de 20 km/l na cidade.
E agora falando da recarga, o King pode ser carregado apenas em corrente alternada AC, não aceitando recarga rápida DC. A especificação indica 6,6 kW. Na prática, foi possível atingir 5,9 - 6,0 kW, o suficiente para ir de 30 a 80% da bateria em cerca de 1 hora e meia. Como o modelo veio com carregador portátil, dá pra carregar na tomada 220V com 3,3 kW, que daria pra cumprir a mesma tarefa em 2 horas e 45 minutos.
Galeria: Teste BYD King (BR)
Herdará o trono?
O BYD King mostra que a BYD está no caminho certo, estreando no segmento de sedãs médios com um produto que agrega elementos importantes como qualidade de construção, conforto, bom desempenho e, sobretudo, consumo e eficiência exemplares. Não foge do bom padrão dos demais modelos BYD, mas merecia um pacote de assistência ao motorista, justificável pela proposta do carro. De resto, um ajuste fino de suspensão e direção e tudo ficaria ainda melhor.
O preço de R$ 187.700 da versão GS testada não destoa da realidade, ainda mais encarando o rival japonês que está na mesma faixa de valor, mas que não é híbrido plug-in e tem desempenho inferior. No final, a BYD fez uma boa jogada, mas ainda é cedo pra dizer se foi um xeque-mate. Os japoneses jogam com a tradição, confiança dos clientes e um produto robusto, mas que já fica devendo em tecnologia e eficiência. Veremos como o mercado reage à novidade, mas é inegável que o King tem atributos e pode bagunçar o tabuleiro.
Fotos: Mario Villaescusa (para o Motor1.com)
BYD King PHEV (18,3 kWh)
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