Em um espaço de poucos meses de 2015, foram apresentados Honda HR-V, Jeep Renegade e Peugeot 2008, tirando de Ford EcoSport e Renault Duster a exclusividade entre os SUVs compactos. O 2008 se destacou com o motor 1.6 turbo, apesar do câmbio manual, em uma época onde isso era raro até mesmo no mercado em geral. Mas sabemos que ele nunca conseguiu se destacar como os outros e, em breve, terá uma nova geração.
Se for hoje em uma concessionária, terá algumas unidades do Peugeot 2008 2023/2024 em promoção e, se quiser 2024/2024, a única versão disponível será essa, a Griffe com o motor 1.6 turbo e câmbio automático, por tabelados R$ 134.990, que com certeza ainda pode ser negociado. É um bom negócio tão perto da nova geração?
De 2015 pra cá, pouco mudou
Em nove anos, muito mudou no mercado e no segmento de SUVs compactos, mas não no 2008. O Peugeot teve uma reestilização leve em 2019, com o câmbio automático no 1.6 turbo, pequenas mudanças em 2022 e a chegada do câmbio automático de 6 marchas no 1.6 aspirado em 2017, além de diversas séries especiais. E só.
Ou seja, reviver o 2008 hoje é quase a mesma percepção que tive no seu lançamento em 2015, algo que indica a idade de nós dois. E sempre o senti mais como uma perua alta do 208 que um SUV em si, o que não necessariamente é algo ruim. Com 4.159 mm de comprimento, ele é só 60 mm maior que um Fiat Pulse, com 10 mm a mais no entre-eixos (2.542 mm), assim como altura (1.583 mm) e largura (1.739 mm) não o destacam principalmente diante da nova leva de SUVs.
Ou seja, não é exemplo de espaço interno diante dos SUVs atuais, lembrando muito mais um hatch nos bancos da frente e no traseiro, afinal seu entre-eixos é o mesmo do 208 anterior e menor que de um Onix atual. Tem o porta-malas de 402 litros e, por isso, remete muito ao que as peruas ofereciam aos compradores - o Chevrolet Tracker, um SUV maior e mais moderno que o 2008, tem 393 litros, enquanto um Hyundai Creta tem 422 litros.
Mas uma coisa que o 2008 tem que ainda o destaca e a Peugeot já trouxe uma nova geração é o i-Cockpit. Foi no 208/2008 em suas primeiras gerações que a arquitetura do volante de menor diâmetro e um painel de instrumentos elevado estrearam por aqui e que evoluirá na próxima geração, que chega nos próximos meses, como já está no atual 208.
No interior, a idade pesa um pouco em alguns pontos. O sistema multimídia na tela de 7" tem os espelhamentos, com fios, e o cabo fica bem exposto diretamente na central - apesar de ter uma porta no porta-objetos inferior, ele é só para recarga. O acabamento não foge muito do segmento, com plásticos rígidos, mas com boa montagem e uma boa aparência, ainda nos molde da PSA. Mas inegável que o comando do ar-condicionado de duas zonas é bem mais prático que o usado na nova geração, pela tela multimídia.
Melhor que muito novato
Espaço interno e tecnologia podem não ser o forte do Peugeot 2008, mas ele é um que ainda se destaca para quem gosta de dirigir. Não só pela posição que o i-Cockpit proporciona, mas em como ele se comporta e, principalmente, pelo motor 1.6 turbo, o famoso THP, que aqui tem 165/173 cv e 24,5 kgfm, números que ainda são respeitáveis mesmo entre os motores acima de 1.0 turbo.
O 1.6 turbo é um motor elástico e que cresce de forma linear e rápida. Com o câmbio automático de 6 marchas, o conjunto faz as trocas cedo e aproveita a entrega do torque já a 1.400 rpm e o baixo peso do 2008 (1.246 kg) para ter boas respostas em precisar esticar marchas ou apelar para reduções. Até no modo Eco, o 2008 sai da imobilidade sem reclamar e, na cidade, registrou 9,8 km/litro, com gasolina, aceitável pela potência.
Em diversos momentos, esse veterano 4-cilindros parece até melhor que motores modernos - na mesma semana, estive com um Fastback Abarth com o novo 1.3 turbo e, na comparação, o 1.6 turbo é mais sociável, mesmo menos potente. O funcionamento é mais suave e parece mais a vontade com sua potência que o 1.3 de até 185 cv. Vale lembrar que, com algumas atualizações, esse motor segue vivo na Europa, inclusive em híbridos plug-in.
Uma prova que ainda é um motor com potencial é seu 0 a 100 km/h em 8,2 segundos (com gasolina) e retomadas na faixa dos 5 a 6 segundos, números melhores que os de T-Cross 1.4 turbo, Jeep Renegade 1.3 turbo e Honda HR-V turbo com etanol, além de próximo ao Fastback Limited com o 1.3 turbo, também testado com etanol. E com 14,9 km/litro na estrada, também vai bem em ritmo rodoviário.
Só que o Peugeot 2008 não é um esportivo. A suspensão tem curso longo e foco em conforto - o que no dia a dia é um ótimo ponto -, logo a carroceria rola bastante e, nas acelerações mais fortes, a frente levanta sem dó. Nas curvas, apesar de uma direção direta e de bom peso, essa característica fica bem evidente, longe de ser um carro inseguro. Nesse ponto, bem que o 2008 poderia ser uma perua também na suspensão, já que até os freios a disco nas quatro rodas ele tem.
Mas vale uma consideração. Seu tamanho ajuda no uso urbano, já que tem a altura do solo elevada, mas é menor e mais compacto para estacionar e usar nos grandes centros. Já falei do conforto ao volante mas, para quem não quer um dos SUVs compactos que já não são tão compactos, fica na medida se o que oferece de espaço estiver dentro do que você precisa.
O que vem por aí?
Em 2015, o Peugeot 2008 poderia ser um carro bem equipado, mas hoje não. Nesta versão, hoje única, temos o controle de estabilidade com o chamado Grip Control, um seletor de modos de atuação do sistema dependendo do piso; 6 airbags, ar-condicionado de duas zonas, sistema multimídia com tela de 7", teto panorâmico, acendimento automático dos faróis, rodas de 16", piloto automático, câmera de ré e chave canivete.
Por R$ 134.990, parece ser bastante dinheiro por um carro de geração antiga, mas ele troca isso pelo motor mais potente, já que nesta faixa, você levará as versões de entrada com motores, no máximo, 1.0 turbo dos demais SUVs. Sua dívida maior fica para a falta de assistentes de condução, mais tecnologias e mimos, como chave presencial ou faróis em LEDs. É um carro com quase 10 anos de mercado e que viveu outra era.
Com uma boa negociação, é um carro ainda interessante para se ter na garagem - o próprio site de ofertas da Peugeot mostra unidades 23/24 dessa versão por R$ 129.990, que ainda podem ter mais desconto na concessionária. Para quem gosta de dirigir, é um bom projeto, mas não perfeito justamente pela falta de atualizações maiores na sua vida. Agora nos resta esperar a nova geração e suas evoluções.
Peugeot 2008 1.6T AT6