"Chinês?!". Acompanhada de uma cara de espanto e surpresa, era assim que muita gente recebia a informação que o BYD Tan era um SUV chinês. "Elétrico? Desse tamanho?" era a frase ao saberem que é um modelo 100% elétrico para concorrer com os SUVs premium de marcas como Audi, BMW, Mercedes-Benz e Volvo. "Mais de R$ 500 mil?!", acho que essa frase nem preciso dizer quando aparecia na conversa...
O BYD Tan foi o primeiro lançamento da marca chinesa entre os automóveis para nosso mercado. Por R$ 515.890, é o ponto alto da engenharia chinesa e sua plena evolução para ganhar o mundo e acabar com o preconceito de que carro chinês é inferior aos demais. Mesmo aos mais exigentes, o SUV elétrico se destacou nas ruas e, confesso, foi uma grata surpresa em nossos dias de convivência.
"Build Your Dreams". Essa frase está na traseira do Tan e é o significado de BYD. Pode parecer que o espírito coach baixou no dono do carro, mas é assim que ele vem da China, além da mesma frase aparecer escrita no interior perto do passageiro dianteiro e entre os bancos, para os passageiros traseiros. Muita gente ficou olhando para o Tan no trânsito sem entender o que estava acontecendo ali.
Além de ser uma marca "nova" no Brasil - ela já tem um bom mercado entre carros comerciais, ônibus e caminhões -, o Tan chegou ao Brasil sem um escrito BYD. Em seu lugar, o nome da dinastia que identifica o carro na forma que é escrita na China - na verdade, o Tan é o Tang, mas o "G" é mudo na fala. Não preciso falar o que seria confundido se tivesse mantido o Tang completo por aqui. Mesmo assim, tem o escrito Tan pequeno na tampa traseira, assim como o EV identificando o carro elétrico.
E sim, ainda procuramos "pelo em ovo" em um carro chinês. Mas o BYD Tan não dá nenhum tropeço em encaixe de peças da carroceria, gaps e até mesmo em qualidade de pintura. O design impacta, apesar de nos remeter a outras marcas em alguns elementos, mas muito bem resolvido. Faróis fullLEDs finos, uma grande grade dianteira e a traseira com lanternas em LEDs conectadas se destacam no Tan, ampliado pelas rodas de 22" preenchendo as grandes caixas de rodas.
Por dentro, o Tan(g) é ainda mais chamativo. Obviamente que o show principal vem da enorme (e exagerada) tela de 15,6" giratória (ainda não entendi a utilidade disso...) posicionada ao centro do painel, que poderia ser menor e melhorar o posicionamento das saídas de ar e até sua usabilidade. O painel de instrumentos de 12,3" tem uma boa resolução e o volante de 2 raios e base reta é diferente, mas com boa pegada e tem regulagem elétrica de altura e profundidade.
Tudo vem acompanhado com um acabamento sem observações. Couro, tecidos e plásticos texturizados invadem a cabine para dar um ambiente bem resolvido. LEDs ambientes podem mudar de cor conforme o gosto do dono - e aparece no painel, iluminado, o Build Your Dreams. Bancos grandes, console central alto com comandos e botão de partida e até mesmo a chave com construção em alumínio passam a sensação de luxo. Não fica devendo a qualquer europeu, a não ser pelos exageros da central multimídia e sua usabilidade.
O BYD Tan é o maior carro elétrico do mercado brasileiro. O SUV tem 4,87 m de comprimento, sendo 2,82 m de entre-eixos, que só não é maior pois tem versões com motores a combustão na China. Além do design, chama a atenção pelo seu porte e por ser o único SUV de 7 lugares elétrico disponível por aqui, até o momento.
O espaço interno obviamente não é um problema. No banco traseiro, muito espaço para as pernas com piso plano, apesar de dever ao menos uma zona dedicada no ar-condicionado, que dá apenas duas saídas de ar para os ocupantes dali, algo que nessa faixa de preço já faz diferença. Os ocupantes da terceira fileira não tem tanto espaço assim, mas podem fazer uma viagem rápida. No porta-malas, com acionamento elétrico, capacidade para 940 litros com duas fileiras ou 265 litros com as três. Como referência, o Jeep Commander tem 661 e 233, respectivamente.
Para levar tudo isso, ou 2.479 kg, dois motores elétricos que totalizam 517 cv e 69,3 kgfm de torque. Para alimentar, uma bateria chamada de Blade pela BYD, pelo seu formato, com a composição de lítio-ferro-fosfato, diferente do que normalmente encontramos nos demais elétricos do mercado. É mais segura em acidentes e com maior durabilidade, mas é mais pesada e menos densa, com 86,4 kWh (82 kWh úteis) em 700 kg e instalada no assoalho do carro. Sim, é mais barata para produzir.
Mas nada adianta todo esse show se o BYD Tan não refletisse isso em movimento. Ele é refinado e não esconde que se baseia em europeus para isso. Tem modos de condução Sport e Eco, além de dois níveis de regeneração selecionáveis pelo console central. Ainda dá para perceber elementos de modelos chineses, como em uma suspensão bem focada em conforto e que deixa o carro balançar em velocidades mais altas e uma direção que poderia ser mais comunicativa em rodovias. Só realmente reclama com batidas secas em buracos mais profundos, mas menos que muitos carros mais adaptados ao nosso solo e com rodas menores.
O BYD Tan tem dois motores elétricos, de 245 cv e 33,7 kgfm na dianteira e 272 cv e 35,7 kgfm na traseira. Mas o que chamou a atenção foi como esta potência está disponível no SUV de 2.479 kg declarados. Linear, é tranquilo de usar, enquanto alguns elétricos são mais "soco no peito" dependendo de como você aciona o pedal, mesmo sem precisar. É um SUV de 4,8 segundos no nosso teste 0 a 100 km/h, mas só joga a potência quando é realmente solicitado.
Ou seja, aquela puxada tão característica dos elétricos no dia a dia é suavizada, mas ainda o suficiente (e um pouco mais) para o uso. Isso reflete no consumo: com 5,3 km/kWh, é melhor que o Volvo XC40 (4,9 km/kWh) e que o Audi e-tron (4,42 km/kWh) na cidade, o que dá uma autonomia de 435 km. Na estrada, ele foi até melhor, algo pouco visto nos elétricos, com 5,7 km/kWh, uma autonomia de 468 km. São boas médias conseguidas pela boa gestão de energia do BYD.
As baterias de 82 kWh úteis fazem parte, mas os elétricos nos levam a mais um ponto: capacidade de recarga. Em AC, sua capacidade máxima é de 7kW, lento na comparação com modelos que já chegam a 11 kWh ou mais. Isso explica a demora que percebi ao usar os wallbox públicos para ganhar carga no SUV. Parece algo pequeno, mas significa mais tempo para ganhar autonomia ao lado de outros modelos, importante aos que procuram um carro elétrico. Em DC, são até 60 kW, ante até 151 kW do Volvo XC40, por exemplo.
Isso é para a proteção das baterias. O composto diferente do tradicional é mais seguro e tem vida útil maior, além do próprio gerenciamento ajudar na autonomia, mas o contra é essa capacidade de recarga menor e menor densidade (ou seja, maior peso por uma capacidade menor). Como o Tan ainda não é um carro desenvolvido 100% elétrico, também percebemos as baterias expostas no inferior do carro, apesar de protegidas contra impactos.
O BYD Tan aposta em marcas de prestigio para ganhar clientes. Freios Brembo, sistema de som Dirac (que funcionando com FM parece algo mono, mas com boa qualidade em outras fontes), pneus Continental e acabamento. Se posso achar críticas, o multimídia poderia ser menor e mais fácil de operar, já que uma simples regulagem de altura dos faróis é necessário entrar em 2 ou 3 submenus, um problema de User Experience. Apple CarPlay e Android Auto fazem falta, mas a marca diz que irá resolver no segundo semestre.
O BYD Tan mostra onde os chineses chegaram. Acabamento, design, tecnologias de condução que funcionam muito bem, gerenciamento de autonomia eficiente e até a construção já estão no pé que os europeus oferecem. Posicionada como uma marca premium no Brasil, ao menos oferecem um produto que pode brigar. Pequenos tropeços ainda acontecem, como o uso do multimídia e a capacidade de recarga, mas não chegam a desqualificar o SUV elétrico. Seu próximo premium será Made in China? Eles querem que seja.
BYD Tan EV
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