Novo Renault Duster Iconic 1.6 CVT 2020: Prós e Contras
Ele ficou mais bonito por fora, mais bem acabado por dentro e manteve a robustez que sempre o destacou. Só faltou o motor turbo...
Coube ao Duster o mérito de ter sido o primeiro modelo a fazer frente ao EcoSport. Lançado no Brasil em 2011, quando o Ford estava para trocar de geração, o SUV da Renault logo conquistou uma legião de fãs com seu jeitão parrudo, espaço interno amplo e mecânica robusta. Só que o tempo passou, o mercado foi invadido por uma série de novos rivais e o Duster acabou perdendo o brilho. Para piorar, a própria Renault investiu em outro modelo da mesma categoria, o Captur.
Sair dos holofotes, no entanto, não apagou as qualidades do Duster. E o que a Renault fez para a linha 2020 foi justamente reforçar os pontos positivos do modelo e trabalhar para mitigar os negativos. O carro que você vê agora não chega a ser uma nova geração, mas a evolução é gigantesca. E o melhor: sem fugir da faixa de preço que ele atuava anteriormente.
Pegamos então o novo Duster 2020 na versão topo de linha Iconic para um teste completo e apontamos a seguir seus principais prós e contras. Confira:
PRÓS
Embora tenha trocado todas a chapas da carroceria e mudado até o ângulo de inclinação do para-brisa (alterações que o deixaram mais atraente), a grande evolução do Duster está na cabine. O painel, antes simplório, agora mostra que dá para ter boa aparência e tato mesmo sem usar materiais macios no acabamento. Os plásticos seguem rígidos, mas agora com uma impressão muito melhor de qualidade, com destaque para os apliques metalizados nas saídas de ar e nos comandos do ar-condicionado, que, por sinal, ficaram muito bacanas com as três telinhas que comandam, respectivamente, temperatura, velocidade da ventilação e direção do fluxo.
Outro ponto que agrada é a disposição de alguns comandos em teclas do tipo aviação, como o sistema start-stop e a trava das portas, por exemplo, numa solução que lembra até alguns carros da Audi. A Renault também trouxe um novo volante, o mesmo da dupla Logan/Sandero, e colocou uma tela em LCD para o computador de bordo, incluindo velocímetro digital entre os mostradores analógicos.
As novidades chegaram até ao teto, agora com revestimento preto e novas luzes de leitura, tanto na parte frontal quanto no centro da cabine. Os bancos também ganharam novo revestimento, enquanto o comando de ajustes do retrovisor passou para o lado esquerdo do painel, junto do botão do alerta de ponto cego (de série nesta versão topo de linha).
Se o Duster já era bom de espaço e suspensão, ele agora reforça esses pontos com uma cabine mais bem isolada em termos de ruídos e vibrações. Exceto em acelerações e retomadas de pé embaixo, quando o barulho do motor se faz presente, no restante das condições o SUV ficou bem mais silencioso. Já a suspensão permanece muito boa de buraco/valetas/lombadas, absorvendo de forma muito competente os impactos sem, no entanto, deixar a carroceria "boba" em curvas fechadas ou altas velocidades. Ainda que não tenha mais a opção de tração 4x4, o Duster vai muito bem em estradas não pavimentadas, com excelentes 23,7 cm de altura livre do solo e um ângulo de entrada de 30 graus. Mesmo nesta versão com aros 17" e pneus 215/60 da Continental (de ótima aderência, por sinal), impressiona como o Duster deixa as ruas mais "lisas", como todo bom SUV deveria fazer.
Já quanto ao espaço, o modelo da Renault continua entre os melhores da classe. Recebe bem quatro adultos e uma criança, tem boa largura interna e, aproveitando-se do fato de ser um dos mais compridos do segmento (4,376 metros), segue com o maior porta-malas: 475 litros em um compartimento profundo e com amplo acesso.
Ainda que as versões de topo não costumem ser as mais atraentes em termos de preço (eu ficaria com a intermediária Intense), esta Iconic chega bem posicionada. Vejamos, por R$ 87.490, ela ainda se situa abaixo das versões de entrada de alguns concorrentes e traz uma lista de equipamentos de série bem recheada. Estreia, por exemplo, a nova central multimídia da Renault (Easy Link), com tela capacitiva de 8" e um esquema de quatro câmeras (frontal, traseira e uma de cada lado) que facilita as manobras, além de ter perfis independentes para seus usuários. Também possui conexão Apple Carplay e Android Auto (ainda por cabo).
A chave do tipo cartão precisa apenas ser aproximada do carro para que o alarme seja desativado e as portas se destravem (o inverso também se aplica na saída), enquanto a partida é dada por um botão no painel. O ar-condicionado é digital, os bancos são de couro e as rodas aro 17" possuem acabamento escurecido e desenho exclusivo em relação às demais versões. Os faróis trazem luz diurna (DRL) em LED, enquanto os retrovisores contam com alerta de ponto cego. Já os controles de estabilidade e tração agora são item padrão, embora os airbags se limitem apenas aos frontais - uma incoerência visto que até o pequeno Kwid traz as bolsas laterais.
CONTRAS
Nada contra o bom motor 1.6 SCe da Renault, que trabalha suave e oferece bom torque em baixas rotações para um aspirado. São 120 cv e 16,2 kgfm com etanol, que em teoria não chegam a comprometer para os 1.279 kg do Duster. O problema é que o câmbio CVT foi ajustado totalmente para o conforto e, quando aparece uma subida, o SUV sofre.
Aliás, não é só nas subidas. Pensado para fazer o motor girar baixo (fica em cerca de 1.500 rpm em velocidades de cruzeiro), o CVT é lento nas saídas e retomadas. Em resumo, você pisa e parece que nada acontece durante preciosos segundos, até que o motor enfim sobe de giro e o Duster ganha fôlego. Num trecho de subida de serra, tive que apelar para as trocas manuais de marcha (pela própria alavanca) para não perder o pique, fato que reforça que o problema está mais na transmissão que no motor em si.
Nossos testes instrumentados deram uma boa ideia de como o Duster (não) anda. A aceleração de 0 a 100 km/h levou longos 13,8 segundos e a retomada de 80 a 120 km/h não aconteceu antes de 10,2 segundos. Para efeito de comparação, o Renegade 1.8 automático, que tem fama de lento, cumpre as mesmas provas em em 13,1 s e 10,4 s, respectivamente. Ou seja, não espere saídas de semáforo contundentes na cidade e seja cauteloso nas ultrapassagens na estrada, sem medo de recorrer às trocas manuais para ganhar agilidade.
Essa lentidão poderia ser compensada por um consumo brilhante, mas também não foi o que observamos. Apesar de artimanhas como o sistema start-stop (que deliga o motor em paradas curtas) e o modo ECO (que deixa as respostas ainda mais "suaves"), o Duster obteve médias apenas razoáveis com etanol: 7,2 km/litro na cidade e 9,7 km/litro na estrada.
A Renault já prepara por aqui a versão flex do motor 1.3 turbo desenvolvido em parceria com a Mercedes na Europa, que deve render cerca de 150 cv e 24 kgfm. Acontece que sua aplicação deverá acontecer primeiro no Captur renovado, em 2021, para só depois chegar ao cofre do Duster.
Dissemos que o Duster evoluiu sobremaneira na cabine, o que é fato, mas é preciso ressaltar também que alguns pontos ainda ficam devendo. A ergonomia para o motorista, por exemplo, é atrapalhada pelo lago console central, que pega na perna direita, e pela posição do puxador de porta, que bate na perna esquerda. Melhorou em relação ao anterior, mas ainda incomoda depois de uma viagem mais longa.
Também faltaram porta-objetos mais eficientes. Todos são rasos e deixam as coisas soltas, além de não haver sequer um porta-copos - há um pequeno buraco redondo que não cabe nem uma garrafinha de água. A Renault também insiste naquele apêndice na coluna de direção para mexer nas funções do rádio, enquanto tem espaço sobrando e teclas sem função no volante. Por fim, falta iluminação da alavanca de câmbio à noite, pois também não há trilho com as posições da transmissão e o motorista pode ficar um pouco "perdido" no escuro. Enfim, são alguns resquícios do projeto de baixo custo que ainda aparecem apesar do bom trabalho de renovação feito no SUV.
Fotos: autor e divulgação
FICHA TÉCNICA: Renault Duster Iconic 1.6 CVT
MOTOR | dianteiro, transversal, quatro cilindros, 16 válvulas, 1.598 cm3, duplo comando de válvulas com variador na admissão, flex |
POTÊNCIA/TORQUE |
118/120 cv 5.500 rpm; Torque: 16,2 kgfm a 4.000 rpm |
TRANSMISSÃO | câmbio automático tipo CVT com simulação de 6 marchas, tração dianteira |
SUSPENSÃO | independente McPherson na dianteira, eixo de torção na traseira |
RODAS E PNEUS | alumínio aro 17" com pneus 215/60 R17 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e tambor na traseira com ABS e EBD |
PESO | 1.279 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.376 mm, largura 1.832 mm, altura 1.693 mm, entre-eixos 2.673 mm |
CAPACIDADES | tanque 50 litros; porta-malas 475 litros |
PREÇO | R$ 87.490 |
MEDIÇÕES MOTOR1 BR (etanol) | ||
---|---|---|
Renault Duster 1.6 CVT | ||
Aceleração | ||
0 a 60 km/h | 6,1 s | |
0 a 80 km/h | 9,2 s | |
0 a 100 km/h | 13,8 s | |
Retomada | ||
40 a 100 km/h em D | 9,9 s | |
80 a 120 km/h em D | 10,2 s | |
Frenagem | ||
100 km/h a 0 | 39,6 m | |
80 km/h a 0 | 24,9 m | |
60 km/h a 0 | 13,9 m | |
Consumo | ||
Ciclo cidade | 7,2 km/l | |
Ciclo estrada | 9,7 km/l |
Galeria: Renault Duster Iconic 2020 (lançamento)
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