A nova geração do Tracker chegou dando o que falar. Ou melhor, falando mal dos concorrentes, apontando que fulano é mal acabado, que ciclano gasta muito combustível e que beltrano não oferece tecnologia suficiente. Só que nem todo mundo ficou quieto às provocações, e a resposta veio logo daquele que deverá ser o principal rival, o VW T-Cross, aproveitando-se do fato de o porta-malas do GM não ter aberto na apresentação online (o câmbio estava em Neutro, não em Parking). Passada a fase de troca de farpas nas redes sociais, chega enfim o momento do duelo na real: eis o esperado comparativo entre Tracker Premier e T-Cross Highline.
Espaço e praticidade
A nova geração do SUV compacto da GM larga em vantagem num aspecto importante para modelos do tipo: porte. Repare nas imagens como o Tracker é literalmente mais carro que o T-Cross. Apesar de VW brasileira ter feito o modelo daqui sobre a base do Virtus (2,65 m de entreeixos contra 2,56 m do T-Cross europeu), ele já tinha ficado para trás neste aspecto nos comparativos anteriores, contra Renegade, Creta e HR-V. Pois o novo Tracker é mais um a reforçar o aspecto "hatch elevado" do T-Cross.
O modelo da Chevrolet é maior em praticamente todas as medidas, incluindo 7 cm no comprimento, 4 cm na largura e 5 cm na altura - só perde justamente no entreeixos, em 8 cm. Por dentro, exceto pelo espaço para as pernas no banco de trás (melhor no VW), é clara a vantagem do Tracker. Sua cabine é sensivelmente mais larga e até o motorista encontra mais folga, com ampla liberdade de movimentos. No T-Cross, a parede do console central fica encostada na perna direita de quem dirige, enquanto o painel elevado não ajuda a disfarçar o quanto ele é estreito. Em outras palavras, a distância do T-Cross para o Polo é menor que a distância do Tracker para o Onix, que são, respectivamente, os modelos base de cada um.
Mas o SUV da VW tem algumas boas sacadas, como as saídas de ar exclusivas para os ocupantes do banco traseiro, além de uma solução que permite chegar o encosto do banco traseiro alguns centímetros para frente, de modo a aumentar o porta-malas (embora deixe o encosto muito vertical). Na posição normal, porém, o compartimento do Chevrolet é 20 litros maior, com 393 contra 373 litros.
Ambos têm os principais comandos bem posicionados, sem algum detalhe que chame a atenção negativamente neste aspecto. A destacar, no Tracker, o uso de bancos maiores e bem mais confortáveis que os do Onix, enquanto os do T-Cross são semelhantes aos do Polo. Mas o que deve conquistar mesmo o "público SUV" é a posição de dirigir do GM, com o painel mais baixo e o amplo capô à frente, que faz parecer que estamos num modelo de maior porte.
Vantagem: Tracker
Acabamento e equipamentos
Aqui temos o sujo falando do mal lavado. Explico: o Tracker apontou que o interior do T-Cross é todo de plástico. Mas... o dele também é! Neste aspecto, até que a VW se esforçou um pouco mais para diferenciá-lo do Polo (ao menos nesta versão Highline), com apliques de acrílico no painel, console central e portas, além de uma manopla de câmbio exclusiva (com as posições iluminadas no topo do pomo). No Tracker, a GM aplicou um revestimento de vinil no painel e portas dianteiras, mas não conseguiu disfarçar a simplicidade do projeto original. Nas portas traseiras, nada separa esses SUVs das versões de entrada dos hatches dos quais derivam. Em suma, nem Tracker nem T-Cross chegam perto dos melhores da categoria em acabamento, como Jeep Renegade e Honda HR-V, parecendo simples demais pelo que custam.
Quando o assunto ruma para equipamentos, porém, aí a coisa muda de figura. O Tracker Premier chega ostentando uma lista de respeito - e tudo de série. Anote aí: temos carregador de celular sem fio, alerta de ponto cego, park assist, retrovisor interno fotocrômico, multimídia de 8" com internet 4G roteável, teto-solar panorâmico, faróis Full-LED, chave presencial, botão de partida e rodas aro 17", entre outros.
O T-Cross também oferece uma série de itens interessantes, mas alguns deles são opcionais. Vejamos: o teto-solar panorâmico custa R$ 4.850, assim como o park assist e os faróis Full-LED, que estão num pacote em conjunto com o sistema de som da Beats, por R$ 6.100. Outro opcional é a pintura bi-tom, que adiciona R$ 1.960. No entanto, o VW tem alguns equipamentos de série exclusivos, como o desejado cluster digital de 10,25" (que permite diferentes modos de visualização), as borboletas no volante para trocas de marcha manuais, o seletor de modos de condução, os retrovisores rebatíveis eletricamente e o GPS nativo na multimídia de 8".
Por falar em multimídia, o sistema da VW é mais refinado e, embora não tenha internet com chip próprio, oferece uma série de funcionalidades, como, por exemplo, exibir os logotipos das rádios. Para acompanhar, ele iguala diversos itens de fábrica do Tracker, como chave presencial, botão de partida, rodas aro 17" e retrovisor interno fotocrômico.
Em termos de segurança, o T-Cross se apresenta com freios a disco nas quatro rodas, alerta de fadiga para o motorista e o sistema de frenagem automática pós-colisão (para evitar uma segunda batida). O Tracker fica devendo os discos na traseira, mas responde com alerta de colisão frontal com frenagem automática de emergência, além do já citado aviso de ponto cego. Ambos vêm com controles de tração e estabilidade com assistente de partida em rampas, além dos airbags frontais, laterais e cortina (6 no total).
Vantagem: Empate
Ao volante
Se o porte compacto prejudica o T-Cross em espaço, a contrapartida é uma tocada muito próxima de um hatch, além do desempenho forte entregue pelo motor 1.4 TSI. Com 150 cv e 25,5 kgfm, ele já havia superado os 2.0 e 1.8 aspirados da concorrência e, desta vez, se mantém à frente do Tracker 1.2 turbo, embora por uma margem mais justa.
Agora testado com etanol, o modelo da Chevrolet surpreendeu ao conseguir números bem próximos da antiga geração com motor 1.4 Turbo. Na prova de 0 a 100 km/h, por exemplo, ele baixou quase um segundo em relação ao teste com gasolina, cravando 9,5 segundos - contra 9,3 s do modelo antigo e 9,1 s do T-Cross. Isso evidencia a importância do torque, que aumenta de 19,4 para 21,4 kgfm com o combustível vegetal, enquanto a potência sobe apenas 1 cv (132 para 133 cv). Vale destacar também que, apesar de maior, o novo Tracker ficou cerca de 140 kg mais leve que o anterior, inclusive com uma vantagem de 21 kg sobre o T-Cross. Isso fica bem claro pela dirigibilidade do modelo, que sugere leveza.
Motor menor (1.2 de 3 cilindros contra 1.4 de 4 cilindros) e peso inferior favoreceram o Tracker novamente nas medições de consumo, apesar da falta da injeção direta existente no VW. O Chevrolet registrou médias de 8,6 e 12,2 km/litro na cidade e estrada, respectivamente, com etanol. Nas mesmas provas, o T-Cross fez 7,8 e 11,5 km/litro, na ordem. Compensa essa diferença, entretanto, pelo tanque de 52 litros, que garante autonomia aproximada de 600 km na estrada (etanol). Já o Tracker, com um tanque de somente 44 litros, não chega aos 540 km.
O novo SUV da GM anda bem e bebe pouco, mas T-Cross ainda tem respostas mais contundentes tanto nas acelerações quanto nas retomadas, permitindo imprimir um ritmo quase tão rápido quanto num Polo GTS - sem contar a diversão de poder fazer as trocas de marcha no volante, que o Chevrolet não oferece. A suspensão é macia para um VW, mas segura bem os movimentos laterais e longitudinais da carroceria, enquanto a direção tem mais peso e precisão que no Tracker. Por fim, os freios se mostraram bem mais fortes que os do rival: foram apenas 36,7 metros na frenagem de 100 km/h até a parada completa, contra 41,6 metros do GM - diferença superior ao comprimento de um carro.
Nas curvas, o Tracker também não exibe o mesmo equilíbrio do VW, com uma inclinação mais acentuada da carroceria, embora sem prejuízos à segurança - ele apoia bem depois e aciona o ESP na hora certa, sem dramas. Em compensação, o Tracker se mostrou mais confortável no dia a dia, com direção mais leve, passagens de marcha mais suaves e melhor absorção de impactos do piso - embora a maciez do conjunto em asfalto bom seja semelhante entre eles. O GM tem bom desempenho, mas convida ao passeio em família, enquanto o T-Cross pode empolgar um pai ou mãe mais animados (ou mesmo solteiros que curtem SUVs).
Embora estejam longe de algum tipo de off-road, ambos lidam bem com entradas/saídas de garagem e superação de valetas e lombadas, ainda que os dois tenham baixa altura livre do solo para SUVs: 17,7 cm no T-Cross e somente 15,7 cm no Tracker. Estradinhas de terra sem muitas erosões não são problema para nenhum dos dois, mas eu não arriscaria nada muito além disso porque são, como dizem no popular, "SUVs de shopping".
Vantagem: T-Cross
Compra e manutenção
Se até aqui tínhamos um duelo equilibrado, é agora que o Tracker define o confronto a seu favor. Isso porque, por R$ 112.000, ele já vem de série com todos os itens que citamos no decorrer da reportagem. Ou seja, exceto pela cor Azul Power (R$ 1.600) e pelos acessórios de concessionária (saída dupla de escape, spoiler dianteiro, extrator traseiro e estribo lateral), o carro das fotos não tem nada que seja cobrado à parte.
Já para ter um T-Cross como esse aí do teste será preciso desembolsar nada menos que R$ 129.770, quantia quase que suficiente para levar um Tiguan - ou um Equinox 1.5 Turbo, caso prefira Chevrolet. Ou seja, o SUV compacto da VW já começa mais caro que o Tracker, por R$ 114.990, e ainda cobra à parte por equipamentos que são padrão no concorrente. No fim, a diferença na conta fica em quase R$ 18 mil sem nada que justifique tamanha disparidade.
Uma opção para quem preferir o VW é ficar com o modelo sem opcionais, se não fizer questão de teto solar ou faróis Full-LED, mas deseje o painel digital, que agora é de série nas versões mais caras. Outra vantagem é que, neste modelo Highline, as três primeiras revisões estão incluídas no preço do carro. A garantia é a mesma, de 3 anos, tanto na VW quanto na Chevrolet.
Vantagem: Tracker
Conclusão
O Tracker vence o comparativo pelo conjunto da obra. Ele tem porte semelhante ao dos melhores do segmento, como HR-V e Creta, e entrega um desempenho próximo do T-Cross, além de oferecer uma lista de equipamentos de série recheada - tudo isso por um preço mais baixo que o do rival sem opcionais. O VW ainda tem a melhor performance e uma dinâmica superior, além de itens exclusivos, mas seu valor quando completo o coloca praticamente em uma categoria acima. No fim do dia, fica a sensação de que a briga pela liderança do segmento está mais em aberto do que nunca.
Fotos: autor, divulgação e arquivo Motor1.com
Fichas técnicas
GM Tracker 1.2 turbo | VW T-Cross 1.4 TSI | |
MOTOR | dianteiro, transversal, três cilindros, 12 válvulas, 1.200 cm3, comando duplo variável, turbo, flex | dianteiro, transversal, 4 cilindros, 16 válvulas, 1.395 cm³, comando duplo variável, injeção direta, turbo, flex |
POTÊNCIA/TORQUE | 132/133 cv a 5.500 rpm; Torque: 19,4/21,4 kgfm a 2.000 rpm | 150 cv a 5.000 rpm / 25,5 kgfm de 1.500 a 3.800 rpm |
TRANSMISSÃO | câmbio automático de 6 marchas, tração dianteira | câmbio automático de 6 marchas; tração dianteira |
SUSPENSÃO | independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira | independente McPherson dianteira e eixo de torção na traseira |
RODAS E PNEUS | liga-leve aro 17" com pneus 215/55 R17 | liga leve de 17" com pneus 205/55 R17 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e tambores na traseira, com ABS e ESP | discos ventilados nas rodas dianteiras e disco sólidos nas traseiras com ABS, ESP e XDS |
PESO | 1.271 kg em ordem de marcha | 1.292 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.270 mm, largura 1.791 mm, altura 1.626 mm, entre-eixos 2.570 mm | comprimento 4.199 mm, largura 1.751 mm, altura 1.570 mm, entre-eixos 2.651 mm |
CAPACIDADES | tanque 44 litros, porta-malas 393 litros | tanque 52 litros; porta-malas 373 litros |
PREÇO | R$ 112.000 (R$ 113.600 como testado) | R$ 114.990 (R$ 129.770 como testado) |
MEDIÇÕES MOTOR1 BR (combustível: etanol) | |||
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Tracker 1.2 T | T-Cross 1.4 TSI | ||
Aceleração | |||
0 a 60 km/h | 4,3 s | 4,1 s | |
0 a 80 km/h | 6,4 s | 6,1 s | |
0 a 100 km/h | 9,5 s | 9,1 s | |
Retomada | |||
40 a 100 km/h em S | 7,3 s | 6,9 s | |
80 a 120 km/h em S | 6,8 s | 6,4 s | |
Frenagem | |||
100 km/h a 0 | 41,6 m | 36,7 m | |
80 km/h a 0 | 26,2 m | 22,8 m | |
60 km/h a 0 | 14,7 m | 12,9 m | |
Consumo | |||
Ciclo cidade | 8,6 km/l | 7,8 km/l | |
Ciclo estrada | 12,2 km/l | 11,5 km/l |