Na segunda metade dos anos 1960, o mercado automobilístico no Brasil vivia uma primeira fase de renovação. Os primeiros automóveis fabricados aqui envelheciam e aquisições como a da Willys Overland pela Ford em 1967 teria como resultado um produto muito interessante, o Ford Corcel, lançado no ano seguinte. Um dos personagens mais importantes nesta fase de testes foi o piloto Bird Clemente, uma lenda viva do automobilismo que tivemos a oportunidade de entrevistar.

No ano anterior, a marca havia lançado o Galaxie, um luxuoso sedã de origem norte-americana com motor V8 e tração traseira. Mas havia espaço para explorar a faixa de entrada e a Ford não tinha uma alternativa pronta a não ser trazer o Ford Pinto da Europa, o que levaria algum tempo. A Willys Overland fabricava sob licença o Renault Gordini desde 1959 (quando foi lançado como Dauphine) e conhecia os apelos dos produtos populares.

Por ter aprendido com as dificuldades da baixa resistência do Gordini, aprimorado ao longo dos anos, a Ford então apostaria nesse projeto usando Bird Clemente como piloto de testes da novidade. “As ruas eram quase todas de paralelepípedos e as estradas de chão batido, o que desafiou a resistência dos carros especialmente de suspensão” diz o piloto.

Projeto 117

A recém adquirida Willys Overland tinha um produto em teste desde por aqui 1965. Esse carro seria o substituto do Renault Gordini na Europa e internamente era conhecido como Projeto 117. Na Europa o desenvolvimento começou em janeiro de 1864 e a Ford encontrou esse projeto em estágio avançado de desenvolvimento na Willys.

É um carro com tração dianteira, motor 1.3 de 68 cv, espaço interno adequado para cinco pessoas, com baixo consumo de combustível e estilo esportivo. A ideia era substituir o Gordini com um novo produto em um desenvolvimento paralelo ao europeu que daria origem a Renault 12. Assim, Bird Clemente, um vitorioso piloto a bordo dos Gordini e então do Mark I e II preparados por Toni Bianco, também testou o Corcel antes do lançamento.

“Andei muito no Mark I e II disputando corridas como as Mil Milhas ao lado de carros da Lotus, Alfa GTA e Porsche, desenvolvendo habilidade para pilotar até mesmo na chuva. Era uma aventura”, relembra.

Em teste

Segundo Bird, mesmo com o sucesso da Willys, agora denominava Ford-Willys, a montadora americana não tinha interesse em continuar investindo em automobilismo. “Eles não queriam se meter em competição mas queriam aprimorar o que chamaram de Projeto M, que seria o Corce,l e as pistas eram uma boa prova para o carro”. Assim a engenharia da Ford trabalhou em protótipos com muita agilidade em 1967 e início de 1968. Segundo Bird, a suspensão foi o que recebeu maior atenção assim como o design, já que o carro deveria ter apelo de esportivo mesmo com um motor de potência restrita. O piloto rodou bastante com o Corcel que inclusive tinha a documentação em seu próprio nome.

Galeria: Ford Corcel

Aquele apelo da Willys para o automobilismo seria o único “ingrediente” aproveitado pela Ford que carregou o novo projeto de atributos esportivos no marketing. Os primeiros protótipos tinham aerofólios, apliques na cor preta, o emblemam do cavalo Corcel, tudo que deveria evocar esportividade. 

Sucesso imediato 

O motor do Corcel era mais evoluído em relação ao Renault com seus 68 cv e exatas 1275 cc e tinha algumas evoluções como a coluna de direção bipartida e circuito selado de arrefecimento que exigia troca do fluido a cada 30 mil quilômetros. “Muita gente nem sabia que aquele motor tinha origem na Renault”, lembra Bird Clemente.

Mesmo lento, com aceleração de 0-100 km/h em 23s, o Corcel conquistou os consumidores e vendeu mais de 50 mil unidades no primeiro ano, um número impressionante para a época. Só no ano seguinte o Renault 12 seria lançado na França com motor de 1289 cc e 60 cv. O modelo ficava entre o R8, sucessor do Dauphine, e o moderno R16, que tinha motor com bloco em alumínio. Apesar disso, o R12 fez história, chegou ao Leste Europeu e foi produzido até o início dos anos 2000. Por aqui o Corcel também cresceu e seu motor evoluiu para o CHT e depois AE, fabricado até meados dos anos 1990.

O AutoShow Collection é parceiro do Motor1.com Brasil. O evento acontece sempre na primeira terça-feira de cada mês. Reúne carros clássicos e modificados no Sambódromo do Anhembi, em São Paulo (SP). Para mais informações, acesse www.autoshowcollection.com.br 

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