A Toyota já é velha de guerra no campo da eletrificação. Para quem lançou um Prius híbrido no final da década de 1990, o tema não causa apreensão. A demora a oferecer esse sistema no Brasil pode ser questionada, mas a marca é a única (por enquanto) a peitar a terceira e eletrificada onda de carros chineses por aqui.
O Corolla Cross é o carro - e o híbrido - mais vendido da Toyota no Brasil, mas com tantos chineses alardeando híbridos plug-in e elétricos, que por vezes são mais em conta que os R$ 210.990 cobrados pela versão XRX Hybrid das fotos, será que a japonesa dormiu no ponto, ou será que chamamos híbridos como o Corolla Cross de "convencionais" por um bom motivo?
O Corolla Cross não mudou pesadamente na linha 2025. Ganhou para-choque dianteiro totalmente redesenhado e agora com grade frontal integrada. As versões XRX Hybrid, GR-Sport e XRX receberam novos faróis combinando as luzes altas e baixas em lente única, além de assinatura em LED e indicadores de direção sequencial tridimensional.
Por dentro, o Corolla Cross 2025 ganhou painel de instrumentos digital de 12,3 polegadas de série a partir da XRE, incluindo três menus configuráveis. Além disso, todas as versões ganham freio de estacionamento eletrônico no lugar do criticado freio com acionamento por pedal. A partir da XRE, há também carregador de celular por indução e, nos modelos XRX, GR-SPORT e XRX Hybrid, sistema elétrico de abertura e fechamento do porta-malas.
Desde o Corolla Cross XRE, a Toyota oferece iluminação ambiente e, a partir do XRX, há ar-condicionado digital automático com saída traseira e sistema de duas zonas. No geral, a marca diz ainda que otimizou o acabamento com a adoção de novo forro de teto em tecido, novas capas dos assentos e detalhes de combinação de cores e texturas de bancos, portas, console e painel.
Nas laterais, as versões híbridas têm agora o emblema "HEV" gravado, reforçando a presença do conjunto mecânico híbrido. Porém, o conjunto em si quase não mudou. Nas versões com conjunto híbrido-flex, segue em oferta o motor 1.8 VVT-i 16V de ciclo Atkinson (101/98 cv e 14,5 kgfm de torque) combinado com dois propulsores elétricos de 72 cv de potência e 16,6 kgfm de torque.
No quesito segurança, todas as versões do Corolla Cross 2025 ganham controle de cruzeiro adaptativo (ACC) para todas as velocidades. Já nas configurações XRX Hybrid, GR-Sport e XRX há dois novos sensores dianteiros de estacionamento e suporte à frenagem de estacionamento (PKSB).
No mais, seguem de série recursos do pacote Toyota Safety Sense (TSS) como sistema de pré-colisão frontal (PCS), sistema de assistência de permanência de faixa (LTA), alerta de mudança de faixa (LDA), faróis altos automáticos (AHB) e o próprio controle de cruzeiro adaptativo (ACC).
É muito legal entrar de cabeça num híbrido plug-in e ser o primeiro da sua rua a fazer isso, até você encarar a realidade de que, sem um carregador à disposição e com a bateria com pouca carga, você está andando com muitos quilos extras de baterias sem função, tornando o carro ineficiente. O mesmo vale para o elétrico, sem tomada em casa e pagando valores absurdos no quilowatt em carregadores públicos, além de ter que planejar os trajetos ao redor da autonomia do veículo, tem-se que querer muito desfilar na última moda da mobilidade.
Talvez seja esse o segredo de um Corolla Cross híbrido e também da demora da Toyota em ir para níveis maiores de eletrificação. Num híbrido convencional, você não tem que se preocupar com o nível da bateria, ou o modo de condução. Ele só funciona. E há uma grande vantagem: o híbrido é sensivelmente mais econômico que um carro a combustão sem os diversos "se" ou "mas" de outras eletrificações. Um híbrido plug-in só é mais econômico SE as baterias tiverem carga; um elétrico é mais econômico, MAS é bem mais caro. E são apenas 2 exemplos.
Como minha sogra gosta de repetir: "tem coisas que não valem minha paz". Se você concorda com ela, vai ficar feliz de saber que dirigir o Corolla Cross XRX Hybrid 2025 não altera nada na condução do dia a dia. Você liga o carro, engata e dirige. Se estiver com paciência, pode escolher um modo de condução mais adequado. Sem contas, sem cálculos e sem preocupações. E também há a felicidade de cravar 17,7 km/l rodando na cidade sem se preocupar com nada. Esse foi o resultado em nossos testes, mas no meu trajeto casa-trabalho-casa meu recorde pessoal foi 23,4 km/l.
Se você é dado a customizar as informações do painel, pode deixar um monitor de fluxo de energia para ficar de olho em qual motor está sendo usado no momento. Com o tempo, você pega o quanto de acelerador liga o motor a combustão, ou quando aliviar o pé pra usar mais o modo elétrico. Ao final do percurso o painel te conta o quanto de tempo você ficou usando apenas o motor elétrico. Na média do meu trajeto, fiquei na marca de 53%. No melhor cenário, foram 64%.
Mas nenhum carro é perfeito. O contraponto da economia e da paz na cidade vem em forma de desempenho e consumo piores na estrada. Em altas velocidades, o motor a combustão é exigido constantemente e a média cai para 15,3 km/l. Usando apenas o 1.8 com os elétricos somente na contenção, o Corolla Cross é um carro que já exige parcimônia em ultrapassagens. Nada que se classifique como perigoso, mas é como andar num 1.6 aspirado de alguns anos atrás, especialmente quando carregado.
Deixando a discussão de eletrificação para trás, o Corolla Cross Hybrid não existe num vácuo isolado. Inclusive ele vive perigosamente próximo em preços a um BYD Song Plus (R$ 239.800), que já é plug-in híbrido, e do Haval H6 HEV2 (R$ 216.000), que tem o mesmo tipo de eletrificação do Toyota, mas é de porte maior.
Sinceramente, as atualizações da linha 2025, falando especificamente de visual, não me convenceram. O carro ficou mais bonito, mas ainda acho os faróis grandes demais e o SUV tenta invocar uma grandiosidade que não está lá. Vale lembrar que o entre-eixos do Corolla Cross é inferior ao do próprio Corolla sedã e quem paga por isso são os passageiros traseiros, com espaço apenas justo para as pernas.
O acréscimo de itens de série, principalmente no campo de sistemas de segurança, por outro lado, vai de encontro com o desejo do mercado, que está mais exigente nessa faixa de preço dos R$ 200 mil.
Posso não ter gostado tanto assim do resultado, mas o que estou vendo de Corolla Cross 2025 rodando nas ruas não está escrito. O que era uma ocorrência rara se tornou vista comum. Com o novo focinho, ficou bem mais fácil ter certeza de qual ano é o carro. Se eu não gostei, teve quem levou um pra casa.
No mundo dos SUVs médios, o Corolla Cross continua trazendo um padrão de acabamento dentro da média, além de uma montagem ímpar. Toda a cabine é sólida e, onde você interage com o carro, é revestido de couro. Não está melhor na linha 2025, mas como outras marcas andaram simplificando sua cabine, na comparação o Corolla Cross ficou superior. De cabeça, apenas o Jeep Compass tem um acabamento similar, por mais que as chinesas tenham evoluído.
O maior ponto positivo do conjunto híbrido é a suavidade de operação na cidade. Sem vibrações, sem barulho, só paz. Rodar com o motor elétrico ainda evidencia o cuidado com o isolamento acústico, pois, sem o motor a combustão gerando ruído, outros barulhos de acabamento ficariam audíveis.
Não há emoção atrás do volante de um Corolla Cross e, francamente, é exatamente o que essa categoria pede. Você compra o SUV da Toyota para não ter que pensar na sua locomoção e é isso que o carro entrega.
Se você está disposto a encarar os novos desafios que vêm com um híbrido plug-in ou com um elétrico, tudo bem, o Corolla Cross Hybrid de fato não é para você. Agora se você quer uma vantagem de economia de combustível visível sem precisar pensar a respeito, você vai acabar na Toyota.
Fotos: Mario Villaescusa (para o Motor1.com)
Toyota Corolla Cross Hybrid
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