Teste BYD Song Plus: um bom SUV híbrido que merece mais atenção
Se por um lado o consumo e desempenho urbanos são destaque, o desempenho na estrada apaga esse brilho
Apesar da estratégia com modelos elétricos, o BYD mais vendido do Brasil é um híbrido plug-in. A certa insegurança dos consumidores com a autonomia puramente elétrica ainda é uma barreira a ser quebrada e, enquanto isso, um motor a combustão como segurança ainda é bem valorizado. Este é o BYD Song Plus, o SUV híbrido plug-in que será produzido no Brasil em poucos anos.
Parece besteira, mas aposto que você já viu alguns nas ruas. Em 2023, emplacou 2.303 unidades no acumulado até agosto e é o modelo mais vendido da empresa chinesa em nosso mercado. E por isso, a BYD já confirmou que ele será produzido na Bahia, mas provavelmente não como ele está neste teste e você irá entender os principais motivos para isso conforme rola a página.
Ainda bem que o tempo passou
Eu era um simples estagiário de uma revista quando os chineses colocaram os primeiros modelos no Brasil. Chery, Lifan e JAC Motors chegaram com suas cópias de alguma coisa, baratos e bem simplificados. Eu queria encontrar aquele garoto de 21 anos e poder explicar como tudo mudou em anos, inclusive aqueles carros ali. Acho que já contei essa história por aqui...
O BYD Song Plus é um dos chineses mais vendidos e, acredite, é figura bem presente dentro dos prédios de classe média-alta e shoppings mais badalados. Sim, se tornou opção de um cliente que quer um carro eletrificado como ele, mas não alcança um Volvo XC60 (R$ 419.950), Audi Q5 PHEV (R$ 452.990) e BMW 330e (R$ 409.950), por exemplo. É mais caro que um Toyota Corolla Cross Hybrid (até R$ 210.990), mas é um plug-in e tem porte maior. Quem mais se aproxima dele é outro chinês, o GWM Haval H6 PHEV, de R$ 269 mil.
É um SUV médio com 4.705 mm de comprimento, 30 cm maior que um Jeep Compass, com 2.765 de entre-eixos, número próximo aos 2.794 mm do Jeep Commander. Ou seja, também ganhou uma parcela do público com seu porte, que se encantou com o espaço interno bem amplo, principalmente no banco traseiro com um piso plano que não incomoda o ocupante central, ou com o porta-malas de 574 litros, que só não é maior pelo conversor do sistema elétrico instalado no assoalho.
Confesso que não acho o Song Plus o BYD mais bonito. A dianteira ainda é um pouco genérica entre os SUVs, com uma grade grande e faróis finos, que me remeteu ao Chevrolet Tracker em alguns momentos. As linhas laterais são limpas, com as rodas de 19”, e a traseira com as lanternas em LEDs que se interligam, algo que se tornou comum no segmento. Os BYD mais novos são mais autorais nesse sentido.
Exageros e faltas na mesma proporção
Sim, o BYD Song Plus é o mais antigo modelo da marca vendido por aqui. Os elétricos Dolphin, Yuan Plus e Seal já são modelos que nasceram de bases dedicadas, enquanto o Song Plus é aquele que foi se adaptando com o tempo e já vê que o tempo passou em diversos sentidos. Há algumas faltas e alguns exageros no SUV que já vimos corrigidos nos modelos mais modernos e que prometeram resolver antes da nacionalização.
No interior, o Song Plus é bem montado e não economizou em materiais de boa qualidade onde as mãos tocam. Porém, são muitos materiais e cores. Uma mistura do preto e cinza com aço escovado, couro claro e um pouco de laranja carrega demais o acabamento de boa qualidade. É algo que a China gosta e a BYD não ajustou ainda ao gosto do brasileiro.
O painel de instrumentos digital ainda não entrou na onda das telinhas separadas e ocupa um espaço e formato bem tradicional. Tem boa resolução, mas ainda não está totalmente traduzido para o português e tem diversos menus de informação, mas nada adianta ter se o carro irá sempre insistir em deixar na tela do assistente de condução. Eu queria que me mostrasse o fluxo de energia, mas o sistema insistiu que era para deixar a outra tela.
O nome disso é User Experience (UX), algo que aprendi com meus amigos que trabalham com tecnologia e que a BYD poderia contratar para resolver outras questões. A tão chamativa tela de 12,8” giratória ainda não tem os espelhamentos sem fio e, caso escolha espelhar com fios, ela não pode ficar na vertical, apenas na horizontal, algo que mostra que o sistema foi adaptado ali. E como no GWM Haval H6, ter que sair do espelhamento para configurar a temperatura do ar-condicionado também é incômodo. Custa ter um espacinho na tela para isso? Coisa de poucos centímetros em cada canto...
Isso que o BYD tem no console central uma série de comandos ao redor do seletor de marcha, como os assistentes de condução, seletor de modo de condução, nível de regeneração e o acionamento do automático do ar-condicionado, além do botão de partida. Junto, o freio de estacionamento elétrico e um carregador de smartphone por indução, talvez inútil se estiver espelhando pelo cabo, colocado quase escondido abaixo do console. Os novos BYD estão mais evoluídos nesse ponto.
Estudou os concorrentes errados?
Quando falamos sobre os híbridos plug-in, normalmente temos motores e combustão turbo com mais potência que o motor elétrico, instalado em algum ponto da transmissão. No BYD Song Plus, a tecnologia DM-I usa um motor 1.5 aspirado, com variador no comando de admissão, de 110 cv e 13,8 kgfm de torque, números baixos se pensar no porte do Song Plus e seus 1.700 kg. O elétrico compensa isso com 179 cv e 32,2 kgfm de torque, alimentado por uma bateria de 8,3 kWh.
Este sistema DM-i aposta na eficiência do motor a combustão. Já que ele terá um motor elétrico para dar a potência, trabalha em ciclo Atkinson com uma taxa de compressão alta e, com os sistemas elétricos por bateria de alta tensão, não tem os periféricos como alternador e compressor de ar-condicionado mecânico pendurado no motor. Também tem sistema de gerenciamento de temperatura separados para bloco e cabeçote, tudo em prol da melhor eficiência possível.
Como no Corolla Cross, por exemplo, não existe uma transmissão complexa, apenas planetárias e duas grandes engrenagens que acabam levando a potência para as rodas. Nesse câmbio, está o motor elétrico e o sistema eletrônico faz a escolha de cada um funcionar e como irá trabalhar para mover o Song Plus DM-i. Combinados, seriam 235 cv, mas que no mundo real, não é tão presente assim.
Na prática, o BYD Song Plus agrada ao volante. Tem um foco no conforto, com direção leve (até demais em alguns momentos, mesmo no modo Sport) e isolamento acústico que leva bastante material ao cofre em dose dupla e vidros duplos nas portas. Mesmo no modo híbrido, o motor elétrico é a prioridade e, como as baterias, do tipo Blade, não tem uma grande capacidade, mas marcou 9,4 km/kWh (ou autonomia de 78 km considerando toda a bateria).
Só não rodamos tudo isso no modo elétrico pois, quando chega a cerca de 20% de capacidade, o motor 1.5 entra para abastecer essa bateria e manter o motor elétrico ao máximo como principal, justamente pela força que ele tem a mais. Na cidade, tem um bom desempenho no uso diário e, mesmo sem as baterias carregadas, o consumo foi um ponto bem positivo: 15,6 km/litro. Dificilmente um híbrido plug-in consegue um número bom assim quando não está sendo plugado na tomada a todo tempo.
E chegou a hora de aproveitar o espaço interno do Song Plus e pegar a estrada. Bom, a BYD apostou no motor 1.5 aspirado em prol do consumo, mas esqueceu que o brasileiro faz viagens relativamente longas com seus carros, principalmente SUVs maiores. Nesse momento, a autonomia da bateria fica menor e o motor 1.5 é obrigado a assumir a função de principal, com seus 110 cv para 1.700 kg...
Em velocidade constante e retas, ele vai manter a velocidade de cruzeiro. Como no Corolla Cross Hybrid, alguns momentos terá que acelerar mais e ver a rotação subir, mas eu mesmo passei pela situação de, em uma subida, ele perder velocidade e ter que trocar de faixa, já que mesmo com o pé no fundo do acelerador, o sistema não sabia se jogava carga para a bateria e motor elétrico para ajudar ou locomover o Song Plus. E isso estava vazio e piora quando carro está carregado. O consumo rodoviário foi de 13,7 km/litro.
No teste, um reflexo das sensações em números: de pé embaixo, 0 a 100 km/h em 11,8 segundos, mas onde percebemos a diferença de cidade para estrada nas retomadas. Enquanto a 40 a 100 km/h foi de 8,7 segundos, um número bom, o 80 a 120 km/h foi a 12,4 segundos, momento em que o motor elétrico já passou a missão ao motor 1.5 e ele sente o peso do SUV médio.
A BYD já identificou essa questão com os consumidores do Song Plus. A marca pode trazer o SUV com motor 1.5 turbo e baterias maiores, justamente de olho em concorrentes como o GWM Haval H6 PHEV, e em como o consumidor brasileiro se comporta, principalmente em uma faixa de preço que já começa a ser tratada quase como premium.
Isso faz sentido, afinal o BYD Song Plus tem um bom pacote de equipamentos e tecnologias de condução, bom acabamento, rodar confortável e outras qualidades que não podem ser apagadas por um problema que é "fácil" de resolver. É um chinês que, mais uma vez, prova como eles evoluíram e ganharão cada vez mais espaço em nosso mercado, inclusive entre modelos mais caros.
Fotos: Mario Villaescusa (para o Motor1.com)
BYD Song Plus DM-i
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