Estamos próximos. Nós somos vizinhos. Temos acordos e benefícios graças as trocas comerciais atuais. Até mesmo a legislação de segurança e ambiental é um tanto parecida. Porém de cada lado da fronteira, a realidade é completamente diferente.
O Brasil é o principal mercado automotivo da América do Sul. Em 2021 nada menos do que 1.974.431 unidades foram emplacadas, seguido pelo Chile, com 415.581 unidades, e depois pela a Argentina com 381.777 veículos, que caiu para o terceiro lugar na região após 20 anos. As principais razões foram as restrições à importação (bom exemplo é o Renault Kwid), a falta de peças e a crise econômica. Mas voltando à comparação com o número o Brasil, a diferença de mercado é enorme e parece inalcançável.
Thiago Moreno, do Motor1.com Brasil, explicou: "Durante a pandemia, os preços subiram e não havia carros para comprar, então os descontos que eram muito comuns pararam. Mas com preços ainda altos, financiamento com altas taxas de juros e vários impostos aplicados no início do ano, as vendas de janeiro caíram consideravelmente. Como resultado, os estoques das concessionárias aumentaram novamente e os descontos retornaram. Por exemplo, carros com um longo tempo no mercado e perto do final de sua vida útil receberam bônus significativos. Condições especiais de financiamento continuaram a ser comuns na pandemia.
Aqui a realidade é inversa. A demanda (que existe, apesar da recessão) excede a oferta. Existem dificuldades e cotas de importação, seja para terminais estabelecidos ou para importadores. Isto causa atrasos de mais de seis meses nas entregas, levando também a um preço exagerado (sobrepreço). Como consequência, isso leva a ter poucos modelos reais disponíveis para venda nas lojas. O que desencadeou a explosão de vendas da Fiat na Argentina com o Cronos e a Toyota com a picape Hilux. Dessa forma, houve um grande aumento das vendas de carros usados. O que causa preços excessivos em todos os lugares.
Um círculo vicioso que atrapalha o planejamento de um mercado bastante normal. E isso mesmo se deixarmos de lado a inflação atual no país e o contexto de crise geral por um tempo. Neste cenário, a projeção de vendas para a Argentina em 2022 será um pouco maior e voltará a ficar em torno de 400.000 unidades comercializadas. Mas como eles serão comprados? Ou melhor, como eles serão vendidos? Não há descontos oferecidos pelas lojas, embora alguns financiamentos estejam disponíveis.
Vamos tomar três marcas da Stellantis como exemplos. No Brasil, os casos mais recentes são os do Citroën C4 Cactus, que receberam descontos de até R$ 17.000, dependendo da versão. Além disso, a marca francesa oferece, para aqueles que compram um veículo através de financiamento, o pagamento da primeira parcela somente em junho de 2022 ou com um desconto de 20%. Bônus especiais também estão disponíveis para a gama de veículos comerciais da família Jumpy e Jumper.
A Fiat lançou no Brasil o "Argo Week" com descontos de até R$ 3.000. O preço do modelo básico é de R$ 69.990 (fevereiro de 2022), mas o modelo promocional estava equipado com pacotes opcionais que o levavam ao valor de R$ 76.190. Com a aplicação do bônus, o valor final é de R$ 73.190. E no caso de o cliente financiar, as condições incluem um adiantamento de R$ 29.276 e um saldo em 48 prestações de R$ 1.387, sendo que a primeira prestação vence em abril de 2022. A taxa de juros é de 1,33% ao mês e 17,24% ao ano, além dos gastos contratuais.
A Peugeot lançou no final do ano passado no Brasil a ação "Lion Day", que tinha como destaque o 208 Allure, que podia ser adquirido com um desconto de R$ 16.000. Na época, a marca francesa oferecia o hatch a pronta imediata.
Na Argentina, a palavra "desconto " não existe para nenhuma marca, muito menos "bônus". Toda a gama Citroën Argentina tem até 850.000 pesos de financiamento com uma taxa de 0,00% e um prazo de 12 meses (exceto para os modelos C5 Aircross, C4 Cactus Shine e C4 Lounge Shine). No caso do Cacto C4, é de até 1.300.000 pesos com taxas de 9,9% no prazo de até 36 meses. Jumpy e Jumper também têm uma porcentagem significativa de bônus, com taxas que começam em 23,9% e prazos de até 48 meses.
A Fiat oferece para o Cronos, o carro mais vendido da Argentina, financiamento a uma taxa promocional, partindo de uma TNA de 5,9% por 12 meses com prazo até 72 meses. O valor a ser financiado é de até 1.200.000 pesos para a versão Cronos Attractive 1.3 e Cronos Drive 1.3, indo até 1.500.000 pesos para as versões Cronos Precision 1.8 manual e 1.8 automática (estes já fora de linha no Brasil). Além disso, para o motor 1.8, está disponível um financiamento exclusivo de 24 meses a uma taxa de 0% até um máximo de 1.000.000 pesos.
No caso dos modelos Peugeot, 208, 308, 408 e 2008, são oferecidos com financiamento de até 1.700.000 pesos com taxas a partir de 14,9% e prazos de até 48 meses. Os modelos 208 GT, 208 GT Line, 308S, 2008 Sport e os veículos utilitários Partner, Expert e Boxer têm promoções diferentes ao longo destas linhas.
Agora resta saber se as regras do jogo mudarão ou não, mas parece difícil. A inflação continuará a subir no mesmo ritmo, de modo que as taxas de juros não cairão. E se a demanda continuar a superar a oferta, teremos que esquecer os descontos por um longo tempo na Argentina.
RECOMENDADO PARA VOCÊ
Toyota Hilux Champ para o Brasil vira dúvida diante do 'custo Argentina'
Fiat repete fase ruim e perde liderança em vendas na Itália em outubro
Toyota mostra Hilux movida a biogás desenvolvida pela engenharia do Brasil
De Ranger a Shark: as versões mais baratas das picapes médias automáticas
Oficial: essa é a primeira Toyota Hilux híbrida do mundo
Toyota Hilux Champ, versão barata da picape, já virou carro de corrida
Novo motor 2.0 turbo de 300 cv da Toyota será usado pela Hilux, diz site