O jogo começou, aperte o start. No videogame, o modo carreira é a sua evolução que, no caso de algumas franquias de corridas, te dará dinheiro para escolher um carro e o trocando com o passar do tempo e das conquistas. E o mundo real pode ser um pouco parecido com isso: dependendo do quanto se gasta, melhor o carro é e mais oferece para te levar ao limite.
Até os R$ 500 mil, temos três estágios interessantes com bons representantes. Fiat Pulse Abarth, por R$ 150.990; VW Jetta GLI, por R$ 245.390; e Honda Civic Type R, por R$ 429.990. Escolas diferentes, mas que exemplificam como um esportivo pode ter melhorias e diferenças conforme evolui e o bolso de aprofunda, e que são queridinhos nos trackdays. E vamos além dos números e medições, invadindo a área das sensações.
Sem o Renault Sandero RS, a forma mais barata de se ter um esportivo novo é o Fiat Pulse Abarth ou seu irmão, o Fastback Abarth, por R$ 160.990. A dupla de SUVs vai além de uma roupagem esportiva, com uma tocada relativamente surpreendente pelo o que a engenharia da Stellantis tinha nas mãos.
Sem mudanças estruturais, o Pulse recebe o motor 1.3 turbo, de 180/185 cv e 27,5 kgfm, com recalibração de respostas e o câmbio automático de 6 marchas também com mudanças de software. O sistema de escape é, entre os três, o mais chamativo, por incrível que pareça. A altura da suspensão é 7 mm mais baixa, mas molas, amortecedores e barras estabilizadoras foram trabalhados para segurar a rolagem da carroceria sem precisar ter um carro muito mais baixo. Todo o conjunto, inclusive o eixo traseiro, rodas mais largas e direção elétrica, são específicos dos Abarth.
Considerando sua base, o Pulse Abarth é interessante como esportivo. O novo software do câmbio faz as trocas rápidas e procura deixar o motor sempre acordado, principalmente no modo Poison, acionado pelo volante, que o faz até dar alguns pipocos no escape durante as trocas. Seus 7,5 segundos no 0 a 100 km/h não estão longe do Jetta GLI e Civic Type R pelo o que tem de potência nesta comparação.
Apesar da altura de SUV, o Pulse Abarth não deixa a desejar em dinâmica. Os controles de tração e estabilidade ficam permissivos no modo Poison e deixa o comportamento do carro mais solto, apontando nas saídas de curvas e, com o vetorizador de torque, puxando para dentro e, com pé embaixo, não destraciona as rodas internas mesmo com pé embaixo. O sistema de freios, com tambores refrigerados a ar na traseira, é bem sensível no pedal, pedindo um certo costume, mas fácil de modular.
O primeiro estágio dos esportivos é interessante - apesar que, para mim, pediria uma posição de dirigir mais baixa, menos SUV. Pelo preço cobrado, não desaponta e, em algum tempo, a própria Abarth terá kits de performance com mais potência e modificações para quem quer mais. Não a toa que já vemos uma quantidade considerável de Pulse Abarth em alguns track days pelo Brasil. Surpreende pelo o que é, o quanto cobra na linha de esportivos e sua base.
Com o Jetta GLI, vamos para um carro médio, com motor 2.0 turbo de 231 cv, câmbio de dupla embreagem e sete marchas e um ótimo casamento entre usabilidade e esportividade. Ele tem as vantagens de um sedã, como conforto, espaço interno e porta-malas, mas já coloca uma pitada boa no pacote com suspensão independente nas quatro rodas, motor mais potente e mais afinado que o Pulse Abarth.
O 2.0 turbo de 231 cv e 35,7 kgfm de torque é um dos queridinhos das preparadoras. Bem conhecido, evoluiu para este Jetta GLI, com variador de abertura das válvulas de escape, além de perder a injeção indireta. Em uso, é mais equilibrado e dócil até que o Pulse Abarth, com um jeito mais comportado e mais modos de condução selecionáveis, com Eco, Normal, Sport e Individual. Isso interfere na programação do câmbio e em como o motor responde aos comandos do acelerador.
Isso não significa que não temos um esportivo. O conjunto de suspensão completo foi feito em um meio-termo de conforto e dirigibilidade, mas como um sedã, é mais baixo e tem uma tocada dinâmica, com a ajuda de um diferencial blocante mecânico, além do vetorizador de torque e os controles de tração e estabilidade com um modo mais permissivo. Vai de 0 a 100 km/h em 6,8 segundos, só não melhor por uma certa proteção da transmissão em controle de largada, que suaviza essa saída.
A posição de dirigir do Jetta GLI é baixa, com bancos em couro e laterais mais altas para segurar o corpo. A direção tem relação variável, bem direta, e o sedã entrega bastante pra quem quer andar mais rápido sem abrir mão do uso diário. E nisso, tem até um pacote de equipamentos e assistentes de condução pra quem não pensa só nos seus 231 cv.
O Jetta GLI é bem mais caro que o Pulse Abarth, mas entrega mais em esportividade e até mesmo em situações diárias, mais confortável e menos reativo para sempre fazer questão de te lembrar que está em um esportivo. Sua vida dupla pode ser de sedã tradicional e esportivo, mas obviamente vai cobrar um valor considerável nesse upgrade.
Colocar um Honda Civic Type R na garagem é um patamar bem mais focado em uso em pistas que no dia a dia. Uma lenda, chegou ao Brasil para um público limitado e dedicado a ter um verdadeiro esportivo em sua garagem, com direito a carroceria alargada, câmbio manual e reações bem mais nervosas e que pouco se importa com uma possível calma diária.
Diferente de Jetta e Pulse, o Civic Type R tem uma carroceria bem diferente das versões normais, mesmo se tratando de um Civic Hatch que não temos no Brasil. Para acomodar as rodas de 19" com pneus 265/30 e toda a suspensão específica, o Type R é 88 mm maior que o Civic Hybrid que temos por aqui. Na estrutura da suspensão, a engenharia separou os componentes da direção das molas e amortecedores para respostas mais rápidas e puras tanto em curvas quanto acelerações.
Os amortecedores adaptativos até suavizam um pouco sua ação em modos de conforto, mas ainda fazem questão de lembrar que você comprou um Type R, não um Civic normal. É bem firme e, diferente do Jetta GLI, não quer te agradar para ser seu daily drive. A direção segue o mesmo tema, com relação bem curta e poucas voltas de batente a batente. Até os bancos concha podem ser usados no trânsito, mas seu desejo principal é segurar seu corpo em curvas de alta velocidade.
Temos, como no Jetta GLI, um motor 2.0 turbo, mas as semelhanças acabam aqui. A concepção do K20C1 é performance, então todo o seu desenvolvimento foi focado na entrega de potência e torque máximos em condições de uso extremos - chegou ao Brasil com 297 cv a 6.500 rpm e 42,8 kgfm de 2.600 a 3.500 rpm, enquanto no Japão ele vai aos 330 cv e o mesmo torque, mas disponível em uma faixa mais longa, mudança feita por uma proteção pelo nosso combustível. Mesmo assim, é o mais rápido do trio, só que sua vida vai além desses números.
O Civic Type R não é barato, mas é a forma mais pronta de ir para as pistas em um carro novo. O motor gosta de girar e os engates do câmbio manual, curtos e precisos, jogam a favor. Sobra suspensão, direção e freios nesse pacote, com pinças de quatro pistões e discos mais leves, com uma dinâmica incrível que, provavelmente, atingirá o limite do piloto antes do carro. O bloqueio de diferencial e vetorizador de torque apontam o carro onde você quiser e, para um tração dianteira, é incrível como não faz falta ter tração integral.
O Fiat Pulse Abarth é um bom primeiro passo nos esportivos. Não é o mais potente, mas a dinâmica se encaixa dentro do que possibilita e pode ser uma boa escola para quem não tem muita intimidade com esportivos. Como um pequeno SUV, tem a modularidade de uso diário e não faz feio diante dos demais pelo o que cobra e o que tem ao ser baseado em um carro compacto comum. Feitos da engenharia.
O VW Jetta GLI é o legítimo alemão. Potência em um conjunto bem conhecido que, com a ajuda da eletrônica, chega a ser mais dócil e usável no dia a dia que o próprio Pulse Abarth, além do charme de um sedã com detalhes sóbrios, sem exageros, ainda demarcando seu espaço como esportivo. No mundo de SUVs e sedãs híbridos, é a saída encontrada sem ir para algum premium como BMW, Audi e Mercedes-Benz e, ainda assim, um passo acima do Abarth em tocada.
O passo do Civic Type R é bem avançado comparado ao Jetta GLI. Seu projeto olhou muito mais para as pistas e um pouco para as ruas, apesar de ter tecnologias de condução e conforto, que jogam com um sistema de datalog e análise de tempos em diversos autódromos do Brasil. Motor que gosta de girar, câmbio manual, bancos concha e carroceria alargada o fazem um ótimo estágio antes de subir para brinquedões como Porsche 911.
Fotos: Mario Villaescusa (para o Motor1.com)
Fiat Pulse Abarth | VW Jetta GLI | Honda Civic Type R | |
MOTOR | dianteiro, transversal, 4 cilindros, 16 válvulas, 1.332 cm3, comando simples com variador no escape e MultiAir na admissão, injeção direta, turbo, flex |
dianteiro, transversal, 4 cilindros, 1.984 cc, 16 válvulas, duplo comando com variador de fase em admissão e escape e de tempo no escape; injeção direta, turbo, gasolina
|
dianteiro, transversal, 4 cilindros, 1.996 cc, 16 válvulas, duplo comando com variador de fase em admissão e escape e de tempo no escape; injeção direta, turbo, gasolina
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POTÊNCIA/TORQUE |
180/185 cv a 5.750 rpm; 27,5 kgfm a 1.750 rpm
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231 cv de 5.000 a 6.200 rpm; 35,7 kgfm de 1.500 a 4.400 rpm
|
297 cv 6.500 rpm; 42,8 kgfm de 2.600 a 3.500 rpm
|
TRANSMISSÃO |
automática de 6 marchas, tração dianteira
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automatizado de dupla embreagem com 7 marchas; tração dianteira
|
manual de 6 marchas; tração dianteira
|
SUSPENSÃO | McPherson na dianteira, eixo de torção na traseira | McPherson na dianteira; multilink na traseira | McPherson na dianteira; multilink na traseira |
RODAS E PNEUS | rodas de 17" com pneus 215/50 | rodas de 18" com pneus 225/45 | rodas de 19" com pneus 265/30 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e tambores na traseira | discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira | discos ventilados na dianteira e na traseira |
PESO | 1.281 kg em ordem de marcha | 1.476 kg em ordem de marcha | 1.451 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.115 mm, largura 1.777 mm, altura 1.544 mm, entre-eixos 2.532 mm | comprimento 4.747 mm, largura 1.799 mm, altura 1.478 mm, entre-eixos 2.680 mm | comprimento 4.598 mm, largura 1.890 mm, altura 1.407 mm, entre-eixos 2.735 mm |
CAPACIDADES | tanque 47 litros, porta-malas: 370 litros | tanque 50 litros, porta-malas: 510 litros | tanque 47 litros, porta-malas 337 litros |
PREÇO | R$ 150.990 | R$ 245.390 | R$ 429.900 |
MEDIÇÕES MOTOR1 BR | ||||
---|---|---|---|---|
Fiat Pulse Abarth (etanol) | VW Jetta GLI (gas.) | Honda Civic Type R (gas.) | ||
Aceleração | ||||
0 a 60 km/h | 3,5 s | 3,7 s | 3,7 s | |
0 a 80 km/h | 5,2 s | 5,1 s |
4,9 s |
|
0 a 100 km/h |
7,5 s |
6,8 s | 6,3 s | |
Retomada | ||||
40 a 100 km/h em S | 5,7 s | 4,8 s | 4,4 s (3ª) | |
80 a 120 km/h em S | 5,0 s | 4,4 s | 6,3 s (4ª) | |
Consumo | ||||
Ciclo cidade | 8,3 km/l | 10,1 km/l | 9,3 km/l | |
Ciclo estrada | 11,5 km/l | 15,0 km/l |
12,4 km/l |
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