Foi uma surpresa quando a Volkswagen apresentou o Jetta GLI reestilizado. Em uma onda de sedãs médios perdendo espaço para SUVs, colocar um esportivo no catálogo é um desafio que, para a marca, aparentemente deu certo. Segundo executivos, das unidades que chegam do México, boa parte já entra em concessionários vendidas.
Sejam esses compradores orfãos do Golf GTI ou os que ainda não querem um SUV na garagem, eles tem um bom carro nas mãos. A linha 2022 trouxe um novo visual, uma atualização do motor 2.0 turbo e, o componente de maior efeito nesse jogo, o novo câmbio de dupla embreagem com 7 marchas e bloqueio mecânico do diferencial. É como ir ao trabalho e estar sempre com um tênis de corrida no porta-malas.
Perceber o que mudou no visual do Jetta GLI 2022 chega a ser um desafio de atenção. O parachoque dianteiro recebe um novo desenho na parte inferior com apliques em vermelho nas extremidades e uma leve mudança no padrão da colmeia utilizada nas grades. O filete vermelho recebe um contorno cromado, além de uma nova grafia para o GLI e o novo logo da marca. Os faróis são os mesmos, com luzes diurnas e faróis alto e baixo em LEDs com comutação automática.
Na traseira, as mudanças são ainda mais discretas. As ponteira de escape são agora ovais e maiores e estão emolduradas por um novo aplique em preto, que simula uma grade colmeia. Novos logos da Volkswagen e GLI também aparecem aqui e acompanham as novas rodas de 18". No interior, novo volante, nova manopla de câmbio, novo padrão de acabamento nos bancos e a VW Play, sistema multimídia com tela de 10".
O que muda mesmo é o conjunto de motor e câmbio. O 2.0 turbo, da família EA888, agora é da chamada Gen3, que recebeu variador de abertura das válvulas de escape, além do variador de fase na admissão e escape, já presentes no anterior. Ele perde o sistema de injeção duplo, direto e indireto, deixando a injeção direta mais inteligente, com múltiplos pulsos dependendo da exigência do motor. Ganha 1 cv, chega aos 231 cv, e mantém os 35,7 kgfm do anterior.
O câmbio é a maior novidade de efeito no Jetta GLI 2022. Sai o dupla embreagem de 6 marchas, caixa úmida, chamado de DQ250, entra o DQ380, com 7 marchas, maior capacidade de torque e também caixa úmida. Além da marcha a mais, esse câmbio recebe um bloqueio de diferencial mecânico, ausente no anterior, e que ajuda o Jetta GLI em momentos de, digamos, maior emoção.
O Jetta GLI é um daqueles carros que aquece o coração de quem gosta de carros. Em uma carroceria de um sedã médio de 4.747 mm de comprimento, um comportamento esportivo que não chega a afetar sua usabilidade. Ainda longe da eletrificação, tem uma relação bem sincera com o motorista de confiança e trocas.
Sobre a usabilidade, ainda é um Jetta. Um dos maiores da categoria, tem espaço interno amplo, principalmente no banco traseiro com o entre-eixos de 2.680 mm, o mesmo do SUV Taos. Tropeça na ausência da saída de ar-condicionado para essa segunda fileira, mas o amplo espaço para as pernas dão uma boa sensação de conforto quando precisar levar mais gente. No porta-malas, a capacidade de 510 litros também chama a atenção.
Até mesmo na hora de montar um esportivo a Volkswagen teve cuidado na usabilidade. Molas e amortecedores foram calibrados para trabalhar em um acordo entre estabilidade de carroceria e conforto. Obviamente não temos o conforto de um SUV ou de um Toyota Corolla, mas não castiga motorista ou os ocupantes nos buracos. Nos mais fundos, ele até reclama, mas o cuidado para isso também é pelas rodas de 18" com pneus 225/45, de perfil baixo, com maior risco de serem danificados. E também tem boa altura do solo, exigindo cuidados apenas nas valetas pelo parachoque dianteiro que pela parte central.
E de fato, pouco passa por um esportivo no dia a dia. O seletor de modos de condução (Eco, Normal, Sport e Individual) atuam em comportamento de motor, câmbio e direção e, no mais eficiente, tem a suavidade de funcionamento de um sedã médio tradicional. O 2.0 turbo fica manso e linear, o câmbio faz as trocas de forma suave, mais próximo de um automático tradicional, e o consumo urbano fica em 10,1 km/litro em nosso teste, com gasolina, o único combustível aceito por esse motor.
E mesmo nos modos mais mansos, o Jetta GLI responde a qualquer solicitação mais profunda no acelerador. O torque, disponível já a 1.500 rpm até 4.400 rpm, faz o sedã crescer no retrovisor com velocidade, sem uma redução brusca de marchas, e impondo um certo respeito no dia a dia urbano ou na estrada, na hora de uma ultrapassagem. Ele ainda coloca respeito no trânsito e abre caminho com facilidade.
Fará uma viagem longa? O GLI não cansa, com bancos confortáveis e direção, apesar de bem direta, sem peso excessivo. No pacote de segurança, piloto automático adaptativo e alerta de colisão com frenagem automática aparecem para auxiliar os controles de tração e estabilidade e 6 airbags na lista, e na conveniência, teto-solar e LEDs decorativos no interior com cores selecionáveis.
E como te convencer a ter um Jetta GLI no lugar de um Toyota Corolla Hybrid? Se você caiu aqui, já sabe onde o GLI irá tocar para te convencer - e talvez você nem olhe para um Corolla, na verdade. O fato é que temos, sim, um sedã esportivo de verdade neste pacote de R$ 215.230.
O Jetta GLI 2022 tem molas, amortecedores e barras estabilizadoras calibradas para um esportivo. O sistema de freios, a disco nas 4 rodas, é o mesmo do Golf R, com 312 mm na dianteira, ventilado, e 300 mm na traseira, sólido. A direção elétrica é variável, ou seja, tem uma relação que permite manobras e respostas rápidas em velocidades mais altas, sempre com uma boa comunicação.
Modo Sport, já se percebe o emulador de ronco ativo - ele emite ondas no parabrisa e passa uma sensação de ronco encorpado. A rotação de marcha-lenta sobe um pouco e o acelerador fica consideravelmente mais sensível, assim como o peso da direção aumenta. Controle de largada ativo, o Jetta GLI larga e coloca toda a potência nas duas rodas dianteiras, um brinde do bloqueio mecânico do diferencial. Foram 6,8 segundos, quase os 6,7 segundos declarados pela VW, mas acima dos 6,4 segundos que fizemos no Jetta GLI anterior. E há uma possível explicação.
O novo câmbio faz as trocas rápidas, como o antigo, mas a embreagem parece se proteger mais, deslizando e evitando acoplamentos muito bruscos. É um comportamento mais conservador que protege o conjunto e não chega a ser prejudicial mesmo em uma tocada mais rápida. A relação com a sétima marcha fez com que a velocidade de cruzeiro em rodovias, por exemplo, seja feita em rotações mais baixas e, velocidades mais altas, cheguem rápido pelo escalonamento mais próximo das marchas anteriores.
Mas como a vida não é feita apenas de retas, o Jetta GLI vai além. Entre em uma curva mais fechada mais rápido e a carroceria até deita um pouco, já que existe uma relação de conforto no sedã e os amortecedores não são adaptativos. Nesse momento, o vetorizador de torque puxa o carro para o lado interno com a ação nos freios das rodas internas com a ajuda de diversos parâmetros, como velocidade, ângulo de carroceria e de volante.
A modularidade do pedal de freio é boa, assim como a metragem de 100 km/h a 0, de 39,2 metros, e em nenhum momento apresentou fadiga do sistema, seja em nosso teste ou mesmo quando andamos no Circuito Panamericano durante o lançamento. O conjunto de dinâmica é um destaque do GLI, apesar de, particularmente, preferir a pegada do volante anterior, o mesmo do saudoso Golf GTI.
Estamos falando de um sedã de mais de R$ 200 mil. Longe de ser barato, mas é a forma mais acessível de colocar as mãos em um carro esportivo de verdade, com dinâmica e motorização, além de um pacote de tecnologia bom. Não é um Audi RS, Mercedes-AMG ou BMW M, mas esses já duplicam esse valor do Jetta GLI, que condiz com seu pacote e nível de esportividade, além de uma base conhecida para a turma das modificações.
Até quando isso vai durar? Até quando o Jetta GLI ser produzido no México para abastecer os Estados Unidos, mesmo que venha em poucas unidades por lotes. Tomara que resista um tempo, para os clientes que não querem um SUV ou ainda estão passando longe da eletrificação e querem uma dose de prazer no dia a dia com um esportivo usável, como um bom tênis de corrida pronto para uso depois do terno.
Fotos: Mario Villaescusa (para o Motor1.com)
VW Jetta GLI
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