Motor 1.3 turbo da Stellantis: os detalhes do motor nacional mais moderno

Da família GSE, traz ao Brasil tecnologias avançadas para chegar aos 180 cv

Motor GSE T4 (Stellantis) Motor GSE T4 (Stellantis)

Em maio de 2019, a ainda FCA anunciou a produção de novos motores turbo na planta de Betim (MG). Não era mistério que seriam baseado na família GSE, ou comercialmente chamados de Firelfy, com os blocos de 3 cilindros (1.0) e 4 cilindros (1.3) na época já utilizados em versões aspiradas no Argo e Cronos. Muito tempo, dinheiro e desenvolvimento resultaram nos chamados T3 e T4, que começaram a ser produzidos em escala no Brasil em março de 2021.

O resultado foi mais do que simplesmente os novos motores turbo que serão utilizados pelo grupo no Mercosul em diversos modelos, mas provavelmente o motor mais moderno produzido em solo brasileiro. Já rodando na Europa, os GSE turbo trouxeram pro Brasil diversas tecnologias inéditas e que valem ser exploradas e criam ainda mais expectativas para os modelos que os usarão, como Fiat Toro e o novo SUV compacto da marca e os Jeep Compass, Renegade e o futuro modelo de 7 lugares. 

Mais do que apenas um turbo

Quando foi apresentado no exterior, a Stellantis (na época FCA) já adiantou alguns aspectos dos T3 e T4. São baseados nos Firefly, motores desenvolvidos no Brasil, e que usam uma arquitetura que já vemos por exemplo na BMW, com um sistema modular de cilindros. Ou seja, a diferença entre um motor de 3, 4 ou 6 cilindros é apenas a quantidade e a litragem diretamente ligado a isso. Por exemplo, a BMW tem o 1.5 (3 cilindros), 2.0 (4 cilindros) e 3.0 (6 cilindros) turbo, sempre com as mesmas tecnologias como turbo de duplo fluxo, comando de válvulas variável e o Valvetronic.

A cilindrada de cada cilindro sempre será a mesma, independente do motor. No caso da Stellantis, 333 cm³ por cilindro, que fazem o 1.0 3-cilindros (999 cm³) e o 1.3 4-cilindros (1.332 cm³), com curso de 86,5 cm e diâmetro de pistão de 70 mm, mesmos números que estarão nos T3 e T4, porém com peças específicas para suportar a maior potência, torque e outras mudanças que ele recebeu. 

Diferente dos motores aspirados da família, os GSE turbo receberam um novo cabeçote. Ao invés de 2 válvulas por cilindros, temos 4, além dos bicos injetores do sistema de injeção direta de alta pressão. Tecnologias de redução de atrito e melhoria de queima de combustível foram aplicadas, mas a possível grande mágica atenda por um nome que alguns irão reconhecer: Multiair. 

A ficha técnica do GSE turbo pode até assustar ao ter a escrita SOHC, ou "Single Over Head Camshaft", ou comando único no cabeçote. Apesar da impressão que ele segue com a arquitetura de apenas um comando para as válvulas de admissão e escape, o GSE turbo tem um sistema que tem até um funcionamento que remete ao Valvetronic da BMW, algo que parece complexo, mas não é. 

O GSE turbo troca o comando de válvulas da admissão por atuadores eletrohidráulicos nas válvulas. Se um comando variável tem a capacidade de regular o tempo de abertura das válvulas dentro de um parâmetro específico (algo que há nas válvulas de escape do GSE turbo), o Multiair trabalha com algo mais amplo. Controlado pela central eletrônica do motor, ele regula o tempo de abertura, a abertura em si e quantas vezes fará isso em apenas um ciclo de combustão. É uma infinidade de parâmetros que o motor pode controlar dependendo da temperatura, regime de rotações, abertura de borboleta e até mesmo modo de condução selecionado. 

Isso traz uma melhora em consumo, emissões e desempenho em comparação com outros sistemas e motores. O GSE turbo adota também a válvula termostática eletrônica, que melhora a eficiência para a temperatura ideal de funcionamento, trocador de calor de óleo, trocador de calor de ar do turbo, turbo de baixa inércia (o que melhora o chamado "turbo lag", aquele espaço de rotação antes do turbo realmente mandar ar pressurizado ao motor), coletor de escape integrado e válvula de regulagem de pressão do turbo eletrônica. O sincronismo é feito por corrente. 

O que é potência específica?

Dividir a potência pela cilindrada de um motor nos dá um número chamado "potência específica". É a força que o motor produz por cm³, algo que melhorou significantemente na era dos turbo - como referência, um dos motores mais famosos do mundo nos anos 1990 por este número foi o Honda B16, o 1.6 aspirado de 160 cv que fez fama no Civic VTI com cerca de 100 cv/litro (1.000 cm³). 

A Stellantis no Brasil nos deu apenas os números do 1.3 turbo com gasolina: são 180 cv e 27,5 kgfm - números que podem mudar com o uso do etanol. Em uma conta "de padaria", temos cerca de 135 cv/litro, um número de respeito, com 20,6 kgfm/litro. Isso até nos dá uma referência do que podemos esperar do 1.0 T3, de 999 cm³, se ele seguir realmente os mesmos caminhos do 1.3 turbo. Na Europa, ele tem de 130 a 150 cv, uma calibração mais mansa do que a que será utilizada por aqui

O T3, o 1.0 turbo, na Europa tem 120 cv e 19,3 kgfm de torque. Se for algo como o T4, o nosso poderá ter acima dos 130 cv e cerca de 21 kgfm de torque, acima do 1.0 TSI da Volkswagen e do 1.0 turbo da Chevrolet com o uso do etanol. Com gasolina, a especificação europeia já está acima do que vemos nos dois principais concorrentes. 

Como referência, uma tabela comparativa com os motores 1.0 e 1.4 TSI da VW e os 1.0 e 1.2 turbo da GM, todos produzidos no Brasil (com gasolina):

MOTOR 1.0 TSI (VW) 1.4 TSI (VW) 1.0T GM 1.2T GM 1.3 T GSE 1.0 T GSE (europeu)
CILINDRADA 999 cm³ 1.395 cm³ 999 cm³ 1.199 cm³ 1.332 cm³ 999 cm³
POTÊNCIA 116 cv 150 cv 116 cv 132 cv 180 cv 120 cv
TORQUE 20,4 kgfm 25,5 kgfm 16,3 kgfm 19,4 kgfm 27,5 kgfm 19 kgfm
POTÊNCIA/CILINDRADA 116,1 cv/litro 107,5 cv/litro 116,1 cv/litro 110,1 cv/litro 135,1 cv/ litro 120,1 cv/ litro
TORQUE/CILINDRADA 20,4 kgfm/litro 18,3 kgfm/litro 16,3 kgfm/litro 16,2 kgfm/litro 20,6 kgfm/litro 19 kgfm/litro

Os motores da Volkswagen tem algumas tecnologias, como injeção direta de combustível e duplo comando variável. Os da General Motores não possuem injeção direta, mas há o comando de válvulas duplo com variador na admissão e escape. Apesar da maior cilindrada, o 1.4 TSI da Volkswagen é o com menor potência específica, porém o menor torque fica com os GM - lembrando que os números do 1.0 turbo GSE são os da versão utilizada na Europa. 

Onde estarão esses motores?

O 1.3 GSE turbo fará sua estreia na Fiat Toro no 2º trimestre, seguido do Jeep Compass reestilizado (2º semestre) e do futuro SUV de 7 lugares da Jeep, também este ano. O Renegade deverá recebe-lo, mas em 2022. O 1.0 turbo fará a estreia no novo SUV compacto da Fiat e depois seguir para Argo e Cronos em 2022, com remotas chances de ser utilizado na picape Strada. 

Dentro da Stellantis, esta nova família será utilizada também pela Peugeot e Citroën, podendo equipar o 208 e até mesmo a nova família de modelos da Citroën, que começarão a aparecer este ano com um pequeno crossover - este ainda não confirmado o uso do 1.0 turbo no primeiro momento. 

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