Jason Vogel: uma viagem de 5.427 km com a Chevrolet Montana RS ao Uruguai
Do Rio de Janeiro a Montevidéu com muita bagagem e família completa; como a picape se comportou?
Via Dutra, Régis Bittencourt, BR-101, FreeWay e, depois, quase uma reta só de Porto Alegre até o Chuí. Da nossa partida no Rio de Janeiro até o extremo sul do país, com pernoites em São Paulo, Joinville e Pelotas, viemos fazendo uma estatística informal de quantas Chevrolet Montana, das novas, encontrávamos pelo caminho.
Avistamos somente cinco (isso mesmo: cinco) nos primeiros 2.100 quilômetros rodados em território nacional. Mas foi só cruzar a avenida que une o Chuí brasileiro ao Chuy uruguaio para ter a surpresa: no país vizinho, as Montana estão por toda parte. Não é raro avistar duas ou três no mesmo quarteirão. Dobre a esquina e você verá outra Montana...
A picape fabricada em São Caetano do Sul chegou ao mercado do Uruguai em maio passado e, mesmo sem ter completado seu primeiro ano cheio, fechou 2023 como terceiro modelo mais vendido naquele país, atrás apenas do líder Chevrolet Onix e da Fiat Strada, superando por larga margem as Fiat Toro e Renault Oroch - outrora as queridinhas dos uruguaios. Pronto: já tínhamos um bom gancho para esta reportagem de férias…
Rio, nosso ponto de partida. Por aqui, a nova Montana ainda é uma visão rara
Viagem em família
A cada dezembro pegamos a estrada rumo ao Uruguai. É uma oportunidade de passar as festas de fim de ano com a parte da família que vive em Montevidéu e, além disso, conhecer um carro com mais intimidade por mais de 5 mil quilômetros ao volante, entre ida e volta. Desta vez, o percurso foi feito com uma Chevrolet Montana RS, a versão topo de linha da picape Chevrolet (R$ 156.210), mais cara até que a Montana Premier (R$ R$ 153.110).
Lançada no Brasil em julho, a RS tem "visual esportivo" mas nenhuma alteração mecânica em relação às outras versões. É uma tradição da General Motors: a sigla RS (de “Rally Sport") surgiu em 1967 para denominar um pacote de aparência do Camaro de primeira geração.
A decoração da versão RS é elegante, sem enfeites exagerados
Rally sim, Sport no mucho
No caso da Montana RS, a diferença está na grade em forma de colméia, nas gravatinhas e logotipos pintados de preto, no acabamento interno, nas rodas com fundo preto e face diamantada e no desenho exclusivo do rack e do santantonio, entre outros detalhes. Uma decoração marcante mas sem cafonice. A cada dia que passava, achávamos “nossa” picape cinza rush mais elegante, com sua frente moderna, linhas sóbrias e bem vincadas e colunas C que nos lembravam o Aero-Willys 2.600!
Não tente levar tudo isso no avião
O desafio da caçamba
Imagine todo aquele excesso de bagagem que você não poderia levar no avião... É o que costumamos transportar nas viagens ao Uruguai. Três malas bem grandes, além de incontáveis mochilas, caixas e sacolas ocupando cada litro útil do espaço da caçamba como se fossem peças de um jogo de Tetris. A carga incluía um estoque de sabonetes, pasta de dente, creme de barba e amaciante de roupas, artigos comprados no Rio pois são caríssimos em Montevidéu. Entraram ainda garrafas de guaraná, refrigerante raro por lá. Sacou o drama?
Já aí percebemos que a prateleira Multi-Board (divisória plástica para organizar cargas na caçamba) iria nos atrapalhar mais do que ajudar na viagem. Pesado, esse acessório ocupa muito espaço na caçamba e não suporta mais do que 30 kg de carga. Passe disso e o plástico começa a empenar. Tratamos de retirar a tralha antes de arrumar o resto da bagagem - o Multi-Board ficou no Rio.
Um destaque é a vedação da capota marítima
É fácil abrir e fechar a capota marítima
A caçamba, por sua vez, é bem espaçosa (874 litros), com laterais altas, oito ganchos de amarração e um abrangente protetor de plástico que equipa desde a versão mais simples (MT, de R$ 125.260). Há picapes bem mais caras que não trazem isso de série. A tampa se destranca por proximidade. Na viagem, um dos maiores destaques da Montana foi sua capota marítima (item de série na RS): resistente, facílima de abrir e fechar e com excelente vedação contra chuva.
Éramos quatro "tripulantes oficiais" na Montana RS (casal, filha de 8 anos e uma cachorrinha dachshund). E, no primeiro trecho da viagem, uma amiga da família pegou uma carona do Rio até São Paulo - tome mais carga na caçamba!
As forrações não sujam facilmente e são simples de limpar - Pancha aprovou
Espaço? Deu saudade da S10
De cara, a forração interna impressionou. Bem cuidada e sem enfeites exagerados, tem couro sintético escuro, costuras vermelhas e material macio nas laterais das portas dianteiras. Ao mesmo tempo, pode-se usar a Montana RS sem muita pena, pois o material interno é resistente e de fácil limpeza. Farelo de biscoito, suco derramado? Não fique paranóico com isso… De quebra, o console oferece dois suportes onde entram até garrafas térmicas, além de um porta-trecos grande e bem vedado sob o apoio central. O porta-luvas é espaçoso.
Os bancos dianteiros são como os do Tracker, bem cômodos. Além disso, adoramos a posição de dirigir, com amplo ajuste de distância e altura da direção. Com aro de diâmetro e espessura corretos, o volante também é forrado com couro sintético agradável ao toque e costura que não machuca as mãos. Já é meio passo para uma relação amistosa com o carro.
São 2,80 m de entre-eixos, 23 cm a mais que o Tracker
Assim, pudemos fazer em torno de 9 horas diárias de estrada sem sofrimento e querendo mais. Em nossa puxada mais longa, percorremos os 870 km entre Joinville (SC) e Pelotas (RS) em 13 horas. Foi cansativo? Claro. Mas nada de dores nas costas, nas pernas ou nos braços.
Apesar de oferecer entre-eixos 23 cm mais longo que o do Tracker, a Montana tem como ponto negativo a falta de espaço no banco traseiro, que, além disso, tem encosto muito vertical, quase em ângulo reto (características comuns às picapes médias-compactas). Como o booster da filha tem encosto reclinável para incrementar o conforto em viagens longas, tivemos que improvisar uma almofadinha no assento da Montana para aproveitar esse recurso.
No banco traseiro, um certo aperto
Já em Montevidéu, surgiu a ideia de, na volta, trazer a cunhada e o sobrinho uruguaios para umas semanas de férias no Rio - mas bastou uma voltinha com eles (e mais a filhota no booster) para perceber que o plano era impraticável numa viagem tão longa.
O sobrinho, com seus 1,85m de altura, batia os joelhos nos encostos da frente. Já a cunhada (de (1,72m) sofria com o cinto de segurança, sem regulagem de altura, marcando seu pescoço. Tentamos vários arranjos, sem sucesso: se a cunhada ia no meio, seus joelhos batiam no console. Nesse momento, deu saudade da S10 High Country com que viajamos em 2021.
Comodidades e segurança
O quadro de instrumentos tem desenho limpo e com boa visualização. Entre os dois mostradores redondos há uma telinha central de TFT com o computador de bordo e funções como sensor de pressão dos pneus. Estranhamos o fato de essa tela vir monocromática na Montana RS, em vez de ser colorida como no Tracker Premier.
Com tela de 8", a central multimídia tem pareamento simples (por Android Auto e Apple Car Play) e é fácil de usar. A Montana RS tem WiFi a bordo, o que foi extremamente útil na viagem. O dispositivo amplia muito o alcance dos smartphones, algo importante quando se navega pelo Waze. Mas não é infalível: houve regiões em que nem o WiFi a bordo foi suficiente para manter a conectividade.
A velocidade de cruzeiro ideal para viajar com silêncio, conforto e economia
Nas viagens ao Uruguai, o recurso eletrônico que mais usamos é o controlador de velocidade de cruzeiro - o da Montana é simples de operar, mas ficamos sonhando um controle adaptativo. A picape da GM não traz sequer a frenagem automática, disponível na Tracker Premier, ou o alerta de proximidade. À noite, os faróis de leds iluminam bem, mas sentimos falta do retrovisor fotocrômico.
A Montana traz importantes itens de segurança como seis airbags (frontais, laterais e de cortina) e alertas de ponto cego nos retrovisores externos. Mas custava pôr regulagem de altura no cinto do carona? Outra: há câmera e sensor de ré, mas podiam ter instalado um sensor na dianteira, não?
Alerta de ponto cego
Os sistemas de abertura das portas por proximidade e partida sem chave facilitaram a vida nas paradas de estrada. Também usamos um bocado os carregadores de celular, tanto por USB de dois tipos (A e C) quanto por indução. O ar-condicionado digital automático monozona mostrou-se eficiente em dias de sol forte - pena não haver saídas para quem vai no banco de trás.
Na ida, longos engarrafamentos
Não esqueça de calibrar os pneus na especificação para carga na estrada
Picape nivelada mesmo com a caçamba cheia de bagagem
Uma boa dinâmica
Ainda no primeiro dia de viagem, passando pela Carvalho Pinto, a direção pedia pequenas e constantes correções, como se estivesse ventando muito lá fora - só que não havia vento algum. Tudo foi resolvido na manhã seguinte, quando calibramos os pneus (ótimos Michelin Primacy 215/55 R17) com 35 psi na dianteira e 39 psi na traseira. Com isso, a dirigibilidade melhorou muito, mesmo com a caçamba cheia, e a picape tornou-se tão estável e gostosa de guiar quanto o Tracker que lhe deu origem. A partir daí fomos curtindo a direção direta e firme em sua assistência elétrica.
É preciso se acostumar ao fato de que a assistência nos freios é menor do que em outras picapes, mas o conjunto com discos na dianteira e grandes tambores atrás está bem dimensionado.
No Banhado do Taim (RS)
A suspensão com molas helicoidais nos dois eixos é um dos destaques. Os conjuntos traseiros trabalham com dois batentes de compressão, um montado dentro da mola e outro fixado ao amortecedor. Resultado: com a caçamba vazia, a picape é bem macia e não dá pulinhos; com caçamba cheia, os batentes evitam que a traseira afunde, garantindo firmeza e boa dirigibilidade. Carregada, a Montana é suave e controlável como se estivesse levinha. Não maltrata o motorista.
Alguém há de dizer que a carga útil da Montana RS é de apenas 600 kg, inferior à das Strada e Oroch (650 kg) e Toro 1.3 turbo (670 kg). Nos 5.400 km que rodamos, chegamos à conclusão de que a Montana tem pegada mais familiar, para serviços menos rudes que uma Strada, por exemplo.
O motor tricilíndrico se destaca pela economia
Motor e câmbio
Como dissemos acima, a “esportividade” da sigla RS nessa Montana é apenas estética, já que seu acerto e sua mecânica são iguais aos das demais versões. É o já bem conhecido motor tricilíndrico CSS Prime do Tracker, na versão 1.2 turbo, de 132 cv/133 cv. Na frieza dos números, é ligeiramente mais potente que o GSE T200 1.0 turbo das Strada mais caras (125 cv/130 cv), mas perde feio para os 1.3 turbo da Oroch topo de linha (162 cv/170 cv) e da Toro (180 cv/185 cv).
Na prática, porém, a Montana se vira muito bem nas velocidades permitidas na estrada. Numa viagem como a que fizemos, de caçamba cheia, seu cruzeiro ideal é a 110km/h reais (ou seja: com o ponteiro do velocímetro relando nos 120km/h e o do contagiros ali entre 2.100 e 2.200 rpm, em sexta marcha). Você viaja com economia e ainda tem boa margem de força para ultrapassagens.
Em comportamento, a Montana está mais para SUV compacto do que para picape convencional
Nessa tocada, a Montana é extremamente silenciosa. Quase não se ouve o som do motor - só ruídos aerodinâmicos e de rolagem, nada que incomode. Também não se percebe qualquer assobio do turbo, nem se sente lag. Essa impressão de que estamos em um aspirado de quatro cilindros só cai por terra quando se chama no acelerador, especialmente na cidade: aí entre 1.500 rpm e 3.000 rpm ouve-se aquele "som de matraca" tão conhecido nos Tracker e Onix.
Suave e bem casado ao motor, o câmbio automático GF6 de seis velocidades bem que merecia aletas atrás do volante para trocas de marcha. Em vez disso, é preciso tirar a mão do volante, pôr a alavanca em Low e ir liberando as marchas por meio de um botão no topo do seletor. Daí que a gente acaba andando em Drive praticamente o tempo todo.
IDA - média de 12,9 km l
Consumo
Mesmo sem recursos como injeção direta, a Montana se destaca pelo baixo consumo, que chegou a 14,2 km/l em alguns trechos. Nos 2.410 km da ida, a média ficou em 12,9 km/l - isto porque pegamos dois engarrafamentos que duraram horas (entre São Paulo e Paraná e, depois, em Santa Catarina) e, loucos para chegar a Montevidéu, pisamos forte depois de cruzar a fronteira.
VOLTA - média de 13,5 km l
Já nos 2.390 km da volta, feita via Jaguarão, sem tanto trânsito e com mais tranquilidade, a média ficou em 13,5 km/l, sempre com gasolina. Sem muito esforço e com a picape carregada, fizemos uma marca até melhor que a aferida pelo Inmetro no PBE veicular (13,3 km/l). Tera sido influência dos 620 km com gasolina uruguaia, que tem no máximo 10% de álcool (contra 27% da brasileira)?
Com um tanque de 44 litros, a autonomia prometida na ficha técnica da Montana RS é de 585 km de estrada, com gasolina. Na viagem, nossas paradas nos postos se davam, em média, a cada 350 km. Para não arriscar, o máximo que rodamos entre abastecimentos foram os 512 km entre São Lourenço do Sul (RS) e Tubarão (SC). Chegamos lá na reserva.
FINAL - Ida, volta e trechos urbanos - média geral de 12,8 km/l
Contando toda a quilometragem, incluindo os trechos urbanos que percorremos no Uruguai, rodamos um total de 5.427 km com a Montana RS, perfazendo uma média geral de 12,8 km/l. Nada mal para uma picape que andou com caçamba cheia na maior parte do tempo (na volta ao Brasil, as compras iniciais deram lugar a garrafas de tannat, alfajores e potes de doce de leite).
Em toda a viagem não houve qualquer problema. A única anormalidade foi uma luz de alerta de bateria que se acendeu repentinamente no meio da estrada e se apagou alguns quilômetros depois.
No Uruguai, a Montana está entre os três carros mais vendidos
No Uruguai, a gasolina custa o equivante a R$ 9,40
Volta por Jaguarão - um raro Fuscão Série Bravo prestes a cruzar a fronteira
Quanto custou?
A quem pensa em fazer um longo passeio como esse, os gastos com combustível nos 4.800 km de ida e volta ficaram em R$ 2.157. Já o total de despesas com pedágio foi de R$ 421 (total: R$ 2.578). Nas hospedagens pelo caminho, incluindo a famigerada “taxa pet” cobrada por alguns hotéis, foram mais uns R$ 2.300. Conhecemos um casal com filho pequeno que fez o percurso de avião, na mesma época, e gastou R$ 7.656 nas passagens aéreas.
A gasolina mais barata que encontramos foi em Guaratinguetá (SP): R$ 5,19. Já a mais cara no Brasil foi em Chuí (RS): R$ 6,09. Mesmo assim valeu a pena encher o tanque na cidade gaúcha, já que a gasolina em todo o Uruguai é tabelada no valor equivalente a R$ 9,41 por litro.
Rio, outra vez - entre ida e volta, gastamos R$ 2.157 em gasolina
Passamos a entender porque os uruguaios gostam tanto dessa picape. De volta ao Rio, foi com tristeza que nos despedimos da Montana RS, companheira de viagem suave, honesta e eficiente.
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