Entre diversas de suas missões, a Chevrolet Montana chegou ao mundo para pegar uma fatia dos clientes da Fiat Strada com o extra de um porte maior e motor 1.2 turbo em todas as suas versões. Mas a líder logo de mexeu e, com certeza, a Stellantis acelerou o desenvolvimento da Strada com o motor T200, o 1.0 turbo que estava, até então, nos SUVs Pulse e Fastback.
Em um ano agitado, este é um dos comparativos mais esperados. Aqui estão as versões topo da Fiat Strada e da Chevrolet Montana, que em comum tem o motor 3-cilindros sobrealimentado com turbo e a transmissão automática, sendo um com a caixa tradicional e outra com o CVT. Qual vale mais o seu dinheiro nesta briga das picapes turbo?
Espaço interno, caçamba e modularidade
Não tem como brigar com o que está bem claro nas fotos. A Montana é maior que a Strada, já que foi pensada para ser um meio-termo entre a picape compacta e sua irmã, a Toro - relembre o comparativo entre elas e a Renault Oroch clicando aqui. A Strada até tenta tirar essa diferença no visual, mas lado a lado é bem claro o que muda.
São quase 27 cm de diferença no comprimento, mas só 63 mm de diferença no entre-eixos, 66 mm na largura e 82 mm na altura. Ou seja, a Montana é maior nos balanços dianteiro e traseiro, mas não abre tanta vantagem nas demais medidas e isso impacta no uso de espaço interno e caçamba entre as duas picapes.
A Strada coloca muito da sua largura nos para-lamas e apliques laterais. Ou seja, a cabine em si é bem compacta e é a maior diferença para a Montana, que melhor aproveita o espaço e basta trocar de picape para perceber o quão a Chevrolet é mais espaçosa, principalmente nos ombros e cabeça nos bancos dianteiros. A Montana tem até um console central bem mais largo e com portas-objetos mais úteis e maiores. Na Strada, chega a ser complicado alocar todos os itens pessoais no que tem.
Mas não ache que a Montana tem toda essa diferença no banco traseiro. Ambas prejudicam bem o espaço para as pernas, com uma pequena vantagem para a Montana, mas nem se compara com um SUV, por exemplo. Ao menos, como nos bancos dianteiros, há mais espaço para ombros e cabeça que na Strada, que ainda é um carro compacto.
Na caçamba, a Montana tem a vantagem de 30 litros na capacidade, com 874 versus os 844 litros da Strada. Por outro lado, a Fiat leva mais em peso, com 650 kg, reflexo do seu projeto misto de trabalho e lazer, enquanto a Montana nasceu como um "SUV com caçamba". Na Chevrolet, há pontos de amarração e acessórios para uso, comprovando que sua missão é mais social que trabalho.
Vantagem: Chevrolet Montana
Acabamento e ergonomia
Apesar de Strada Ranch e Montana RS olharem para um público disposto a gastar mais por uma picape, ambas não escondem a origem humilde. A Strada é, em sua concepção principal, um veículo de trabalho que recebe algumas melhorias conforme fica mais cara. A Montana nasce da família de Onix, Onix Plus e Tracker, que buscam o custo/benefício.
Ou seja, o plástico rígido domina o interior das duas picapes. Nestas versões, buscam amenizar isso com o uso de alguns tecidos e cores diferentes para puxar um certo requinte ou esportividade, além dos bancos em couro ou couro e tecido na Montana RS. De qualquer forma, uma delas se destaca um pouco a mais.
Na Strada, a origem de carro de trabalho é mais aparente, apesar do marrom no painel e tecido nas portas. Visualmente, é um plástico mais brilhoso que na Montana, além da picape da Chevrolet ter um plástico com aparência de maior resistência com o passar do tempo, principalmente nos encaixes. A faixa em courvim com a costura falsa em vermelho dá um charme para a RS.
E como a Montana é maior que a Strada, a ergonomia também é melhor. A Strada recebeu com o tempo itens como o carregador por indução e o câmbio automático, mas "apertou" um pouco as coisas para caber e tem poucos porta-objetos e não oferece a regulagem da coluna de direção em profundidade, apenas em altura, enquanto a Montana tem os comandos fáceis de achar e usar e diversos porta-objetos para o uso, além de melhor para achar uma posição confortável para dirigir.
Vantagem: Chevrolet Montana
Equipamentos e conectividade
Sinceramente, nenhuma das duas picapes aqui são exemplo em lista de equipamentos pelos preços que cobram. A Montana RS é mais completa, com 6 airbags, partida por botão com chave presencial, faróis em LEDs, rodas de 17", acendimento automático dos faróis, ar-condicionado automático, carregador por indução, piloto automático e outros itens, mas poderia ter copiado mais o Tracker com, por exemplo, a tela colorida no painel (e olha que não estou cobrando a tela que está no Tracker RS chinês...), retrovisor interno fotocrômico e a parte de segurança, que falarei no próximo capítulo.
A Strada Ranch, posicionada no topo da linha, tem 4 airbags, faróis em LEDs, rodas de 16" com pneus de uso misto, carregador por indução, ar-condicionado automático e outros itens, mas deve justamente coisas que o consumidor dessa faixa já cobrará, como o acendimento automático dos faróis e a chave presencial com partida por botão. Nem mesmo um piloto automático tradicional ela tem e estamos falando de uma picape já de mais de R$ 130 mil.
Em conectividade, quase um empate. Ambas as picapes tem espelhamento sem fios para Apple CarPlay e Android Auto, sendo de 7" na Strada e 8" na Montana. A Chevrolet oferece o OnStar e WiFi embarcado na sua picape, mas já pede um valor mensal para os serviços. Ao menos oferece.
Vantagem: Chevrolet Montana
Segurança e assistências
Em suas faixas de preço, nem Strada, nem Montana se destacam em itens de segurança. Acabam se limitando quase ao obrigatório, com pouca coisa a mais, mas bem inferior ao que se encontra em sedãs, SUVs ou hatches na mesma faixa, por exemplo. No caso da Strada Ranch, são 4 airbags (os frontais obrigatórios e laterais), controles de tração (com TC+) e estabilidade, assistente de partida em rampas e só.
A Chevrolet Montana RS já oferece os 6 airbags, controles de tração e estabilidade com partida em rampas e um alerta de ponto-cego - e sabemos que, nessa plataforma, o Tracker oferece até alerta de colisão com frenagem automática de emergência, mas não a Montana. Fora esses pacotes, não há qualquer outro assistente moderno nas duas picapes, uma falha em ambas. Na briga particular, lógico que a Montana leva a melhor, mas não de forma exemplar.
Vantagem: Chevrolet Montana
Dirigibilidade, desempenho e consumo
O ponto central deste comparativo é que são picapes de porte próximo, com motores turbo, que podem pegar um mesmo cliente. Strada e Montana são de diferentes segmentos, mas podem competir pelo consumidor que procura algo assim, principalmente em versões mais completas e não tão focadas em trabalho.
De um lado, a Montana tem o motor 1.2 turbo, 3-cilindros, que tem 132/133 cv e 19,4/21,4 kgfm de torque. Não tem injeção direta, mas tem variador de fase nos comandos de admissão e escape. Já a Strada T200 usa o 1.0 turbo, já com injeção direta e o sistema MultiAir na admissão, que vai aos 125/130 cv e 20,4 kgfm de torque. A tecnologia faz a diferença se pensarmos na litragem e potência de cada um deles.
Por um lado, temos a Montana com mais potência, mas mais pesada. No outro, a Strada com o inverso. Nos testes, feitos com gasolina, dá para perceber que as picapes andam quase juntas, com a arrancada mais rápida da Montana até os 60 km/h, mas a Strada aproveitando um pouco mais de fôlego em alta para se recuperar da demora de resposta do câmbio CVT em algumas situações.
As retomadas são, literalmente, idênticas. A explicação está em uma relação peso/potência bem próxima (9,9 kg/cv na Montana e 10 kg/cv na Strada, quando com gasolina), um ponto que deve ser levado em consideração ao analisar qualquer número de desempenho. Pelo peso e um motor mais moderno, a Strada foi mais econômica na cidade, com 10,7 km/litro versus 9,8 km/litro, mas a Montana é melhor na estrada que a Strada (sim, trocadilho...), com 15,1 km/litro contra os 13,1 km/litro, com gasolina.
Mas vamos além do acelerar em linha reta. O fato da Montana ser maior, inclusive em bitolas e de uma plataforma um pouco mais desenvolvida, dá uma vantagem ao volante. Nascida como um produto de lazer, com a suspensão traseira com molas helicoidais e eixo de torção, é mais confortável e equilibrada, principalmente na cidade e em rodovias com velocidades mais altas. Tem uma direção mais fácil e que está condizente com o motor 1.2 turbo, que era sua meta desde seu nascimento.
A Strada nasceu como um carro para trabalho que passou por refinamentos com o passar do tempo. Para o motor T200, recebe suspensão recalibrada e freios melhorados, mas ainda usa o eixo traseiro rígido com feixe de molas. Leva mais carga que a Montana, mas dá para perceber que o motor 1.0 turbo é quase que demais para a sua base. Acelere forte e ela puxa para um dos lados, sinal que há mais potência que ela foi projetada.
Ela tem um comportamento mais de picape que a Montana. A traseira pula mais e, andando no limite, a Strada reclama antes que a sua oponente. É mais preparada para o trabalho, mas o consumidor deste segmento procura algo mais dinâmico e refinado, ainda mais nestas versões topo de linha. Seria um empate se fosse apenas em linha reta, mas há um pouco mais em jogo nesta faixa de preço.
Vantagem: Chevrolet Montana
Custo/benefício
A Chevrolet Montana RS pode levar a vantagem em todos os quesitos acima, mas prepare o bolso. Custa R$ 153.130, ou R$ 20.140 a mais que a Fiat Strada Ranch, de R$ 132.990, uma diferença considerável, apesar do porte maior da Montana e seus equipamentos extras. A Montana com câmbio automático mais barata é a LTZ, de R$ 142.040, que reduz a diferença para R$ 9.050 - comparada com a RS, perde os faróis em LEDs, ar-condicionado automático, alerta de ponto-cego e carregador por indução para smartphones.
Sabe o que a Strada Ranch vai ter a mais que esta Montana LTZ? Quase essa mesma lista, mas a Strada não tem o alerta de ponto-cego em nenhuma versão, enquanto a Montana LTZ tem o piloto automático, coluna de direção com regulagem de altura e profundidade, chave presencial com partida por botão e as rodas de 17". Neste caso, vale a pena levar esta Montana mais barata, mesmo comparada com a Strada Ranch, mais barata, mas menos equipada, principalmente em itens de segurança.
Vantagem: Chevrolet Montana (com ressalvas)
Conclusão
Em pontos, não tem como não dar a vitória para a Montana. É maior e mais equipada e, mesmo em uma versão mais próxima em preço da Strada Ranch, o pacote de equipamentos é mais interessante. A Strada T200 impressiona pelo visual e pelo preço mais baixo no conjunto, mesmo que fique devendo alguns itens, principalmente de segurança. Em comum, andam praticamente juntas na reta, mas o projeto mais "SUV" da Montana tem uma vantagem, principalmente em conforto e usabilidade.
Fotos: Mario Villaescusa (para o Motor1.com)
Fichas técnicas
Chevrolet Montana RS | Fiat Strada Ranch T200 | |
MOTOR | dianteiro, transversal, três cilindros, 12 válvulas, 1.199 cm3, duplo comando com variador na admissão e escape, turbo, flex | dianteiro, transversal, 3 cilindros, 12 válvulas, 999 cm3, duplo comando de válvulas com variador no escape e MultiAir na admissão, injeção direta, turbo, flex |
POTÊNCIA/TORQUE | 132/133 cv a 5.500 rpm; 19,4/21,4 kgfm a 2.000 rpm | 125/130 cv a 5.750 rpm; 20,4 kgfm a 1.750 rpm |
TRANSMISSÃO | automática de 6 marchas; tração dianteira | automática CVT com simulação de 7 marchas; tração dianteira |
SUSPENSÃO E RODAS | McPherson na dianteira; eixo de torção na traseira; rodas de 17" com pneus 215/55 R17 | McPherson na dianteira; eixo rígido com feixe de molas na traseira; rodas de 16" com pneus 205/55 R16 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e tambores na traseira | discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira |
PESO | 1.310 kg em ordem de marcha | 1.253 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.717 mm, largura 1.798 mm, altura 1.659 mm, entre-eixos 2.800 mm; | comprimento 4.448 mm, largura 1.732 mm, altura 1.577 mm, entre-eixos 2.737 mm |
CAPACIDADES | tanque 44 litros; caçamba 600 kg/874 litros | tanque 55 litros; caçamba 650 kg/844 litros |
PREÇO | R$ 153.130 | R$ 132.990 |
MEDIÇÕES MOTOR1 BR (gasolina) | ||
---|---|---|
Chevrolet Montana 1.2T | Fiat Strada T200 | |
Aceleração | ||
0 a 60 km/h | 4,0 s | 4,2 s |
0 a 80 km/h | 6,6 s | 6,5 s |
0 a 100 km/h | 9,6 s | 9,4 s |
Retomada | ||
40 a 100 km/h em S | 7,4 s | 7,4 s |
80 a 120 km/h em S | 7,5 s | 7,5 s |
Consumo | ||
Ciclo cidade | 9,8 km/l | 10,7 km/l |
Ciclo estrada | 15,1 km/l | 13,1 km/l |