A cada fim de ano, a tradicional viagem para visitar o ramo uruguaio da família. Desta vez, contudo, os planos começaram com um choque de realidade: os preços das passagens aéreas deram um salto desde o último Natal.
Os bilhetes Rio-Montevidéu-Rio para pai, mãe e filha custariam nada menos que R$ 8.403. Para complicar, desta vez teríamos que levar Pancha, uma dachshund de cinco quilos recém-integrada ao núcleo familiar.
As passagens para pets também estão caras pra cachorro: cada trecho nacional para a "salsichinha" (ou Cofap, já que esta é uma página com referências automotivas) custaria R$ 250, enquanto os trechos internacionais sairiam por R$ 600. Somando ida e volta seriam mais R$ 1.700 só para transportar a cadelinha.
Entre os humanos e a canina gastaríamos R$ 10.103 de ida e volta. E, desde o início da pandemia, perdemos os voos diretos (de duas horas e meia) entre o Galeão e o aeroporto de Carrasco, que serve à capital uruguaia. O jeito seria fazer uma longa escala em Guarulhos. Os noticiários falavam de cancelamentos e atrasos em viagens de avião. Um quadro desanimador.
![Chevrolet S10 2021](https://cdn.motor1.com/images/static/16x9-tr.png)
Mas e se a gente fosse de carro? Calcula daqui, calcula dali e pôr o pé na estrada mostrou-se a saída ideal. Um tanto melhor que teríamos à disposição uma Chevrolet S10 High Country da frota de testes da General Motors. Para quem já fez esse trajeto com Omega CD 3.0, Chevrolet sedã 1951, Belina II a álcool e Fusca 1969, percorrer os mais de 2.430 km dessa viagem internacional com a picape com motor 2.8 turbodiesel e câmbio automático seria moleza.
A experiência nos mostra que seja qual for o carro (do Fusquinha, de 38 cv, à S10, de 200 cv), o tempo de viagem entre o Rio e Montevidéu é mais ou menos o mesmo: três dias e meio de estrada, estabelecidos pelos radares e pelos limites do motorista. O que muda é o cansaço ao fim de cada jornada. No caso da S10 topo de linha (R$ 285.500) viajamos na classe executiva, em silêncio, sem esforço nem preocupações com possíveis enguiços.
![Chevrolet S10 High Country 2021 (Teste)](https://cdn.motor1.com/images/static/16x9-tr.png)
Antes da partida, alguns cuidados. Além dos documentos normais dos passageiros e do carro, tivemos que pedir à General Motors uma permissão para dirigir a S10 além das fronteiras brasileiras. É uma autorização simples, redigida em papel A4, com os dados do automóvel e firmada em cartório - isso vale para qualquer um que vá ao exterior guiando um veículo que não esteja em seu nome. Fizemos ainda a Carta Verde (que hoje é branca...), uma apólice de seguro internacional de responsabilidade civil do motorista. Pode ser providenciada rapidamente com qualquer corretor e, no nosso caso, custou R$ 173,75.
O que deu mais trabalho foi o "passaporte de saúde" da Pancha. Para entrar no Uruguai, um cão não pode ter qualquer sintoma de doença, deve passar por tratamentos contra parasitas internos e externos específicos, precisa ter a vacina antirrábica vigente, fazer um determinado teste de leishmaniose e receber um chip. É uma maratona com prazos estabelecidos e necessita estar comprovada em um Certificado Veterinário Internacional (CVI). Este trâmite digital deve ser realizado até dez dias antes da entrada do animal no outro país e é feito por meio do site do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil.
No meio do processo de preenchimento de dados é preciso baixar, no site do ministério, um formulário para ser preenchido por um veterinário. E sempre se cai em exigências. É preciso se organizar com tempo, e isso vale tanto para as viagens de carro quanto para as de avião.
A PARTIDA
A partida, em 18 de dezembro, já foi diferente. Em vez de pesar malas e calcular quilo a quilo o que poderíamos levar sem pagar por excesso de bagagem, tínhamos à disposição uma caçamba com 1.061 litros de capacidade e 1.049 kg de carga útil. Como quem dirige picape sempre é encarregado de algum frete, levamos ainda quatro cavaletes de mesa e um caixote de livros para uma amiga que se mudou recentemente para Montevidéu. Tudo sem problemas de espaço e com a proteção de uma capota marítima que se mostraria impermeável ao longo do passeio.
![002 - Sem preocupação com excesso de bagagem](https://cdn.motor1.com/images/static/16x9-tr.png)
No banco traseiro, uma cadeirinha e um booster para que a filha de seis anos pudesse escolher o posto mais cômodo no longo passeio até a casa dos avós. Na prática, o trono oficial foi a cadeirinha que, por seus apoios laterais, mostrou-se mais segura e confortável nas muitas horas de sono na estrada.
Uma das providências mais úteis em uma longa viagem rodoviária é comprar um Sem Parar ou alguma outra tag de pagamento automático para pedágios. Pedimos o nosso já no primeiro pedágio e a etiqueta colada no para-brisa funcionou perfeitamente até o Chuí, na fronteira do Brasil com o Uruguai. Foram nada menos que 24 postos de pedágio em que ganhamos tempo, evitamos filas e um monte de moedas no console - e isso só na ida.
No Uruguai há o Telepeaje, um sistema parecido com o nosso Sem Parar, mas que traz uma vantagem extra: um desconto que faz a tarifa cair de 150 para 112,50 pesos uruguaios (ou seja: de R$ 18,80 para R$ 14,10). Mas, como se trata de um tag pré-pago, é preciso fazer os cálculos direitinho para não perder dinheiro.
AS ESTRADAS
Saímos do Rio numa manhã de sábado com a meta de chegar a Curitiba. Nesse trecho, a BR-116 está inteiramente duplicada, inclusive na Régis Bittencourt, outrora chamada de Rodovia da Morte. Viajar com uma picape a diesel com tanque de 76 litros é uma grande vantagem em longas viagens. Rodamos 830 km até que a luz da reserva se acendesse, indicando que ainda tínhamos uma autonomia de 100 km pela frente... Na dúvida, botamos um "cheirinho" de 20 litros no tanque (diesel S10, a R$ 5,37 o litro). Encerramos o primeiro dia com 851 km no hodômetro e sem muito cansaço. Média até aqui: 12,5 km/l.
![003 - Na BR-116, rumo sul](https://cdn.motor1.com/images/static/16x9-tr.png)
No domingo saímos sem parar no posto, confiando naqueles 20 litros da noite anterior. O combustível deu e sobrou para encarar mais 174 km de BR-116 até Papanduva, no interior de Santa Catarina. Foi onde encontramos o diesel S10 mais barato da viagem: R$ 4,99. Tanque cheio novamente e o computador de bordo indicou a autonomia de 936 km! Vamos tocar rumo ao sul, aproveitando que é domingo, dia de pouco tráfego na estrada (ainda não duplicada nesse trecho). Nossa média continuava em 12,5 km/l. Ao todo, no segundo dia de viagem, rodamos 584 km.
No terceiro dia, pegamos leve: apenas 330 quilômetros até São Lourenço do Sul, cidadezinha gaúcha às margens da Lagoa dos Patos. A BR-116 já está com vários trechos duplicados ou em fase de duplicação entre Porto Alegre e Pelotas. Dificuldade zero... A animação e as muitas ultrapassagens fizeram nossa média de consumo cair para 12,3 km/l. A ideia era rodar até o entardecer, pernoitar numa pousada e pegar a estrada cedinho no dia seguinte. Queríamos fazer os trâmites de imigração, no Chuí, em horário de almoço, e chegar a Montevidéu à noite.
![004 - A caminho da fronteira](https://cdn.motor1.com/images/static/16x9-tr.png)
De São Lourenço do Sul até a fronteira do Uruguai seriam mais 330 quilômetros - boa parte deles na BR-471 entre as belas lagoas que formam o Banhado do Taim. No trecho da reserva ecológica há mais capivaras do que você já viu em toda sua vida. O limite de velocidade cai para 60 km/h. O jeito é não ter pressa, ligar o cruise control (um tremendo alívio na estrada), ficar atento aos bichos no caminho e curtir a paisagem.
![005 - O último tanque de diesel no Brasil](https://cdn.motor1.com/images/static/16x9-tr.png)
Depois de 2.095 km de estrada desde o Rio de Janeiro, chegamos ao Chuí, cidade mais meridional do país. Sabendo que o preço do diesel S10 está tabelado em 62,98 pesos uruguayos (R$ 7,91) do lado de lá da fronteira, completamos o tanque tudo o que foi possível (41 litros) no lado brasileiro (R$ 5,35 o litro).
Na imigração, as autoridades uruguaias sequer pediram a autorização da General Motors ou a Carta Verde. Tampouco revistaram a picape. Só tivemos alguma dificuldade com os papéis da Pancha - mas, depois de alguma burocracia, nossa passagem foi autorizada.
![006 - A fronteira, enfim](https://cdn.motor1.com/images/static/16x9-tr.png)
Do Chuy uruguaio (com "y") até Montevidéu, foram mais 330 km. As retas planas e intermináveis, com bom asfalto, e a vontade de chegar logo fizeram a média de consumo cair para 12 km/l. Chegamos às 20h30, quando a banda uruguaia da família já nos esperava com um belo assado na parrilla, além de garrafas de cerveja Patricia geladinha e vinho tannat para comemorar. Foram quatro dias e exatos 2.430 quilômetros de estrada (o Google Maps previu a quilometragem com uma precisão impressionante!). Em ritmo de passeio e curtindo a paisagem, não deu nem pra cansar.
![007 - Pancha chega ao Uruguai](https://cdn.motor1.com/images/static/16x9-tr.png)
FAZENDO AS CONTAS
Na manhã seguinte, hora de fazer as contas. Não levamos em consideração aqui os gastos de manutenção da picape, mas só os custos de combustível, hospedagem e pedágios.
Do Rio a Montevidéu gastamos R$ 933 em diesel S10 (o ponteirinho chegou a Montevidéu ainda marcando 3/4 do tanque, desde aquele último abastecimento no Chuí). Nas três noites passadas na estrada, gastamos R$ 609 entre hotéis e pousada. Em pedágios brasileiros e uruguaios foram mais R$ 220. Assim, o total da primeira perna da viagem ficou em R$ 1.762. Dobrando, para fazer um cálculo aproximado com a volta ao Rio, serão uns R$ 3.524 - uma pechincha diante dos R$ 10.103 cobrados pela companhia aérea.
São dias "perdidos" no trajeto, é claro, mas com muitas histórias e recordações que ficarão para sempre. O avião ficou no passado.
![009 - Um arco-íris na chegada a Montevidéu](https://cdn.motor1.com/images/static/16x9-tr.png)