Se você está realmente buscando um carro de 7 lugares para comprar, é bem provável que neste momento esteja com um nenê no colo, algumas sacolas nos braços e um cachorro tentando fugir da coleira. Neste caso, não perderei seu tempo: compre um Citroën C3 Aircross Shine se a sua prioridade for espaço e conforto sem ir para os SUVs acima dos R$ 200 mil ou não quiser uma Chevrolet Spin. De resto, não tem muito mais o que explicar.
Como já dito no teste da variante de 5 lugares (R$ 129.990 em sua versão topo), o C3 Aircross bebeu demais na fonte da Fiat e entregou um carro barato para sua categoria ao custo de um acabamento simplório e falta de equipamentos. Os dois bancos extras da mesma versão com 7 lugares (R$ 136.590 também na Shine) deixa ainda mais na cara que a novidade é para quem realmente precisa do espaço e da modularidade que ele oferece.
Com a terceira fileira de bancos, uma Chevrolet Spin ainda tem preços variando entre R$ 120.890 (LT7), contra R$ 120.990 do C3 Aircross Feel de 7 lugares. A rival mais direta do C3 Aircross Shine 7 seria a Spin Premier de 7 lugares, custando R$ 136.730, além da versão aventureira Active7 por R$ 139.470 como opção acima. Mas a minivan está prestes a mudar e, com certeza, não ficará mais barata pela quantidade de tecnologias que receberá.
Pelos R$ 136.590 que a Citroën cobra no C3 Aircross Shine, outros SUVs compactos costumam ser encontrados em versões pouco acima da básica. Ficando com os mais conhecidos, o Jeep Renegade Sport é mais potente e equipado, mas custa R$ 143.990. O Tracker LT está na mesma faixa de preço, é menos potente e ainda é mais caro que o Citroën: R$ 138.040. Modelos como o VW T-Cross 200 TSI passam dos R$ 140 mil e, no mesmo preço do C3 Aircross mais completo ou mais barato, somente SUVs compactos bem menores, como o Fiat Pulse, de R$ 131.990 na versão Impetus com o mesmo motor 1.0 turbo.
Aqui temos mais um caso típico de "não dá para ter tudo". Baseado na plataforma do C3 hatch, o C3 Aircross oferece um porte quase de SUV médio a custo de compacto, mas sua lista de equipamentos está mais próxima de hatchback em versão (no máximo) intermediária com motor 1.0 turbo.
Todas as versões do C3 Aircross de 7 lugares trazem de série multimídia com tela de 10" e espelhamento sem fio, assistente de partida em rampas, ar-condicionado, ajuste de altura do banco do motorista, vidros elétrico com função 1 toque, alarme, travas elétricas, dois assentos removíveis da terceira fileira e o sistema de ventilação independente para os bancos de trás.
O resto ou é obrigatório por lei (controle de estabilidade, luzes diurnas e duplo airbag frontal) ou aparece na ficha para preencher espaço, como é o caso das barras de teto originais que são decorativas, do travamento elétrico do bocal de combustível e da chave que tem telecomando, mas é do tipo fixa, como no C3 hatch.
Itens mais demandados em carros familiares, como retrovisores elétricos, sensor de estacionamento traseiro, encosto de braço para o motorista e airbags laterais (só para os bancos dianteiros) aparecem somente a partir da versão intermediária Feel, que ainda adiciona o painel de instrumentos digital com tela de 7". É a mais interessante em custo.
A Shine, como a testada, acrescenta câmera de ré, rodas de 17", faróis de neblina, bancos e volante revestidos de tecido sintético, controle de cruzeiro, limitador de velocidade, porções dos para-choques pintadas de prata para imitar skid plates, grade de plástico em preto brilhante e a monocelha de mesmo material dando acabamento no tampão do porta-malas.
Parece a lista de itens de série de carros feitos há 10 anos. Mesmo a versão mais cara não tem itens que nessa faixa de preço já não são tão incomuns. Com 7 lugares, o C3 Aircross Shine custa mais de R$ 136 mil e não tem nem como opcional faróis de LED, espelho fotocrômico, acendimento automático dos faróis e nem uma chave ao menos canivete.
Ao menos, as medidas do C3 Aircross são um dos dois pontos de redenção do carro da Citroën. São 4.320 mm de comprimento, o que o põe no mesmo patamar de Honda HR-V (4.330 mm), Nissan Kicks (4.310 mm) e Renault Duster (4.376 mm). VW T-Cross (4.199 mm) e Chevrolet Tracker (4.270 mm), mais vendidos da categoria dos compactos, são um pouco menores. O modelo ainda conta com 493 litros de capacidade no porta-malas.
A mecânica é a mesma de diversos produtos da Stellantis, de Peugeot 208 a Fiat Fastback, passando pela Strada. É o 1.0 turbo flex de 3 cilindros capaz de entregar 130 cv de potência com etanol e 125 cv com gasolina e torque de 20,4 kgfm independente do combustível. É acoplado sempre à transmissão automática CVT com simulação de 7 velocidades.
O Citroën C3 Aircross acertou o visual. Não teve um que viu o carro e não gostou do resultado. O carro é grande e parece ainda maior por conta do teto reto e dos para-lamas largos. A altura em relação ao solo também é ampla, o que somado aos amortecedores de curso mais longo joga a posição do motorista lá para o alto.
Hoje em dia, alguns itens são figurinha carimbada se você quer ter um carro que apele a um público amplo: muito espaço interno, parecer maior do que é, posição elevada, multimídia com tela grande e uma relação custo-benefício que pareça atrativa no papel. Nisso, o Aircross acertou na mosca.
A novidade da Citroën é o 7 lugares mais barato do Brasil, e brasileiro adora comprar um carro por metro quadrado. E mais, numa primeira volta ao volante, o C3 Aircross é muito confortável. A suspensão é incapaz de transmitir uma pancada seca nos buracos. O motor turbo responde bem quando se pisa fundo.
Mas quanto mais se anda, mais os sacrifícios em nome do preço começam a aparecer. Os bancos da terceira fileira são para crianças, e olhe lá. O espaço da segunda fileira é abundante para cabeça e ombros, mas se você tiver passageiros com mais de 1,80 m, o espaço para as pernas já não é tão grande assim. O assoalho da versão de 7 lugares é ligeiramente diferente e reforçado, mas a segunda fileira não corre, então ela foi colocada 10 mm mais para frente para minimamente ter algum tipo de espaço para a terceira fileira, mesmo que ao custo de sacrificar o espaço da segunda.
A terceira fileira não tem muito segredo: é para crianças em trajetos curtos. Adultos por lá ficarão extremamente desconfortáveis e com a cabeça praticamente encostada no vidro traseiro. Ao menos o acesso para os bancos no porta-malas é fácil: basta puxar duas tiras de tecido para que a segunda fileira se recolha com a ajuda de molas e deixe um espaço razoável para o acesso.
Se os bancos da terceira fileira não forem usados, a dica é removê-los de vez. mesmo dobrados ocupam bastante espaço no assoalho e não criam uma base plana em conjunto com o rebatimento da segunda fileira. Ao menos, com 8 kg cada, não é tarefa muito complexa tirar os assentos da terceira fileira e ainda podem ser guardados em bolsas, vendidas como acessórios na concessionária.
Porém, algum crédito tem que ser dado para a Citroën. Criar dutos de ventilação para duas fileiras traseiras pode sair caro. A solução da montadora para manter os ocupantes traseiros refrigerados foi colocar um ventilador no teto com controle na segunda fileira. Ele pega o ar gelado que sai do painel e o esparrama mais para trás. A terceira fileira também conta com porta-copos próprio e duas saídas USB, ainda que instaladas somente no lado esquerdo.
O acabamento é algo que já foi explorado desde o lançamento e no teste anterior da versão de 5 lugares. O Aircross está muito mais próximo da qualidade de um C3 hatch na casa dos seus R$ 80 mil do que a esperada num carro de R$ 130 mil. Plásticos abundantes na cabine são complementados por medidas descaradamente de economia de custos, como os minúsculos espelhos de cortesia dos para-sóis (sem iluminação ou tampa) e os comandos dos vidros traseiros apenas no console central, sem redundância para o motorista.
Outra economia visível está sob o capô. O cofre do motor sem pintura não passa uma boa impressão, ainda mais em contraste com o belo vermelho metálico do restante da carroceria. Ao lado esquerdo do painel, há uma sequência de botões que estão agrupados aleatoriamente. Da esquerda para direita, ajuste dos espelhos, controle de cruzeiro, travamento dos vidros elétricos, modo Sport e travamento das portas. O visual geral do painel é bonito, apesar de simples nos materiais. O painel de instrumentos digital é prático e fácil de usar, enquanto a tela da multimídia funciona bem com Android Auto ou Apple CarPlay sem fio.
E dirigindo? O consumo é penalizado pela carroceria maior, mas ainda não é absurdo. Em nossos testes, fez 10,4 km/l na cidade e 12,5 km/l em uso rodoviário quando abastecido com gasolina. Em um carro de proposta barata, é quase impossível ter uma suspensão capaz de ser muito confortável e muito estável ao mesmo tempo. O Aircross não foge à regra: parece que você está dirigindo um colchão, mesmo nas ruas mais esburacadas, só que basta apontar em uma curva para ver a carroceria balançar. A direção também não passa muita informação para o condutor. É o tipo de ajuste em que o conforto foi a prioridade de quem vai passar horas ao volante.
Só que os R$ 6.600 a mais que a Citroën cobra pelas duas banquetas traseiras removíveis e um ventilador de teto só se justificam se você for realmente usar os assentos extras com frequência. A versão de 5 lugares mantém o bom espaço e porta-malas, sendo consideravelmente mais em conta que um SUV compacto tradicional.
E fica mais um aviso para os compradores do Aircross de 7 lugares: os racks de teto que vêm de fábrica não podem receber carga. A marca oferece barras transversais como acessório, podendo acomodar bagageiros de teto, como diversos donos de Spin fazem para aproveitar todos os bancos.
A sensação é a de que a Citroën fez um Renault Logan dos SUVs. O tamanho e o conforto é quase de um médio, mas o preço e principalmente o acabamento são bem de um modelo de entrada. Não há revolução alguma, é só mais uma opção bem-vinda para o carente mercado de veículos de 7 lugares de entrada, que tinha apenas a Chevrolet Spin como opção.
Porém, na falta de um Fiat Doblò, a Stellantis usará o Aircross como rival da Chevrolet Spin e a única coisa que deve revolucionar de fato é a fila dos táxis nos aeroportos e as portas de algumas escolas. A versão de 7 lugares da novidade da Citroën priorizou entregar mais espaço a partir de uma plataforma de entrada. Acertou o preço e o aproveitamento da cabine, mas só isso.
Fotos: Mario Villaescusa (para o Motor1.com)
Citroën C3 Aircross (7 lugares)
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