Quem diria que o que nasceu para o fora-de-estrada se tornaria esportivo? Os SUVs são receitas tão rentáveis para as montadoras que foram surgindo sub-segmentos, como os esportivos. E não são esportivos de adesivos, mas máquinas com potência e capacidade de andar rápido para assustar sedãs, hatches e peruas e destruir as teorias dos puristas.
Um dos mais extremos é o BMW X6 M Competition. Com seus 625 cv, se coloca entre os mais potentes do mundo e recebeu o mesmo tratamento da divisão M que receberam M2, M3, M4 e M5. Junto do motor V8 biturbo de 625 cv, suspensão, direção e freios seguem a cartilha da divisão e de brinda não falta luxo aos seus ocupantes. Cobra R$ 1 milhão por isso? Cobra. Mas isso não é um problema..
Como que se começa a fazer um esportivo? Com um motor digno. No X6 M Competition, temos o S63B44T3, um V8 de 4.395 cc com dois turbos de duplo fluxo instalados entre as bancadas de cabeçote com coletores tubulares e variadores de fase e de abertura de válvulas nos quatro comandos. São 625 cv com pico a 6.000 rpm e 76,5 kgfm de 1.800 a 5.860 rpm, uma faixa grande para tanta força.
O turbo de duplo fluxo é algo que a BMW adota em diversos de seus motores. Cada entrada trabalha com dois (ou mais) cilindros e mantém, pelo ciclo de combustão, o rotor sempre ativo e mandando pressão pra dentro - e pressão significa alegria. No caso do V8 4.4, cada turbo conversa com uma das bancadas e, pela proximidade do coletor de escape, reduz o turbolag e dá essa resposta de torque de baixas a altas rotações. A bomba de óleo foi projetada para uso extremos, com um coletor extra para momentos onde é mais exigida, como autódromos.
Este X6 que testamos ainda não está eletrificado. Na Alemanha, acabou de ser apresentada a reestilização que recebeu uma atualização deste S63, o S68. Tem a mesma potência e torque, mas com a ajuda de um pequeno motor elétrico de 12 cv e 20,4 kgfm instalado na transmissão (uma evolução daquele de correia no virabrequim), o que reduz emissões e consumo no final ao permitir um acerto levemente mais manso do combustão. Deve chegar ao Brasil em 2024.
Motor pronto, vamos construir o restante. O X6 M Competition recebe o câmbio automático de 8 marchas, o M Steptronic, com seletor de velocidade de trocas e refrigeração do óleo para uso em pistas - aliás, transmissão e motor tem refrigeração especial para as pistas, com bomba de água elétrica específica para os turbos. O sistema de tração integral pode distribuir automaticamente a força entre os eixos com uma caixa de multiplas embreagens que manda de 0 a 100% para cada um.
A suspensão é adaptativa, duplo A na dianteira e multilink na traseira com componentes em alumínio e bolsa ar na traseira para nivelar quando carregado. Os freios são em composto especial, com pinças de 6 pistões na dianteira com servo elétrico, o que permite variar as respostas conforme o modo de condução. As rodas são de 21x10,5" na dianteira e 22x11,5" na traseira, com pneus 295/35 e 315/30, respectivamente.
Vocês estão esperando que eu fale que o X6 M Competition é um bom carro, dócil e tranquilo para o dia a dia, certo? Não é bem assim. Como o M3 Competition, o SUV-cupê não esconde sua concepção e só falta falar "quer paz? Compra um X6 normal". Desde a partida com o V8 roncando alto pelo escape ao estilo nada discreto de seu bodykit exclusivo, ele quer ver o mundo girando rápido.
Mesmo no modo mais tranquilo, o câmbio faz as trocas com alguns trancos e deixa o V8 subir rotação. Modo Eco? Nem em sonho. Direção pesada, suspensão firme, pneus de perfil baixo, freios barulhentos quando frios pelo composto...você comprou um esportivo. Se estiver interessado em saber, foram 6,4 km/litro na cidade e 9,7 km/litro na estrada, andando na manha e sem atender os pedidos do X6 M para realmente acelerar, mesmo que isso exija uma certa maturidade sua para não cair na tentação a qualquer momento...
Tudo bem, é um carro de mais de R$ 1 milhão. Sistema de som da Bower Wilkins competem com o escape e oferecem uma alta definição para seus momentos de calma, comandado pelo sistema multimídia com tela de 12,3" com espelhamento sem fios. Na mesma central, você escolhe diversas configurações do X6 M, como nível dos controles de tração e estabilidade, distribuição de tração entre os eixos, rigidez de suspensão, respostas de direção e de freios. São as mesmas configurações do M3, mas em um SUV. E tudo isso em um carro que também fecha as portas por sucção, sem a necessidade de bater. Mistura doida...
No volante, os botões M1 e M2 permitem configurar alguns aspectos para, ao toque, mudar o carro rapidamente. Pelo mesmo volante, o piloto automático adaptativo é acionado e funciona muito bem, de uma geração recente, mais inteligente, apesar de preferir dirigir eu mesmo um esportivo ao deixar um computador fazê-lo. Aliás, o próprio ACC é afetado pelo seletor de modo de condução. No banco traseiro, duas telas nos encostos dos bancos dianteiros dão aos ocupantes entretenimento, além do sistema de ar-condicionado individual. Até a chave tem uma tela para ver os dados do carro fora dele, como autonomia e se está trancado.
Depois do M3, poderia ser difícil achar que o X6 M faria as mesmas coisas. Não faz, mas por uma questão de peso e tamanho. Por outro lado, é impressionante o que ele consegue com esse porte todo. Quer liberar todos os 625 cv? Ele se transforma em seu modo mais esportivo, chegando a assustar quem não está acostumado.
Como um amigo diz, o modo "gato na lavadora" vai deixar os ocupantes bem entretidos. A força chega ao chão sem perder tempo destracionando, com o controle de largada que desafia você a segurar a cabeça no lugar. Em nosso teste, foi de 0 a 100 km/h em 3,8 segundos, engolindo as marchas - é impressionante como um câmbio automático consegue até ser mais rápido que um dupla embreagem nos BMW M. O modo manual nem fará as trocas se não acionar as aletas, como manda as pistas. Passar dos 200 km/h é muito fácil se não ficar ligado no head-up display colorido.
Além das retas, o X6 M Competition gosta de curvas. A direção é direta e obedece qualquer comando do motorista para colocar esse SUV onde desejar na hora de entrar e sair das curvas. O sistema de tração empurra e ajuda nesse controle em conjunto com a suspensão adaptativa, com a carroceria firme, sem dobras ou dúvidas. Cabeças balançam de um lado para o outro nos 4 lugares, se ocupados. A força de frenagem é impressionante, sem fadigas, além de cravar apenas 35,7 metros para ir de 100 km/h a zero em nosso teste.
Seu tamanho chega a ser quase desconsiderado andando rápido. Há limites, mas toda a tecnologia pela dinâmica recompensa, além de ser mais usável que um M3 no dia a dia, por exemplo, tanto pela altura do solo (apesar dos pneus de perfil baixo), quanto pelo espaço interno e comodidades. Parece um pouco mais racional, apesar de ainda ser um amigo que não dá para considerar a melhor influência.
Rápido e dinâmico, o X6 M Competition parece implorar por mais. Mais fácil achar o seu limite como piloto que o do carro, assim como o M3 Competition. Custa caro e, como o sedã, não recomendaria para alguém que não soubesse como ter um carro desse. É menos "demoníaco" que o seu irmão de três volumes, mas não é um SUV que amansa nem mesmo no uso diário. Pode levar as crianças para a escola, mas o X6 M Competition vai torcer para que saiam de casa atrasado com uma prova no primeiro tempo de aula. Se não estiver atrasado, tudo bem. Ele pode se dirigir, te dar um entretenimento com som de alta definição e uma dose de conforto. Prepare seu milhão.
Fotos: Mario Villaescusa (para o Motor1.com)
BMW X6 M Competition
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