Teste Chevrolet Camaro SS 2022: Lutando pela sobrevivência dos V8
Muitos mistérios rondam o futuro do esportivo dentro da marca que foca em EVs
É até um pouco clichê falar que um esportivo V8 aspirado briga para sobreviver no mundo dos carros elétricos. Mas no caso do Chevrolet Camaro, é algo muito mais real e cheio de rumores (e mistérios) sobre seu futuro. Afinal, a marca norte-americana é uma das mais dedicadas em transformar sua linha em 100% elétrica.
Rumores indicam que o Camaro deve viver até 2024 ou 2026, a depender dos executivos da marca. Até se fala sobre algumas mudanças, como motores mais potentes nos próximos anos, mas nada indica uma nova geração, diferente do Ford Mustang, já visto em testes nos Estados Unidos. Ele merece esse fim? Por enquanto, vamos aproveitar: este é o Chevrolet Camaro SS 2022.
Esqueça o Camaro amarelo...
Eu era estagiário de uma antiga revista quando o Chevrolet Camaro chegou ao Brasil oficialmente em 2010. Custava R$ 185 mil, um valor muito chamativo por se tratar de um esportivo importado e muitos anos antes da Ford perceber que poderia ter um espaço com o Mustang. Vendeu muito, principalmente vestindo amarelo pela estrela do filme Transformers. OK, não só por isso, mas deixa quieto essa parte da história que envolve música nacional...
Apesar de brutal com seus 406 cv e 56,7 kgfm na época, era um legítimo carro norte-americano, bom apenas nas retas. A dinâmica estava longe dos esportivos europeus com quem ele concorria, ficando um pouco longe dos reais consumidores de esportivos. Apenas em 2016 que conhecemos a atual geração, menos americana e muito (muito mesmo) mais aprimorada em condução, dinâmica e esportividade.
A sexta geração do Camaro usa a plataforma Alpha, a mesma dos Cadillac ATS e CTS, com suspensão dianteira McPherson, traseira fivelink e uma construção e calibração que permite uma maior equilíbrio e melhor desenvoltura em curvas, por exemplo. Ficou bem mais próximo de um esportivo europeu, mais divertido e, ao mesmo tempo, provocante - afinal, é isso que precisamos e procuramos em um esportivo.
Rústico e bruto?
Ter um Chevrolet Camaro SS 2022 na garagem é uma mistura de sensações. Fato é que, visualmente, poucos carros são icônicos como ele. O melhor é que a Chevrolet corrigiu aquela dianteira esquisita mostrada em 2016, colocando a gravata no lugar certo a partir de 2020, na grade. Faróis bem finos, em LEDs, as lanternas duplas na traseira combinando com a dupla saída de escape, vidros pequenos, teto baixo, rodas grandes e caixas de rodas destacadas. Mesmo depois de muitos anos, chama muita atenção pelas ruas.
Seu motor é o LT1, um V8 6.2 bastante conhecido no mercado de preparação nos Estados Unidos por sua resistência a aumentos consideráveis de potência. Mesmo original, o SS já tem 461 cv e 62,9 kgfm de torque, sem a ajuda de turbo ou motores elétricos, além de pontos antigos de concepção, como o comando único no bloco e as 2 válvulas por cilindro em contraste com a injeção direta, construção em alumínio, variador no comando e a desativação de cilindros. Seu sucessor é o LT2, que está no novo Corvette.
O câmbio é até uma parte curiosa. Automático de 10 marchas, foi desenvolvido em parceria com a Ford...também para o Mustang! Possuem calibração e relações próprias, mas a parte básica dessa transmissão é uma parceria entre as marcas que vendem os rivais de décadas, ambos com tração apenas traseira. É a tal globalização e as parcerias para reduções de custos, tão comuns nos dias atuais.
A mistura de sensações segue no interior. Tem um bom acabamento, apesar de não ser um padrão de luxo até pelo seu posicionamento nos Estados Unidos, misturando plástico, alguns pontos de materiais suaves ao toque, couro e detalhes escovados e cromados. O volante tem a base reta, com um diâmetro reduzido, a posição de dirigir é bem baixa, e o painel mistura os velocímetro e conta-giros analógico com uma tela de alta resolução bem completa em informações.
Ao menos pro Brasil, o Camaro SS não tem um pacote tão amplo de equipamentos como o esperado para um carro que passa dos R$ 400 mil. Sistema de som assinado pela Bose, sistema multimídia com espelhamento sem fios (e um carregador sem fio quase no banco traseiro que não cabe praticamente nenhum smartphone moderno), ar-condicionado de duas zonas, bancos elétricos, aquecimento de volante, aquecimento e ventilação de bancos, alerta de ponto-cego, retrovisor interno com função de câmera traseira e outros menores, como a partida remota. Por outro lado, nada de piloto automático adaptativo ou frenagem automática.
Por favor, não se vá!
Carros elétricos são legais. Porsche Taycan, Audi RS e-tron e até mesmo o Volvo XC40 Recharge, é muito fácil ter um carro com mais de 400 cv quando vamos para os elétricos e as acelerações rápidas com a força disponível a qualquer momento. Mas ainda há algo nos carros a combustão que, mesmo "mais lentos", seduzem - bons exemplos estão no Mustang Mach1 e nos Porsche.
O Chevrolet Camaro SS, pra mim, é algo assim. Se na antiga geração era um carro que me passava quase zero vontade de sentar e dirigir, o novo segue uma escola que nos faz querer dar uma volta na noite, com teto-solar aberto. Mesmo não sendo a versão mais esportiva, a partida do SS com o característico V8 aspirado (quase) nos faz esquecer o preço da gasolina - em três dias, foram 400 km rodados...até parei de contar isso em valores, vou descobrir com a próxima fatura do cartão de crédito...
A posição de dirigir (ou pilotar) do Camaro é interessante. Bem baixa, com volante (pequeno de base reta) e pedais em boa posição, vidros pequenos, formando um cockpit com o túnel central alto. É bem diferente, por exemplo, do Ford Mustang e seu projeto mais social. O Camaro é sim um carro bem mais difícil de se entender como um carro diário, inclusive no espaço interno e conforto de suspensão - mas to nem aí, por enquanto.
As trocas entre carro e motorista são frequentes. O Camaro SS é bastante comunicativo, assim como todos seus comandos. É um esportivo largo, com um V8 aspirado e tração traseira, mas que te explica o que está acontecendo, mesmo que seja ele destracionando em retas em algumas arrancadas e deixando o motorista ligado com o que faz no volante. E isso com os controles de estabilidade e tração ligados.
É um esportivo na essência. Não o provoque achando que vai passar limpo se não souber o que fazer se ele se rebelar contra você. Uma entrada de curva exagerada ou um pé no acelerador fundo demais e um recado será dado pelo Camaro, como um pequeno alerta. As trocas de marchas são bem mais sensoriais que no Mustang, com trancos e um pipoco alto pelo escape em altas rotações. No uso diário, as trocas são suaves e calmas.
Mas é até fácil de controlar. Com um pouco de costume, a direção direta e os freios, assinados pela Brembo, ajudam nessa missão e nada lembram os antigos Camaro. É comunicativo, provocativo, mas que te dá tudo para se entenderem, basta você se dedicar um pouco a entender tudo isso como funciona e como o conjunto se comporta. Aos poucos, vale explorar os modos de condução mais esportivos. A base está pronta até para um pouco mais de potência, como é comum em sua terra.
E tudo tem um preço. Neste caso, R$ 475.890. O Chevrolet Camaro SS é mais barato que o Ford Mustang Mach1, por exemplo, e navega na faixa de entrada dos esportivos alemães como o Mercedes-AMG A 45S, um hatch 2.0T com mais de 400 cv. A lista de equipamentos é bem enxuta, mas o fator diversão do Camaro SS ainda é um bom ponto de vendas. Pena que sua história não tem mais muitos anos.
Chevrolet Camaro SS
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