Teste: Chevrolet Cruze Sport6 Premier 2020 resistirá ao novo Tracker?
Renovado recentemente, ele luta para não seguir o destino de Golf e Focus
Poderíamos começar este texto falando de como os SUVs dizimaram os hatches médios no Brasil, mas esta história você está cansado de ouvir. Golf e Focus se despediram do mercado brasileiro no ano passado de forma melancólica (o VW ainda segue a conta-gotas no GTE híbrido), mas a Chevrolet ainda acreditou um pouco mais no Cruze Sport6, a ponto de reestilizá-lo para a linha 2020. Por ser irmão de um sedã que ainda tem vendas razoáveis, o Cruze, o Sport6 acompanhou as mudanças do três-volumes. Mas, quase ao mesmo tempo, levou um duro golpe: o lançamento do novo Onix, que ficou bem maior e ganhou itens que antes só existiam em modelos de categoria superior. E agora vem o Tracker...
Vejamos: com 4,16 m de comprimento, o Onix agora tem o porte de um hatch médio de duas gerações atrás - é do tamanho do antigo Chevrolet Astra, por exemplo. O novo compacto da GM também tem motor turbo, carregador de celular sem fio, alerta de ponto cego, internet 4G a bordo, assistente de estacionamento automático... ou seja, será que é mesmo preciso pagar mais e levar um Cruze Sport6? O consumidor tem dito que não.
Claro que o Cruze Sport6 leva diversas vantagens sobre o Onix, desde a motorização (1.4 contra 1.0) até a dirigibilidade, sem contar alguns itens exclusivos - como o alerta de proximidade do carro à frente e a frenagem automática de emergência. Também o acabamento é mais caprichado, e o espaço na cabine é maior, sem contar que os bancos são mais confortáveis e o do motorista vem inclusive com ajustes elétricos nesta versão Premier, a top de linha.
Um dos destaques do Cruze Sport6, o design, foi valorizado na linha 2020. A frente ganhou a nova linguagem visual da Chevrolet, com o logotipo destacado numa barra cromada que divide as duas entradas de ar. Para-choque e luzes de neblina também mudaram para se ajustar ao novo visual, enquanto na traseira as lanternas receberam uma assinatura luminosa em LED, com lentes de efeito 3D. Para completar, as rodas aro 17" trazem desenho exclusivo, com acabamento diamantado na superfície e pintura escura na parte interna.
Mas, se por fora o Sport6 ficou mais atraente, o interior na nova cor marrom não é uma unanimidade - eu mesmo preferia o cinza claro anterior. Por outro lado, a GM ouviu nossas preces e colocou um botão para desativar o sistema start-stop (que desligava o motor mesmo em dias de forte calor com o ar ligado, deixando a cabine quente). Já a multimídia evoluiu e agora ostenta uma tela de 8" com conexão Apple Carplay e Android Auto, além do chip 4G que permite rotear a internet na cabine.
Nada muda no Sport6 2020 em relação à condução. Ele segue com acerto de suspensão e direção mais firme que o do Cruze Sedan, mas ainda joga mais no time do conforto no que da esportividade. Da mesma forma, o motor 1.4 turbo com injeção direta empurra bem (são 150 cv e 24,5 kgfm), mas não é dos mais suaves em altas rotações. Por sua vez, o câmbio automático de 6 marchas poderia ter trocas mais rápidas e fica devendo as borboletas no volante para mudanças manuais. Estaria eu procurando algo de Golf ou Focus no hatch da GM? Talvez. Mas é fato que, apesar de bom de curva, o Sport6 também não tem o mesmo equilíbrio dinâmico da antiga dupla da VW e Ford - que tinha suspensão traseira multilink, contra o simples eixo de torção do Chevrolet.
Que o Cruze Sport6 é um bom carro, eu não tenho dúvidas - e ficou ainda melhor nesta linha 2020. Mas o fato é que a gama Cruze subiu no telhado recentemente. O modelo já deixou de ser vendido nos EUA e na China, e a atual demanda na América do Sul não parece justificar a manutenção da produção do carro na Argentina - única planta a ainda fazê-lo no mundo. Resta saber o que vai acontecer com o sedã, que ainda tem mais mercado. Seria o caso de o novo Monza chinês vir para cá em seu lugar? Não sabemos ainda.
Como ex-dono de hatch médio e admirador do Cruze, é triste ver o segmento terminar assim. Mas na hora que vejo a etiqueta de R$ 121.750 neste Sport6 Premier completo, não fica difícil entender porque o consumidor está abandonando a categoria. A versão de topo Premier do novo Tracker, que é um SUV como a clientela atual quer, vem praticamente tão completa quanto o Cruze aqui mostrado e está estreando por R$ 112 mil. Diante deste tiro de misericórdia, alguém aí aposta em vida longa para o Sport6?
Fotos: divulgação
Chevrolet Cruze Sport6 Premier
MOTOR | dianteiro, transversal, quatro cilindros, 16 válvulas, 1.395 cm³, turbo e injeção direta, flex |
POTÊNCIA/TORQUE | 150/153 cv a 5.600/5.200 rpm / 24/24,5 kgfm a 2.100/2.000 rpm |
TRANSMISSÃO | automática de seis marchas, tração dianteira |
SUSPENSÃO | independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira |
RODAS E PNEUS | liga leve de aro 17" com pneus 215/50 R17 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira, com ABS e ESP |
PESO | 1.331 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.448 mm, largura 1.807 mm, altura 1.484 mm, entre-eixos 2.700 mm |
PORTA-MALAS | 290 litros |
PREÇO | R$ 121.750 (Premier completo) |
MEDIÇÕES | |||
---|---|---|---|
Cruze Sport6 | |||
Aceleração | |||
0 a 60 km/h | 4,0 s | ||
0 a 80 km/h | 6,2 s | ||
0 a 100 km/h | 8,7 s | ||
Retomada | |||
40 a 100 km/h em D | 6,3 s | ||
80 a 120 km/h em D | 6,0 s | ||
Frenagem | |||
100 km/h a 0 | 38,4 m | ||
80 km/h a 0 | 24,5 m | ||
60 km/h a 0 | 13,9 m | ||
Consumo | |||
Ciclo cidade | 8,0 km/l | ||
Ciclo estrada | 11,4 km/l |
Galeria: Teste: Chevrolet Cruze Sport6 2020
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