Se no Brasil a Nissan foi uma das newcomers que chegou como marca importada nos anos 1990 (se tornou nacional no ano 2000 com a picape Frontier feita no Paraná), no México a marca japonesa tem uma história muito mais antiga, que remonta aos anos 1960. O país foi o primeiro a receber uma fábrica da Nissan fora do Japão, visando atender ao mercado norte-americano. Não por acaso, a marca é líder de vendas no país e o recém-lançado novo Versa já é o carro mais vendido do mercado local. Nada mais natural então que a fábrica de Aguascalientes, que faz também o Kicks e o March, seja por enquanto a única a produzir a nova geração do sedã no mundo. Fomos então até lá dirigir o modelo que virá ao Brasil a partir de junho.
Estamos diante da segunda geração do Versa, que aproveita muito do Kicks no estilo, mecânica e conteúdo para se distanciar do modelo original - que será rebatizado como V-Drive para atuar no segmento dos sedãs de entrada. Caberá ao novo Versa 2020 colocar a Nissan na disputa contra VW Virtus, Honda City, Toyota Yaris, Fiat Cronos e, claro, o líder de vendas Chevrolet Onix Plus (este nas versões mais caras).
Logo no primeiro contato visual, o novo Versa já mostra que veio romper com o antecessor. De um carro que era o patinho feio do segmento, ele agora se tornou um cisne - na opinião deste escriba, o modelo da Nissan passa a ser o mais bonito da categoria. O sedã do March perdeu aquele jeitão comprido e estreito em favor de formas mais harmônicas, com traços mais retilíneos. Ele incorpora a atual filosofia de design da Nissan desde a grade dianteira em V até a coluna traseira com um aplique de plástico preto, aproximando-se dos sedãs maiores da marca, como o Altima e o recém-renovado Sentra.
Lado a lado com o Kicks na linha de montagem de Aguascalientes, o Versa não nega seu parentesco com o SUV compacto. Além de parecidos no estilo, eles compartilham basicamente o mesmo painel e diversos componentes da cabine, como volante, comandos de vidros, alavanca de câmbio e freio de estacionamento, entre outros itens. A versão topo de linha Platinum tem painel em duas cores e com forração em couro como no SUV, além de adotar o cluster parcialmente digital (com tela TFT de 7"), também igual ao do Kicks.
Comparado ao primeiro Versa, o novo cresceu em comprimento (4,49 m), largura (1,74 m) e entreeixos (2,62 m), embora tenha ficado mais baixo (1,47 m) para favorecer a dinâmica e o visual. O banco traseiro é confortável para adultos com até 1,80 metro, mas não é mais aquela limousine popular como antes (característica que faz do atual Versa um dos carros preferidos dos motoristas de aplicativos). Na dianteira, os bancos ficaram mais confortáveis (são do mesmo conceito Zero Gravity do Kicks) e a direção passa a ajustar em altura e profundidade, contribuindo para uma melhor posição de dirigir. Já o porta-malas teve a capacidade ampliada de 460 para 482 litros, colocando o Versa acima do Onix Plus (469 l), mas abaixo do Virtus (521 l).
O tema principal da cabine segue sendo o plástico rígido, mas com boa qualidade e montagem correta, com gaps uniformes ente as peças. O revestimento de couro em partes do painel deixa o ambiente mais refinado, bem como o cluster parcialmente digital - como no Kicks, o visor pode mostrar informações como estação de rádio, dados do computador de bordo ou o conta-giros. A versão mexicana não tem piloto automático, mas a Nissan já avisou que a versão exportada para o Brasil virá com o item.
Um dos destaques do novo Versa 2020, aliás, está na lista de equipamentos. A versão topo de linha Platinum como a avaliada vem com ar digital, multimídia de 7" com Apple CarPlay, Android Auto e GPS nativo, faróis com assinatura em LED, rodas de liga aro 17" e um pacote de segurança ativa que inclui alerta de ponto cego, frenagem automática de emergência, aviso de tráfego cruzado e câmera 360 graus para auxílio em manobras. Airbags são 6 (frontais, laterais e de cortina). A Nissan brasileira não confirma quais serão as especificações do modelo a ser vendido em nosso mercado, mas diz que o carro será "95%" desse que avaliamos agora.
Uma novidade em relação ao Kicks está sob o capô: o motor 1.6 16V usa o mesmo bloco, mas tem mudanças para redução de atrito e também na central eletrônica. Na versão mexicana, somente a gasolina, entrega 118 cv de potência e 15,2 kgfm de torque, podendo melhorar estes números no Brasil por conta da injeção flex. Pode ser pareado a um câmbio manual de 5 marchas ou automático do tipo CVT.
Antes do test-drive, uma visita à pistas de testes anexa à fábrica nos deu uma ideia de como o Versa se comporta no limite. Isso porque um piloto de testes da marca nos levou para um passeio, digamos, animado, com direito a escorregadas, slaloms e cavalos de pau. Ali, já foi possível notar o bom trabalho da engenharia na calibração da suspensão do sedã. No fim, foram adotados dois "setups": um para os EUA, mais macio e baixo, e um para o restante da América Latina, mais firme e alto, para enfrentar estradas sinuosas e pisos judiados.
Para nossa avaliação, estava disponível somente o Versa Platinum CVT, o modelo mais caro da linha. Como dito anteriormente, a sensação ao assumir o comando é de se estar num Kicks mais baixo. Para o motorista, a posição é correta e fácil de encontrar, mas o painel volumoso rouba um pouco de espaço da perna direita. Em compensação, o apoio de braço ajuda no conforto e os bancos acomodam muito bem o corpo.
Começando pela cidade, o Versa já mostra algumas evoluções. O CVT agora é de uma geração mais nova, passando a simular 6 marchas como no Kicks, e isso reduz aquela sensação de "metrô" nas acelerações e retomadas, contribuindo para que o motor não fique berrando na cabine. Ao mesmo tempo, a Nissan investiu num isolamento acústico de maior densidade e capa dupla, reduzindo ruído e vibrações vindas não somente do propulsor, como também da suspensão e de rodagem - ponto fraco do carro atual. Para completar, a direção elétrica ficou leve e rápida (2,6 voltas de batente a batente), sem ser anestesiada.
Ao entramos na "carretera", pisei fundo e o Versa respondeu a contento. Ele não tem, claro, a resposta mais contundente dos rivais com motor 1.0 turbo, mas fica próximo do que encontramos no City e no Yaris (ambos 1.5 aspirados). Também é preciso considerar que estávamos a quase 2 mil metros de altitude, fato que compromete o desempenho dos motores aspirados por conta do ar mais rarefeito. Mas a verdade é que o Versa acelera bem até os 120 km/h, passando a subir o ponteiro mais devagar depois disso. Na retomadas de pé embaixo, o ruído do motor ainda incomoda um pouco, mas na maior parte do tempo o CVT faz a rotação ficar abaixo de 2 mil rpm e favorece não somente o silêncio a bordo como também o consumo. Rodando em ritmo moderado (entre 110 e 120 km/h), chegamos a 15,4 km/litro no computador de bordo. Já numa tocada mais veloz, a média caiu para a casa dos 11 km/litro.
Embora com poucas curvas, o trajeto deu uma boa ideia do que esperar do Versa no piso brasileiro. Alternamos asfalto lisinho com alguns trechos bastante remendados, além de chão de pedras e cascalho. Ponto positivo para a suspensão, que agora absorve muito melhor as imperfeições (incluindo algumas lombadas), resultando numa imensa evolução em relação ao modelo atual - que é um tanto seco e sem "filtros". Da mesma forma, a dinâmica também evoluiu, com boa contenção dos movimentos da carroceria mesmo quando provocado - ajudado pelas rodas aro 17" com pneus 205/50 R17 da Continental. Numa rápida comparação, o novo Versa ficou mais confortável que o Onix Plus e um pouco mais firme que o Virtus. E a direção mantém a compostura em altas velocidades, deixando o condutor ciente do que se passa sob os pneus dianteiros.
Em resumo, o Versa deu um grande salto no conforto (de rodagem e acústico) e também ficou mais gostoso de dirigir, ainda que não empolgue pelas respostas do motor, especialmente se comparado aos rivais turbinados.
O novo Versa deverá estrear no Brasil as novas nomenclaturas de versões da Nissan. A marca ainda não confirma quais serão as configurações oferecidas em nosso mercado, mas já adiantou que não será somente a topo de linha Platinum. Nem mesmo o modelo com câmbio manual (vendido nas versões Sense e Advance no México) está descartado para cá. O mais provável é que a gama "nacional" seja composta pelas versões Advance MT, Advance CVT, Exclusive CVT e Platinum CVT (que substituem as siglas S, SV e SL, respectivamente), numa faixa de preço estimada de R$ 65 mil a R$ 85 mil.
Vale lembrar que o Versa atual seguirá em produção na fábrica de Resende (RJ), rebatizado como V-Drive. Junto, terá uma nova gama de versões e preços - mantendo os motores 1.0 e 1.6, este com câmbio manual ou CVT. A ideia da Nissan é vender o V-Drive como carro pragmático, com ênfase no custo-benefício, espaço e consumo; enquanto o novo Versa focará no lado emocional, tendo estilo, tecnologia e segurança como prioridades.
No México, o equipamento padrão do novo Versa inclui 6 airbags, controles de estabilidade e tração, chave presencial e botão de partida, vidros elétricos nas quatro portas e sensor de estacionamento traseiro. A versão Advance adiciona central multimídia de 7", painel TFT de 7", câmera de ré, faróis de neblina, rodas de liga aro 16" e alerta de objetos no banco traseiro (que lembra o condutor de algo ou alguém deixado atrás, como em alguns Chevrolet). Já a Exclusive incrementa a lista com bancos de couro, faróis com assinatura em LEDs, GPS nativo na multimídia, ar digital, rodas aro 17" e antena tipo "shark" no teto. Por fim, a versão de topo Platinum traz alertas de ponto cego, de colisão frontal e tráfego cruzado, retrovisores com seta e a câmera de 360 graus - recurso vindo do Kicks, com câmeras sob os retrovisores externos para simular uma visão de cima, mas, como no SUV, poderia ter resolução melhor.
O fato de vir do México não deve ser um impeditivo para a carreira do novo Versa no Brasil. Em conversa com a reportagem do Motor1.com, Luis Alberto Pérez-Ettedgui, diretor de marketing da marca para a região, garantiu que a planta de Aguacalientes será capaz de atender à demanda do mercado brasileiro mesmo que esta supere a casa das 4 mil unidades mensais - volume que colocaria o modelo na disputa pelo segundo lugar da categoria com o Virtus. Virtudes (e estilo) para tanto o Versa já mostrou que tem.
Texto e fotos: Daniel Messeder, de Aguascalientes, México
Viagem a convite da Nissan
MOTOR | dianteiro, transversal, quatro cilindros, 16 válvulas, 1.598 cm3, duplo comando de válvulas com variador de fase na admissão, gasolina |
POTÊNCIA/TORQUE |
118 cv a 6.300 rpm; Torque: 15,2 kgfm a 4.000 rpm |
TRANSMISSÃO | câmbio automático do tipo CVT com simulação de 6 marchas, tração dianteira |
SUSPENSÃO | independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira |
RODAS E PNEUS | liga-leve aro 17" com pneus 205/50 R17 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e tambores na traseira, com ABS |
PESO | 1.142 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.490 mm, largura 1.740 mm, altura 1.470 mm, entre-eixos 2.620 mm |
CAPACIDADES | tanque 41 litros, porta-malas 482 litros |
PREÇO | R$ 85.000 (estimado) |
Texto e fotos: Daniel Messeder, de Aguascalientes, México
Viagem a convite da Nissan
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