O segmento de hatches médios morreu no Brasil. Pode acender as velinhas para o Ford Focus, que deixará de ser produzido em maio na Argentina, e para o VW Golf, que recentemente teve as versões 1.0 e 1.4 descontinuadas para reforçar a produção do SUV T-Cross na fábrica de São José dos Pinhais (PR). Restarão apenas o Golf na versão esportiva GTI e o Chevrolet Cruze Sport6, que como um último suspiro ainda vai passar por uma reestilização nos próximos meses.
Então, o segmento de hatches médios morreu no Brasil, pelo menos da forma como a gente conhecia. E o novo Mercedes Classe A é uma amostra de como será a categoria daqui para a frente. Esqueça o hatch como "Mercedes de entrada", ele agora será um modelo de nicho. Virá importado somente da versão A250 (deste teste) para cima, incluindo as esportivas A35 e A45 preparadas pela AMG. Quem vai fazer o papel de Mercedes mais "acessível" é o inédito A Sedan, que terá motor 1.3 turbo desenvolvido em parceria com a Renault e preço na faixa dos R$ 150 mil. Mas isso é assunto para o segundo semestre...
O que temos aqui é o novo A250 Vision, e ele reforça as novas frentes do segmento. Para começar, o hatch fechou a cara com um desenho mais agressivo, no qual os faróis ficaram mais estreitos e puxados para cima. Atrás, as lanternas duplas possuem efeito parecido, mas ao contrário - descendo conforme avançam para as laterais. Mas o show de verdade está na cabine, onde a multimídia que parecia um tablet em cima do painel agora virou uma tela dupla que engloba a multimídia e também o quadro de instrumentos, com 10,25 polegadas cada uma.
Os Mercedistas mais tradicionais podem torcer o nariz, mas a geração Netflix vai adorar. E ainda tem os comandos por voz do sistema MBUX, que funciona como a Siri do iPhone. Diga "Hey, Mercedes" que ela já responde "Sim" e espera sua solicitação. Pode pedir uma estação de rádio, uma música via streaming do celular ou para mudar a temperatura do ar-condicionado, entre outros 30 comandos. Só faltou ser conectada à internet para fazer pesquisas, como o sistema do novo BMW Série 3.
Para combinar com o "telão", a Mercedes desenhou o rastante do interior de forma diferente, dando destaque às três saídas de ar centrais do tipo turbina e aos botões no estilo aviação logo abaixo - os poucos que não foram substituídos pelos comandos táteis. No console central ainda existem botões de atalho para as funções do carro e da multimídia, mas não é nada que você não possa fazer pela tela.
O acabamento é melhor que o do Classe A antigo, mas, apesar dos revestimentos macios no painel e nas laterais de porta, encontramos alguns plásticos rígidos que não vemos, por exemplo, num Classe C - mesmo esse A250 sendo mais caro que o C180. Não há, por exemplo, botões metalizados para os vidros elétricos. Mas pelo menos os ajustes elétricos dos bancos dianteiros continuam em botões com o formato do assento e do encosto, como nos Mercedes tradicionais. Detalhe: o puxador de porta merece nota 10, tanto pela forma quanto pela execução.
O volante também é novo e muito bonito, com boa pegada e dois sensores táteis que comandam as funções do cluster e da multimídia, respectivamente, no lado esquerdo e direito da peça. Há diversas visualizações possíveis para o quadro de instrumentos, que pode ter iluminação azul ou amarela, dando destaque para o consumo (modo econômico) ou para o velocímetro e conta-giros (modo esportivo). Na multimídia você ainda pode acompanhar, em tempo real, o uso de potência e torque do motor, ou então o quanto de acelerador ou freio você está usando, em porcentagem.
A conexão com o celular é facilmente feita por meio de um cabo fornecido pela própria Mercedes, pois o novo Classe A usa uma entrada USB-C, ainda pouco difundida aqui - é mesma dos novos Macbooks, por exemplo. Já as conexões Apple CarPlay e o Android Auto permitem fácil uso dos aplicativos do seu celular.
Sem dúvidas que o grande chamariz do novo Classe A está na cabine high-tech. Mas esta versão A250 também agrada naquela "antiquada" tarefa de dirigir. Ela une o motor 2.0 turbo de 224 cv e 35,7 kgfm ao câmbio de dupla embreagem e 7 marchas (7G-DCT), que segundo a Mercedes foram atualizados em relação ao hatch anterior. Já a suspensão usa diversos componentes de alumínio e possui configuração McPherson na dianteira e multibraços na traseira, com acerto que a marca considera intermediário entre conforto e esportividade.
Neste ponto sou obrigado a discordar um pouco da Mercedes, pois, equipado com rodas aro 18" e os duros pneus runflat de perfil baixo (225/45), o A250 passa longe de ser confortável. Não que a suspensão seja rígida, ela até tem um "jogo", mas a verdade é que o hatch sofre em nossas ruas esburacadas e cada "tartaruga" da estrada se transforma num "plac" para os passageiros na cabine. É um comportamento semelhante ao do antigo CLA 200.
As coisas melhoram bastante numa estrada lisinha, onde o A250 enfim pode mostrar o poderio de seu conjunto mecânico. Os mais atentos já devem ter notado que os números de torque e potência do 2.0 4-cilindros turbinado da Mercedes são muito semelhantes aos do VW Golf GTI, que não por acaso também usa uma transmissão de dupla embreagem. Então, é claro que fui para a pista de testes esperando um GTI da Mercedes.
Como no VW, o A250 agrada pela farta oferta de torque desde que acorda, com a força máxima sendo entregue logo a 1.800 rpm. As respostas empolgam, como mostra a aceleração de 0 a 100 km/h em 6,6 segundos e a retomada de 80 a 120 km/h em 4,3 s - o GTI fez as mesmas provas em 6,5 s e 3,9 s, respectivamente. Mas talvez ficasse ainda mais perto do VW se fosse mais leve (são 1.445 kg contra 1.317 kg do GTI) e seu câmbio tivesse trocas tão rápidas quanto o DSG.
Afora o desempenho, porém, este Classe A não tem a pegada esportiva do GTI. Falta aquele "pipoco" nas trocas de marcha ou mesmo um ronco mais nervoso do motor - tempero que a Mercedes deve guardar para as versões AMG. O A250 é um hatch de luxo com motor forte, mas não um hot hatch. A direção preza pela leveza, a suspensão deixa a carroceria rolar um pouco além do desejado (depois assenta) e os freios se revelaram apenas razoáveis (41 metros de 100 km/h a zero). Já o consumo surpreendeu, com quase 15 km/l na estrada.
No restante, o novo Classe A cumpre o que se espera de um hatch médio premium. O espaço é bom na frente e suficiente atrás, enquanto o porta-malas cresceu para 370 litros (29 l a mais que o anterior) e "boca" do compartimento ficou 20 cm mais larga devido às novas lanternas bipartidas. Entre os equipamentos, ele vem recheado com faróis full-LED, frenagem automática de emergência, teto solar panorâmico, MBUX, painel digital... tudo de série. A Mercedes deu apenas duas mancadas: falta chave presencial (é preciso apertar o botão para destravar as portas) e o retrovisor interno eletrocrômico. Afinal, um retrovisor com linguetinha não combina com a nova (e tecnológica) geração dos hatches médios, em especial num Mercedes de R$ 194.900, não é mesmo?
Fotos: autor/divulgação
MOTOR | dianteiro, transversal, 4 cilindros, 16 válvulas, 1.991 cm3, duplo comando com variador na admissão e escape, turbo, injeção direta, gasolina |
POTÊNCIA/TORQUE |
224 cv a 5.800 rpm / 35,7 kgfm a 1.800 rpm |
TRANSMISSÃO | automatizada de dupla embreagem e 7 marchas; tração dianteira |
SUSPENSÃO | independente McPherson dianteira e independente multibraços na traseira |
RODAS E PNEUS | liga leve de aro 18" com pneus 225/45 R18 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira com ABS e EBD |
PESO | 1.445 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.419 mm, largura 1.796 mm, altura 1.440 mm, entre-eixos 2.729 mm |
CAPACIDADES | tanque 43 litros, porta-malas 370 litros |
PREÇO | R$ 194.900 |
MEDIÇÕES MOTOR1 BR (combustível gasolina) | ||
---|---|---|
Mercedes A250 | ||
Aceleração | ||
0 a 60 km/h | 3,2 s | |
0 a 80 km/h | 4,7 s | |
0 a 100 km/h | 6,6 s | |
Retomada | ||
40 a 100 km/h em S | 5,1 s | |
80 a 120 km/h em S | 4,3 s | |
Frenagem | ||
100 km/h a 0 | 41,0 m | |
80 km/h a 0 | 25,5 m | |
60 km/h a 0 | 14,1 m | |
Consumo | ||
Ciclo cidade | 8,4 km/l | |
Ciclo estrada | 14,7 km/l |
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