Em reunião realizada nesta semana em sua sede em Wolfsburg, na Alemanha, a Volkswagen causou bastante agitação ao revelar detalhes da situação complicada em que se encontra. Executivos se pronunciaram publicamente e explicaram que um rigoroso plano de austeridade será implementado com o objetivo de cortar custos e economizar 10 bilhões de euros. "A Volkswagen tem um ou talvez dois anos para se recuperar", disse um executivo da empresa.
A crise afeta diretamente as finanças da empresa e tem origem tanto na Europa quanto na China. De acordo com Arno Antlitz, que lidera os setores financeiro e operacional da marca, o mercado europeu encolheu consideravelmente depois da pandemia e provavelmente não voltará ao patamar comercial de antes. Com esse recuo, a Volkswagen deixará de vender pelo menos 500.000 carros por ano, afetando diretamente as previsões de lucro e gerando ociosidade nas fábricas.
Uma das saídas pensadas pela marca é o fechamento de plantas (algo nunca antes feito na Alemanha desde que a empresa foi fundada em 1937). Estão na berlinda as unidades de Dresden e Osnabruck, que atualmente produzem os modelos ID.3, T-Roc Cabriolet e os Porsches Cayman e Boxster. A ideia foi apresentada em assembleia para mais de 25.000 trabalhadores, mas automaticamente gerou forte reação de rejeição.
O conselho que representa os funcionários criticou duramente os executivos, que foram acusados de 'não fazerem seu trabalho'. A entidade disse ainda que a Volkswagen falhou ao não focar no negócio principal da empresa e agora quer fazer os funcionários pagarem pelos erros da administração. Some a isso o envolvimento direto do estado da Baixa Saxônia, que é acionista da empresa e já se posicionou totalmente contrário ao fechamento de fábricas ou demissões.
Outro ponto que alimenta a crise interna é a queda na demanda por carros elétricos na Europa e na América do Norte. Desde o escândalo do Dieselgate, a Volkswagen promoveu profundos ajustes de estratégica e direcionou fortes investimentos para seus planos de eletrificação. Os resultados esperados, porém, não estão sendo colhidos. O ID.3 sofreu para ser aceito pelo mercado no início e problemas de software também acabaram atrapalhando os elétricos da marca em geral.
Outro ponto crítico diz respeito ao fim do apoio governamental da Alemanha à compra de carros elétricos no final de 2023, que colapsou a procura por este tipo de veículo no país. Só no primeiro semestre deste ano, a Volkswagen relata queda de 15,2% nas vendas de veículos elétricos na Europa e recuo de 15,4% nos EUA. Falta dinheiro para os investimentos necessários e flexibilidade para reagir às mudanças do mercado.
Para piorar, a Volkswagen não tem mais os "cheques vindos da China", como disse o próprio CEO Oliver Blume. O país foi por décadas a 'galinha dos ovos de ouro' da montadora, mas passou por mudanças profundas nos últimos anos. O consumidor chinês, até então fiel comprador de marcas estrangeiras, migrou para fabricantes locais e consolidou sua preferência doméstica em detrimento de opções europeias.
Em 2023, por exemplo, a Volkswagen perdeu a liderança de vendas na China para a BYD após décadas de hegemonia. “A indústria automotiva mudou muito no segmento de volume em apenas alguns anos”, disse Blume.
Fábrica da Volkswagen Brasil em Taubaté (SP)
Por aqui, a Volkswagen vem colhendo bons resultados comerciais e tem o Polo como segundo carro mais vendido do país no acumulado do ano. Além disso, confirmou recentemente a aplicação de importantes investimentos e o lançamento de uma série de novos modelos.
“A Volkswagen do Brasil informa que a marca no Brasil tem uma história sólida de 71 anos, sendo em 2024 a marca que mais cresce em volume de vendas no país. Além disso, reforçou recentemente o seu protagonismo no país com o anúncio de um novo ciclo de investimentos de R$ 16 bilhões no Brasil e o lançamento de 16 novos carros até 2028”, disse a empresa em nota.
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