A Mercedes-Benz colocou um novo posicionamento de preço em seus produtos. Para clientes mais exclusivos, seus carros estão mais caros quando comparados aos seus concorrentes similares que, na prática, pode funcionar para modelos mais caros e em uma faixa elevada de luxo e status. E para os modelos mais baratos, onde a concorrência é mais feroz?
Pode ser o caso do Mercedes-Benz GLA 200. Chegou ao Brasil com uma leve reestilização e o motor 1.3 turbo agora auxiliado pelo sistema micro-híbrido de 48 volts. O que mais chama a atenção é uma etiqueta de R$ 369.900 presa a ele - não que seus concorrentes sejam baratos, mas neste valor, já são mais potentes ou...elétricos. Até onde ter esse SUV premium na garagem vale a pena?
O Mercedes-Benz GLA já foi um dos SUVs compactos premium mais vendidos do país. Quando chegou nesta atual geração, em 2021, já tinha uma polêmica de preços e não consegue mais emplacar como no passado. Pode ser uma escolha da marca para ganhar mais dinheiro, mas é raro ver um GLA atual pelas ruas, ainda mais comparado ao seu antecessor.
Não dá para questionar o carro em si. Se distanciou do Classe A com proporções próprias, não mais um hatch altinho. Sua base é a MFA2, uma plataforma de motor longitudinal - ou elétrico - e tração dianteira ou integral, uma evolução da anterior, que serve justamente aos modelos de entrada da marca, os Classe A, B, GLA, GLB e CLA. Na reestilização, novos parachoques, nova grade e novos faróis e lanternas, em LEDs, além de um novo desenho para as rodas de 20". É um carro bonito e relativamente discreto, mesmo com esse kit AMG Line, mais esportivo.
Por dentro, o novo GLA troca o volante e finalmente abre mão do touchpad no console central, que abriu espaço para um nicho raso que, confesso, não serve para muita coisa. São duas telas de 10,25" e uma atualização do sistema MBUX, agora com espelhamentos sem fios e melhores respostas aos comandos, seja na tela ou por voz. O volante é novo, seguindo o padrão atual da marca, com três raios e comandos táteis, bem ame ou odeie.
Chamado de M282, o motor 1.3 turbo foi desenvolvido em parceria com a Renault-Nissan. Na Mercedes-Benz, tem desativação de cilindros, mas em comum para as duas empresas, tem injeção direta e variador de tempo de abertura dos comandos de admissão e escape. Nele, são 163 cv (5.500 rpm) e 27,5 kgfm (2.000 a 3.500 rpm), um pouco mais de torque que antes da reestilização.
Ao menos a Mercedes-Benz não quer vender um micro-híbrido como um híbrido completo. O sistema de 48 volts tem uma pequena bateria no porta-malas e um motor de arranque/gerador acionado por correia no virabrequim que, em alguns momentos de necessidade, pode dar 14 cv em, por exemplo, retomadas e acelerações em baixas velocidades. A transmissão tem câmbio automatizado de dupla embreagem com sete marchas e tração dianteira.
Para a marca, o cliente que quer algo a mais que isso, vai para os elétricos (neste caso, o EQA 250, de R$ 399.900) ou, se o problema for potência, ao Mercedes-AMG GLA 35, de R$ 539.900. O comprador do GLA 200 procura uma certa eletrificação, mas não está pronto para o EV, e não chega ao valor cobrado por um AMG, também eletrificado com o sistema leve.
De fato, é perceptível o que esse micro-híbrido faz. No uso urbano, ele ajuda o motor em arrancadas e retomadas, pontos onde o motor a combustão é menos eficiente, e atua naquela faixa onde o turbo ainda não é tão presente e reduz o chamado turbolag. Em velocidade constante, ele desliga o motor no modo coasting e usa os radares do piloto automático para regenerar energia ou religar o 1.3 turbo. Como é um sistema evoluído, até o start-stop no semáforo ou trânsito não incomoda por não desativar o ar-condicionado.
Comparado ao GLA 200 testado em 2021, este ficou mais econômico na cidade (10,6 vs. 8,9 km/litro) e na estrada (15,4 vs. 13,7 km/litro) por se aproveitar desse sistema eletrificado. Na rodovia, aproveita justamente o coasting para reduzir o consumo de gasolina, algo só possível pelo câmbio de dupla embreagem. Só que ficou pouco mais lento em todas as acelerações, marcando 9,6 s no 0 a 100 km/h, antes 9,3 segundos.
O GLA 200 é um carro bom para dirigir. A suspensão é firme, mas o desconforto maior e algumas batidas secas podem ser colocadas na conta das rodas de 20" com pneus 235/45, não em molas e amortecedores. Por outro lado, faz curvas sem problemas, mais voltado a um hatch como o Classe A, reflexo do pacote assinado pela AMG com um conjunto mais firme. A carroceria dobra pouco e a direção é bem direta, algo que merecia até mais potência.
O câmbio de dupla embreagem tem funcionamento suave, com trocas quase imperceptíveis no uso normal. Se procura um uso mais esportivo, as trocas não são tão rápidas e deixa claro que, nesta versão, o foco é conforto e eficiência, mesmo se as fizer pelas aletas no volante. O seletor de modos de condução existe, mas você vai preferir deixar no modo Eco ou mais voltado ao conforto, não no esportivo.
O espaço interno é melhor que da geração anterior e acomoda quatro ocupantes, mas é mais apertado que seus concorrentes. No porta-malas, 425 litros de capacidade e acionamento elétrico da tampa, algo esperado nesta faixa de preço. O pacote de assistentes é bem completo, mas senti a falta de um alerta de ponto-cego em um carro que evoluiu seus sistemas de segurança ativa.
O GLA 200 pode impressionar no acabamento quando comparado ao Audi Q3, BMW X1 e ter um bom nível de equipamentos, incluindo teto-solar panorâmico e tudo mais que um carro desse nível oferece. Só que custa R$ 369.900, enquanto o BMW com motor 2.0 turbo custa R$ 354.950 na versão mais completa e, na Audi, o Q3 tem tração integral quattro e o 2.0 turbo por até R$ 356.990.
E isso pode fazer a diferença para um comprador deste segmento. A concorrência é mais potente e mais barata, mas o Mercedes-Benz GLA 200 tem suas vantagens e qualidades, como acabamento, eletrificação (nesta faixa) e até a dirigibilidade. Ele não vive mais como no passado, mas vale ser lembrado.
Mercedes-Benz GLA 200
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