Na cidade, dócil e confortável como uma picape média, com suas limitações pelo tamanho. Na estrada, desempenho de sobra com a ajuda das tecnologias de condução. No asfalto, é incrível como ganha velocidade e é capaz de fazer curvas como um esportivo sem esquecer que, se for para a terra, não terá nenhum problema. Este é um bom resumo da nova Ford Ranger Raptor. 

Desde que virou uma importadora, a Ford entendeu que o mercado brasileiro tem espaço para alguns nichos de alto valor agregado. A Ranger Raptor se coloca como um produto exclusivo, realmente esportivo, que há tempos é esperado para o nosso mercado - basta ver quantas Ranger ganharam um pacote visual ou, com mais dinheiro, quem importa a F-150 Raptor de forma independente há anos. E não há do que se arrepender dessa decisão.

Ford Ranger Raptor (BR)

De Ranger, quase só o documento

Para desenvolver a Ranger Raptor, a engenharia global da Ford foi muito além de alguns ajustes - de tão diferente, é produzida apenas na Tailândia para o mundo todo. Começa pelo chassi, com reforços na fixação das suspensões dianteira e traseira, a primeira com braços em alumínio e a segunda com molas helicoidais no lugar dos feixes; reforços nas laterais das longarinas e protetores em componentes, como direção, cárter, transmissão e tanque de combustível, feitos em aço de 2,3 mm de alta resistência, o dobro da Ranger normal.

A cabine da Ranger Raptor é, em forma estrutural, a mesma das demais versões. A caçamba recebe para-lamas mais largos, assim como na dianteira, que estão ali para o curso mais longo de suspensão, com 256 mm na dianteira e 290 mm na traseira. Como as bitolas são 90 mm mais largas, além das rodas de 17" com pneus 285/70, a Raptor é 193 mm mais larga que uma Ranger normal. 

Ford Ranger Raptor (BR)
Ford Ranger Raptor (BR)
Ford Ranger Raptor (BR)

De tão modificada, quase não dá para reconhecer que é uma Ranger. Faróis e lanternas são em LEDs, com visual exclusivo e, no caso dos faróis, inteligentes; e a grade tradicional das Raptor fecha um pacote imponente que fica ainda mais destacado com os adesivos de identificação da Raptor - como se fosse necessário algo assim para demarcar esse território. Por dentro, bancos esportivos e alguns detalhes a diferencia das demais Ranger, mas bem mais reconhecível que por fora. 

O motor é o V6 3.0 biturbo da família EcoBoost Nano, outro que nasceu para a Raptor. Tem materiais nobres para reduzir atrito e aumentar resistência, como as camisas de pistão, e válvulas eletrônicas para a pressão dos turbos, o que reduz o turbolag junto com o trabalho dos comandos com variadores de fase. São 397 cv a 5.650 rpm e 59,5 kgfm com pico a 3.500 rpm, números respeitáveis mesmo com 2.415 kg da Ranger Raptor.

Ford Ranger Raptor (BR)

Os segredos da Raptor

Suspensão e transmissão são pontos de destaque na Raptor, até mais que o motor V6 biturbo. Além dos componentes reforçados, usando bastante alumínio, e o eixo traseiro com as molas helicoidais, a Ranger Raptor recebeu os amortecedores inteligentes assinados pela Fox, que atuam conforme o modo de condução selecionado e respondem muito rápido a qualquer alteração necessária em sua rigidez e de forma individual para o controle de cada roda.

Isso também vale para a transmissão. Apesar de uma caixa automática de 10 marchas, não é a mesma utilizada pela Ranger nas versões com o V6 turbodiesel, com ajuste eletrônico e relação próprias para a Raptor, e uma caixa de transferência com distribuição variável entre os eixos, cada um com seu diferencial blocante, que podem trabalhar tanto no asfalto quanto na terra com correções rápidas. 

Ford Ranger Raptor (BR)
Ford Ranger Raptor (BR)

Sensores e acelerômetros guiam as centrais eletrônicas do conjunto. Em modo Normal, é bem claro que a picape trabalha em 4x2 e a suspensão absorve os impactos, deixando a carroceria flutuar e não repassa para a cabine qualquer coisa. Neste momento, é quase uma Ranger Limited, até um pouco mais confortável. Mesmo assim, entre em uma curva mais rápido e fica perceptível que o sistema de tração, vetorização de torque e os amortecedores seguram a rolagem da carroceria e não permitem, por exemplo, uma saída de frente. 

Você pode não perceber, mas as leituras continuam a todo momento. Em acelerações mais fortes, os amortecedores traseiros ficam mais firmes para dar mais tração, assim como as frenagens são mais controladas com a alteração na dianteira. Na conta, a direção elétrica variável tem até modos selecionáveis por um botão (Normal, Conforto e Sport), onde seu peso é alterado independente do modo de condução escolhido, assim como os amortecedores ajustáveis.

Ford Ranger Raptor (BR)
Ford Ranger Raptor (BR)
Ford Ranger Raptor (BR)
Ford Ranger Raptor (BR)

Quando provocada no modo Sport, a Raptor assume um perfil mais agressivo e joga quase todo seu potencial para as mãos do motorista. O ronco muda - aliás, o sistema valvulado vai desde um silêncio original ao Baja Mode, que a marca diz pra só usar no fora-de-estrada, mas ignorei totalmente em prol do meu prazer auditivo - e a picape ganha velocidade muito rápido. A caixa de 10 marchas, já conhecida, tem um ajuste parecido com o Mustang e faz as trocas muito rápidas e, em modo manual, ela segura no limitador até um novo comando. 

O 0 a 100 km/h em 6,6 segundos mostra como a Raptor cresce rápido neste conjunto, mas é ainda mais impressionante como ela ganha velocidade acima disso, já em patamares censuráveis. Diante de tantas picapes potentes do mercado, ela vai além não só com os números, mas com o conjunto completo de sensações, realmente esportiva por completo. Só que o consumo vai nessa tocada mesmo no modo normal, com 5,4 km/litro na cidade e 8,5 km/litro na estrada. De pé embaixo, pode esperar algo na faixa do 1 km/litro...

Ford Ranger Raptor (BR)

E vamos além

Entre um esportivo e uma picape esportiva, a principal diferença vem no fora-de-estrada. A Ranger Raptor tem muito do DNA Baja, visível pelo trabalho de suspensão quando saímos do asfalto ou, até mesmo nele, procuramos alguns obstáculos. Entre forte nas curvas e ela até ameaça alguma reação de traseira, mas logo o conjunto suspensão/tração corrige a trajetória. Na terra, absorve mais e sabe o que fazer para manter a trajetória, neste caso dependendo mais da distribuição de tração do que de direção, por exemplo. 

A Ranger Raptor tem modos específicos para o fora-de-estrada: Rock Crawl, Areia, Lama/Terra e o Baja, este como um modo Sport na terra. Ela está preparada inclusive para voar, mas é algo que não é tão simples de se fazer. Todos os segredos que contei da Raptor entram mais uma vez em ação - o que resultou nessa sujeira das fotos - e mesmo de pé embaixo, é relativamente tranquila de controlar, desde que você entenda como um carro se comporta longe do asfalto em alta velocidade. 

No modo Baja, até o V6 biturbo mantém a pressão dos turbos por até 3 segundos após tirar o pé do acelerador para não ter o turbolag e melhores respostas onde a tração é ainda mais importante para diversas situações que dependem menos de suspensão. Até mesmo a escolha dos pneus foi importante nesse pacote de performance em uma picape que, de Ranger, tem quase nada. Dá para ignorar algumas lombadas (e canteiros centrais...) no dia a dia, se quiser.

Para um novo cliente

O fato é que o comprador da Ranger Raptor não é o cara da picape média tradicional. São apenas 715 kg de capacidade de carga, mesmo que a caçamba seja a mesma da Ranger normal, assim como o pacote de assistentes de condução e tecnologias embarcadas. Por R$ 448.600, também é R$ 98.610 a mais que a Ranger Limited mais completa do catálogo que, no fundo, tem equipamentos semelhantes.

Mas qualquer Ranger não entrega o que a Raptor tem. Se a nova geração da picape em suas versões normais colocaram um novo patamar no segmento, a esportiva Raptor vai além para um novo cliente que, muitas vezes, nem pensava em ter uma picape média. Não são apenas adesivos, um motor mais potente e decorações, mas um conjunto digno de conquistar o entusiasta com dinheiro no bolso e pronto para a diversão. 

Fotos: Mario Villaescusa (para o Motor1.com)

Ford Ranger Raptor

Motor dianteiro, longitudinal, 6 cilindros em V, 24 válvulas, 2.956 cm3, duplo comando com variador de fase e de abertura, injeção direta, biturbo, gasolina
Potência e torque 397 cv a 5.650 rpm / 59,5 kgfm a 3.500 rpm
Transmissão automática de 10 marchas; tração 4x4 com reduzida e opção automática
Suspensão independente de braço duplo na dianteira e traseira eixo rígido com molas helicoidais; rodas de 17" com pneus 285/70
Comprimento e entre-eixos 5.381 mm; 3.270 mm
Largura 2.028 mm
Altura 1.922 mm
Peso 2.415 em ordem de marcha
Capacidade de carga 715 kg
Capacidades caçamba: 1.250 litros; tanque: 82 litros
Preço de entrada R$ 448.600
Aceleração 0 a 60 km/h: 3,2 s; 0 a 80 km/h: 4,7 s; 0 a 100 km/h: 6,6 s
Retomada 40 a 100 km/h (em S): 4,7 s; 80 a 120 km/h (em S): 4,1 s
Consumo de combustível cidade: 5,4 km/l; estrada: 8,5 km/l (gasolina)
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