O Brasil caminha para adotar um plano de descarbonização mais eficiente e muitos fatores afetarão a estratégia das fabricantes, como as novas normas de emissões do Proconve L8 a partir de 2025 e a segunda fase do regime Rota 2030. A Stellantis, dona da Citroën, Fiat, Jeep, Peugeot e Ram, está se preparando para qualquer cenário e apresentou os planos de ter quatro tipos de motorizações eletrificadas para os carros nacionais,que serão lançados a partir de 2024, com uma meta de chegar a 60% de participação até 2030.

Muitas fabricantes tem um posicionamento, falando só de carros elétricos ou de híbridos aliados à tecnologia flex. Para a Stellantis, o caminho a ser percorrido ainda é longo e a infraestrutura brasileira levará muito tempo para chegar a um nível em que possa atender a maior parte da população. Assim, a empresa terá carros com o que ela batizou como “Bio-Hybrid”, com sistemas híbrido-leve (MHEV), híbrido convencional (HEV), híbrido plug-in (PHEV) e elétrico (BEV). A meta é descarbonizar toda a operação global da Stellantis até 2038.

O sistema Bio-Hybrid da Stellantis

O Bio-Hybrid mais simples da Stellantis, com um sistema híbrido-leve

Antonio Filosa, COO da Stellantis para a América do Sul, foi categórico e deisse que os primeiros carros serão lançados já em 2024, embora não tenha comentado sobre qual marca ou modelo fará a estreia da tecnologia. O que o executivo disse é que acredita que será um modelo de grande volume de vendas. Filosa ainda explicou que essa tecnologia estará disponível para todas as marcas dentro da Stellantis, dependendo da estratégia de cada uma para escolher qual irá adotar, mas que isso é uma das forças da empresa, compartilhando as motorizações, o que amortiza o custo de desenvolvimento e ajuda no ganho em escala.

O primeiro passo da eletrificação da Stellantis é o sistema Bio-Hybrid, que nada mais é que um híbrido-leve, adotando um BSG (belt-starter generator), um pequeno gerador de 4 cv que fica faz o papel também do alterador, abastecendo uma bateria bem pequena, com menos de 1 kWh. O BSG dá um torque extra para o carro quando está em baixa rotação (como na partida do motor), e mantém o veículo em movimento durante o “coasting”, quando está em velocidade de cruzeiro e o sistema start-stop desliga o motor para cortar as emissões. É um sistema bem simples, que devemos ver nas versões mais baratas dos carros de entrada, como Fiat Argo.

O sistema Bio-Hybrid e-DCT da Stellantis

No Bio-Hybrid e-DCT, o carro utiliza um gerador pequeno como no híbrido-leve, e um motor elétrico dentro da transmissão DCT

Logo acima está o Bio-Hybrid e-DCT. Trata-se de um híbrido convencional próximo do que podemos ver em carros como Toyota Corolla, recebendo um motor elétrico de 22 cv (16 kW) capaz de mover o veículo e com uma bateria de 1 kWh. Uma das diferenças é que este propulsor elétrico não move as rodas diretamente, ficando dentro da transmissão de dupla embreagem – a Volkswagen fez algo semelhante com o Golf GTE. Ainda recebe a mesma tecnologia MHEV, com um BSG para fazer a função de coasting. Deverá equipar as versões topo de linha dos modelos intermediários, como Fiat Pulse ou Peugeot 2008 (que será feito na Argentina).

O sistema Bio-Hybrid Plug-in da Stellantis

O sistema híbrido plug-in da Stellantis, que no Brasil está disponível no Jeep Compass 4xe

A tecnologia mais avançada para os motores a combustão será o Bio-Hybrid Plug-in. Como diz o nome, será um híbrido mais robusto, com um motor de 60 cv (44 kW) e baterias de 12 kWh, carregadas por uma tomada. É o sistema que a Stellantis já usa em diversos modelos, como o Compass 4xe. Por conta dos custos da bateria e precisar ter espaço para posicionar as baterias, esta motorização deverá ficar restrita a modelos maiores e mais caros. Espere por uma nacionalização do Compass 4xe e até um Commander híbrido plug-in em algum momento.

A plataforma de carro elétrico da Stellantis

A Stellantis também irá produzir carros 100% elétricos o Brasil

Apesar de apoiar o etanol, a Stellantis sabe que a indústria caminha para o elétricos e quer produzí-los no Brasil em algum momento. Neste caso, isto levará mais algum tempo e não há uma previsão de quando começará a fabricação nacional. Em paralelo, a empresa está trabalhando com parceiros na pesquisa e desenvolvimento de um sistema de célula de combustível abastecida com etanol.

É um projeto que outras empresas estão de olho, como a Nissan com a van NV200 SOFC. A ideia é usar o biocombustível para fazer uma reação química (ao invés de uma queima), gerando hidrogênio instantaneamente, usado para gerar energia através da célula de combustível.

Márcio Tonani, vice-presidente sênior de desenvolvimento de produto da Stellantis, explica que a tecnologia foi feita para funcionar com os motores 1.0 e 1.3 da linha Firefly, sejam eles com turbo ou aspirados. Poderiam funcionar também com o inédito motor E4, um propulsor abastecido somente com etanol que voltou a ser discutido internamente pela empresa.

Com os primeiros híbridos chegando já em 2024, a grande dúvida é quais carros serão os primeiros eletrificados nacionais da Stellantis. São muitas possibilidades, ainda mais pensando nos carros de maior volume, como dito por Filosa. A Fiat pode começar a adoção da tecnologia com Pulse e Fastback, ou até mesmo com a Toro. A Peugeot tem trabalhado para produzir o 2008 na Argentina e chegar com um motor híbrido ajudaria a se destacar no segmento.


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