A indústria automobilística segue impactada pela falta de componentes e também pelos reflexos da guerra na Ucrânia. De acordo com os dados de junho divulgados pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a produção industrial caiu no primeiro semestre na comparação com o mesmo período de 2021. A situação fez a entidade rever as perspectivas para o fechamento do ano. 

Em junho, a produção chegou a 203,6 mil unidades, superando a marca de 200 mil pela segunda vez no ano. No acumulado, foram produzidos 1,092 milhão veículos, queda de 5% em relação aos primeiros seis meses do ano passado.

Fábrica da Hyundai em Piracicaba - HB20 2023
Fábrica da Hyundai em Piracicaba - HB20 2023

Analisando os números deste ano, o segundo trimestre foi melhor que o primeiro ao registrar crescimento de 20%. "A crise global dos semicondutores vem se prolongando mais do que esperávamos em janeiro, em função de novos fatores como a guerra na Ucrânia e os lockdowns na China causados pela nova onda de covid, que afetam o fornecimento de insumos e a logística global”, explicou o Presidente da ANFAVEA, Márcio de Lima Leite.

Em relação aos licenciamentos, em junho foram emplacadas 178,1 mil unidades, queda de 4,8% em relação a maio e de 2,4% sobre junho de 2021. No acumulado do semestre, a redução foi de 14,5%. A queda nos emplacamentos não é exclusividade do Brasil. “Infelizmente esse é um fenômeno global, com números de queda muito semelhantes aos dos principais mercados do planeta”, comentou Leite.

Exportações em alta

Um motivo para comemorar diante desse cenário foi o aumento na exportações, mesmo com a crise na Argentina. O crescimento sobre o primeiro semestre de 2021 chegou a 23%. O resultado é ainda melhor quando analisado em termos de valores, com a alta atingindo 33,7%. Os demais mercados que contribuíram com esse resultado foram Colômbia, Chile, Peru, México e Uruguai, o que resultou em 246 mil unidades exportadas no semestre.

Nissan Kicks 2022 - Pátio, Cegonha e Lojas
Exportações seguem em alta

A Anfavea também destacou a geração de 705 vagas de emprego, somando 1.488 desde o início do ano. “Em meio a tantas paralisações por falta de componentes, essas contratações revelam a resiliência das empresas do setor e uma aposta na recuperação do mercado”, afirmou o Presidente da Anfavea.

Expectativa reduzida

Além da crise de semicondutores e reflexo da guerra na Ucrânia, a Anfavea também aponta a elevação da inflação e dos juros no Brasil, assim como as restrições ao acesso de crédito (que impactam principalmente as vendas dos veículos de entrada) como motivos para rever para baixo as projeções para o fechamento de 2022.

Para a produção, a nova expectativa é de fechar o ano com 2.340 mil unidades, alta de 4,1% sobre 2021. Para vendas internas, espera-se chegar a 2.140 mil licenciamentos, crescimento de 1%.

Fabrica Nissan - Resende (RJ)

No entanto, há um bom otimismo em relação às exportações. A estimativa da Anfavea é que 460 mil unidades embarcadas até o fim do ano, o que representará uma alta de 22,2% na comparação com 2021.

Venda de carros "velhos" em alta

A Anfavea também apresentou um estudo interessante que mostrou a variação nas vendas de carros usados. O que preocupou, segundo a entidade, é o crescimento de venda de veículos com mais de 12 anos de uso. 

O estudo mostrou uma forte queda a partir de meados de 2021 nas vendas de veículos semi-novos com até 3 anos de uso, ainda mais acentuada nos carros usados de 4 a 8 anos de uso e uma queda menor nos veículos de 9 a 12 anos de uso. Desde o ano passado, a frota acima de 12 anos de uso cresceu a ponto de registrar quase 300 mil unidades em apenas um mês em 2021. 

Dados Anfavea - Venda de carros usados
Vendas de carros usados segmentados por tempo de uso

Esse movimento é reflexo, de acordo com a Anfavea, da falta de crédito e do aumento de juros. Outro fator que influencia diretamente é a decisão das montadoras em utilizar o semicondutores, escassos, em carros de maior valor agregado, consequentemente, mais caros. 

Financiamentos em queda livre

Além do aumento da taxa de juros, a imposição de dificuldades pelos bancos para aprovação de financiamentos também impactou bastante a venda de carros novos. Praticamente desde o início deste ano, o volume de vendas com pagamento à vista cresceu a ponto de representar próximo de 65% em maio, enquanto financiamentos atingiram a menor marca dos últimos anos (cerca de 35%). 

Dados Anfavea - Vendas de carros financiados
Gráficos mostram a queda no volume de financiamentos

Para ficar mais claro, em números absolutos, em janeiro de 2020 o volume médio de vendas a prazo foi de cerca de 110 mil unidades, enquanto as vendas à vista atingiam quase 100 unidades. Em maio deste ano, as vendas com financiamento caíram a pouco mais de 60 mil veículos contra cerca de 90 mil unidades pagas à vista. Pagamentos à vista incluem as compras feitas por empresas, mas este percentual não foi detalhado.

Envie seu flagra! flagra@motor1.com