Conhecida por produzir sedãs e cupês de luxo, a Mercedes-Benz daria uma guinada em seus conceitos com o projeto chamado A-W168. Inovador em vários aspectos, ele daria origem ao primeiro compacto da marca da estrela. Apresentado inicialmente na forma do protótipo Studie A, em 1993, o Mercedes Classe A era um tanto transgressor para os conceitos da empresa: tinha carroceria monovolume de apenas 3,57 m de comprimento, tração dianteira e motor transversal.
Carros para sempre: à frente de seu tempo, Mercedes Classe A nacional fracassou
Lançado na Alemanha em 1997, o Classe A tinha como foco competir no segmento médio, onde estavam VW Golf e Opel Astra. Apesar de pequeno, ele prezava pela segurança e oferecia freios ABS e airbag como itens de série desde a versão de entrada. Um dos destaques do modelo era a construção tipo "sanduíche", no que chamavam a atenção o motor inclinado a 59 graus (em caso de colisão se deslocava para baixo do veículo) e a posição elevada dos passageiros.
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Apesar da grande preocupação com a segurança, o Classe A deu vexame ainda no primeiro ano de mercado. Em um teste realizado pela publicação sueca Teknikens Värld, durante uma manobra no chamado " teste do alce", o Classe A capotou e o fato ganhou repercussão mundial. Com a reputação arranhada, ainda em 1998 o modelo recebia modificações na suspensão e controle de estabilidade (ESP) como item de série. Mesmo com o ocorrido, o A foi bem aceito na Europa e se tornou um sucesso de vendas por lá.
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Planos ambiciosos da Mercedes previam a produção do Classe A no Brasil a partir de 1999. Foi um fato histórico, pois pela primeira vez um automóvel da marca seria produzido fora da Alemanha. A escolha para a fábrica recaiu sobre a cidade de Juiz de Fora (MG). Para o lançamento nacional, a Mercedes preparou uma forte campanha publicitária com uma série de documentários divulgados semanalmente no "Fantástico", com detalhes da fábrica e do Classe A. O mote da propaganda era "Você de Mercedes", em alusão ao fato de o monovolume ser bem mais acessível que os tradicionais modelos da marca.
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O Classe A nacional chegou como A160 nas versões Classic e Elegance, ambas com motor 1.6 de 99 cv. O modelo brasileiro trazia os mesmos itens de conforto e segurança da versão vendida na Europa, que além do ABS/EBD e do ESP tinha também o controle de tração ASR (Anti Slip Regulation) e auxílio em frenagem de emergência BAS (Braking Assist System). Por aqui, o A160 foi o primeiro compacto a oferecer freios ABS e controle de estabilidade de série desde a versão de entrada. Outro destaque era a versão com embreagem automática AKS (Automatische Kuplunge System), que trazia câmbio manual em "H", mas não tinha pedal da embreagem - acionada por sistemas eletrônicos.
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No ano 2000 chegava a versão mais potente, o A190, que vinha com motor 1.9 de 125 cv e 18,3 kgfm de torque. No mesmo ano o motor 1.6 do A160 passava a entregar 102 cv e 15,3 kgfm de toque, além de o câmbio receber relações mais curtas para melhorar o desempenho. Um ano depois, o A190 Elegance ganhava câmbio automático. Com as mudanças, o desempenho melhorava com o motor 1.6: aceleração de 0 a 100 km/h em 11,6 s e velocidade máxima de 178 km/h. No caso do 1.9, eram necessários 9,4 s para chegar aos 100 km/h (10,7 segundos no automático) e a velocidade máxima era de 195 km/h (190 km/h no automático).
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Para a linha 2003, novos faróis e lanternas que haviam sido aplicados no modelo europeu chegam ao Classe A nacional. Também neste ano, a marca lançava a versão Avantgarde, mais esportiva, inspirada na série especial Spirit de 2001. Embora fosse disparado o Mercedes mais barato do Brasil, o Classe A não era nada "popular. Lançado em maio de 1999, o A160 custava de R$ 29.790 a R$ 39.940, enquanto um Gol 1.6, que estreava o modelo G3 naquele mesmo mês, saía por cerca de R$ 17 mil na versão 1.6. Ou seja, o A tinha preço condizente com suas qualidades e equipamentos, mas a marca da estrela não conseguiu convencer o brasileiro a pagar essa grana por um carro tão pequeno. Fora que a manutenção exigia cuidados (não dava para levar na "oficina da esquina") e as peças eram um tanto caras. Resultado: da estimativa de 25 mil unidades anuais produzidas, que chegariam a 70 mil no auge da produção, o Classe A nacional vendeu ao todo somente 63 mil unidades durante sua trajetória - menos do que o previsto para um ano.
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Com a ociosidade da fábrica de Juiz de Fora, o Classe A deixou de ser produzido em 2005, seis anos após a estreia. O sucessor chegaria em 2006, com a segunda geração do monovolume, mas que pecava por ser ainda mais cara por vir da Europa. Devido ao fracasso do A nacional, a marca da estrela agora mudou o foco: na nova fábrica que a empresa está construindo em Iracemápolis (SP) - a planta mineira agora é dedicada aos caminhões -, serão feitos o crossover GLA e o sedã Classe C de nova geração a partir de 2015. O novo Classe A tem até chances de ganhar cidadania brasileira novamente, mas vale lembrar que o modelo de agora é um hatch médio premium (veja teste contra BMW Série 1 e Citroën DS4), conceitualmente muito distante do modelo original.

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Foto de: Julio Cesar
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