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Mitsubishi L200 Triton: como é pilotar a picape preparada para corridas

Garanto que não é tão fácil quanto parece...

Experiência: Mitsubishi L200 Triton R
Foto de: Mitsubishi

Seja por profissão ou gosto pessoal, já pilotei quase que de tudo no asfalto. Desde uma brincadeira entre um Nissan March e um GT-R até ver o que um Porsche 911 GT3 RS (992) faz, o catálogo á vasto nesses pouco mais de 10 anos de carreira. Na terra, apenas o básico e algumas provas de regularidade. Por isso que esta experiência marcou bastante.

A Mitsubishi me convidou para uma etapa da Mitsubishi Cup, competição de velocidade da marca, não apenas para conhecer, mas para pilotar a L200 Triton Sport R, a versão preparada da picape média. Já tinha participado da competição de regularidade da marca com uma L200 Triton Sport de rua, sem preparação, mas nada a ver uma coisa com a outra e tive que aprender isso.

Experiência: Mitsubishi L200 Triton R
Foto de: Mitsubishi

Posso levar pra casa?

A própria picape já me travou alguns bons minutos a admirando. Parece até uma L200 Triton Sport básica, com faróis halógenos e câmbio manual de 6 marchas, mas vamos bem além. Primeiro, capô e portas são aliviados, com parte das peças em fibra de vidro, e os vidros laterais substituídos por policarbonato. A caçamba é basicamente apenas as folhas laterais, sem piso e tampa também para reduzir o peso da picape. 

Por dentro, só sobrou o painel. Bancos e cintos são substituídos por peças homologadas pela FIA, assim como o rollccage que está em todo o interior para proteger em caso de capotagem, além de aumentar a rigidez estrutural da cabine. Uma tela auxiliar da Pro Tune me mostra parâmetros do motor, que foi remapeado e recebeu um sistema de escape mais livre, resultando em mais potência e torque - algo na faixa dos 225 cv e 51 kgfm de torque no 2.4 turbodiesel que, original, tem 190 cv e 43,9 kgfm. 

Experiência: Mitsubishi L200 Triton R
Foto de: Mitsubishi

Suspensão, rodas e pneus são específicos para isso também. O volante é uma peça da Sparco, que melhora a posição de pilotagem em conjunto com os bancos concha fixos. É um carro de corrida, literalmente, com placas e itens de segurança para rodar em vias públicas, já que as etapas da Mit Cup acontecem em regiões onde o deslocamento é necessário. Queria levar a picape pra casa, mas (ainda) não foi possível. Voltei com a L200 Triton Sport HPE-S original mesmo...

 

O jogo virou? Não, o tempo mesmo...

Estudei algumas teorias para pilotar na terra e acompanhei alguns vídeos de colegas em provas anteriores. Tudo estava bem e, na minha mente, sob controle. No caminho para São João da Boa Vista (SP), uma chuva torrencial me pega logo na estrada e no caminho para o hotel, o que é comum nesta época do ano. Só não me liguei que isso mudaria meu cenário no dia seguinte...

Experiência: Mitsubishi L200 Triton R
Foto de: Mitsubishi

"Cara, nunca vi isso. Até mesmo os profissionais estão com problemas por lá". Ouvi isso logo que cheguei para me preparar e conhecer o carro. Vindo dos profissionais que estavam comigo, me deixou um pouco tenso e jogou fora toda a teoria que estudei. De fato, vi alguns carros voltando do trecho da prova e, boa parte bem sujos e com peças faltantes - e alguns nem voltaram, atolados pelo caminho. 

O Matheus Mazzei (@matheusmazzei) ficou com a missão dupla. Um cara bacana que seria meu navegador e um instrutor para me dar as dicas sobre o carro e a situação bem fora do normal que enfrentaríamos. Enquanto eu estava tenso, ele já estava ciente do terreno. "Alguns trechos foram cortados por não ter mesmo como passar", disse ele antes de sairmos com a L200 dos boxes. 

Experiência: Mitsubishi L200 Triton R
Foto de: Mitsubishi

Macacão, luvas, capacete, comunicador com o Mazzei, amarrado no banco pelo cinto de 6 pontos. Dou a partida na L200 e, ali, era como uma picape comum adicionada de um belo ronco. O primeiro passo era um trecho de rodovia, o deslocamento até a especial, local onde o trajeto que vale o tempo para as provas válido. Só que eu precisava respeitar o limite de velocidade que a planilha pede. E a chuva pegando forte, o que já tinha atrasado um pouco nossa saída. Até pra pagar o pedágio é estranho, já que a janela é pequena e eu estava todo amarrado no banco.

Na largada, pé embaixo e a L200 cresce. Primeira curva e...saio do traçado. Frustrado, tento entender o que fiz de errado, então o Matheus me dá as primeiras dicas: "pé embaixo e preveja as curvas". Saio do atoleiro e começo a me entender com o que ele disse, apesar de ainda sair algumas vezes do traçado e entrar no meio do canavial com a picape. Com o tempo, aprendi a jogar a L200 de lado para entrar na curva já no ritmo certo e deixar o 2.4 gritando, enquanto a tração 4x4 trabalha. 

Não digo que estava realmente pronto, mas não atolei - inclusive, ajudamos um dos carros a sair do atoleiro, enquanto muitos outros estava presos e esperando um guincho. Isso faz qualquer 911 GT3 RS em um autódromo se tornar fácil e me fazer respeitar mais ainda quem encara a terra e a lama nesse tipo de competição. O carro só soltou um lado do parachoque dianteiro e estava BEM sujo, um saldo positivo para algo que eu achava que acabaria bem pior. 

Bônus Track: ao volante do carro de Formula 1 dos ralis!

Dias antes, ainda com um calor danado e sem chuva, o desafio foi maior. Em uma área dentro do Autódromo Velocittá, tive o prazer de ver de perto a L200 Triton Ultimate Racing que, sem exageros, é como um carro de Formula 1 para os ralis. Ou seja, temos o que há de melhor para as competições de longa duração, como o Sertões e o famoso Dakar. 

O pai da criança é o Guiga Spinelli, piloto 5 vezes campeão do Rali dos Sertões e duas vezes entre os 10 primeiros no Rally Dakar. Com essas credenciais, ele decidiu criar um carro com o que há de mais moderno para esse tipo de competição e nacional no máximo possível. Se a casca de fibra de carbono tem o visual da nova Mitsubishi Triton, por baixo é um conjunto de componentes de dar inveja a muita gente.

Mitsubishi L200 Triton Ultimate Racing
Foto de: Mitsubishi

O chassi tubular foi desenvolvido do zero pela Spinelli Racing. Ele acomoda um V8 5.0, vindo do Ford Mustang, mas com preparação pesada para aguentar altas rotações por muito tempo, com um sistema de injeção Motec, que permitiu menos componentes e menor peso do conjunto, além de manutenção em qualquer lugar do mundo. A transmissão é liderada pelo câmbio Sadev, que também tem os diferenciais da Xtrac nos dois eixos e central. 

Na suspensão, são oito amortecedores da Reiger, prontos para pular com os pneus de 37". Tudo nesse carro foi testado na pista que Spinelli montou dentro das dependências do Velocittá e, em um projeto de cerca de um ano, foi para o Rali dos Sertões de 2024 e, mesmo com um carro em desenvolvimento e alguns problemas, conseguiu terminar a competição em 15º entre os carros.

Mitsubishi L200 Triton Ultimate Racing
Foto de: Mitsubishi

Com o Guiga ao volante, é impressionante como ele conhece sua cria. Onde você pensa que não vai entrar, ele entra, pula e faz a curva com muita facilidade. O câmbio sequencial é incrivelmente rápido, mas nada suave (obviamente), mas é a suspensão e a previsibilidade que Guiga tem mesmo quando a picape voa. Para mim, estava bem satisfeito nesse passeio com o piloto e sua cria. Mas...

Já pensou em ter em suas mãos um carro único que vale alguns milhões de Reais? É, o Guiga deixou eu "dar uma volta" com a Ultimate. Macacão, capacete, luvas e muita tensão que passava pelo meu corpo em saber a responsabilidade que estavam me dando. Não é fácil entrar em um carro feito para ser uma gaiola segura em caso de acidente, mas logo me amarram no banco e vamos lá.

Mitsubishi L200 Triton Ultimate Racing
Foto de: Mitsubishi

Lógico que começo com calma. O desafio é que a embreagem ainda existe e preciso dela para tirar a Ultimate da imobilidade e em trocas em baixas velocidades. Além disso, para fazer a troca sequencial, não pode ser suave, tem que ser direto e com certa força na alavanca, ou não vai. Me entendo com tudo isso em algumas curvas e tenho o instrutor já pedindo para acelerar mais.

Não a toa chamam de Formula 1 dos ralis. É algo espetacular de se estar ao volante em diversos sentidos. Ronco, repostas ao volante e essa força necessária para a troca de marchas marcam e vão bem além de qualquer carro. Como disse no começo, não me entendo muito com terra, mas essa máquina me deu confiança até para alguns saltos. E olha que, segundo o Spinelli, ainda tem muito a melhorar antes de enfrentar mais competições entre este ano e o próximo. 

Mitsubishi L200 Triton Ultimate Racing
Foto de: Mitsubishi

E tudo isso é um projeto nacional que, com o tempo, não deverá nada aos carros feitos no exterior. A idéia é inclusive essa, com uma produção para quem quiser entrar nessas categorias com uma máquina relativamente mais barata que uma importada. E pensar que tudo isso envolve a Mitsubishi L200 Triton Sport, a mesma que usei nesses dias com conforto e tecnologias...

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