Uma volta no tempo com o MF 35x, o trator que alimentou o mundo
Massey Ferguson traz ao Brasil série comemorativa do modelo que está em produção há 67 anos
Chega a notícia de que a fábrica Massey Ferguson trouxe no Brasil uma edição especial do clássico modelo MF 35x. A simpatia retrô do tratorzinho criado na década de 50 é o maior destaque. Suas formas arredondadas, em modestos 3,12 m de comprimento, chamam a atenção nesses tempos em que as máquinas agrícolas estão cada vez mais agigantadas e com pinta de Transformers.
Trata-se de uma série comemorativa de 100 exemplares que parecem saídos diretamente de um filme de época. Segundo a Massey Ferguson, todos já foram vendidos para clientes especiais. A companhia preferiu nem revelar o preço do tratorzinho retrô ao público: "É um modelo para colecionador, não entra no nosso portfólio comercial".
Uma leitura rápida do comunicado oficial da Massey Ferguson do Brasil dá a entender que os MF 35x voltaram a ser produzidos especialmente para comemorar os 175 anos da empresa no mundo. Curtimos tanto essa ideia que fomos pesquisar mais sobre o modelo. E aí, a surpresa: descobrimos que o MF 35 jamais deixou de ser fabricado.
VIDA ETERNA NA ÍNDIA
O MF 35 hoje à venda na África
O modelo que desembarcou no Brasil como "edição limitada" ou "modelo para colecionador" veio importado da Índia, onde continua a ser produzido, em três versões, para o duro trabalho no campo. Trata-se de um clássico zero quilômetro, um fóssil vivo que sobreviveu incólume ao passar das décadas - mais ou menos como ocorreu com a Kombi por aqui. Em países como o Quênia e a África do Sul, o melhor substituto para um MF 35 é outro MF 35.
Na índia, o modelo hoje é chamado de MF 1035
Passados 67 anos desde sua criação, o MF 35 ainda é encarado em alguns países como uma ferramenta de trabalho simples, barata, versátil e durável - no site internacional da Massey Ferguson, o modelo é apresentado como "The People's Tractor", ou seja: um trator popular para um agricultor iniciante.
Os compradores do pequeno lote que chegou recentemente ao Brasil, contudo, foram movidos pela nostalgia. Fernando Viana, produtor rural em Abaeté (MG), é um deles. Ele viu no MF 35x a oportunidade de operar um trator da década de 1950, mas com o desempenho de um zero quilômetro: "Vivemos um momento tão acelerado no agronegócio, de máquinas enormes, e fico muito feliz em ter a possibilidade de trabalhar com a réplica de um trator antigo", diz.
Como nos anos 50 e 60, o motor é um três cilindros a diesel, de 2,4 litros. Projetado pela britânica Perkins, o motor dos MF 35 hoje é feito sob licença pela indiana Simpson. Como atualizações, recebeu uma bomba injetora mais precisa e filtros mais eficientes, além de os componentes serem fabricados com materiais mais modernos. Rende modestos 36,5 cv.
Outra coisa que não mudou com o passar das décadas foi a transmissão de seis marchas à frente e duas à ré, bem como a capacidade de levante de 1.100 kg no sistema de três pontos. Na fábrica da Massey Ferguson em Canoas (RS) foram feitas pequenas alterações no modelo, que ganhou adesivos comemorativos.
"Embora seja voltado para colecionadores e amantes da marca, nada impede que o modelo seja utilizado nas operações de campo. É um trator totalmente funcional", explica Eder Pinheiro, coordenador de marketing da empresa.
O LONGO CAMINHO
A semente da companhia de tratores foi a Massey Manufacturing, fundada em 1847 no Canadá para produzir implementos agrícolas como debulhadoras de trigo. Os primeiros tratores vieram em 1919, quando a companhia já se chamava Massey-Harris. O "Tractor Number 1" era vermelho, cor que caracterizaria os modelos da marca ao longo das décadas.
Durante a Segunda Guerra, a empresa fabricou tanques como o M5 Stuart. Na década de 50, veio a fusão com a inovadora fábrica britânica de tratores Ferguson. Nascia a Massey Ferguson.
O primeiro produto a trazer a nova marca foi justamente o modelo MF 35, projetado pela Ferguson e lançado em 1955. Fabricado tanto nos Estados Unidos quanto na Inglaterra, fez sucesso mundial. Em 1962, o modelo ganhou mais potência e aprimoramentos na transmissão, recebendo a denominação MF 35x.
A produção nos EUA e na Inglaterra foi encerrada em 1964 - mas a fábrica britânica continuou a produzir kits CKD que eram montados em países como a Iugoslávia, a Turquia, o Paquistão e a Índia. Apenas na Inglaterra foram fabricados 3.307.996 tratores MF 35 montados ou em kits. Atualmente, é a Índia quem continua a produzir e a exportar o longevo modelo. "Não é exagero dizer que o MF 35 é até hoje o trator que mais contribuiu para a alimentação do mundo", afirma Michael Thorne, colecionador e pesquisador do tema.
A CONEXÃO VEMAG
No Brasil da década de 50, os kits CKD dos tratores da Massey Ferguson MF 35 eram montados pela Vemag - a mesma empresa que produzia os sedãs e peruas DKW. Somente em 1961 é que a própria Massey Ferguson teria sua primeira fábrica no Brasil, na cidade de São Paulo.
O trator que inaugurou a produção por aqui foi o MF 50, popularmente conhecido como Cinquentinha. Sucessor do MF 35, o Cinquentinha fez enorme sucesso no país nas décadas seguintes, e ainda é comum encontrá-lo no batente.
TRATOR VELHO, BRINQUEDO NOVO
O número de apreciadores e colecionadores de tratores antigos no Brasil vem crescendo um bocado nos últimos anos, notadamente em São Paulo e nos estados do Sul. Essa turma tem produzido muitos encontros, tratoradas e outras atividades ligadas às máquinas agrícolas.
Existem coleções consolidadas como a da Agromen em Orlândia (SP), assim como outras menores, mas não menos importantes. Geralmente são formadas por pessoas ligadas ao agronegócio, mas isso não impede que outros colecionadores tenham suas máquinas.
"Nós formamos uma confraria chamada de Clube Paulista de Tratores que promove passeios e visitas, além da já tradicional romaria de São Carlos até Aparecida, em que percorremos 530 quilômetros ao longo de uma semana", conta o educador financeiro José Penteado Vignoli, dono de um trator Ford NAA 1954 e um Massey Ferguson 65X 1975. É um movimento que já é muito forte nos Estados Unidos e na Europa, contando com vários clubes e até revistas especializadas.
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