Opinião - Ford Fiesta 2018 perde a chance de brigar com Polo e Argo

Reduzir a oferta do motor 1.0 Ecoboost e manter o câmbio Powershift foram mancadas que deverão prejudicar as vendas

Fiesta 2018 BR Fiesta 2018 BR

Lá em casa já se passaram nada menos que quatro Fiestas, de todas as gerações já produzidas no Brasil. Sempre achei o compacto da Ford um dos melhores de dirigir de sua classe. As últimas versões também se destacaram pelo design (considero o Fiesta, ao lado do Peugeot 208, o mais bonito dos hatches pequenos) e pela oferta de itens de segurança, como o controle de estabilidade com assistente de saída em rampas - e isso numa época que tal item era artigo praticamente de carro de luxo no Brasil. 

Mas o tempo passou e o Fiesta foi ganhando rivais competentes, como o Hyundai HB20 e, mais recentemente, os novos Fiat Argo e o VW Polo. A Ford teria muito bem condições de enfrentá-los, como mostrou na Europa ao lançar a nova geração do Fiesta, maior e mais refinada. Para o Brasil, porém, a marca preferiu focar no Ka e manter o Fiesta atual. Mas era preciso mudar alguma coisa para pelo menos fazer o Fiesta voltar às manchetes. O EcoSport foi um bom exemplo disso. Não mudou de geração, mas ganhou novos motor e câmbio, um painel mais bem acabado e preços competitivos. 

Como o Fiesta é dono da plataforma que deu origem ao EcoSport, era esperado que o hatch agora herdasse as benesses do SUV. Ou pelo menos o câmbio automático com conversor de torque, vindo do Fusion. Isso porque o motor 1.5 de 3 cilindros das versões intermediárias do EcoSport ainda é fabricado somente na Índia, e não há volume suficiente para colocá-lo também no Fiesta. OK, mas para o Fiesta a Ford já tinha o premiado 1.0 Ecoboost (turbo e injeção direta). 

Então, o que a Ford brasileira fez pelo Fiesta 2018? Reestilização (que na verdade é basicamente um para-choque e rodas novas), adoção da central multimídia Sync 3 (a partir da versão SE Plus) e... aumento de preços! Câmbio automático? Não, o Powershift de dupla embreagem segue no jogo, mesmo com sua imagem desgastada pelos problemas de durabilidade. Motor Ecoboost? Relegado a uma única versão intermediária, e ainda movido somente a gasolina. Painel do Eco? Nada, mantiveram os plásticos rígidos e os gaps na montagem.

O pior é saber que a Ford global tem o conjunto pronto em suas prateleiras. O novo Fiesta europeu é vendido com a união do motor 1.0 Ecoboost ao câmbio automático de verdade. A filial brasileira pode alegar que o investimento seria alto demais, mas, a partir do momento que você tem a Volkswagen fazendo o novo Polo no Brasil com motor 1.0 TSI (turbo e injeção direta) e vendendo-o a um preço menor que o do Fiesta, qualquer explicação soa como desculpa. 

A Ford poderia ter feito como a VW e ter deixado o motor 1.6 aspirado apenas nas versões de entrada SE e SE Plus, colocando o excelente Ecoboost (que andou mais e bebeu menos que o Polo TSI em nosso último teste) nas versões Style, SEL e Titanium, além de finalmente tornar esse motor flex, o que ajudaria nas vendas. Some isso ao câmbio automático do Eco e a um acabamento melhorado e então poderíamos dizer que, apesar de não ter trazido o Fiesta novo, a Ford brasileira estava recolocando o Fiesta atual na briga.

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Do jeito que ficou, com mudanças apenas superficiais e aumento médio de R$ 3 mil, a Ford local mostra que não está preocupada em brigar com Polo e Argo. Uma pena para o Fiesta, que já chegou a figurar no Top 5 de vendas do Brasil, e para os fãs do hatch, que deverão acabar migrando para os concorrentes.   

Fotos: divulgação  

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