Em dezembro de 2022, a Volkswagen produziu o último Gol. Com isso, encerrou uma história de 42 anos de um carro que ganhou fama de robusto e fácil de manter. Mas, vamos combinar que a plataforma do último Gol já tinha 15 anos e o veterano ficou para trás em termos de segurança, eficiência, espaço interno e ergonomia.
A fila precisava andar e o que a Volkswagen tinha em mãos era o Polo. Só que o Polo normal sozinho não serviria para "entrar até em canavial", como disse a própria marca na apresentação do Polo Track, nem para aguentar a vida de carro de locadora ou de empresa. Precisou mudar e o resultado não pode nem ser chamado mais de "novo Gol".
O Volkswagen Polo Track será feito em Taubaté (SP), não na fábrica de São Bernardo no Campo (SP). Sua proposta é mais voltada para uso severo, como era o Gol. Para isso, recebeu uma série de mudanças em relação aos demais Polo. O Track é construído com a mesma plataforma MQB-A0 do Polo reestilizado, herdando os bons atributos da arquitetura. Nas medidas, tem entre-eixos de 2,56 metros, 1,75 m de largura, 4,07 m de comprimento e os mesmos 300 litros de porta-malas pela medição VDA. O espaço teórico total do bagageiro é de 365 litros.
Mas aí começam as mudanças. Toda a suspensão e o acerto do sistema foi refeito para o Polo Track. Daí, a nova versão do do hatch ficou 1 centímetro mais alto. Por conta dessa mudança, o vão livre em relação ao solo passa a ser 166 milímetros, número que já começa a entrar em território de SUVs compactos.
Visualmente, o para-choque é inédito, com uma grade colmeia bem larga e uma linha preta fazendo uma divisão diferente da que vemos nas demais configurações do hatch. A grade superior também é diferente, mantendo o desenho interno em colmeia e é bem mais larga. Os faróis têm o mesmo formato do Polo pré-facelift, porém com um novo desenho interno. Mais altura e o para-choque exclusivo aumentaram o ângulo de ataque do Polo Track.
A traseira é praticamente idêntica aos demais Polo, usando máscara negra. As diferenças são o emblema “Track” no lugar de “Polo” na tampa do porta-malas e o acabamento preto na região da placa, ao invés de usar a cor da carroceria como o Polo MPI.
Do lado de dentro, é o mesmo carro. Os bancos dianteiros inteiriços tem partes com acabamento cinza claro e costura laranja, enquanto o banco traseiro tem os encostos de cabeça integrados como os dianteiros. As demais alterações são por causa da falta de equipamentos, como a ausência total de sistema de som.
Isso nos leva ao preço e aos itens de série do Polo Track. Por ele, a Volkswagen está cobrando R$ 79.090, menos que os R$ 86.140 do Polo MPI. Além disso, o Fiat Argo na versão 1.0 custa R$ 78.590, enquanto o Hyundai HB20 Sense 1.0 está sendo vendido por R$ 79.490. O Chevrolet Onix, atualmente o hatchback mais vendido do país, parte de R$ 82.490. Existem opções mais baratas, como Fiat Mobi (R$ 68.990) e Renault Kwid (R$ 68.190), ou o Citroën C3 (R$ 69.990), mas são menores ou mais simples.
A lista de equipamentos de série do Volkswagen Polo Track é bem enxuta e digna de um carro de entrada. Vem com quatro airbags, controle de estabilidade, assistente de partida em rampas, bloqueio eletrônico de diferencial, vidros dianteiros elétricos (sem função um toque), direção elétrica, travas elétricas e ar-condicionado. Se quiser rádio, terá que pagar mais R$ 900 pelo pacote opcional, que ainda adiciona volante multifuncional, entradas USB, antena de teto e computador de bordo. As rodas serão sempre de aço de 15 polegadas e com calotas.
Assim como o Polo MPI, o Polo Track utiliza o motor 1.0 de três cilindros, um velho conhecido do brasileiro que equipou modelos como up! e Gol. Segue entregando 84 cv e 10,3 kgfm, sempre combinado a um câmbio manual de cinco marchas. Será a única opção de motorização, deixando o 1.0 turbo restrito para a linha normal do Polo reestilizado, enquanto o 1.6 MSI só equipa a picape Saveiro.
O Volkswagen Polo Track é o mais leve da linha: tem 1.054 kg, 16 kg a menos que o Polo MPI. Ainda assim, a maior altura acabou sacrificando um pouco do consumo. Os dados divulgados pela Volkswagen dão conta de que o hatch de entrada faz 13,5 km/l na cidade e 15 km/l na estrada com gasolina. Abastecido com etanol, os números são respectivamente 9,3 km/l e 10,3 km/l. Em termos de desempenho, a marca divulga uma aceleração de 0 a 100 km/h em 13,4 segundos e velocidade máxima de 169 km/h usado etanol.
Quem está com o olhar mais atento, já percebeu que há uma diferença nas rodas do Polo Track na comparação com as de mais configurações do hatch na linha 2023. O modelo de entrada tem quatro parafusos por rodas. Os demais, cinco. O Motor1.com Brasil perguntou o motivo dessa diferença para André Drigo, gerente executivo de desenvolvimento de veículo completo da Volkswagen.
De acordo com o executivo, de forma objetiva, a alteração serve a um propósito de economia de custo em escala, além da redução de massa não suspensa (aquela não suportada pelos amortecedores e molas). Ainda há outros fatores. Por ser feito em Taubaté e sempre equipado com o motor 1.0 aspirado, não há motivo para manter as rodas de cinco furos dos demais Polo feitos em São Bernardo do Campo. Lá, o "esqueleto" do carro é o mesmo para todas as versões, inclusive as 170 TSI com muito mais torque.
De forma curta? Como qualquer Polo. A altura extra da versão Track não é o suficiente para afetar as qualidade de dirigibilidade do hatch. O carro continua atacando as curvas de forma competente e segura, com estabilidade de sobra. A compostura na estrada também é exemplar, ainda mais considerando que este é um carro que agora se posiciona na categoria de entrada.
Ele tem uma compostura de veículo maior, estável e confortável mesmo na estrada, onde está fora de sua proposta. O único indício é o conta-giros a quase 4.000 rpm para manter 120 km/h. Ainda assim, transmite pouco ruído para cabine. Nesse quesito, ele é um pouco (bem pouco) mais ruidoso que o Polo MPI. A Volkswagen confirmou que o Track, apesar de ter materiais fonoabsorventes nos mesmos lugares que no Polo MPI, o material em si é diferente - e provavelmente mais simples.
É tão valente quanto era o Gol, no sentido que dá para circular em vias ruins e muitas vezes não pavimentadas? Sim, com tranquilidade. O teste nos levou à zona rural São Bento do Sapucaí (MG) e o carro cumpriu o trajeto sem sustos. Nem raspou em nada, mérito da maior altura em relação ao solo. Só que o Polo Track tem uma vantagem muito grande em relação ao Gol: espaço interno maior e ergonomia mais moderna.
Mas claro que ainda é um 1.0. Principalmente nas ladeiras mais fortes, o espaço entre as segunda e terceira marchas geram a necessidade de trocas mais constantes. Por outro lado, o giro alto na rodovia faz com que o motor esteja sempre acima do pico de torque, que é de 3.500 rpm. Assim, o carro não pede marcha nos aclives quando está embalado.
A questão aqui é que, ver o Polo Track como um Polo empobrecido é a interpretação errada. Olhando como um Gol melhorado, ele trouxe uma evolução gigante ao carro de entrada da Volkswagen no Brasil, com vantagens ainda em itens de segurança que nem existiam na época em que a última geração do Gol foi apresentada.
A diferença de preço do Volkswagen Polo Track 2023 para o Polo MPI é de R$ 7.050. Visualmente, a diferença é pouca por fora. Enquanto isso, a cabine é praticamente a mesma. Então será que um não pode canibalizar as vendas do outro? Provavelmente não.
Sem equipamentos como multimídia com conectividade, faróis de LED e nem um simples vidro elétrico com função um toque, o Polo MPI continuará tendo apelo no varejo por entregar mais. Porém, para empresas e aqueles que estão no limite do orçamento, praticamente 10% de diferença no valor pode ser o fator determinante para fechar uma escolha.
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