Há alguns anos, a oferta de hatches médios era farta em nosso mercado. Chevrolet Astra, anos depois Vectra GT, Ford Focus, VW Golf, Peugeot 307 e 308, Citroën C4, Fiat Bravo e muitos outros nomes estão nas ruas até hoje, boa parte deles como escolha usada de alguns entusiastas. Hoje, nas concessionárias, as opções novas são da Audi, BMW e Mercedes-Benz, custando bem acima dos R$ 200 mil, ou o Chevrolet Cruze Sport6.
A Chevrolet percebeu que o atual cliente de um hatch médio é alguém em busca de um visual mais esportivo, fugindo dos SUVs ou da sobriedade do sedã e, no caso do Cruze Sport6, sem R$ 200 mil no bolso. Por isso, a linha 2022 do hatch se resume ao Cruze Sport6 RS, versão com visual esportivado e o mesmo motor 1.4 turbo já conhecido. Neste teste, três membros da redação do Motor1.com dão sua opinião.
Eu sou dono de um Chevrolet Astra. Por isso que olho para o Cruze Sport6 RS e lembro dos antigos GSi e SS, que até emprestam peças para meu carro. Ou seja, não é a primeira vez que a marca faz uma versão esportivada de um hatch médio de olho em um público que procura se diferenciar.
Lógico que o Cruze não tem praticamente nada do meu Astra. É um projeto bem mais moderno, a começar pelo motor 1.4 turbo que, se eu pudesse, levava pro meu. Com seus 153 cv, anda bem na cidade e na estrada, com um consumo que, nem colocado em um guincho, meu antigo 2.0 faz. Em nossos testes, facilmente passa dos 8 km/litro na cidade e 11,4 km/litro na estrada, com etanol - com gasolina, já cheguei aos mais de 17 km/l no ritmo rodoviário.
Gostei da solução do RS, simples de ser aplicada e que deu um efeito legal ao hatch médio. Nesse vermelho, chama a atenção e até tem um ar de novidade nas ruas. Pena que a própria Chevrolet o esqueceu e não deu a ele o direito de ter um farol de LEDs e, para piorar, tirou itens que existiam no Premier, como o alerta de saída de faixas, alerta de colisão e assistente de estacionamento. Até o carregador por indução para smartphones se foi, que era útil com a conectividade sem fio do Cruze.
Infelizmente, o Cruze Sport6 RS é quase uma série de despedida. Os seus compradores acabaram indo aos SUVs compactos e, por R$ 154.500, acabam comprando um VW T-Cross Highline 1.4 turbo ou um Jeep Renegade com o novo motor 1.3 turbo. Quer um hatch médio? Ao menos ainda existe o Audi A3, BMW Série 1 ou Mercedes-Benz Classe A...que vai saber até quando ainda sobrevivem etiquetados por quase R$ 300 mil.
O fim de um segmento nunca é algo bom de se ver. Andar no Chevrolet Cruze Sport6 RS deixou a mesma sensação que tive no fim da Fiat Weekend. Sim, a categoria dos hatches médios até sobrevive com os modelos premium, mas todos encostando os R$ 300 mil, bem longe do alcance da maioria dos brasileiros. E até nos faz perguntar quando os SUVS irão parar de engolir os outros tipos de carro antes que só existam os utilitários.
Enquanto aguardamos para ver o que acontece, o jeito é aproveitar o Cruze RS. O hatchback estava um pouco de lado dentro da linha da GM (assim como a versão sedã), então a chegada desta configuração anima um pouco as coisas. Não é um hot hatch como muitos ainda esperavam (os modelos RS tem apenas um design esportivo, sem preparação), com o mesmo desempenho visto até agora nas outras versões.
É um pacote semelhante ao usado pelo carro nos Estados Unidos, já usando algumas mudanças de design que foram aplicadas na linha 2022, como o para-choque redesenhado. Tem alguns detalhes específicos para o modelo feito na Argentina, como o teto e o spoiler pintados em preto. Não muda tanto, mas é o suficiente para que atraia olhares nas ruas.
Mas, na prática, é uma antítese. Por um lado, vale pagar os R$ 154.500 por ser a única opção possível para ter um hatchback deste porte e por ser, praticamente, um adeus para o carro e o segmento em uma faixa acessível. No entanto, algumas coisas são difíceis de serem justificadas, como a retirada de alguns equipamentos que estavam na versão Premier. Como é basicamente uma despedida, sendo a única configuração disponível para o Cruze Sport6, merecia vir com tudo o que é possível, mesmo ficando mais caro - o sedã Premier custa R$ 163.790, R$ 9.290 mais para ter outros itens.
É difícil dar adeus. Uma volta com o Cruze Sport6 já mostra porque gostamos tantos dos hatchs médios. Tem uma boa dinâmica, agradando muito ao volante por suas respostas rápidas. O motor 1.4 turbo de 153 cv ainda tem um bom fôlego, mesmo que a transmissão automática de 6 marchas seja mais voltada para a economia. São atributos que mostra que é um carro que merecia viver mais e, principalmente, de um segmento que deveria sobreviver no Brasil.
O segmento dos hatches médios dá seus últimos suspiros no Brasil, isso quando consideramos os modelos em uma faixa de preço acessível, onde o único representante hoje fora do mercado premium é o Chevrolet Cruze Sport6 RS. Para quem gosta de carro, os hatches médios sempre foram sinônimo de apelo esportivo com um toque de refinamento. O que dirá dos últimos Volkswagen Golf, Ford Focus e do saudoso Hyundai i30.
Voltando ao Cruze Sport6, ele é praticamente o canto do cisne de um segmento que está fadado ao fim. E sim, essa versão RS lançada no final de janeiro, agora a única, serve quase como uma despedida tanto para a gama Cruze quanto para um segmento que já foi sinônimo de status. O mais curioso é que mesmo depois de 6 anos de mercado, o Cruze Sport6 chama a atenção nas ruas, talvez por conta dessa bela cor Vermelho Chili ou por seu desenho ainda bem acertado.
Nesse período à venda no Brasil, o Cruze Sport6 passou por apenas um facelift no ano de 2019, quando a linha 2020 foi apresentada com visual atualizado. Basicamente, o novo Cruze Sport6 RS manteve isso e complementou com acabamento cromado escurecido na grade, logo RS vermelho e pintura preta que vai dos emblemas até o teto. As rodas de 17" também somam para o apelo esportivo dessa versão RS.
Por dentro o Cruze Sport6 RS é mais discreto que a antiga Premier, já que troca o revestimento interno marrom por outro preto com costuras em vermelho, que ao meu ver ficou mais condizente com a proposta do hatch médio. Mas o que certamente incomoda aqui é que a versão RS foi um pouco “simplificada”, perdendo equipamentos que tinham na antiga Premier como o Leo e o Nicolas já comentaram.
Além dos equipamentos de assistência e segurança, outro “passo para trás” do Cruze RS é a central multimídia que perdeu o navegador GPS embarcado e o sistema OnStar com sinal Wi-Fi nativo. O hatch ao menos poderia manter a regulagem elétrica para o banco do motorista que era item de série antigo Premier por sua faixa de preço.
Apesar desses pecados, o Cruze Sport6 RS segue agradável de dirigir com seu motor 1.4 turbo de até 153 cv e 24,5 kgfm de torque. Embora não seja nenhum hot hatch, a versão RS conserva das antigas versões a calibragem um pouco mais direta na direção e a suspensão um pouco mais firme quando comparado ao sedã, mas nada que desabone o conforto no uso diário. Enquanto o motor mostra bom vigor e bons números de consumo, apesar da certa idade, o único senão fica para o câmbio automático de 6 marchas, um pouco perdido em algumas situações.
No resumo da ópera o Cruze Sport6 RS é um carro que provavelmente continuará como hoje: atraindo olhares por seu design acertado e por também ser presença raras nas ruas. Com apenas 1.733 unidades vendidas em 2021, nada indica que o Sport6 vai melhorar esses números neste ano, mas quem optar por levar o hatch médio para casa vai ter um carro mais prazeroso de dirigir e que vai se destacar frente à multidão no atual mar de SUVs.
Chevrolet Cruze Sport6 1.4T
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