Com o Taycan, a Porsche conseguiu criar um carro 100% elétrico que agradasse uma boa parte de seus tão críticos e apaixonados clientes e fãs. Até apagou um pouco o Panamera e, em muitos casos, divide a garagem com ao menos um 911. Outra estratégia do Taycan é oferecer versões, com diferentes níveis de potência. Este é o Taycan 4S, o "segundo nível" disponível no Brasil.
Mas não ache que ele faz feio diante do topo de linha, o Turbo S. Já são 435 cv, ou 530 cv no controle de largada, mais do que muito esportivo qualificado por aí. Custa R$ 699.000, além dos infinitos opcionais Porsche, enquanto um Turbo S começa a entrar na sua garagem por R$ 1.079.000. Será que menos é mais?
A maior diferença do Taycan 4S para seus irmãos é obviamente seus motores elétricos e baterias. No eixo dianteiro, 218 cv (ante os 258 do Turbo S) e mais 218 cv no eixo traseiro (455 cv no mais nervoso), totalizando 435 cv ou 530 cv no controle de largada - são até 761 cv no Turbo S. Em torque, são 65,3 kgfm, um número já suficiente para te empurrar ao banco. As baterias também são menores, com 79,2 kWh e 71 kWh úteis.
No restante, temos praticamente o mesmo Taycan das mais potentes. A plataforma é a J1, a mesma do Audi e-Tron GT. A suspensão é adaptativa com bolsas a ar, com regulagem de altura pelos modos de condução, e ainda é um dos poucos carros elétricos a ter uma transmissão com mais de uma marcha, com duas marchas atuando no eixo traseiro em altas velocidades - na verdade, um dos segredos para altas velocidades.
Por fora, o Taycan 4S se diferencia pelas rodas menores, com "apenas" 20" e a ausências de alguns apliques aerodinâmicos que o Turbo S carrega e que você pode colocar como opcional. Por dentro, a mesma arquitetura, sem mudanças significantes. Na unidade testada, até ficou com um ar de luxo combinando o exterior vinho (ou Cereja Metálico) com o interior em couro bege.
A carroceria larga e baixa segue um de seus destaques, principalmente pelos grandes para-lamas que até deixam as rodas de 20" pequenas dentro das caixas. Teto baixo com o caimento cupê, frente baixa com os faróis já característicos do Taycan, a lanterna traseira em uma peça praticamente única e as portas sem os arcos superiores marcam o 100% elétrico alemão em todas as versões.
Pode até parecer besteira falar isso, mas gostei mais do 4S que do Taycan Turbo S. Lógico que em partes, já que não temos a aceleração brutal dos até 107,1 kgfm de torque do irmão mais nervoso, mas os 65,3 kgfm já não são pouca coisa. E no uso diário, o Taycan 4S se mostrou uma companhia melhor, mais calma e mais confortável.
A começar pelo conforto. O Taycan 4S e suas rodas menores, com pneus 245/45 na dianteira e 284/40 na traseira, absorvem melhor os impactos do asfalto que as rodas de 21" do Turbo S e seus pneus 265/35 e 305/30, respectivamente. Me preocupei bem menos com danos ao conjunto pela maior proteção dos pneus mais altos também, se tornando um carro mais tranquilo de ser utilizado na cidade, por exemplo - até uma leve estrada de terra tive que pegar durante uma viagem, sem problemas.
Ajuda bastante a suspensão adaptativa a ar. Dependendo do modo de condução, que varia entre Range (para autonomia), Normal, Sport e Sport Plus, além da Individual, a altura é mais alta ou mais baixa, além de poder elevar mais caso precise passar por algum obstáculo maior. Vai de um carro extremamente confortável a um esportivo, mais baixo e com amortecedores mais rígidos, selecionando um modo pelo botão giratório no volante.
Outro ponto é que o 4S é mais dócil. Menos potente, parece respeitar mais o motorista e se comporta mais como um carro de luxo que como um esportivo. Ainda se destaca nas arrancadas urbanas, mas sem o "exagero"do Turbo S. Vai muito bem, afinal tem potência e torque já de esportivos a combustão, em um pacote silencioso. Da mesma forma que o motorista se preocupa menos com buracos, também se preocupa menos com o quanto de acelerador vai acionar.
Nos testes, números de respeito de qualquer forma. No 0 a 100 km/h, 3,9 segundos - apenas 0,9 s mais lento que o Turbo S. As retomadas são feitas em 2,7 e 2,5 segundos, respetivamente 40 a 100 km/h e 80 a 120 km/h. Segue sendo rápido, mais que um Audi e-Tron, por exemplo, que vai de 0 a 100 km/h em 5,6 segundos em nossos testes. E tudo isso com uma boa dirigibilidade, de suspensão direção e freios, como é esperado de um Porsche, mesmo em sua versão mais mansa.
A autonomia, apesar da bateria menor, é boa. Com 4,7 km/kWh, temos 333 km em ciclo urbano e, com 6,0 kWh na estrada, são até 426 km de autonomia - o câmbio no motor traseiro ajuda a reduzir a rotação na estrada e, nas acelerações, permite velocidades mais altas. No modo Sport Plus, dá para sentir esse troca, já que nos demais ele trabalha sempre apenas com a segunda marcha.
Pela ficha técnica da Porsche, o Taycan 4S pode ser recarregado em corrente de até 270kW, precisando de apenas 22 minutos para ir de 5 a 80% das baterias. Em um wallbox de 11kW, são 8 horas de 0 a 100%, a forma mais comum de ser encontrada nas ruas ou que oferecem os wallbox vendidos pelo mercado para instalação em casa.
Pode parecer até "barato" um Porsche elétrico por R$ 699.000. Mas não esqueça que ele pode ser completamente personalizado, chegando a bem mais que isso. Porém, a marca alemã oferece alguns itens como opcionais que são tratados como de série até por modelos bem menores e bem mais baratos, como o piloto automático adaptativo ou o assistente de faixa. Para ter isso, separe cerca de R$ 15 mil, quase nada para um carro desse, mas que deveria ser um item de série.
Uma boa forma de ter um Porsche elétrico sem ir para a casa do milhão de Reais. Não fica devendo ao irmão mais potente e é uma boa opção a quem quer vai utilizar principalmente na cidade, apesar de ser bem largo. Com o que economiza na comparação com o Taycan Turbo S, dá para encomendar um 718 Cayman, por exemplo, ou dar a entrada em um 911. Formaria uma bonita garagem, concorda?
Porsche Taycan 4S
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