Dificilmente uma picape média conseguirá tirar a Toyota Hilux do topo tão cedo. A Chevrolet S10 já tenta há anos e em poucos meses desbancou sua concorrente de décadas e, ainda assim, com uma pequena diferença. Inegável que a Hilux já construiu uma força de nome entre seu público, além do fato de ser um Toyota por si só já faz isso naturalmente. Tente convencer um dono de Hilux a trocar de modelo e falhe miseravelmente. 

Mas o mercado é cruel. Mesmo sendo uma líder, a Toyota Hilux tinha questões a serem resolvidas, mas tomando cuidado para não estragar o que já estava bom. Em novembro de 2020, a Toyota apresentou a Hilux em sua segunda reestilização desta geração com mudanças visuais e, o mais importante, um motor turbodiesel mais potente e mais segurança, principalmente na versão SRX, topo de linha. 

Visual? É secundário

A Hilux mudou mais dessa vez que na reestilização anterior, de fato. Mas ainda é reconhecível, já que o design base da picape se manteve o mesmo. A Toyota trocou os faróis, que mantiveram o formato mas receberam nova organização internas e luzes de LEDs, inclusive diurnas, faróis de neblina em LEDs e um novo parachoque, que serve como moldura a uma grande e destacada grade dianteira. Também trocam o design das rodas de 18" e as lanternas traseiras, com nova assinatura em LEDs. 

A maior mudança vem para passageiros e, principalmente, o motorista. A Toyota recalibrou a suspensão da Hilux e, na versão SRX, tem um acerto menos voltado ao uso com carga e mais confortável e estável, já que é uma versão topo de linha. Além do aprimoramento para o conforto, a preocupação era achar uma boa relação com a estabilidade, atendendo um pedido antigo principalmente de quem utiliza a picape nas estradas em altas velocidades. 

Grade dianteira da Toyota Hilux SRX 2021
Farol fullLED da Toyota Hilux SRX 2021

Da lanterna ao topo

Diante das principais concorrentes, a Toyota Hilux era uma das menos potentes. A não ser a Ranger 2.2 e seus 160 cv e 39,3 kgfm de torque, a picape oriental e seu 2.8 eram os menos potentes do mercado, com 177 cv e 45,9 kgfm, sendo que suas principais concorrentes variam entre 190 cv e 200 cv, considerando as 4-cilindros. E no "super-trunfo rural", isso não era bom e levava alguns clientes para a S10, por exemplo. 

O que a Toyota fez? Pegou o 2.8, mudou os materiais internos para menor atrito, trocou o turbo e o mapeamento da injeção de combustível e chegou aos 204 cv e 50,9 kgfm de torque. Com isso, a Hilux é a mais potente picape turbodiesel com motor 4-cilindros e quase empata em torque com a S10 e seus 51 kgfm. A transmissão também foi recalibrada, mas manteve a configuração de câmbio automático de 6 marchas com tração 4x4 com reduzida e bloqueio de diferencial traseiro. 

Motor 2.8 turbodiesel da Toyota Hilux SRX 2021

E o que tudo isso significa? Basicamente que, se por algum motivo, a Toyota não quisesse mudar o visual da Hilux e aplicar apenas a parte técnica, não teria problema nenhum. Principalmente pelo maior torque, a Hilux responde muito melhor a qualquer solicitação do motorista no acelerador. No dia a dia, por exemplo, é perceptível como ela trabalha com mais folga e fôlego, trocando de marcha mais cedo e com maior suavidade. A menos de 2.000 rpm ela já faz a troca de marcha e, dependendo da situação, prefere aproveitar a força extra a fazer uma redução. 

Na cidade, que já é um ambiente complicador pelas dimensões, deixou a Hilux mais suave e dócil de se levar no trânsito. O 2.8 trabalha mais quieto e vibra menos, ajudado também por novos coxins de carroceria. A suspensão da SRX tem amortecedores mais grossos e, apesar de ainda ter a direção hidráulica, ela ficou mais responsiva e leve para manobras com novas solenóides. Longe de ser um carro comum em estabilidade, mas se tornou melhor para viagens, por exemplo, com melhor dirigibilidade e conforto. 

Movimento da Toyota Hilux SRX 2021

Ainda há as limitações de uma picape, lógico. Por exemplo, a traseira com os feixes de molas e eixo rígido cria a velha sensação de "pula-pula" em pisos irregulares e incomoda principalmente os ocupantes do banco traseiro - que ao menos tem uma saída de ar-condicionado, apesar do encosto reto, como em toda picape. Ao menos o espaço é bom, apesar de pior que de um SUV como seu irmão, o SW4. 

Em números de desempenho, a Hilux 2.8 melhorou todos seus números e se posicionou ao lado da S10 2.8, apesar de retomadas melhores pelo câmbio mais rápido nas respostas - um dos pontos que prejudicam a Chevrolet é o câmbio mais lento nas trocas e nas respostas. Veja os números comparados.

  Hilux 2.8 204 cv Hilux 2.8 177 cv S10 2.8 200 cv
0 a 60 km/h 4,6 s 5,2 s 4,4 s
0 a 80 km/h 7,2 s 8,3 s 7,0 s
0 a 100 km/h 10,6 s 12,7 s 10,6 s
40 a 100 km/h em D 7,8 s 8,9 s 8,0 s
80 a 120 km/h em D 7,6 s 9,6 s 8,3 s
Consumo cidade 10,1 km/l 10,0 km/l 8,7 km/l
Consumo rodoviário 12,3 km/l 12,0 km/l 11,4 km/l

O consumo ficou praticamente intocado na cidade, mas o fato de brigar menos com a transmissão e precisar de menos aceleração ajudaram na melhora no rodoviário, e ainda se manteve mais econômica que a S10 2.8, testada já depois da atualização na reestilização. 

Toques de luxo e preço de "carrão"

As picapes médias tomam cada vez a posição de carro de luxo no campo e já falamos isso algumas vezes. A Hilux SRX adicionou os esperados piloto automático adaptativo e alerta de saída de faixa com assistência, além do alerta de colisão com frenagem automática, algo extremamente importante em um carro desse porte. Há também faróis fullLED e sistema de som assinado pela JBL (muito bom).

Interior da Toyota Hilux SRX 2021
Painel de instrumentos da Toyota Hilux SRX 2021

O sistema multimídia não é o mais moderno do mercado, com tela de 8" e espelhamento de smartphones via Apple CarPlay e Android Auto (com fios), mas melhorou para a Hilux anterior, terrivelmente lenta e ruim de usar. Melhorou muito, ficou mais rápida e com botões físicos, ajudou muito no uso. Parece besteira, mas com preço de R$ 292.290, detalhes são importantes...

Outros detalhes aparecem, como uma nova grafia do painel e o computador de bordo colorido com novas funções, mas mantém um bom acabamento dentro do segmento. A Hilux se renovou e melhorou onde precisava e, apesar de ainda não ser perfeita, volta a se posicionar como uma das melhores entre as médias. Cobra alto por isso? Sim, mas quero ver explicar isso aos clientes fiéis...

Fotos: Mario Villaescusa (para o Motor1.com)

Toyota Hilux 2.8 TD

Motor dianteiro, longitudinal, quatro cilindros, 16 válvulas, 2.755 cm3, comando duplo, turbo e injeção direta, diesel
Potência e torque 204 cv @ 3.400 rpm; 50,9 kgfm @ 2.800 rpm
Transmissão câmbio automático de 6 marchas, tração traseira (4x2), 4x4 e 4x4 com reduzida e bloqueio do diferencial traseiro
Suspensão independente de braços sobrepostos na dianteira, eixo rígido com feixes de molas na traseira; rodas de 18" com pneus 265/60 R18
Peso 2.090 kg em ordem de marcha
Comprimento e entre-eixos 5.325 mm; 3.085 mm
Largura 1.855 mm
Altura 1.815 mm
Capacidades capacidade de carga: 1.000 kg; tanque: 80 litros
Ângulo de entrada 29º
Ângulo de saída 26º
Altura do solo 286 mm
Preço como testado R$ 292.290 (SRX)
Aceleração 0 a 60 km/h: 4,6 s; 0 a 80 km/h: 7,2 s; 0 a 100 km/h: 10,6 s
Retomada 40 a 100 km/h (em D): 7,8 s; 80 a 120 km/h (em D): 7,6 s
Frenagem discos ventilados na dianteira e tambores na traseira/ 100 km/h a 0: 44,7 m; 80 km/h a 0: 28,1 m; 60 km/h a 0: 15,8 m
Consumo de combustível cidade: 10,1 km/l; estrada: 12,3 km/l
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