Poucos cupês com duas portas resistem. O charme do capô longo, grandes portas sem o arco superior e caimento suave da traseira até o fim da tampa do porta-malas perderam espaço para a praticidade das 4 portas - até criaram os cupês com portas extras, mas sem todo o charme do clássico. E um dos clássicos cupês é o BMW Série 3.
Sim, este é um teste do Série 4. Desde 2013, a BMW separou os cupês (2 e 4 portas) do Série 3 em outro modelo, mas é a mesma arquitetura, mudando basicamente o nome. No caso do M440i, também temos a tradição de um motor 6-cilindros em linha guardado sob um grande capô e completando o charme.
Pra mim, um dos carros mais charmosos da história é o BMW E36 Coupé. E provavelmente por ser um sucessor, o BMW M440i ganhou meu coração assim que chegou, ainda mais no já clássico azul da BMW, o Azul Portimao, e interior preto com costuras que remetem aos modelos M. Traseira curta, portas grandes sem os arcos das janelas, capô longo...e a polêmica grade dianteira gigante. Mas sabe que ela não impactou tanto assim?
Sim, fui um dos que ofendeu muito (muito mesmo) o designer da BMW que desenhou essa grade. Mas até que pessoalmente comecei a aceitá-la, formando um conjunto interessante com os faróis mais finos e longos que os do Série 3. Fica até discreta nas cores escuras, como o azul, apesar de ainda não ter 100% de certeza sobre ela. Aceitável? Sim. Necessária? Não.
Em maio, fizemos o teste do BMW 320i, o sedã nacional com o motor 2.0 turbo de 184 cv. Surpreendeu pelo consumo, bom desempenho para a potência e pelo conforto ao rodar. Naquela ocasião, ficou muito clara que a sua plataforma, a CLAR, estava sobrando ali justamente por abrigar também as versões mais potentes do Série 3 e 4, como o próprio M440i.
O M440i é, ao lado do M340i, o passo antes do M3 (e M4, que não veio ao Brasil), um modelo completo feito pela Motorsport, bem mais modificado. Digamos que o M440i recebe alguns toques da divisão esportiva, mas não chega a ser um esportivo completo como o M4, que já tem mudanças na carroceria e em sua estrutura para ir bem mais além.
O M440i usa o motor B58, mais especificamente o B58B30O1, uma das variações desta família que começou a ser utilizada em 2015 pela BMW. É um motor modular, como acontece com o 1.5 (3 cilindros) e 2.0 (quatro cilindros) e ainda há o S58, que está no M3 e é sua versão mais nervosa. Moderno, tem turbo de duplo fluxo, injeção direta, variador de fase nos comandos e de abertura e chega aos 387 cv e 51 kgfm de torque.
A transmissão é composta pelo câmbio automático de 8 marchas e tração traseira, como manda a tradição. Fica cada vez mais difícil resistir aos convites do M440i, mesmo que você seja um pai de família que olha para seu sedã ou SUV parado na garagem justamente para caber as crianças e tudo o que precisa levar por causa delas? Já considerou férias?
Eu não tenho filhos, então parece que o M440i é um bom pretendente - se eu tivesse os R$ 604.950 cobrados por ele. Por dentro, o pacote M me oferece um volante de 3 raios assinado pela divisão, bancos esportivos e muita coisa do Série 3. Painel de instrumentos todo digital, sistema multimídia com Apple CarPlay sem fio, sistema de som assinado pela Harman Kardon. Na verdade, a arquitetura interna é a mesma do Série 3, variando apenas nas portas pelo maior tamanho obviamente. Eles tem inclusive o mesmo entre-eixos, com 2.851 mm, mas o M440i é mais longo, com 4.770 mm, ante os 4.709 mm do sedã.
Até cabe gente no banco traseiro, mas o acesso é complicado, então ignore-as. Coloque malas, mochila, ou nada ali. No porta-malas, 440 litros, o que já dá para viajar sozinho ou com mais uma pessoa com boa sobra - lembre-se, férias das crianças. E o M440i é bem utilizável no dia a dia.
Apesar da proposta esportiva, o BMW M440i é um bom daily car. Com o seletor de modos de condução, é tranquilo para dirigir em seus modos mais calmos, como Eco e Comfort. O câmbio troca as marchas sem trancos, o motor fica quieto, silencioso e isolado, e até mesmo a suspensão é aceitável, mas vale ainda lembrar que é um carro baixo com rodas de 19" e pneus de perfil baixo.
O consumo surpreendeu para um motor de quase 400 cv. Trabalhando em rotações baixas, ficou com média de 10,6 km/litro na cidade e 13,7 km/litro na estrada - como referência, o 320i marcou 11,7 km/litro na cidade e 17,6 km/litro na estrada com bem menos potência. Dá até para esquecer que tem um "motorzão" ali guardado, pronto para te empurrar contra o banco.
Deixou as crianças em casa? Achou uma estrada boa? Então, amigão, pé embaixo. Como o 6-cilindros berra bonito ainda, o câmbio faz as trocas mais rápidas e perceptíveis, a direção fica mais direta. Apesar de ser um carro com tração traseira, o M440i surpreende pelo equilíbrio e como é difícil achar seu limite, ou até mesmo fazer ele escorregar. Mesmo provocado, ele mantém sua trajetória.
Rápido, cravou 5,1 segundos para ir de 0 a 100 km/h. As retomadas na faixa dos 3 segundos mostram como o câmbio responde rápido e leva o motor até o limite das 7.000 rpm com fôlego, mesmo sendo um motor turbo. O torque desde 1.800 rpm empurra o cupê e anima o motorista a seguir acelerando e acelerando. A dinâmica desta base CLAR é formidável, assim como as respostas da direção, freios e suspensão conversando com o motor e câmbio em um jogo de equipe digna da...BMW.
Mas é algo em extinção. A própria BMW não acredita que o M4 venderia bem por aqui e trouxe "apenas" o M3. SUVs, mais espaço...até onde o BMW M440i será um representante de uma das mais belas carrocerias já feitas no mundo? E não me venha com os SUVs cupês, por favor. Vamos respeitar uma história, um carro e uma trajetória.
Fotos: Mario Villaescusa (para o Motor1.com)
BMW M440i Coupé
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