Se hoje a Audi está dedicada a se tornar cada vez mais elétrica, em 2006 a história era bem diferente. Não feliz com os esportivos derivados de seus modelos comuns assinados pela divisão RS, a casa alemã queria algo mais intenso e exclusivo. Nasce o Audi R8, com o mesmo nome que a empresa já utilizava em seus carros de competição desde 1999 e trazendo muito dessa escola para as ruas. Logo se tornou um ícone.
E esse ícone está aqui. Esta é a reestilização da segunda geração que, ao que tudo caminha, será a última como conhecemos o R8 - se sobreviver, será como um elétrico ou híbrido em alguns anos. Pelo menos honra isso, com motor V10 aspirado instalado em posição traseira-central, apenas 2 lugares e muito do que vemos apenas em modelos de competição ou consideravelmente mais caros, como os da Lamborghini, que empresta a plataforma do Huracán ao R8.
Não trataremos isso como uma despedida do Audi R8. Quando isso era esperado, a Audi apresentou a reestilização e deu mais um tempo de vida ao seu esportivo. E como o Porsche 911 Turbo S, o Audi R8 não poderia ser testado apenas nas ruas, mas também no Circuito Panamericano, o campo de provas da Pirelli em Elias Fausto (SP), e vestido com os Pirelli PZero específicos para ele. Já que nasceu com o mesmo nome dos modelos de competição, vamos para o autódromo.
Não a toa que o esportivo é tratado com respeito dentro da Audi, mesmo com a marca tão focada em sua mudança para os elétricos. Mesmo longe de ser uma novidade, ainda passamos um tempo admirando suas linhas na carroceria baixa e pegando cada detalhe que vem das pistas, como as entradas de ar nas laterais, as maçanetas camufladas e, lógico, o vidro traseiro que guarda e exibe o V10 5.2 aspirado como uma obra de arte que é. Duvido a Audi fazer algo assim novamente.
São 610 cv e 57,1 kgfm de torque. Não, não é o esportivo mais potente principalmente na era dos turbo - dentro de casa, o Audi RS6 Avant tem o V8 biturbo com 600 cv e 81,6 kgfm de torque em uma carroceria de perua -, porém o desafio a achar um ronco mais característico e belo que desse 10 cilindros que mostra força até 8.700 rpm em suas costas. Como um bom Audi, a tração é integral quattro e o câmbio é o S-Tronic, automatizado de dupla embreagem, com 7 marchas.
Alguns dados da ficha técnica mostram que o R8 realmente veio das pistas. São apenas 1,24 m de altura, porém 1,94 m de largura. Se você tem algum problema de coluna ou joelho, não recomendo um Audi R8 pela dificuldade para entrar e sair, mas que é recompensada aos que insistirem. Bancos semi-concha, volante de base reta com botão de partida e seletor de modos de condução e muita fibra de carbono. Aos que procuram um pouco de conforto, há o sistema de som Bang&Olufsen que pode ser ignorado e um seletor de ronco para o escape que pode ser deixado no modo "aberto" o tempo todo.
Esta geração do Audi R8 foi apresentada em 2015. Pode parecer pouco, mas para um esportivo, 6 anos já é um bom tempo. Isso está longe de ser um problema para este esportivo ao menos na pista. Dentro do Panamericano, o R8 surpreendeu com a estabilidade e capacidade de fazer curvas sem desgarrar a dianteira. Equilibrado, permitiu até procurar mais seu limite e a segurança que ele passa é algo surpreendente. Olhe novamente a ficha técnica e achamos a explicação: suspensão de braços sobrepostos nas 4 rodas, algo que vemos em modelos de competição.
O R8 responde ao piloto com muito respeito. A direção é bem direta e entende onde e como você quer entrar e sair de uma curva, mesmo as mais fechadas do Panamericano, com a frente pregada no chão e nem sinal dos PZero desgarrarem. Não há carroceria dobrando e praticamente nenhuma transferência de peso. Sabendo dosar o acelerador e os 610 cv, ele sai com uma boa velocidade e passa confiança para procurar mais e mais. Ver o conta-giros bater quase 9.000 rpm e sentir as trocas com o motor, literalmente, como seu passageiro no "banco" traseiro, é algo que explica a Audi ter insistido um pouco mais no R8.
O sistema de freios é outro destaque do R8. É possível levá-lo até onde a coragem permitir antes de frear. O pedal responde rápido e com boa modulação de força, entendendo bem o que o piloto quer fazer naquele momento. Se você decidir frear e entrar na curva, o esportivo da Audi fará isso sem sustos e, caso algo aconteça, é fácil corrigir e voltar ao rumo.
O Audi R8 já foi o recordista em nossos testes. Com 0 a 100 km/h em 3,5 segundos, manteve a marca anterior, mas já faz um tempo em que perdeu seu lugar no topo, hoje do 911 Turbo S. Ainda assim é um tempo de respeito, principalmente quando o controle de largada lança o R8 de uma só vez e faz o V10 cantar sua sinfonia ao mundo. Lembra que comentei sobre o RS 6 Avant? Fez o mesmo em 3,7 segundos. Para chegar aos 200 km/h, O R8 leva 11,1 segundos.
Mesmo surpreendente na pista, o Audi R8 sim, sente o peso da idade. De uma era onde as tecnologias ainda estavam brotando mesmo nas categorias superiores, não tem piloto automático adaptativo ou uma bela tela para o sistema multimídia - tudo aparece no painel de instrumentos digital do motorista. Mesmo com modos de condução selecionáveis, o R8 não é o melhor para as ruas.
Quem for colocar seu carro de R$ 1.529.900 nas ruas, terá que ter cuidado com a frente baixa sem opção de levantar, uma suspensão que, mesmo no modo Comfort, ainda copia bastante o asfalto e um câmbio característico dos aspirados, com relações curtas. O consumo do V10 aspirado condiz com seu ronco, com 5,9 km/l na cidade e 7,6 km/l na estrada, obviamente com gasolina. É um problema para um dono de R8? Provavelmente não, mas alguns concorrentes já conseguem ser mais versáteis no dia a dia.
Isso não tira o encanto do Audi R8. Um "sobrevivente" puro e divertido, aspirado e com elementos de carro de corrida, que explora o limite do seu piloto antes que o piloto explore o do carro. Será uma pena quando a Audi o tirar de linha, provavelmente, em 2023. Uma nova reestilização não pode ser feita para seguir com o V10 e o estilo, Audi? Pensa com carinho...
Fotos: Mario Villaescusa (para o Motor1.com); agradecimento Pirelli e Circuito Panamericano
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Audi R8 V10
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