Misturar SUV com picape foi uma cartada genial da Fiat em 2016. Com a Toro, além de conquistar uma fatia do mercado que ela não possuía desde o Tempra em segmentos superiores, chamou a atenção de outros fabricantes com sua proposta. A "ameaça" mais próxima da Fiat Toro hoje é a Ford Maverick, que deve desembarcar por aqui só em 2022, mas a casa italiana já fez importantes mudanças em seu "xodó".
Esta é a Fiat Toro Volcano 2022, com o tão esperado 1.3 turbo. Além do novo motor da Stellantis, é uma versão que não existia com motorização flex e está posicionada no topo da gama com esta. Não tem o mesmo visual "a lá Ram" das Ranch e Ultra, mas já carrega todos os equipamentos disponíveis no catálogo, até mesmo a central multimídia com tela de 10,1" vertical que se inspirou na...Ram.
Estilo próprio quase intocado
Mesmo colocando a nova Fiat Toro nas ruas poucos dias após a apresentação, a versão Volcano passou bem discreta pela multidão. A maior parte das mudanças visuais estão na dianteira, mas mesmo assim não foi algo que realmente a diferenciou da anterior. Só os mais atentos reparam nos faróis um pouco mais finos, com iluminação completa em LEDs, e na nova luz diurna também em LEDs que agora também agrega os indicadores de direção.
A grande grade dianteira mantém 2 filetes cromados, que se interligam pelos faróis, e um superior mais grosso perto do capô indica que o logo da Fiat saiu dali. Ele cresceu, assumiu a nova identidade da marca, recebeu a companhia da pequena bandeira com as cores de Itália e está em destaque entre os 2 frisos cromados. Pelas fotos de divulgação, não tinha gostado, mas pessoalmente é um conjunto bonito. Os faróis de neblina também mudaram seu formato, ficaram menores e são em LEDs agora. No capô, vincos mais fortes e mais altos, reforçando uma sensação de, como os designers gostam de falar, robustez.
Galeria: Fiat Toro Volcano 1.3 turbo (T270) 2022 - Teste Motor1.com
No demais, são detalhes. As rodas de 17" tem um novo desenho e na traseira a mudança se limita a plaqueta "Turbo 270" identificando a nova motorização e, herdada da Strada, uma iluminação da caçamba em LEDs colocada quase na lateral do protetor - a capota marítima é item de série nessa versão e a Toro manteve sua famosa tampa em 2 partes com trava elétrica.
Toro no seu smartphone, smartwatch, Alexa...
Como um modelo que fica posicionado no topo da gama de uma marca, a Toro trouxe itens de marcas mais caras. A conectividade é um dos principais pontos desta mudança e se destaca até mais que o design nesta reestilização. E isso inclui até mesmo sua picape conversar com seu smartphone, smartwatch e com a assistente pessoal da Amazon, a Alexa.
A Fiat Toro 2022 tem seu próprio chip de telefone, fornecido pela TIM. Com ele, a picape se conecta com seu smartphone pelo aplicativo UConnect, além do smartwatch. Por ele, durante todo o período de garantia (3 anos) ele te dá informações como autonomia e diagnóstico de diversos parâmetros como motor, óleos e fluídos, freios, suspensão e de segurança - informações que podem ser solicitadas também pelo Alexa.
Por 1 ano, o aplicativo também tem a localização, comandos a distância (partida remota, travamento e destravamento de portas e acionamento de buzina e luzes). Há alertas de velocidade, horário e perímetro, onde o aplicativo alerta quando a Toro sai de determinados parâmetros pré-configurados pelo proprietário, além do alerta de Vallet, que avisa quando o carro roda mais que determinada distância. Depois de 1 ano, será pago, assim como o serviço de 4G a bordo com WiFi, também com uma mensalidade.
No teto, há 2 botões perto das luzes internas. Um aciona 2 tipos de ligação, que permitem socorro mecânico, serviço de Concierge, por exemplo, e o outro, vermelho e escrito SOS, aciona socorro médico em caso de acidentes, automaticamente em caso de acionamento de airbags e não resposta do condutor. Ele utiliza a localização GPS também em caso de furto, auxiliando a recuperação.
Tudo isso é bom na teoria, mas e na prática? Durante nossa convivência, procurei utilizar ao máximo o app UConnect e funciona conforme o esperado. Como depende do sinal de telefonia tanto do seu smartphone quanto do próprio carro, há algum delay que pode variar, mas em poucos momentos o sistema cancelou minha solicitação. Consegui, por exemplo, ligar a Toro estacionada sob o sol enquanto terminava de pagar as compras no supermercado, e refrigerar o interior. O sistema de localização trabalha com boa precisão, com diferença de poucos metros ou nem isso em alguns momentos.
Causando boas impressões
O interior foi um dos pontos onde a Stellantis dedicou muito tempo nessa nova Fiat Toro 2022. Interessante a estratégia de usar um painel de instrumentos totalmente digital com tela de 7" e configurável em todas as versões. Podemos escolher entre um conta-giros em destaque com velocímetro em destaque, um econômetro (que conversa com as luzes nas laterais), computador de bordo e até mesmo um monitor de força G com nível de potência e de pressão do turbo utilizada no momento.
De série, a Toro Volcano 2022 tem a central multimídia de 8,4" que tem funções como espelhamento sem fios (Apple CarPlay e Android Auto) e carregador de smartphones por indução e tudo o que comentamos acima de conectividade. Mas a unidade testada estava com o Pacote Tecnologia, que adiciona a tão falada central multimídia com tela de 10,1" na vertical e o sistema ADAS, com alerta de colisão e frenagem automática, alerta de saída de faixa e farol-alto automático - algo que vale a pena pelos R$ 3.000 cobrados.
E isso mudou a impressão que a Toro nos dá por dentro. Mudam alguns materiais, como a faixa em prata passando por todo o painel, o novo console central que (finalmente) tem mais espaço em 2 porta-copos e uma nova alavanca do freio de estacionamento, bancos mais confortáveis, o conjunto de botões emborrachados abaixo dos comandos do ar-condicionado de 2 zonas que acionam o modo Sport, o TC+, os sensores de estacionamento, o alerta de saída de faixa e o pisca-alerta...tudo é novo e dá um ar mais renovado que o exterior da picape.
E o mais esperado...
Mais do que a própria nova Toro, o lançamento mais esperado era o novo motor 1.3 turbo da Stellantis. Chamado comercialmente de Turbo 270, é o mais moderno produzido no Brasil (especificamente em Betim, MG), com sistema MultiAir na admissão e variador no escape, além de turbo, injeção direta e muita tecnologia para render bons 180/185 cv e 27,5 kgfm de torque.
O comprador da Toro tinha um "problema". Ou aceitava o 1.8 aspirado de até 139 cv e 19,3 kgfm de torque ou gastava mais e já pulava para o 2.0 turbodiesel de 170 cv e 35,7 kgfm de torque. A Fiat até tentou criar um meio-termo com o Tigershark 2.4 aspirado (174/186 cv, 23,5/24,9 kgfm), que mais atrapalhou com um consumo ainda maior que o 1.8 eTorq. O 1.3 turbo sim se encaixou perfeitamente. Antes de falar nele, veja os números abaixo:
Toro 1.8 AT6 | Toro 2.4 AT9 | Toro 2.0 TD AT9 | Toro 1.3T AT6 | |
0 a 60 km/h | 5,8 s | 4,9 s | 4,4 s | 4,3 s |
0 a 80 km/h | 9,4 s | 7,7 s | 7,2 s | 6,6 s |
0 a 100 km/h | 13,9 s | 11,1 s | 11,2 s | 9,6 s |
40 a 100 km/h | 10,7 s | 8,3 s | 8,6 s | 7,1 s |
80 a 120 km/h | 10,5 s | 8,1 s | 8,1 s | 6,9 s |
Consumo urbano | 6,5 km/l (E) | 4,9 km/l (E) | 9,5 km/l (D) | 7,2 km/l (E) |
Consumo estrada | 9,6 km/l (E) | 8,0 km/l (E) | 15,0 km/l (D) | 9,3 km/l (E) |
Nas provas de desempenho, ficou claro que o motor 1.3 turbo é mais rápido que qualquer um dos outros motores já usados na Toro em toda a sua vida. Quando colocado diante do 1.8 então, o novo 1.3 turbo leva a Toro aos 100 km/h em quase o mesmo tempo em que ele chega aos 80 km/h. Na hora da retomada, nem a transmissão de 9 marchas com o motor 2.4 ou o torque extra do 2.0 turbodiesel bateram o T270.
E isso é ainda mais claro no uso da nova Toro. Não é segredo pra ninguém que o 1.8 aspirado era pouco para o porte e peso da picape e nem a transmissão ajudava. Mais preocupada em manter um consumo aceitável, trabalhava sempre em baixas rotações, porém o eTorq é um motor que tem melhor desempenho em altas. Ou seja, ou você se contentava em uma picape com acelerações fracas ou com uma picape andando um pouco melhor, mas se tornando amigo do frentista.
Com o 1.3 turbo, basta encostar no acelerador para ela já arrancar com força. Em baixas rotações, boa parte dos 27,5 kgfm já aparecem e levam os mais de 1.700 kg de forma até surpreendente. Não é um esportivo, mas consegue deixar alguns modelos até menores para trás nas saídas de semáforo sem muito sufoco. Com isso, a transmissão automática de 6 marchas trabalha também com as trocas logo cedo, sem trancos ou indecisões, e ajudou nos 7,2 km/l na cidade (com etanol), uma boa vantagem para os 6,5 km/l do 1.8, com a vantagem de agora realmente andar.
Na estrada, a Toro 1.3 turbo traz uma boa característica que temos já na motorização 2.0 turbodiesel. A entrega de força em qualquer situação e a facilidade para manter e recuperar a velocidade de cruzeiro, diferente do 1.8 aspirado. Mesmo carregada, será capaz de fazer boa ultrapassagens - e a capacidade na caçamba foi de 650 kg para 670 kg com o novo motor, além de iluminação em LEDs em uma das laterais para iluminar acionado quando abre a tampa ou por dentro do carro.
Ainda há o botão Sport. Com ele, além de mudar a cor do painel de instrumentos para vermelho, as respostas de acelerador e transmissão mudam para uma programação mais esportiva e responsiva. Mas realmente faz efeito, diferente do Sport no 1.8 que apenas a deixava...normal.
Outra coisa que chamou a atenção foi o silêncio de trabalho da nova Toro. Mesmo em acelerações, o som do motor invade pouco o interior e, em velocidades de cruzeiro, não se sente vibrações ou excesso de ruídos. O consumo na estrada ficou em 9,3 km/l, o que é 0,3 km/l pior que o 1.8 mas, como já disse, sem a dificuldade para manter a velocidade ou retomar. A questão da Toro não é o motor, mas sim seu peso e sua aerodinâmica que, convenhamos, não ajudam muito na hora de buscar o melhor consumo tanto na cidade quanto na estrada.
O acerto de suspensão e direção, apesar de recalibrados para o novo motor, seguem pontos de destaque da Toro. Estável, aceita até algumas curvas mais rápidas sem assustar, e segue com bom conforto esperado, mas um pouco mais firme que um SUV principalmente na traseira pela proposta de uso da caçamba. A direção é leve e, apesar do aumento de 5% no raio de giro, segue pedindo um pouco mais de manobras em garagens apertadas.
Pode vir, Maverick
Apesar da mais próxima concorrente, a Ford Maverick, desembarcar por aqui provavelmente em 2022, a Fiat Toro se adiantou. Nesta versão Volcano, tem além de toda a conectividade e o motor 1.3 turbo, controles de tração e estabilidade com o TC+, herdado da Strada, 7 airbags, chave presencial com partida remota, faróis fullLED e muito mais. Seu preço? R$ 144.990, mas considere levar o pacote de tecnologias por R$ 3.000 extras, chegando aos R$ 147.990.
Mesmo se não tivesse mudado nada além do motor 1.3 turbo, ele sozinho já daria outro fôlego de mercado para a picape. A Fiat espera aumentar a participação da motorização flex na linha, o que realmente deve acontecer a julgar pela novidade. E mesmo com pelo menos 1 ano de antecedência, a casa italiana e a picape de Goiana (PE) já estão preparados para a futura picape da Ford.
Fotos: Mario Villaescusa (para o Motor1.com)
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Fiat Toro Volcano 1.3 turbo AT6
MOTOR | dianteiro, transversal, 4 cilindros, 16 válvulas, 1.332 cm3, comando simples com variador no escape e MultiAir na admissão, injeção direta, turbo, flex |
POTÊNCIA/TORQUE | 180/185 cv a 5.750 rpm; Torque: 27,5 kgfm a 1.750 rpm |
TRANSMISSÃO | automática com 6 marchas, tração dianteira |
SUSPENSÃO | McPherson na dianteira e multilink na traseira |
RODAS E PNEUS | liga leve aro 18" com pneus 225/60 R18 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e tambores traseira, com ABS e ESP |
PESO | 1.707 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.945 mm, largura 1.845 mm, altura 1.739 mm, entre-eixos 2.990 mm; |
CAPACIDADES | tanque 55 litros; capacidade de carga: 670 kg; volume da caçamba 937 litros |
PREÇO | R$ 144.990 (R$ 147.990 como testado) |
MEDIÇÕES MOTOR1 BR (etanol) | ||
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Fiat Toro 1.3T | ||
Aceleração | ||
0 a 60 km/h | 4,3 s | |
0 a 80 km/h | 6,6 s | |
0 a 100 km/h | 9,6 s | |
Retomada | ||
40 a 100 km/h em S | 7,1 s | |
80 a 120 km/h em S | 6,9 s | |
Frenagem | ||
100 km/h a 0 | 40,2 m | |
80 km/h a 0 | 25,2 m | |
60 km/h a 0 | 14,2 m | |
Consumo | ||
Ciclo cidade | 7,2 km/l | |
Ciclo estrada | 9,3 km/l |