Já dirigimos: Renault Captur 2021 renasce com o motor 1.3 turbo
Renovado, o crossover conserta os defeitos do anterior e se torna um verdadeiro competidor do segmento
Para mim, o "glamuroso" Renault Captur estava longe de ser o produto que deveria na linha da marca na Rússia. Embora não seja ruim de vendas, a imagem dele não é das melhores. É compreensível. Afinal, o que um viajante vindo da Europa vai encontrar ao chegar em países como Rússia e Brasil e decidir pegar um Captur (mesmo que por aluguel)? Peças do antigo Logan por todo o interior. Onde quer que olhe, desde a ergonomia irracional ao motor lento e os solavancos desagradáveis de um volante pesado, o legado da confiável, mas antiga plataforma B0 passou por uma economia cruel. E esta é a principal diferença do Captur europeu para o nosso.
Com o passar do tempo, o público foi tranquilizado com algumas atualizações, como faróis de LED e a adição do Yandex.Auto (sistema de comandos por voz para multimídias). Só que seu principal rival na Rússia, o Hyundai Creta, foi atualizado e o segmento viu a chegada de novos modelos como Skoda Karoq e Kia Seltos. Isso começou a envelhecer o Captur. A Renault, porém, parecia preparada para isso, e rapidamente mexeu no carro para adotar novidades do elegante Arkana.
Foi um movimento absolutamente lógico: o Captur com nova mecânica o deixou completamente diferente, sem deixar dúvidas sobre escolher o motor aspirado ou o turbo. Outra escolha foi manter um sistema de tração integral que não estrague a reputação do crossover. Isso é importante para o mercado russo, onde metade dos clientes do Captur escolhem as versões com tração nas quatro rodas.
Mas ainda estamos longe de colocá-lo na terra. Primeiro, temos que atravessar a infernal estrada circular de Moscou e os subúrbios da cidade. Ninguém presta atenção no Captur azul com teto prateado que estou guiando. As novas cores e as pequenas alterações no visual, como as novas rodas de 17" e a grade atualizada, não são o suficiente para que o público inexperiente diga que é um carro renovado.
Enquanto estava no trânsito, pude notar que o Captur está bem mais confortável ao dirigir com a adição do ajuste de profundidade na coluna de direção, permitindo encontrar a posição ideal. É como se uma anfitriã atenciosa entrasse no apartamento de um solteiro e colocasse as pequenas coisas nos lugares certos.
Outro ponto arrumado é a ergonomia. Agora cabe um copo de café no porta-copos, o botão do aquecimento dos bancos não fica escondido debaixo do seu pé e os controles da tração 4x4 e do piloto automático não ficam mais embaixo do freio de estacionamento. Mudar tudo para o lugar correto deixou o interior do Captur mais harmonioso. Quero até chamar os bancos de novos, embora não sejam - o ajuste de inclinação trocou de lado, mas a estrutura ainda é a mesma.
O Captur russo nunca recebeu airbags laterais, mas possui um sistema de monitoramento de pontos cegos e câmera 360°. Só que elas são configuradas da mesma maneira estranha do Arkana: a imagem geral ao redor do carro não é exibida no monitor, então você precisa alternar manualmente entre cada uma das imagens.
A multimídia Easy Link com tela de 8" está preparada para trabalhar com Apple CarPlay e Android Auto. Ao contrário do que vemos no Arkana, o sistema funciona bem melhor e não apresentou falhas. Continua com o controle de volume em um botão físico e agora tem também uma tecla "Home".
A mecânica é a mesma usada pelo Arkana e pelo Duster: motor 1.3 turbo a gasolina de 150 cv, feito em parceria com a Mercedes-Benz, e com um câmbio automático CVT X-Tronic. É uma delícia de dirigir, embora no papel não pareça, ainda mais comparado com o velho 2.0 aspirado e a antiquada transmissão automática de 4 marchas de seu antecessor. Ao soltar o freio, o carro começa a andar sem solavancos e basta pisar no acelerador para ter uma resposta rápida. Alguns colegas durante o evento de test-drive acharam o pedal muito sensível, mas acho que é só questão de hábito.
Em engarrafamentos, é difícil superar o conforto da transmissão CVT. Senti bem isso ao pegar a velha estrada de Smolensk, por onde Napeolão seguiu para tentar conquistar a Rússia e fugiu de volta para a França pela mesma via. A rodovia que venceu um exército pelo frio e pela fome, agora tortura os motoristas com duas faixas bem apertadas, milhões de semáforos e o limite de 50 km/h.
O ritmo lento é bem desagradável, mas o motor turbo continua forte. Tem torque o suficiente, com 25,5 kgfm (contra os 19,8 kgfm que o 2.0 entregava na Rússia), e a transmissão simula 7 marchas com muito cuidado, entregando uma aceleração energética e elástica. Leva pouco menos de 10 segundos para chegar a 100 km/h. E somente ao fazermos uma ultrapassagem que ele faz aquele som monótono de ficar em rotação alta sem parar, típico dos CVTs. Agora é muito bom andar de Captur!
De um modo geral, a questão que continua é sobre a durabilidade verdadeira deste motor mais moderno. A Renault diz que o projeto dele foi elaborado para não criar preocupações futuras e que não tem recebido qualquer reclamação dos clientes. Isso só será provado com o tempo, quando os donos do carro (ou, pelo menos, do Arkana com o mesmo motor) tiverem acumulado alguns milhares de quilômetros rodados.
Os bancos traseiros continuam um pouco apertados, já que a estrutura da cabine não mudou, mas ao menos recebeu duas entradas USB e aquecimento para os assentos.
E quanto a quem quiser o Captur de entrada, por não conseguir pagar o que é cobrado pela versão turbo? As configurações mais baratas mantiveram o 1.6 aspirado de 114 cv, combinado ao câmbio manual de 5 marchas ou ao automático de 4 posições. Apesar disso, ele está um pouco mais rápido, chegando a 100 km/h em 12 segundos, por conta de todas as modificações no chassi e na plataforma - e melhorou muito a experiência ao dirigir.
Isso porque o Captur mudou todo o módulo dianteiro, do subchassi e cofre do motor ao sistema de direção e elementos da suspensão (com amortecedores e molas novos). Como aconteceu com o Arkana, os engenheiros não tentaram alterar seriamente o equilíbrio entre conforto e dirigibilidade. Mas tentaram consertar as falhas.
Na prática, isso significa que Captur parou de brigar com o motorista. A nova direção elétrica é configurada da mesma maneira que o Arkana, com sensações semelhantes. É muito mais fácil de estacionar o carro, já que é mais rápido de manobrar e tem o volante bem mais leve que antes.
Ao mesmo tempo, o crossover não tenta acompanhar o Arkana em esportividade. As barras estabilizadoras não mudaram, assim como o viés óbvio no conforto. O Captur é bem mais suave nas irregularidades, às vezes até demais, batendo o amortecedor em algumas situações específicas. Mas, no geral, os concorrentes podem ficar com inveja, pois o modelo está bem mais confiável e confortável.
Um efeito curioso ocorreu com a tentativa de melhorar o isolamento acústico. Testes internos da empresa mostraram que o Captur realmente ficou mais silencioso devido às novas mantas acústicas. Mas isso só impede o som do motor e do vento passando na lateral, pois a Renault esqueceu dos arcos das rodas. Agora é o ruído dos pneus que domina em velocidades mais altas, o que deixa o crossover barulhento.
Existe apenas um conselho sobre isso. Se você quer saber se é silencioso o suficiente, não acredite no que é dito na concessionária e faça um test-drive. Ou peça pelo sistema de som Bose com seis alto-falantes (opcional), que irá disfarçar o barulho com música.
A robustez do carro foi mantida em um nível alto, sem dúvida alguma. Obviamente, estamos falando principalmente das versões de tração integral (embora o Captur 4x2 tenha um vão livre de 205 mm, além de proteção no assoalho), que usa uma transmissão com três modos de condução: 4x2, 4x4 auto e 4x4 lock.
Talvez, entre os crossovers com tração 4x4 deste segmento, o modelo da Renault seja o mais robusto e habilidoso. O Captur 4x4 consegue liderar facilmente com obstáculos que não implicam em um risco real de dano à carroceria. Em outras palavras, ele vai entrar e sair da natureza sem qualquer irritação.
Claro, isso não quer dizer que é para fazer trilhas com ele, ainda mais sem os pneus adequados. A unidade de testes usava pneus Continental CrossContact LX2, ao invés do Pirelli Scorpion Verde do modelo anterior. Na lama, ele logo entope os sulcos e nem a competente imitação de bloqueio de eixo ajuda a superar este obstáculo.
Outra ressalva é que o Captur com tração integral vem somente com o motor turbo e câmbio CVT. Ainda não sabemos se a mecânica está preparada para aguentar tanta lama quanto temos em algumas regiões da Rússia. Viajamos por campos lamacentos por mais ou menos uma hora, cobrimos os carros da cabeça aos pés de terra do pântano e não percebemos nenhum problema de superaquecimento. Apesar disso, para ter certeza sobre a durabilidade, teremos que colocá-lo em provas mais exigentes.
Só que aí estamos entrando no terreno do Duster, que é feito para ser mais robusto, enquanto o Captur é mais civil. Seja lá como a gente deve chamar o carro (renovado, nova geração ou "fase dois" como a Renault diz), a verdade é que o crossover superou as principais deficiências de seu antecessor. Agora sim é um produto equilibrado, em que o visual sofisticado não vai contra o seu recheio. A expectativa que fica para o modelo brasileiro, previsto para 2021, é bastante positiva.
Galeria: Renault Captur 2021 (Rússia) - Primeiras impressões
Ficha Técnica - Renault Captur TCe 150 4x4 X-Tronic CVT
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