Toda fabricante teve aquele modelo que mudou sua história e serviu de base para outros produtos em seguida. No caso da Peugeot, este carro é a atual geração do 3008, que trouxe um novo padrão de design e qualidade para a marca. Ele faturou nada menos que o prêmio de Carro do Ano na Europa em 2017, além de diversas outras premiações de publicações europeias. Um belo cartão de visitas para quem substituía um estranho crossover com toques de minivan.
Quando chegou ao Brasil, em 2017, o Peugeot 3008 logo impressionou por seu design, condução e lista de equipamentos. Era o que a marca precisava para elevar sua moral após algumas decisões discutíveis e o encolhimento de participação de mercado, com consequente redução da rede. Custava R$ 135.990 na época do lançamento, mas, como tudo no Brasil, ficou mais caro e hoje não sai por menos de R$ 150.990 na mesma versão Griffe. Assim, precisava de uma nova opção de entrada mais acessível.
É aí que entra o 3008 Allure, a nova versão do 3008 que chega por R$ 142.990 - isso já com um primeiro aumento, pois custava R$ 139.990 no lançamento. A Peugeot retirou alguns itens como carregamento de celular por indução, sistemas semi-autônomos de auxílio ao condutor, faróis full-LED e teto-solar panorâmico (agora um opcional de R$ 5 mil), ainda tentando deixar uma lista de equipamentos que fizesse sentido para um carro deste patamar. Vale a pena?
Com a estreia do Honda HR-V Touring a R$ 139.900 e do VW T-Cross Highline chegando a quase R$ 130 mil com todos os opcionais, a versão Allure do 3008 soa interessante. Afinal, trata-se de um SUV médio e bem equipado com valor pouco acima de um SUV compacto completão
Claro que sempre que lançam uma versão mais barata, ela perde equipamentos para equilibrar a conta. O 3008 Allure não fugiu disso, mas mas ainda mantém um pacote recheado: tem painel de instrumentos digital personalizável, multimídia com Apple CarPlay e Android Auto, bancos em couro, partida por botão, freio de estacionamento elétrico, ar-condicionado digital de duas zonas e rodas de aro 19", entre outros itens. Só há dois opcionais: teto solar panorâmico e pacote Black Diamond, que deixa o carro com pintura em dois tons (teto preto). Ou seja, nada que realmente faça falta.
Por fora, o 3008 ainda é chamativo. Recebeu algumas mudanças na versão Allure, como o para-choque redesenhado para compor com os faróis mais simples, com lâmpadas halogenas. Mas no interior é que está seu grande atrativo, com linhas futuristas e layoute minimalista. O volante é bem pequeno, com bases achatadas e botões para diversas funções. A posição de dirigir é baixa para um SUV, colocando o volante abaixo do painel de instrumentos, como no 208, dentro do conceito que a Peugeot chama de i-Cockpit.
Os traços da cabine são harmoniosos, fazendo com que tanto o quadro de instrumentos digital quanto a central multimídia se integrem bem ao painel. Os poucos botões do console têm formato de tecla de piano, com acabamento acetinado, mesma cor usada nos contornos de algumas saídas de ar. Até a alavanca do câmbio impressiona, inclinada e com funcionamento eletrônico, lembrando um joystick.
O motor 1.6 THP (turbo e injeção direta) da PSA é daqueles projetos que deram certo, então a Peugeot o coloca em tudo que for possível - está desde o 208 até o 5008. No 3008 ele permite uma aceleração de 0 a 100 km/h em 9,7 segundos, além de boa força em quase todas as situações. E ainda tem a vantagem de ter um nível de rendimento energético elogiável para o segmento: 9,8 km/litro na cidade e 15,1 km/litro na estrada, com gasolina - a versão flex deste motor só existe no 208 e no 2008.
Mas o melhor do 3008 não é o desempenho em si, mas sim a forma como ele se comporta. O volante compacto comanda uma direção rápida e responsiva, enquanto a suspensão firme permite tomadas de curva mais agressivas e os freios são fortes e com pedal de tato firme. Tudo isso deixa o modelo basta agradável de conduzir, principalmente em estradas bem pavimentadas.
Acabamos de dizer que o motor é bom, então como ele pode ser um contra? Sim, ele é bom, mas já não é a última palavra em tecnologia e rendimento. Tanto é que a maioria dos seus rivais no segmento são mais rápidos por usarem conjuntos mais modernos. A Peugeot sabe que precisa atualizar o propulsor, tanto é que ele virou o 1.6 PureTech na Europa, passando dos 200 cv – o novo 208 GTi terá 225 cv a seu dispor. O Grupo PSA poderia até tentar manter o 1.6 THP atual em linha por mais tempo, mas as metas de eficiência energética do Rota 2030 obrigarão a fabricante a atualizar seus motores – algo que pode acontecer na reestilização do 3008.
O mesmo acontece com a transmissão. A versão do 1.6 THP que temos no Brasil trabalha com a caixa automática de 6 marchas. Ela tem passagens suaves, mas não é das mais rápidas e às vezes segura marchas sem necessidade. Na Europa, também já foi substituída por um câmbio de 8 marchas, que melhora o rendimento do veículo.
Ser dinâmico tem seu lado ruim, principalmente no caso de um SUV médio familiar. A suspensão mais firme e as rodas de 19” com pneus 235/50 R19 fazem com que o 3008 tenha um rodar mais desconfortável que a média do segmento. Ele balança bastante em ruas acidentadas e transmite os sacolejos para dentro da cabine. Quem curte um carro mais esportivo pode até não ligar, mas não é o perfil de quem compra um SUV familiar, e então isso pode ser considerado ponto negativo.
Carros franceses ainda sofrem certo preconceito no Brasil, independentemente de sua qualidade, pela imagem criada em torno do pós-venda ruim e da mecânica problemática do passado. O Grupo PSA está tentando resolver isso, tanto que a Citroën surpreendeu ao aparecer entre as fabricantes com melhor pós-venda do país em uma pesquisa recente. Nos últimos tempos, os carros da PSA também tornaram-se bem mais confiáveis.
Porém, enquanto a imagem ainda está sendo trabalhada, o dono de um Peugeot terá que lidar com uma desvalorização maior - em especial no caso de carros mais caros como o 3008. Na versão Griffe, o SUV perdeu 15,8% de seu valor no mercado de usados pela Fipe desde o lançamento. Na prática, está sendo vendido abaixo disso, enquanto o VW Tiguan, por exemplo, consegue reter melhor seu valor. Algo que também deve ser levado em conta na hora da compra.
Fotos: autor
MOTOR | dianteiro, transversal, 4 cilindros, 16 válvulas, 1.598 cm3, turbo e injeção direta, duplo comando variável, gasolina |
POTÊNCIA/TORQUE | 165 cv a 6.000 rpm / 24,5 kgfm de 1.400 a 4.000 rpm |
TRANSMISSÃO | automática de 6 marchas; tração dianteira |
SUSPENSÃO | independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira |
RODAS E PNEUS | alumínio aro 19" com pneus 235/50 R19 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira com ABS e EBD |
PESO | 1.567 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.447 mm, largura 1.906 mm, altura 1.625 mm, entre-eixos 2.675 mm |
CAPACIDADES | tanque 53 litros; porta-malas 520 litros |
PREÇO | R$ 142.990 |
MEDIÇÕES MOTOR1 | ||
---|---|---|
Peugeot 3008 1.6T | ||
Aceleração | ||
0 a 60 km/h | 4,3 s | |
0 a 80 km/h | 6,6 s | |
0 a 100 km/h | 9,7 s | |
Retomada | ||
40 a 100 km/h em S | 7,1 s | |
80 a 120 km/h em S | 6,8 s | |
Frenagem | ||
100 km/h a 0 | 37,6 m | |
80 km/h a 0 | 23,6 m | |
60 km/h a 0 | 13,3 m | |
Consumo | ||
Ciclo cidade | 9,8 km/l | |
Ciclo estrada | 15,1 km/l |
RECOMENDADO PARA VOCÊ
Nova geração do Peugeot 3008 tem desenho registrado no Brasil
VW revela novo Tiguan 2025 nos EUA e adianta SUV que pode vir ao Brasil
Peugeot 3008 2024 faz estreia oficial e dá o tom do próximo Compass
Quer apostar? Híbridos vão depreciar mais que elétricos daqui a 10 anos
Novo Peugeot 3008 2024 tem primeiras imagens reveladas; confira visual
Lista: os carros manuais que restaram em 2024 que não são subcompactos
"Compass" da Peugeot, novo 3008 2024 é flagrado com carroceria definitiva