Esta não foi a primeira vez que passei as férias de virada de ano com a VW Golf Variant. Desde a primeira versão que veio ao Brasil, com câmbio DSG e suspensão traseira multilink, sou fã da perua alemã (fabricada no México). Desta vez fiquei com a versão que pode ser a última em nosso mercado. Reestilizada no ano passado aos moldes da versão hatch, ela trouxe sutis diferenças visuais e uma nova central multimídia. O problema é que o segmento de peruas não anda bem das pernas por aqui (aliás, em várias partes do mundo) e a iminente estreia do T-Cross (primeiro SUV compacto da VW) tende a ser a pá de cal na Variant. Em 2018, a perua do Golf emplacou apenas 503 unidades ao longo do ano. E em 2019 deve vender ainda menos.
Apesar de compactuar com o movimento #salvemasperuas, preciso fazer um mea culpa: nunca tive uma perua em minha garagem. Quando queria ter uma Palio Weekend, no início dos anos 2000, eu não tinha dinheiro. Quando tive grana para uma, ela já estava velha. E agora acontece algo parecido com a Variant: apesar de suas inúmeras qualidades, esta foi a primeira vez que percebi que ela está envelhecendo (e continuo sem "bala" para uma 0 km). Na Europa, a VW prepara a estreia do novo Golf VIII para o segundo semestre e, de acordo com conversas de bastidores, não está prevista uma Variant desta nova geração. Mas vamos voltar à Variant atual.
Em relação à primeira versão que veio ao Brasil, ela mais perdeu que ganhou. Foram embora a transmissão DSG de dupla embreagem e 7 marchas (trocada por uma Tiptronic automática convencional de 6 posições) e a suspensão traseira multilink (trocada por um simples eixo de torção), além do sistema de modos de condução. Ganhou o motor 1.4 TSI em versão flex, de 150 cv (antes era só gasolina, de 140 cv) e, no ano passado, trocou os faróis de xenônio da versão completa por um conjunto Full LED, e recebeu a nova multimídia DiscoverMedia com tela touch 8", com conexões Apple CarPlay e Android Auto.
A versão Highline como a avaliada sai por R$ 132.240 - R$ 113.490 do preço básico e mais R$ 18.750 de opcionais, com dois pacotes que incluem o teto-solar panorâmico e o piloto automático adaptativo com frenagem de emergência, entre outros itens. É grana suficiente para levar a versão de entrada do Tiguan, maior, mais moderno e mais espaçoso, embora menos equipado.
Entre perdas e ganhos ao longo tempo, a Golf Variant ainda é um carro acima da média. Muito do que me faz gostar dela está ligado ao prazer de dirigir - suspensão, direção, freios e motor, para ser mais exato. E com espaço e segurança de sobra para levar minha família. O porta-malas de 605 litros foi perfeito para acomodar a bagagem de quatro adultos e um bebê durante a viagem de virada de ano. E depois para levar as tralhas do molequinho para a praia, incluindo velocípede e um carrinho de brinquedos de areia - quem tem filho sabe...
Por falar em crianças, o sistema Isofix de prender cadeirinhas infantis é bem prático. Os ganchos estão posicionados na parte da frente do encosto (e não escondidos embaixo dele como na maioria dos carros), facilitando o encaixe da cadeirinha. Por conta de ficar exposto, porém, a VW colocou uma tampinha plástica sobre cada gancho, que precisa ser retirada (e guardada) quando o sistema tiver em uso. Deixei no porta-luvas.
O espaço na cabine é o mesmo do Golf hatch, o que significa boas medidas em largura e altura, mas nem tanto para as pernas dos ocupantes do banco traseiro (são 2,635 mm de entreeixos, menos que no Virtus). E no meio ainda há um elevado túnel central. Mesmo assim, viajamos com relativo conforto para o interior paulista em cinco pessoas (quatro adultos e o bebê), tendo como destaque a boa potência do ar-condicionado, que refrigerou bem o habitáculo mesmo em dia de forte calor (com ajuda das saídas para o banco traseiro). Já na viagem ao litoral, em apenas três ocupantes, minha esposa foi atrás ao lado do baby e sobrou espaço, embora o porta-mas estivesse lotado.
Rodei um total de 1.200 km com um tanque de gasolina e 1 e 1/2 de etanol (total de 125 litros), o que rendeu uma média de 9,6 km/l no total, alternando entre cidade e estrada (quase 100% do tempo com o ar ligado). Com gasolina, o consumo oscilou entre 11 e 12 km/l, enquanto com etanol variou de 7 a 8 km/l, pelo computador de bordo. O sistema multimídia, aliás, tem um modo bem legal para análise do consumo, que mostra diversas médias - desde a partida, desde zerado o hodômetro e desde o abastecimento, por exemplo. De resto, usei bastante o Apple Carplay, que se mostrou muito bom. A central da VW é bem intuitiva e tem respostas rápidas, certamente uma das melhores multimídias do mercado.
O motor 1.4 TSI ainda rende elogios, também. Embora já existam propulsores turbo da mesma litragem com entrega de força mais linear, os 150 cv e principalmente os 25,5 kgfm de torque entregues de 1.500 a 4.000 rpm fazem com que a perua de 1.327 kg tenha respostas ágeis na maioria das situações, mesmo quando carregada. Para ultrapassagens, bastava fincar o pé no acelerador que a Variant arrancava com decisão. Só não adianta esticar muito as marchas, pois esse motor "acaba cedo": acima de 4.500 rpm, rotação da potência máxima, ele não empurra mais. O câmbio, por sua vez, não tem a rapidez do antigo DSG, mas não chega a desapontar, com trocas quase sempre suaves (embora nem sempre na hora que você deseja). Bom é que para acionar o modo esportivo basta dar um toque na alavanca para trás, sendo bem rápido de selecionar durante uma manobra, digamos, mais animada.
A direção tem respostas rápidas sem ser nervosa, e oferece comunicação e leveza na medida para estrada e cidade, nesta ordem. Já a suspensão não tem mais o conforto de antes, mas ainda segura bem a carroceria nas curvas, a ponto de você esquecer que está na Variant - tem quase o mesmo comportamento do hatch. A calibragem parece um pouco mais macia que a do Golf, por conta da melhor distribuição de peso, mas a unidade avaliada estava barulhenta em pisos ruins. Ponto fraco apareceu na viagem ao litoral, onde as inúmeras lombadas, valetas e calçamentos de pedra exigiram cuidado para não atingir o carro por baixo, com sua altura livre do solo de apenas 140 mm. Nessa hora um SUV viria a calhar.
À nossa volta, por sinal, o que não faltava eram SUVs. Considero que, embora a maioria deles não tenha grandes pretensões off-road, eles fazem sentido num país com a malha viária judiada como o Brasil. Não é só o fator "modinha" que explica o sucesso dos utilitários-esportivos e crossovers em nosso mercado. Certamente que o T-Cross terá uma carreira mais bem sucedida que a da Golf Variant por aqui, mas já arrisco dizer que será muito difícil superá-la como automóvel. Sentirei saudades.
Fotos: autor
MOTOR | dianteiro, transversal, 4 cilindros, 16 válvulas, 1.395 cm³, turbo e injeção direta, flex |
POTÊNCIA/TORQUE |
150 cv a 4.500 rpm / 25,5 kgfm de 1.500 a 4.000 rpm |
TRANSMISSÃO | câmbio automático de 6 marchas; tração dianteira |
SUSPENSÃO | independente McPherson dianteira e eixo de torção na traseira |
RODAS E PNEUS | liga leve de 17" com pneus 225/45 R17 (opcional) |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira com ABS e ESP |
PESO | 1.327 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.562 mm, largura 1.799 mm, altura 1.468 mm, entre-eixos 2.635 mm |
CAPACIDADES | tanque 50 litros; porta-malas 605 litros |
PREÇO | R$ 113.490 (R$ 132.240 como testado) |
MEDIÇÕES MOTOR1 BR | ||
---|---|---|
Golf Variant 1.4 TSI | ||
Aceleração | ||
0 a 60 km/h | 3,9 s | |
0 a 80 km/h | 5,9 s | |
0 a 100 km/h | 8,9 s | |
Retomada | ||
40 a 100 km/h em S | 7,3 s | |
80 a 120 km/h em S | 5,9 s | |
Frenagem | ||
100 km/h a 0 | 35,4 m | |
80 km/h a 0 | 22,3 m | |
60 km/h a 0 | 12,5 m | |
Consumo | ||
Médio | 9,6 km/l |
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