Primeiras impressões - Land Rover Discovery 2018 na Amazônia
Nova geração do Discovery encara test-drive único na Amazônia para provar que não é um SUV Nutella
Você já parou para pensar se realmente aproveita todo o potencial do seu carro? Não estou falando de desempenho apenas, mas de todos os recursos que ele oferece. Quando o assunto é SUV então, alguns disfarçam e fogem da conversa. Ih, deixa eu fugir daquele papo de SUV de shopping de novo… Mas a verdade é que quem sabe do que é capaz não foge do papo. Da trilha. Da lama. Dos igarapés. Foi isso que a Land Rover pensou para demonstrar do que o novo Discovery é capaz.
Marca tradicional no Reino Unido, sempre com modelos de sua gama à disposição da família real, tem no luxo uma de suas virtudes. Desempenho e capacidade fora de estrada também. Mas luxo combina com lama? Um carro sofisticado serve para os mais variados tipos de desafios que um país como o Brasil oferece? Para responder essa pergunta, a Land Rover escolheu um ponto no mapa conhecido mundialmente: a região Amazônica.
Confesso que topei o convite com algumas incertezas. O destino foi Alter do Chão, um distrito de Santarém, no estado do Pará, que atualmente é conhecida como o Caribe Brasileiro. Localizado na margem direita do Rio Tapajós, abriga a mais bonita praia de água doce do mundo segundo o jornal inglês The Guardian. O lugar é realmente fantástico, mas o que tem a ver com o Discovery?
Para começar, descobri que no início do século XX, Alter do Chão foi uma das rotas de transporte do látex extraído das seringueiras de Belterra e Fordlândia. Opa, Henry Ford, o pai da produção em série esteve naquelas bandas. Tinha história automotiva ali, mas contarei em outra matéria.
Volto ao novo Discovery, quinta-geração do utilitário esportivo de luxo. Seu visual agora tem linhas mais arredondas e pouco lembra o estilo quadradão que fez sucesso até o Discovery 4. Particularmente, gosto bastante daquele jeitão old-school. Um ressalto no teto, o desenho da tampa traseira com a placa deslocada para a esquerda, grade dianteira com traços em formato de colmeia e desenho das rodas. Basicamente isso a nova geração carregou do passado.
Também sai de cena a construção em chassi e longarina e entra e entra em linha uma nova plataforma monobloco construída com 85% de alumínio. Aços de alta resistência estão presentes em pontos estratégicos, como a coluna C e portas para dar mais rigidez e segurança. O resultado é um peso total até 480 kg menor do que anterior. O seu visual agora seguem os traços dos irmãos, que começou no Evoque e agora completa toda a família. Além de deixá-lo mais moderno, também traz um melhoria de 15% na aerodinâmica.
Nova plataforma e construção mais refinada também beneficia o uso do motor 3.0 V6 Turbocharged diesel de 258 cv de potência. De concepção moderna, utiliza injeção de baixo fluxo de oito bicos, o que resulta em melhor eficiência e baixo nível de ruído. O resultado acústico ficou tão bom que a marca aposta praticamente todas suas fichas nesta opção, associada ao câmbio automático de 8 marchas. Mesmo assim, se você preferir o motor a gasolina, basta encomendar.
O nosso teste começou em Santarém. Ambiente de cidade, às margens do rio Tapajós, onde os meios de transporte mais utilizados são os barcos e balsas. Nem por isso as ruas e estradas são ruins. Nelas o Discovery mostra as qualidades que estarão disponíveis encarar qualquer cidade do país. Baixo nível de ruído interno, excelente visibilidade, boa ergonomia e tranquilidade para passar por valetas e lombadas. Ah, claro, pelos buracos também.
Se anda bem? Com torque de 61,2 kgfm disponíveis a baixíssimas 1.750 rpm, o Discovery ganha velocidade muito rápido. Os dados da fabricante apontam o 0 a 100 km/h em 8,1 segundos, tempo que condiz com a sensação ao acelerar o bicho. As trocas de marcha são rápidas e praticamente te faz esquecer que existem os paddle-shifts no volante para qualquer intervenção manual. Mas para você saber, eles estão lá. O grande barato da Land Rover é oferecer a dualidade. Quando você quer um carro para encarar uma estrada e pisar com vontade no acelerador, o Discovery também é o cara. Com a suspensão baixa, você tem nas mãos um SUV de 2 toneladas rápido e que oferece muito controle.
Mas para tornar o test-drive de fato interessante, desviamos das vias principais e entramos em rotas secundárias. As cidades da região amazônica estão acostumadas a enfrentar chuva constante e em abundância. Isso cria igarapés (ruas que mais parecem trechos de rios), trechos com grandes erosões e, claro, muita lama. Acrescente uma floresta pulsante que coloca no caminho troncos de árvores e muita mata fechada.
Passei por igarapés com tranquilidade por conta da capacidade que o Discovery tem de encarar trechos com até 90 cm de água. Parte do segredo é o Terrain Response, sistema que otimiza configurações de motor, transmissão, diferencial central e chassis conforme as exigências do terreno. Também há a opção de ativar a reduzida, tudo feito por botões. O Wade Sensing, sistema que utiliza sensores localizados nos retrovisores extrernos, ajuda mostrando informações gráficas em tempo real sobre a profundidade da água na tela multimídia. Pronto, seleciono o modo lama (as opções são automático, grama, cascalho/neve, lama/buracos e areia) e avanço por mais uma rua cheia d'água enquanto observo uma pequena ponte de madeira improvisada para travessia dos moradores locais.
Seguimos por uma trilha rumo ao Mirante da Serra, ponto onde é possível ter uma visão panorâmica dos rios Tapajós e Amazonas. Choveu torrencialmente na noite anterior, o que deixou o caminho, digamos, mais divertido. Além de lama, erosões exigiam mais atenção. Digo erosões para ser mais político, mas para deixar mais claro, entenda como grandes buracos ou fendas capaz de tombar qualquer carro que caísse nelas. Atenção redobrada, aciono a reduzida, elevo a altura da suspensão e coloco o modo lama/buracos. É impossível não pensar a todo instante: quem é o maluco que coloca um carro deste preço nestas condições? Mesmo neste trecho insano, em nenhum momento o Discovery deu a impressão de que não iria passar. Pelo contrário, passava bem, mesmo com não sendo calçado com pneus do tipo Mud (lama pesada). De todo modo, reforço que é uma sensação louca e que dificilmente repetiria em uma viagem sozinho.
Água, erosões, lama. O que falta? Areia. Sim, faltava areia. Em um determinado trecho próximo a uma praia de água doce, foi a vez de selecionar este modo e acelerar no piso arenoso. As respostas do acelerador ficam mais lentas para o Discovery não patinar, bem como a tração trabalha de modo mais constante para manter o trajeto sob controle.
Depois disso, o roteiro seguiu por estradas da região. Conheci a BR-163, a famosa Transamazonica, mas que é incrivelmente bem cuidada e diferente daquela situação calamitosa que sempre vemos nos noticiários.
Noite já, após jantar típico com peixes do rio Tapajós e uma apresentação de Carimbó, o teste continuou de forma diferente. Com sete pessoas a bordo, sete adultos diga-se de passagem, retornamos a Santarém. Sentei na terceira fileira para avaliar o conforto enquanto encarávamos cerca de 40 quilômetros até Santarém. O espaço para as pernas é bom, mas como o assento é baixo, os joelhos ficam muito dobrados e pode cansar em viagens mais longas. Situação semelhante para quem vai na segunda fileira, mas caso não tenha passageiros atras, dá para deslizar a fileira inteira e ampliar o espaço.
No dia seguinte, para tirar qualquer dúvida em relação à capacidade off-road, fomos até o Land Rover Experience Amazônia, um parque de diversões 4x4. Praticamente tudo que é possível fazer com o Discovery foi feito. Ladeira com mais de 30 graus de inclinação, descida também acentuada para teste do HDC (hill decent control), crateras tipo "pegada de elefante", rampa de inclinação lateral e área para submersão de até 90 cm. Em uma das rampas, além da inclinação acentuada, havia uma erosão parcial que fazia uma das rodas do Discovery "cair" na fenda, obrigando a completar a subida em três rodas e com o SUV inclinado para a lateral.
Depois deste intensivo amazônico de Discovery, o veredito. O novo Discovery mantém a alma aventureira que o consagrou, agora com muito mais tecnologia para vencer ambientes mais hostis. Não é um veículo lameiro feito para aquelas trilhas insanas, mas este SUV encara muito mais do que os seus concorrentes diretos. SUV moderno, espaçoso, de sete lugares, muita conectividade (possui nove portas USB) e com capacidade real de um fora de estrada. A única dúvida que tive seria ele ou o Range Rover Sport. No irmão, mais caro, há ainda mais itens de tecnologia, como o piloto automático adaptativo, sistema de frenagem de emergência e ainda mais luxo no interior. Depois de desbravar a Amazônia, não vejo nenhum concorrente capaz de fazer o mesmo. O novo Discovery chegou. Preparem as malas.
Por Fabio Trindade (viagem feita a convite da Land Rover)
Galeria: Land Rover Discovery 2018 na Amazônia
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