Por ocasião do Salão de Xangai, tivemos a oportunidade de avaliar diversos veículos da Lifan, nossa anfitriã no evento. Rodamos no X80, um crossover médio que será vendido aqui no primeiro semestre de 2018, na M7, uma minivan média que a Lifan estuda vender aqui, e em mais alguns modelos elétricos sem a menor chance de desembarcar no Brasil. Mas guardamos a cereja do bolo para o momento certo. E a tal cereja é o X60, o modelo mais vendido da Lifan em nosso mercado, mas em sua versão automática.
Em Chongqing, pudemos andar no modelo com câmbio CVT, um dos mais esperados pelos clientes da empresa. E ele chegou às revendas na última semana pelo preço de R$ 77.900. Mas por que tão mais caro do que o X60 VIP atual, oferecido a R$ 67.490? E que o X60 comum, em oferta por R$ 59.990? Será que o CVT justifica uma diferença de R$ 10 mil? Vejamos a seguir.
O X60 é um crossover compacto que caiu no gosto dos brasileiros. Chegou a ser o importado mais vendido do país, vendendo 4.800 unidades em 2014, mas foi perdendo força e vende algo em torno de 100 unidades por mês atualmente. Ele tem 4,33 m de comprimento, 1,79 m de largura, 1,69 m de altura e 2,60 m de entre-eixos, o que lhe confere um de seus melhores atributos: o espaço interno. O porta-malas, de 425 litros até a altura do encosto traseiro, também é generoso.
Fabricado no Uruguai, o X60 usa um motor 1.8 de 4 cilindros, 128 cv a 6.000 rpm e 16,8 kgfm a 4.200 rpm. O câmbio CVT, continuamente variável, tem a possibilidade de simular 5 marchas. Sendo um CVT, ele poderia simular até 9, o que nos leva a perguntar por que a empresa resolveu imitar um câmbio de apenas 5 quando o padrão do mercado já está em 6. Não há borboletas atrás do volante.
Em vez de trazer o antigo logotipo da marca na dianteira, com três "L" sobrepostos, a Lifan chegou à conclusão de que não é suficientemente conhecida para se dar ao luxo de usar algo do tipo e partiu para a ofensiva. O emblema, agora, é o próprio nome da empresa, para ninguém ter dúvida de quem fabrica seus modelos. Ficou informativo, mas muito menos elegante. Assim como a reestilização, que talvez agrade a alguns, mas é menos harmoniosa do que o desenho original.
Assim como os demais modelos da Lifan, o X60 CVT só pode ser dirigido por dentro da fábrica, em Chongqing, por um intervalo muito curto de tempo (menos de 5 minutos). Não conseguimos nem sequer fazer fotos do veículo, contando apenas com as imagens de divulgação que você pode ver nesta reportagem. E que foram feitas aqui no Brasil, o que acaba sendo uma vantagem em relação às que poderíamos ter feito na China. Afinal, este é efetivamente o modelo que será vendido por aqui. Mas foi o suficiente para entender o modelo. E o que ele terá a oferecer.
Apesar de espaçoso, o X60 só traz regulagem de altura da coluna de direção, o que pode deixar o volante distante para motoristas mais altos, que precisem jogar o banco um pouco mais para trás. O painel, com um único mostrador, digital, é simples demais para um veículo com este preço. No centro, ele informa a velocidade e alguns dados do computador de bordo. Em torno do pequeno mostrador, um ponteiro mostra os giros do motor. Em torno, em um imenso vazio, várias luzes espia tentam disfarçar a solidão do marcador de temperatura do motor, à esquerda, e o do nível de combustível, à direita. O volante não facilita a visualização dos instrumentos.
O X60 tem coisas elogiáveis, como a suspensão traseira independente e os freios a disco nas 4 rodas. Por menos que as traseiras contribuam para a frenagem, usar isso de desculpa para continuar a colocar tambores no eixo traseiro é debochar da inteligência do consumidor. Se os freios a disco não tivessem vantagens, até carros de luxo manteriam as "panelas" por trás dos aros traseiros. Foi pena não termos conseguido avaliar o quanto estes elementos contribuem para a eficiência nas frenagens ou para a estabilidade do X60 no curto trajeto ao volante. Nem o ESP, item de segurança que pode ser desligado por uma tecla em frente à manopla de câmbio. Segundo os executivos da marca, ele também seria oferecido no Brasil. Torcemos para que seja verdade.
O que pudemos mensurar, por sorte, foi o que mais interessa com relação ao novo Lifan: o comportamento do câmbio CVT. Para azar do crossover, ele explica por que muita gente detesta esse tipo de transmissão, ainda que existam bons exemplos de seu uso no mercado. Pise forte no acelerador e ela manterá o giro do motor constante enquanto a velocidade sobe. Lentamente. O ronco monocórdico faz muita gente descrever o motor como o de uma enceradeira, mas o pior é a sensação de que o crossover não responde como deveria. Mesmo chamando o kick-down com o pé direito.
A não ser que os concessionários estejam querendo se aproveitar de alguma ansiedade pelo novo modelo, o preço da versão VIP, a mais equipada, será mesmo de R$ 77.900. Pode parecer pouco diante de muitos preços praticados pela concorrência, mas é salgado, ainda mais considerando que o X60 anterior era R$ 10 mil mais barato. E que hoje existe a opção de um Nissan Kicks por R$ 70.500, de um Renault Duster CVT por R$ 73.490 e mesmo de um Honda HR-V LX, manual, por R$ 79.900.
Para sermos inteiramente justos com o carro, um câmbio CVT acrescenta, em média R$ 5.000 ao preço de um veículo. Um teto solar, outros R$ 4 mil, o que poderia justificar a diferença de preço. Mas é preciso lembrar que a Lifan ainda precisa vencer resistências. Que tem uma rede pequena de distribuição e, mais do que tudo, é chinesa, o suficiente, hoje em dia, para desqualificar até produtos que merecem o benefício da dúvida. Resumindo, por mais que ela seja bem avaliada pelo Reclame Aqui, ela ainda precisa se popularizar. Ser conhecida por mais gente, que possa eventualmente falar bem dela aos amigos. E a pior maneira de se popularizar é cobrar o mesmo ou mais caro do que uma concorrência já bem estabelecida.
Fotos: divulgação
Viagem a convite da Lifan
MOTOR | dianteiro, transversal, 4 cilindros, 16 válvulas, 1.794 cm³, a gasolina |
POTÊNCIA/TORQUE | 128 cv a 6.000 rpm / 16,8 kgfm a 4.200 rpm |
TRANSMISSÃO | automática CVT; tração dianteira |
SUSPENSÃO | independente McPherson na dianteira e braços arrastados na traseira |
RODAS E PNEUS | liga-leve de aro 18" com pneus 225/55 R18 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e discos sólidos na traseira com ABS, EBD e ESP |
PESO | 1.286 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.325 mm, largura 1.790 mm, altura 1.690 mm, entre-eixos 2.600 mm |
CAPACIDADES | tanque 55 litros; porta-malas 425 litros |
PREÇO | R$ 77.900 (VIP) |
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