A Honda tinha planos ambiciosos para sua linha de importados no Brasil. O primeiro passo seria trazer a divisão de luxo Acura, como a Toyota tem a Lexus, e depois culminar no lançamento do superesportivo NSX de segunda geração. Mas daí veio a crise e... bem, hoje a Honda não consegue nem abrir sua segunda fábrica de automóveis no Brasil, que está prontinha em Itirapina (SP) à espera de dias melhores. Óbvio que com isso os planos da Acura e do NSX foram pro espaço.
Mas esse Civic com cara de poucos amigos e asa traseira de Subaru STI pode nos trazer certa esperança. Estamos falando do Type R de nova geração, que desta vez chegou sem demoras - a antiga geração só foi ganhar a versão Type R no fim de sua vida, dois anos atrás. A Honda do Brasil não confirma a importação, mas admite que ela está "em estudos". Seria o NSX possível, por assim dizer. Um carro para reforçar a imagem esportiva da marca e fazer presença no show room das concessionarias, sem 1/10 da complexidade do NSX.
Não por acaso, o novo Type R foi um dos destaques do Honda Meeting 2017, evento realizado no centro de pesquisa e desenvolvimento da marca, em Tochigi, no Japão. O Motor1.com Brasil foi uma das poucas mídias brasileiras presentes por lá e, após conhecer os planos da marca para até 2030, demos uma voltinha de apresentação (ou melhor, duas voltinhas) no Type R.
Como o visual exótico deixa prever, estamos diante do Civic mais invocado de todos os tempos. O motor é o mesmo 2.0 turbo de 4 cilindros do modelo anterior, mas agora com 320 cv (10 cv extras) e 40,7 kgfm de torque. O câmbio é exclusivamente manual de 6 marchas, sem opção de CVT (ufa!), e os amortecedores podem ter sua rigidez regulada. São três modos de condução: comfort, normal e +R. O primeiro veio de uma reclamação do modelo anterior, que era considerado radical demais para uso cotidiano. Cada um desses programas altera os amortecedores, o peso da direção, a resposta do acelerador e até a sensação que transmite a troca de marchas.
O conjunto de suspensão é o mesmo do Civic que conhecemos, com sistema McPherson na dianteira e multilink na traseira, mas com geometria específica na frente (para reduzir os movimentos bruscos no volante ao acelerar forte) e braços mais rígidos atrás. A carroceria também foi trabalhada, ficando 38% mais rígida na comparação com o Type R anterior.
Por dentro, a decoração extravagante abusa do vermelho no painel, volante, bancos e até no cinto de segurança. A posição de dirigir é bem baixa, como a gente já gosta no Civic normal, mas ficamos muito mais encaixados com os bancos tipo concha, que oferecem excelente acomodação. Os pedais são de alumínio e, ao contrario do que você possa pensar, a embreagem não tem nada de pesada. Já o câmbio é tipicamente Honda, com alavanca curtinha e engates rápidos e precisos. Pena o carro da avaliação (modelo 00000!) ser feito para o mercado japonês, que usa mão inglesa. Sim, foi preciso trocar as marchas com a mão esquerda...
O lado bom é que eu havia acabado de avaliar o Civic turbo com câmbio DCT (veja reportagem) na mesma pista e já havia sacado o traçado. Também serviu de parâmetro para ver o quanto o Type R vai além do Civic, mesmo sendo a versão DCT preparada para dinâmica.
Quem curte a tocada leve e animada do Si vai se esbaldar com Type R. A principal diferença é que o motor turbo não requer giro para entregar força. O torque máximo está sempre disponível numa faixa que vai de 2.500 a 4.500 rpm. Então nem me preocupei muito com as marchas, pois a terceira servia praticamente para o circuito todo - a segunda era muito curta e quarta sobrava. Só não espere por aquelas esticadas até 8 "paus" do antigo Si, pois aqui a potência máxima surge já a 6.500 giros (o velho dilema aspirado x turbo).
O desempenho, porėm, é muito mais forte. Logo na primeira puxada já percebi que a Honda fala sério sobre os 5,7 segundos que o Type R precisa para chegar aos 100 km/h, pois o motor sobe de giro com gosto e logo pede marcha pra cima. E, apesar dos 1.455 kg, o hatch parece incrivelmente leve na tocada, aceitando ser jogado de um lado ao outro da pista sem reclamações. A suspensão é realmente rígida no modo +R, deixando a carroceria com rolagem mínima nas curvas (foto acima), enquanto a direção é rápida e precisa na medida. Um tesão!
Claro que, por ter tração apenas dianteira, o Type R arrasta a frente nas saídas de curva mais abusadas (estamos num hatch de 320 cv), mas nada que você não segure a onda pelo acelerador. O prazer de ouvir o 2.0 turbo enchendo a cabine e a velha e boa troca de marcha manual, com a embreagem bem modulada, deixam a certeza que esse Civic será um dos melhores brinquedos de track day que existem. Rápido, equilibrado e divertido. Ah, os freios também me pareceram fortes e resistentes aos maus tratos, pois antes e depois de mim teve jornalista do mundo todo andando forte no bicho - sem nenhum sinal de fadiga.
Então, Honda do Brasil, sabemos que importar o NSX seria um imenso investimento em homologação e treinamento, para quem sabe vender algumas poucas unidades. OK, tragam o Type R que a gente perdoa vocês!
Por Daniel Messeder, de Tochigi, Japão
Fotos: autor, divulgação e arquivo Motor1.com
Viagem a convite da Honda
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